Como os Correios chegaram ao ponto de pedir empréstimo de R$ 20 bilhões para contornar crise

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As estatais brasileiras tiveram prejuízo de quase R$ 7 bilhões em 2024. O caso mais grave é o dos Correios, que podem receber R$ 20 bilhões do governo para equilibrar as contas. O economista André Mirsky analisou os desafios e a possível privatização da empresa.

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00:00As estatais brasileiras registraram rombo de quase 7 bilhões de reais no ano passado,

00:08de acordo com o Ministério da Gestão e da Inovação.

00:11O caso mais crítico é o dos Correios.

00:13O endividamento da companhia está próximo a 4 bilhões de reais.

00:19E o governo anunciou esta semana que estuda um empréstimo de 20 bilhões de reais

00:24para sanar as contas neste e no ano que vem.

00:27Nós vamos conversar sobre o déficit das estatais, em particular a situação dos Correios,

00:35com André Mirski, economista e consultor financeiro,

00:39a quem eu agradeço a presença aqui no jornal Times Brasil Exclusivo CNBC

00:43e desejo uma ótima noite de sábado.

00:47Professor Mirski, os Correios têm um monopólio e, no entanto, enfrentam sérios problemas financeiros.

00:53Como é que funciona essa engrenagem?

00:56Sendo que não só a distribuição de carga, mas também a distribuição de documentos,

01:02provas, quando a gente tem o Enem, por exemplo, entrega de urnas, vacinas,

01:07isso é tão fundamental para os Correios?

01:10Como é que chegou nesse ponto de ter um rombo tão grande,

01:14sendo que a gente olha para outras estruturas logísticas

01:18que funcionam com uma enorme superioridade de eficiência?

01:30Marcelo, boa noite.

01:31Boa noite a todos da Times Brasil.

01:34O principal problema dos Correios é que, infelizmente, ele é 100% estatal.

01:40O que isso quer dizer?

01:43É uma gestão que não está adaptada à realidade dos dias de hoje,

01:50ela não é competitiva, nós temos uma frota bastante obsoleta,

01:56o que a gente tem que ver em relação aos Correios?

02:01É o que ele faz em termos sociais.

02:03O objetivo principal dos Correios é, de fato, um serviço a uma comunidade

02:08que não existe quem faça privado.

02:10Daí a necessidade de abrir as empresas estatais.

02:15E essa injeção desses 20 bilhões, nesse momento,

02:19elas são para apagar um incêndio.

02:21É curto prazo, despesas correntes,

02:23que se não houver uma reestruturação da governança

02:26e de forma a adaptar à realidade moderna que a gente necessita hoje,

02:33ela não vai resolver o problema dos Correios.

02:35Professor Miesk, eu vou colocar na conversa a nossa analista que está aqui presente,

02:41a Mariana Almeida, a quem eu passo a palavra.

02:44Olá, professor.

02:45Bom, prazer falar aqui com você.

02:46O prejuízo das estatais, de maneira geral, no ano passado,

02:51ele chegou a ser comentado, inclusive pelo Ministério, pelo MGI,

02:54como justamente afetado pelo excesso,

02:58excesso não, mas pela nova onda de investimentos

03:01que provocou uma saída grande de recursos,

03:04em tese em algumas empresas, justamente para recuperar, digamos assim,

03:07um tempo perdido e tentar melhorar as condições de operação.

03:11No caso dos Correios, você estava justamente dizendo desse atraso

03:15em termos de modernização e atualização da empresa.

03:19Mas aí o investimento que vai vir, ele é capaz de fazer uma mudança

03:24e alterar o patamar aí realmente de operação

03:26para que a empresa seja, de alguma maneira, mais eficiente de fato?

03:30Ou apagar o incêndio é só uma correção muito pequena

03:33e, de fato, a natureza mesmo do negócio está comprometida

03:37na atual situação de existência do setor de logística no Brasil?

03:43Eu acredito que seriam as duas situações, Mariana. Por quê?

03:46Porque os Correios têm uma gestão estatal que tem que ser revista.

03:52Nós já vimos falando da questão da privatização dos Correios há muito tempo

03:56e essa janela está se fechando com essa possibilidade.

03:59O Favale falou agora há pouco da questão do monopólio.

04:01De fato, é um monopólio que nós temos, mas que não tem as vantagens de monopólio.

04:06Porque a tecnologia, a agilidade do e-commerce, a agilidade da internet,

04:11a agilidade de todos os processos digitais, a gente pode chamar assim,

04:16estão deixando os Correios ultrapassados.

04:18É claro que se a gente estiver falando de uma aldeia no interior do Amazonas

04:23que necessita de alguma coisa para entregar,

04:25não vai haver uma entidade privada que vai querer investir para fazer esse serviço.

04:29Agora, também estamos chegando a um ponto que daqui a 5, 10 anos,

04:34ninguém precisa que entregue cartas lá no interior da Amazônia.

04:36Basta a internet para o satélite e resolve a comunicação que é necessária.

04:41Então, essa estrutura que tem que ser de investimento nos Correios,

04:44ela tem que ser feita para modernizar, sim,

04:46adaptar a uma nova realidade de uma empresa de logística.

04:52Agora há pouco estava falando dos drones adaptados da Ucrânia.

04:55Nós, hoje em dia, estamos falando de drones entregando encomendas, comida, enfim.

05:02E, na prática, nós não estamos vendo o Correio adaptando essas realidades.

05:07Pois é, professor Mirski, entregar cartas não pertence mais à realidade do século XXI.

05:12As telecomunicações são diferentes.

05:15Porém, quantas pessoas...

05:16Eu vou me colocar nessa lista.

05:18Eu não vou mais no supermercado.

05:20Eu compro na internet e ela chega para mim por uma empresa de logística.

05:24E, se entrega-se cartas, os Correios criaram uma enorme capacidade de logística.

05:32Onde é que faltou esse pulo do gato para eles apenas se adaptarem na realidade?

05:39A culpa disso é de ser uma empresa estatal?

05:42Ou é um mecanismo que tem muita gordura e ficou meio engessada?

05:47Por que eles não acompanharam o que é minimamente lógico?

05:50Mas temos que ver o que está em termos de política de investimento nessa área.

05:57Eu posso comparar os Correios, por exemplo, o que aconteceu com a Petrobras e com a Eletrobras.

06:03Apesar de a Petrobras e a Eletrobras também hoje serem privatizadas,

06:08elas tiveram investimento em tecnologia, tiveram investimento em renovação.

06:13A Petrobras, em 2014, praticamente quebrou porque ela tinha um modelo de negócio que estava ultrapassado.

06:18Era um modelo de negócio que servia como arma política do petróleo,

06:26que tinha um preço muito mais alto que nós conseguimos subsidiar.

06:29Enfim, isso fez com que a própria Petrobras necessitasse de ser reestruturada.

06:35O que tem que se fazer com os Correios é exatamente a mesma coisa, é na mesma linha.

06:39O que nós temos que reestruturar?

06:40Temos mais de 10 mil imóveis no patrimônio dos Correios.

06:46Por quê? Temos mais de 5 mil municípios no Brasil, a partir de todos os municípios têm uma agência dos Correios.

06:52O que pode ser feito com isso?

06:53Temos uma frota de distribuição muito ultrapassada.

06:57Um veículo que tenha 10 anos, ele consome uma manutenção totalmente diferente de um veículo atual.

07:04Então, o que é preciso fazer nos Correios nisso?

07:06Um dos principais pilares dessa solicitação, desse empréstimo que o novo presidente está solicitando

07:14é entrar com uma questão de reestruturação da empresa em termos de programas de demissão voluntária,

07:22em termos de reestruturação da governança do governo.

07:28Que é isso que tem que ser feito, mas que não foi feito no passado.

07:30Mariana, para a gente encerrar, te passo a palavra para as suas últimas considerações.

07:35Última pergunta para o professor Mirski, por favor.

07:39O professor Mirski falou sobre o que não foi feito no passado e falou sobre uma janela de oportunidade

07:45que poderia estar se fechando.

07:47Tem um movimento aí de fazer algumas propostas.

07:51Qual é o cenário que você vê imediato?

07:53O que pode dar errado?

07:54Essa janela está fechando mais rápido?

07:56Ou tem condição mesmo de você entender que as propostas que estão acontecendo agora

08:00dentro da nova gestão poderiam empurrar e realmente caminhar para uma sustentação,

08:04vislumbrar um futuro ainda aí para a empresa?

08:08Se houver vontade política de efetivamente partir para a questão da privatização,

08:14sim, ainda temos tempo porque ainda existem serviços que são essenciais.

08:18O Estado participando em serviços essenciais.

08:21Você falou, por causa do Favale, a questão da distribuição de provas do Enem,

08:25de distribuição de provas de concursos, distribuição de medicamentos.

08:30Isso normalmente são situações que você necessita de uma garantia muito grande

08:35da segurança desse serviço.

08:37E é aí que o Estado faz a diferença, porque nós estamos partindo do princípio

08:40que o Estado é composto por pessoas altruístas,

08:43que de fato têm uma visão de sociedade e de fazer bem ao próximo.

08:47Então, nesse sentido, os Correios sempre serão necessários.

08:51Agora, se nós formos comparar com as modernidades de entrega,

08:56do próprio logístico, a inteligência artificial trouxe para nós uma...

09:02Veio à tona no último ano e já temos empresas que já estão ultrapassadas,

09:09que há cinco anos atrás eram inovadoras.

09:11Então, eu acredito que, de fato, se não houver uma vontade política

09:15e partimos por uma situação de privatização já,

09:19essa janela, que eu acredito que não dure mais que cinco anos,

09:23dez anos no máximo, ela vai estar fechada e não vai ter interesse.

09:27E aí teremos uma...

09:2910 mil imóveis, um patrimônio, funcionários muito pesados

09:34em termos de anos e anos de carreira, com uma previdência muito pesada,

09:38que não teremos como fazer, a não ser escoar para todos nós, contribuintes.

09:42Queria agradecer aos esclarecimentos de André Mirski,

09:47economista e consultor financeiro.

09:50Mirski, até uma próxima oportunidade.

09:53Também agradeço a Mariana Almeida, com quem eu falo daqui a pouco, mais uma vez.

09:57Obrigado.

09:58Obrigado.

09:59Obrigado.

10:00Obrigado.

10:01Obrigado.

10:02Obrigado.

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