Pular para o playerIr para o conteúdo principal
O economista José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central, analisou os efeitos das tarifas americanas e as incertezas globais sobre investimentos e comércio brasileiro. Ele detalhou como as tarifas alteram cadeias produtivas e o papel do pacote de contingência do governo para minimizar riscos econômicos.

🚨Inscreva-se no canal e ative o sininho para receber todo o nosso conteúdo!

Siga o Times Brasil - Licenciado Exclusivo CNBC nas redes sociais: @otimesbrasil

📌 ONDE ASSISTIR AO MAIOR CANAL DE NEGÓCIOS DO MUNDO NO BRASIL:

🔷 Canal 562 ClaroTV+ | Canal 562 Sky | Canal 592 Vivo | Canal 187 Oi | Operadoras regionais

🔷 TV SINAL ABERTO: parabólicas canal 562

🔷 ONLINE: https://timesbrasil.com.br | YouTube

🔷 FAST Channels: Samsung TV Plus, LG Channels, TCL Channels, Pluto TV, Roku, Soul TV, Zapping | Novos Streamings

#CNBCNoBrasil
#JornalismoDeNegócios
#TimesBrasil

Categoria

🗞
Notícias
Transcrição
00:00E agora a gente conversa com o economista José Júlio Sena, ex-diretor do Banco Central.
00:04José Júlio, boa noite, obrigada por ter aceitado o nosso convite, é um prazer falar com você.
00:10Bom, olhando para a economia global, depois da posse de Trump em janeiro, claro,
00:14foram inúmeros os anúncios, recusos e prorrogações.
00:19Qual é a sua leitura sobre essas incertezas todas e em que pé a gente está nesse momento?
00:25Boa noite, Cris.
00:27Olha, eu acho que é muito simples de fazer análise, porque a incerteza elevada,
00:34ela inibe o comportamento das famílias, dos empresários, né?
00:40Dos empresários inibe em dois sentidos, né?
00:44Inibe os empresários a fazer investimentos, né?
00:48Eles ficam mais restritos, não conhecem o futuro,
00:51as regras do jogo mudam com muita frequência,
00:55então dá uma insegurança grande e os investimentos se retraem.
00:59A mesma coisa no que diz respeito à contratação de trabalhadores, não é?
01:03Eu tenho um plano de expansão, eu não sei direito como serão as coisas do futuro,
01:08é melhor eu segurar um pouco esse plano,
01:11inclusive contratando menos pessoas do que eu ia contratar antes.
01:14Então, a incerteza é uma variável chave, assim, que influencia com muita clareza
01:23o comportamento das famílias e das empresas, portanto, da atividade econômica.
01:28O que se observa sobre os efeitos nas cadeias de produção e de comércio?
01:33As tarifas já estão provocando mudanças significativas ou é algo ainda em análise?
01:38Eu acho que já está provocando e a razão básica é que as tarifas
01:44elas não incidem apenas sobre bens finais, né?
01:49Elas incidem sobre matérias-primas, como alumínio, aço, né?
01:54Sobre bens intermediários e ultimamente, né?
01:58Nas últimas décadas, a economia mundial tornou-se algo muito integrado, né?
02:04Então, as cadeias produtivas constituem uma das características básicas
02:11do sistema econômico moderno.
02:15Então, principalmente porque as tarifas incidem em cima de insumos e bens intermediários,
02:21ela causa deslocamentos extremamente importantes
02:23e é uma das causas de perda de gás das economias de modo geral.
02:29O presidente do Banco Central disse hoje que a baixa dependência comercial do Brasil
02:35em relação aos Estados Unidos pode ser vista como uma proteção.
02:39Você concorda com isso?
02:43Eu diria o seguinte, países que são muito dependentes do mercado americano,
02:49eu acho que faz sentido a gente dizer que estão mais expostos, sim, né?
02:53A economia mexicana talvez seja um exemplo e há várias outras que concentram muito
03:01suas vendas nos Estados Unidos.
03:04Então, na medida que os Estados Unidos impõem tarifas,
03:08países mais expostos ao mercado americano tendem a perder mais.
03:12Na verdade, isso vale também para produtos, né?
03:15Há certos produtos que têm no mercado americano o grosso da sua atividade.
03:22Eu diria que um exemplo é a fábrica de armas, por exemplo,
03:27que a gente tem no Rio Grande do Sul e que acabou de anunciar
03:31que está deslocando parte importante da sua produção justamente lá para os Estados Unidos.
03:38Mas não é só esse exemplo, existem vários outros.
03:41Mas, com certeza, excesso de concentração tende a tornar países e setores
03:46e empresas mais vulneráveis.
03:49Eu concordo com o presidente Galipo, sim.
03:52Queria falar sobre esse pacote de contingência.
03:54O governo deve anunciar ainda essa semana, a gente espera que amanhã, seria hoje,
03:59mas mais provavelmente amanhã, esse pacote para ajudar os exportadores
04:04e minimizar os impactos.
04:06Qual é a sua expectativa sobre essas medidas a serem divulgadas?
04:10Há riscos fiscais embutidos nisso?
04:13Pode provocar uma reação na economia doméstica?
04:15O que você acha?
04:16Eu acho que há riscos, sim, Ingrid.
04:19Pelo seguinte, a tradição do nosso país é, em momentos de grande sufoco,
04:27de grandes dificuldades, o governo intervir e tentar melhorar a vida das empresas
04:33e salvar empregos e coisas do gênero.
04:36Em certas circunstâncias, de fato, faz sentido.
04:39Agora, o problema é que no Brasil, quando você toma medidas nessa direção,
04:45é muito difícil voltar atrás.
04:47A gente tem dois exemplos no momento muito importantes.
04:51A desoneração da folha de trabalho, por exemplo,
04:54que não conseguiu voltar ao que era.
04:59Foi feita a desoneração e foi ficando, foi ficando.
05:02Os lobbies se fortalecem, se constituem, pressionam para manter os benefícios, os privilégios.
05:12Aquele perse também é a mesma coisa, durante a pandemia, dificuldades enormes de fazer eventos e tudo mais.
05:19Então, sei lá, naquele momento talvez comece realmente alguma proteção.
05:24Só que ela fica.
05:25Então, é uma coisa muito complicada.
05:27Eu sou já de um tempo lá de trás, eu acompanho a economia há algumas décadas
05:33e eu me lembro de uma determinada época no Brasil
05:36que foi introduzido o controle generalizado de preços.
05:41E que era para salvar o país de uma situação difícil, de inflação alta e tudo mais.
05:47E a ideia era colocar controle de preços em caráter temporário.
05:52Durou duas décadas, três décadas, alguma coisa desse tipo.
05:55Essa é uma tradição nossa.
05:56Então, eu olho com muita, muito com o pé atrás, para ser sincero.
06:00Eu vou passar para as perguntas dos nossos analistas.
06:03Vamos começar pelo Vinícius Torres Freire.
06:05Vinícius.
06:06José Júlio, quando veio o tarifaço, todo mundo ficou fazendo conta de quanto seria o impacto no PIB.
06:15Aí acharam que não era muito grande, ainda mais com as exceções.
06:19Depois teve gente, um pessoal lá da Universidade Federal de Mendes, o CDPAR,
06:23disse, inclusive tem que descontar desse impacto negativo,
06:26a possibilidade de que o Brasil ganhe algum mercado lá fora, sabe-se lá como,
06:31depois dessa confusão e rearranjo do comércio.
06:33E agora a gente acabou de ver o Trump dizendo que vai querer que a China compre mais soja dos Estados Unidos.
06:41Aliás, uma quantidade tão grande que acabaria com toda exportação de soja do Brasil.
06:45Aliás, nem tem soja suficiente nos Estados Unidos.
06:47Agora, você acha que os riscos, além de tarifa direta dos Estados Unidos,
06:51os riscos com terceiros mercados são maiores ou menores?
06:55O impacto vai ser mais negativo ou então a gente pode ter alguma vantagem?
07:00A gente corre risco de perder terceiros mercados invadidos pelos Estados Unidos
07:04ou até sofrer sanção, como, por exemplo, não poder comprar
07:08ou então ser atacado por comprar petróleo da Rússia.
07:11Qual o maior risco? De ganhar ou de perder lá fora?
07:16Olha, Vinícius, eu acho honestamente que não vejo espaço para a gente ganhar nada
07:22ou para nenhum país ganhar nada.
07:25O que a gente está vendo ser colocado em prática é um perde-perde.
07:29O que a gente pode discutir é como é que faz para perder menos.
07:35E eu acho que o espaço para perder menos, ele existe.
07:41A gente tem visto vários países negociando acordos com os Estados Unidos
07:46em que foi diminuído substancialmente o potencial de perda.
07:51Em particular, cedendo alguma coisa, prometendo alguma coisa.
07:56Você falou, por exemplo, da soja com a China.
08:00Por ocasião da primeira administração Trump, fez parte do acordo entre Estados Unidos e China,
08:07a China comprar um montão de soja dos Estados Unidos.
08:12Não aconteceu nada bem parecido com isso.
08:15Então, muitos desses acordos, na verdade, não se sustentam ao longo do tempo.
08:21Mas é importante que se chegue a um ponto em que a negociação satisfaça quem está impondo as tarifas,
08:33que é o presidente dos Estados Unidos.
08:36No caso do Brasil em particular, Vinícius, eu diria que uma maneira boa de minimizar perdas,
08:42e talvez em algum sentido até, assim, vai ser sempre minimizar perdas, né?
08:48Porque a gente podia fazer de outra maneira, isoladamente.
08:53Que é o seguinte, abrir um pouco a nossa economia, né?
08:56Oferecer acesso americano aos mercados brasileiros.
09:01Seria uma maneira de tentar tirar, assim, uma casquinha, digamos assim,
09:06numa linguagem mais popular do que está acontecendo.
09:10Aproveitar o momento e reduzir as barreiras que nós mesmos impomos ao comércio internacional.
09:17Eu suspeito que a negociação com a Casa Branca ficaria bem melhor
09:25se estivéssemos negociando alguma coisa e, em particular, oferecendo alguma coisa
09:31que nos seria benéfica.
09:33Isoladamente, analisando, seria benéfica.
09:35Eu sou favorável à redução de proteção no Brasil, mesmo que unilateralmente.
09:40Aí seria um ganho.
09:41Mas, em troca de ter uma proteção menor, de novo, continuo com dificuldade de ver ganho,
09:48mas seria um passo interessante para ser dado, a meu ver.
09:53Alberto Azental.
09:55Sena, boa noite.
09:57A feira vem caindo, que nem a gente acabou de comentar,
10:01vem caindo os preços nos últimos meses.
10:03Pode ser que para de cair ou sobe um pouquinho nos próximos dois meses.
10:06O Brent está abaixo de 70 dólares o barril, a gente não vê pressão inflacionária de petróleo
10:13ou derivados de petróleo aqui internamente.
10:16Mas a energia elétrica subiu dia 27 de julho para a bandeira 2.
10:21A gente ainda não vai perceber no IPCA de amanhã, porque não coletou esse aumento,
10:26provavelmente em setembro e outubro.
10:28Então, o 5,35 acumulado do mês passado tem uma trajetória de chegar em 5,05 no final do ano,
10:37que nem o boletim Focus indica.
10:41A minha pergunta para você é, quanto você imagina ou calcula que tem de inércia inflacionária dentro do IPCA?
10:49Eu não sei fazer esse cálculo, Roberto, com tudo honestamente.
10:55Eu sei dizer o seguinte, quanto mais alta a taxa de inflação, maior a inércia.
11:02Então, com 5% de inflação, ou perto de 5% de inflação,
11:07ela tende a ser menor do que era quando, no momento em que a inflação,
11:12era 7, 8, 9, chegou a 10 até, não muito tempo atrás.
11:16Então, eu acho que a inércia é algo que está sempre inerente a todo o processo inflacionário,
11:24não só no Brasil, mas em qualquer outro lugar.
11:28A teoria econômica avançou bastante, em décadas recentes,
11:33economistas passaram a trabalhar com a ideia de expectativas racionais,
11:38que se informam expectativas olhando para frente,
11:41tendo uma espécie de um modelinho racional na cabeça, coisa desse jeito.
11:45mas as pessoas registram preços mesmo, na verdade, em razão do que elas veem acontecer.
11:52Então, é como se as expectativas para frente são muito influenciadas pelo que aconteceu para trás.
11:58Isso se mistura, mistura um pouco com inércia.
12:02Você vê os preços subirem, acredita que vão continuar subindo,
12:06e isso dá um caráter mais permanente para o processo inflacionário.
12:11E quanto mais alta a inflação, pior é esse fenômeno, sem dúvida alguma, Roberto.
12:16Zé Júlio, muito obrigada.
12:17Prazer mesmo falar com você.
12:19Volte mais vezes.
12:20Uma boa semana.
12:23Obrigado a você, Cris.
12:24Boa noite.
12:25Boa noite.
Seja a primeira pessoa a comentar
Adicionar seu comentário

Recomendado