Marcos Praça, diretor de análise da Zero Markets Brasil, avaliou os impactos da paralisação do governo americano e do risco de estouro da bolha da inteligência artificial na economia global.
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00:00A economia e o mercado financeiro dos Estados Unidos estão sob os ventos sombrios do risco de um temido estouro da bolha da inteligência artificial
00:08e do fato concreto dos prejuízos do maior shutdown da história do país, a paralisação de serviços essenciais do governo americano.
00:18Sobre esse assunto, nós vamos conversar então com o Marcos Praça, que é diretor de análise na Zero Markets Brasil.
00:26Olá, seja muito bem-vindo ao Times Brasil, exclusivo CNBC. Obrigada pela sua participação.
00:33Boa noite, muito obrigado pela oportunidade e vamos abrir esse tema que está em alta no momento, todo mundo está querendo saber.
00:40Realmente, o calcanhar de Aquiles da economia é o que está acontecendo nesse exato momento, é justamente sobre a inteligência artificial e justamente sobre o shutdown.
00:48Vamos começar então, para o maior shutdown da história dos Estados Unidos, como você mesmo mencionou, já está afetando vários segmentos da economia, né?
00:57Aeroportos, benefícios sociais, a migração e esse acordo no Congresso para por fim a paralisia do governo americano, mais exatamente aí no Senado,
01:06pelo menos por enquanto, ainda não cristalizou, não se cristalizou no horizonte de curto prazo.
01:13Na sua opinião, quais desdobramentos isso ainda pode provocar?
01:17É muito complexo porque, a partir de agora, como é uma coisa inédita, esse tamanho desse tempo, já estamos a 39 dias de shutdown.
01:26Para quem não sabe, tem uma paralisação do governo e muitos funcionários deixam de receber salários, inclusive já estão ocorrendo muitas demissões todos os dias por conta disso.
01:36Muitos serviços acabam pausando e agora, começou a partir de agora, semana passada, a cancelar voos.
01:45Então, a gente tem o FAA cortando 700 voos por dia, né?
01:49Que não vão acontecer porque, simplesmente, os funcionários do TCA, que fazem aquele screening, aquela vistoria no embarque, eles não estão recebendo, não estão trabalhando, vão parar de trabalhar por causa disso.
02:01Então, por conta disso, a gente vai ter um cancelamento de 700, isso é muito, é um número muito alarmante.
02:05Isso é o começo de um estouro muito maior que pode ocorrer, né?
02:09A gente tem aí a Moody's estimando em 30 bilhões de prejuízo por semana nos Estados Unidos, 30 bilhões de dólares.
02:18A gente tem 42 milhões de americanos sem o benefício de assistência alimentar já.
02:24Então, é realmente um cenário muito caótico e as próximas etapas, elas são até incertas, chegam a ser incertas.
02:31A gente tem algumas apostas na internet, a gente tem plataformas como a Polimart, onde as pessoas podem apostar.
02:37Como a gente já tem as apostas do FED também, das taxas de juros, tem aposta para tudo.
02:42Então, a gente vê aí que as maiores apostas são de que encerraria esse shutdown apenas em 1º de dezembro.
02:50Então, a gente tem até o final desse mês, né?
02:52E a estimativa de que o prejuízo, se caso se resolva até o 1º de dezembro, são números estratosféricos.
02:58Realmente, é um prejuízo muito grande, muito danoso para a economia americana.
03:01Fora isso, nós ficamos aí sem alguns dados econômicos até para medir como é que está realmente a situação.
03:08É um cenário realmente muito incerto daqui para frente, por ser uma coisa completamente nova.
03:13Marcos, o nosso analista de economia e mercado, Rodrigo Loureiro, está aqui no estúdio e vai participar dessa conversa.
03:21Rodrigo, sua pergunta.
03:22Marcos, boa noite.
03:23As apostas para o fim do shutdown, realmente, para o começo de dezembro, mas você bem sabe, assim como eu, assim como a Paula,
03:32que é muito difícil estimar o que Donald Trump vai fazer.
03:36Cada dia com Donald Trump é uma surpresa diferente.
03:40Então, por mais que as apostas estejam ali para dezembro, muita coisa pode acontecer até lá.
03:45Pensando sobre isso e pensando em dezembro, na reunião do Federal Reserve, que o Jaron Powell vai ter que tomar uma decisão.
03:52Se faz o terceiro corte de juros neste ano ou se adia para 2026.
03:59No passado, ano passado, que eu digo o passado recente, o mercado estimava somente dois cortes de juros.
04:05Depois, abriu-se a possibilidade para um terceiro corte.
04:09Mas o Jaron Powell, ele vem dizendo que, olha, eu me guio por dados, o Fed se guia por dados.
04:15Os dados não estão vindo, porque você tem um shutdown do governo.
04:19Com essa paralisação, com essa indefinição, coloca-se em xeque esse terceiro corte de juros pelo Federal Reserve agora em dezembro?
04:29É, o Powell foi cirúrgico no discurso dele.
04:33A gente imaginou que ele poderia, na verdade, ter um tom mais dovish, já mais apto a corte de juros.
04:41E ele foi o contrário.
04:42Ele foi completamente adepto a manter as taxas.
04:48Como ele usou uma alegoria muito boa, falou que quando a gente está dirigindo com neblina, nós estamos sem dados, a gente diminuiu a velocidade.
04:55Muita gente interpretou esse diminui a velocidade como mantém as taxas altas, mas eu interpretei apenas como mantém nada, vamos ficar quietos, vamos ficar parados até ter mais dados.
05:06A gente sabe que sem o payroll, os dois pontos grandes que a gente está, que ele usa, os dois indicadores que o Fed mais usa para tomar suas decisões,
05:14são o payroll, relatório de empregos, não agrícolas, e o PCI, que é um dado de inflação que também estamos sem ele aí, por conta da paralisação.
05:22Então, acontece que, apesar de não ter o payroll, a gente tem uns dados, alguns prévios, como se fosse a prévia do payroll, que é o ADP.
05:30São, no caso, algo só de empresas menores, privadas, não tem um sentimento geral amplo, mas já dá para ter uma noção.
05:37E apesar do último ter sido um pouco positivo, eles revisaram os meses anteriores muito negativamente.
05:42Então, independente do que o Powell falar, o setor, a parte de empregos dos Estados Unidos, está sendo muito afetada, está sendo muito, muito afetada.
05:51A gente está sem payroll, mas a gente tem relatos aí, relatórios já, de UPS cortando 48 mil vagas de emprego, Amazon cortando 14 mil, Intel 22 mil, Nestlé 16 mil, Microsoft 9 mil,
06:03e a lista é muito maior.
06:05Então, muito disso, inclusive, a gente pode puxar depois um gancho disso para a relação da inteligência artificial, que muito se está dizendo que pode ter uma relação quanto a isso,
06:13mas o corte de empregos aqui é muito, está muito alto.
06:16A situação de empregos aqui não está acomodada.
06:18E a inflação, aparentemente, pelos números que nós temos, está mais ou menos ok.
06:23Lembrando também que a gente tem, eles atrelaram todo o problema da inflação, o Fed, no caso, às taxas do Trump, que estão em julgamento agora no Supremo.
06:33Então, tem ainda a chance do Supremo simplesmente cortar as taxas.
06:36O cenário muda completamente e abre espaço para o corte pleno.
06:40Mas, por conta dos empregos, da situação que está de empregos aqui nos Estados Unidos, eu ainda acredito no corte,
06:45apesar dele não poder fazer esse cal, abrir, ele tem que realmente se amornar as coisas,
06:51a gente não pode dar a entender realmente aquele corte.
06:56Agora, Marcos, nós sabemos que os Estados Unidos, eles estendem aí os seus tentáculos pelos quatro cantos do planeta.
07:03De que forma que tudo o que acontece nesse gigante econômico, militar, lá do Hemisfério Norte,
07:10acaba ecoando, tanto para o bem como para o mal, para o restante do mundo?
07:15A gente tem uma economia que ela é mundial, globalmente falando aí,
07:20usa o dólar como moeda principal e a gente tem a maior potência mundial, os Estados Unidos,
07:25o maior consumidor.
07:26Então, acontece que a gente acaba sendo exposto, todo mundo fica exposto aí à flutuação do dólar,
07:32à expectativa, principalmente de taxa de juros, vai pagar mais no dólar, vai pagar menos.
07:37Esse diferencial de juros, ele acaba influenciando tanto no câmbio do mundo todo e no caso das estratégias.
07:45Então, muitos países acabam tendo que seguir um pouco da política dos Estados Unidos.
07:48Essa questão tarifária também, que o Trump usa como arma, tem usado como arma nesse governo,
07:54ela impacta muito aí ao redor do globo todo.
07:58Como vocês viram, a gente teve uma taxação grande aí para o Brasil,
08:01acaba inviabilizando muitos produtos do Brasil irem para os Estados Unidos,
08:04acabam tendo que procurar outros mercados.
08:07Olha o movimento todo que foi feito pelo governo para poder sanar, ajudar os mercados que estavam,
08:12no caso, as empresas que foram afetadas diretamente pelo tarifácio.
08:15Então, todo o tipo de política que acontece nos Estados Unidos é balizado num todo,
08:20principalmente porque é a moeda que todos usam.
08:23É a moeda praticamente universal, é onde usa como cotação de petróleo, de ouro,
08:29a cotação oficial da maioria das commodities.
08:32Marcos, mesmo em um ano difícil, um ano com muita confusão geopolítica,
08:37as bolsas americanas bateram recordes.
08:41Nasdaq e S&P atingiram pontuações recordes e aqui no Brasil nem se fala.
08:46Nessa semana, a gente terminou acima dos 154 mil pontos.
08:51Trazendo para essa semana o que aconteceu, a gente começou a semana ali com a imprensa americana
08:57discutindo muito sobre bolha de inteligência artificial,
09:01falando muito sobre o peso da inteligência artificial nos empregos,
09:05dizendo que a inteligência artificial poderia estar ali empurrando empregos,
09:09fazendo com que o desemprego aumentasse, principalmente por causa das demissões da Amazon.
09:14E aqui no Brasil, a gente viu a bolsa ganhando novos patamares a cada dia.
09:19Como que você avalia esse cenário?
09:21Tanto nos Estados Unidos, que teve essa incerteza nessa semana,
09:25que atrapalhou um pouquinho os índices,
09:27como aqui no Brasil, que os índices nem se importaram com isso e subiram sem limites ali,
09:34bateram 154 mil pontos.
09:37Então, vamos lá.
09:38Eu vejo causas distintas.
09:40No Brasil, a gente tem aí, no caso, empresas, principalmente as que mais puxam o índice,
09:45como a Vale, Petrobras,
09:47com valores ali com relatórios do terceiro trimestre muito altos, acima da expectativa.
09:52Isso fortaleceu bastante aí de que o Brasil, sim, está crescendo, está muito positivo.
09:57A gente tem um dólar se desvalorizando.
10:00Conforme vai cortando juros nos Estados Unidos,
10:04e os juros do Brasil não têm expectativa de corte, o Copom não sinaliza,
10:08esse diferencial de juros fortalece a nossa moeda.
10:10Isso também ajuda a essa expansão, no caso.
10:14E também a gente tem aí uma taxa de inflação
10:17que está, historicamente falando, muito baixa no Brasil.
10:21Então, isso fortalece muito o cenário para o Brasil.
10:24O Brasil é isso.
10:25A gente está com números bons.
10:26O ano vai fechar muito positivo, com números de inflação, dados de emprego também alta.
10:32Então, a gente está com números muito bons
10:33e as empresas reportando também relatórios muito bons.
10:36Então, tanto na parte privada quanto na parte pública,
10:38está bom para o fechamento desse ano.
10:41Agora, quanto aos Estados Unidos, nós temos aí, como você falou,
10:44uma questão de emprego.
10:46Está se atrelando muito, eu comentei mais cedo,
10:48sobre o tanto de demissão na maioria das empresas.
10:51E muitas delas falam em eficiência.
10:53O que seria eficiência?
10:54O uso da inteligência artificial.
10:56No caso, sem dúvida nenhuma,
10:59aparentemente está se concretizando aquele cenário quase que apocalíptico
11:05de que a gente imaginava que, sim, a inteligência artificial vai roubar o seu emprego,
11:08não vai roubar o nosso emprego.
11:09Então, está começando a se concretizar isso.
11:12Será que vai ser dessa forma mesmo?
11:14Aparentemente estão atrelando um pouco a isso.
11:16Aumentou a eficiência, diminuiu o tanto de número de funcionários que seria necessário.
11:21Inclusive, tem um gráfico rodando muito agora na internet,
11:24que é essa alta da S&P 500 e a baixa de empregos.
11:27Estão inversamente proporcionais.
11:29Isso é muito curioso, porque a inteligência artificial,
11:34o mundo está com uma fome de inteligência artificial muito grande.
11:38O mundo está pedindo.
11:39Encontraram a corrida do ouro.
11:40A corrida do ouro.
11:41Encontraram a nova internet que todo mundo quer.
11:44A aceitação está sendo muito rápida.
11:46Apesar de, talvez, mesmo que você não esteja usando diretamente,
11:49pode ter certeza que você está consumindo ela.
11:52Então, em todo lugar, em todos os serviços,
11:55todo mundo está começando a utilizar.
11:57Foi uma aceitação.
11:58Está uma forma muito simples de usar.
12:00E está uma corrida muito grande.
12:02Não só a nível empresarial.
12:04Não estamos falando só de empresas como Meta e Amazon disputando ali,
12:08e OpenAI.
12:09A gente está falando de países.
12:11Teve uma crise agora, inclusive, que aconteceu na NVIDIA.
12:14Foi que o próprio CEO da NVIDIA falou que a China tende a ganhar a corrida da inteligência artificial.
12:20E, depois disso, as ações da NVIDIA despencaram.
12:23Tem um grande investidor, muito famoso, que foi o que previu a crise de 2008.
12:32Tem um filme, inclusive, que se chama A Grande Aposta.
12:35Foi o Michael Burry.
12:36Ele previu a crise de 2008.
12:37E ele, novamente, está agora, entrou vendido, comprou muitas puts de NVIDIA e de Palantir.
12:44Então, ele apostou, fez uma aposta muito grande contra.
12:47E falou que está com cara, sim, de bolha.
12:49É claro que a gente não pode tomar ele como, apenas isso, como termômetro.
12:55Mas muitos outros CEOs, como o do JP Morgan e de outras instituições grandes,
12:58estão falando que o cenário pode estar com muita bolha.
13:02Me dê mais um minuto.
13:03Eu quero só falar como está essa relação em relação a isso.
13:06Porque olha o que acontece.
13:08Essas empresas, elas estão se autofinanciando.
13:10Está um ciclo vicioso.
13:12No caso, elas estão pegando assim.
13:15Uma OpenAI, por exemplo, ela compra as placas da NVIDIA e a NVIDIA investe na OpenAI.
13:20E os múltiplos que estão de investimento estão absurdamente altos.
13:25Elas não dão esse lucro todo.
13:26Então, basicamente, a gente consegue ver que tem uma demanda muito grande por crescimento.
13:31Eu sei que muitas empresas estão lucrando muito bem, com números positivos,
13:36em relação à inteligência artificial.
13:37Mas essas empresas de linha de frente, de desenvolvimento, de criação,
13:41o preço, o custo para isso é muito alto.
13:44Tanto em infraestrutura, quanto em eletricidade.
13:47E, principalmente, quanto a equipamento, placa de software e tudo mais.
13:52São coisas que não têm sustentabilidade.
13:55Precisa de muito dinheiro.
13:56E, hoje em dia, do jeito que já está, não conseguem com dinheiro sustentável.
14:02E já precisam de ajuda do governo.
14:04Então, já tem a OpenAI pedindo socorro aí para o governo.
14:07E também, lá na China, um investimento muito grande.
14:10É um dos motivos que o CEO da NVIDIA falou que a China vai levar para frente.
14:15É porque o governo chinês está investindo, está entrando junto, investindo pesado.
14:18Tanto em infraestrutura, quanto baixa regulamentação.
14:22Você acabou de ouvir, então, a entrevista com o Marcos Praça,
14:26que é diretor de análise na Zero Markets Brasil.
14:29Marcos, muito obrigada pela sua participação, por ter aceitado o nosso convite.
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