O presidente Lula afirmou que países do Brics sofrem com práticas comerciais ilegais e chantagem tarifária. Roberto Gianetti, economista e ex-secretário da Câmara de Comércio Exterior, analisou impactos para café, carne e produtos manufaturados, e as oportunidades de crescimento da exportação brasileira para a China.
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00:00O presidente Lula afirmou que os países que fazem parte do BRICS são vítimas de práticas comerciais ilegais e de chantagem tarifária.
00:08A fala foi durante uma reunião virtual com o Bloco nesta segunda-feira.
00:12Eu volto a conversar agora com o Eduardo Geyer em Brasília justamente sobre isso.
00:16Geyer, conta pra gente o que mais o presidente Lula disse durante essa reunião.
00:20Marcelo, o presidente Lula fez um discurso na reunião virtual do BRICS cercado de recados ao governo americano que impôs um tarifato de 50% aos produtos brasileiros.
00:34Essa reunião virtual foi convocada pelo próprio presidente Lula, que está à frente da presidência temporária do BRICS.
00:41Em um trecho do seu discurso, que não foi exibido em vídeo, mas teve o conteúdo divulgado pela Secretaria de Comunicação do governo federal,
00:49o presidente falou que, abre aspas, a chantagem tarifária está sendo normalizada como um instrumento de conquista de mercados e para interferir em questões domésticas.
01:00Fecha aspas. O presidente não citou nominalmente os Estados Unidos em nenhum momento, mas nem precisaria.
01:07Lula também disse que a imposição de medidas extraterritoriais ameaça as nossas instituições.
01:12Pelo qual apurei com pessoas que ajudaram a escrever o texto, neste momento o presidente se referia à Lei Magnitsky,
01:20aplicada contra o ministro Alexandre de Moraes e que tem, inclusive, pressionado para baixo as ações de bancos brasileiros no Ibovespa B3.
01:28O presidente também conclamou pela união dos BRICS porque dividir seria uma estratégia para conquistar,
01:35uma estratégia do unilateralismo que ele não defende.
01:37Participaram dessa cúpula virtual os presidentes de China, Egito, Indonésia, Índia, Rússia e África do Sul, além do presidente Lula.
01:47O premier da Índia, Narendra Modi, uma das principais lideranças do bloco, enviou um representante, o seu chanceler.
01:54Ainda nesse discurso, o presidente Lula voltou a defender uma reforma das instituições multilaterais, como a ONU e a OMC,
02:01é um discurso que ele tem repetido, inclusive, com bastante frequência.
02:05O governo brasileiro foi à OMC contra o tarefaço de Donald Trump, mas tem pouca esperança de que vá dar em alguma coisa,
02:12até por conta do completo desmonte dessa entidade pelo próprio governo americano.
02:18E, mais uma vez, sem citar os Estados Unidos, Lula afirmou que, abre aspas,
02:22a presença de forças armadas da maior potência do mundo no Mar do Caribe é um fator de tensão incompatível com a vocação pacífica da região.
02:31Fecha aspas.
02:32Lula terminou dizendo que BRICS é o novo nome da defesa do multilateralismo.
02:37Para finalizar, vamos lembrar que, para além dessa divergência direta com o Brasil,
02:41que envolve o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro,
02:45o governo Trump tem uma divergência geral com o próprio bloco BRICS.
02:49Inclusive, Donald Trump já chegou a ameaçarem por uma sobretaxa aos países do bloco,
02:55mas nunca chegou a concretizar essa sua ameaça.
02:59Volto com você, Marcelo.
03:00Obrigado, Gayer.
03:01E sobre esse assunto, nós conversamos agora com o Roberto Janetti,
03:05que é economista e ex-secretário da Câmara do Comércio Exterior.
03:08Boa noite, Janetti. Seja muito bem-vindo.
03:10Boa noite. Muito obrigado.
03:12Bom, primeiramente, eu queria que você analisasse as falas do presidente Lula nessa reunião do BRICS.
03:17Olha, eu concordo em quase tudo que ele falou, porque o que ele falou são fatos,
03:24são situações que estão acontecendo no dia a dia, do cotidiano, cada dia uma surpresa,
03:31decisões extemporâneas, casuísticas, arbitrárias do presidente dos Estados Unidos,
03:36punindo países, não por razões técnicas, econômicas, como a lei de emergência econômica,
03:43que ele traz como suporte, como base, poderiam indicar.
03:49Mas por razões políticas, por divergências ideológicas ou até por antipatia,
03:54ele vai aqui e ali procurando criar dificuldades para os países membros do BRICS.
03:59Claro que a China é o alvo principal, mas ele teme a China, porque a China também tem poder,
04:05além de ser um mercado enorme de consumo, e até para os produtos americanos também,
04:10é o grande exportador de produtos para os Estados Unidos, dos quais eles também dependem.
04:15E, além de tudo, a China é portadora de uma grande parte, uma grande parcela da dívida externa americana.
04:22Creio que cerca de 800 ou 900 bilhões de dólares de papéis do Tesouro Americano na mão dos chineses.
04:28Isso tudo dá aos chineses um poder de barganha e uma situação de retaliação muito grande.
04:38Então, a China tem sido tratada com muita cautela.
04:42Já o Brasil e a Índia, ele foi muito mais agressivo.
04:45Colocou a tarifa de 50%, definitiva, não se fala mais nisso, e joga para frente.
04:51E não há razões técnicas que, inclusive, nos levam a discutir na mesa de reunião,
04:58como tentaram os empresários e vários outros membros do governo,
05:01porque eles dizem que a discussão não é técnica, é política.
05:04E a gente sabe do que se trata.
05:06É o julgamento do ex-presidente Bolsonaro, a pressão sobre o STF,
05:11e a discordância do papel do Brasil nessa liderança dos BRICS,
05:15um dos protagonistas do BRICS, que traz uma disputa, uma rivalidade com os Estados Unidos
05:20no cenário geopolítico mundial.
05:23Isso tudo traz zonas de conflito, zonas de sensibilidade para os Estados Unidos,
05:30e essas práticas diárias de agressão, discursos e medidas que vêm afetando a economia brasileira,
05:39hoje, infelizmente, traz a situação que o presidente Lula, com certeza,
05:45reclama com razão do que está acontecendo.
05:48Quando a gente olha para o BRICS, obviamente, todos os países têm em comum
05:52a insatisfação com essa política comercial americana.
05:55Só que não são países que têm os mesmos interesses em relação a outros aspectos
06:00dessa guerra comercial.
06:02Índia e China, por exemplo, muitas vezes são competidores.
06:05Não tem essa economia complementar que o Brasil tem com a China, por exemplo.
06:09Então, eu queria te perguntar o seguinte, o BRICS tem condições de agir em bloco
06:13para se defender quanto a práticas que ele está criticando nesse momento?
06:17E faria sentido, seria de interesse do BRICS também agir em bloco?
06:21Olha, os BRICS têm muitas coisas em comum, têm muita convergência,
06:25mas têm muita divergência também.
06:26Por exemplo, nós temos aqui no Brasil uma democracia.
06:31Não podemos dizer o mesmo da China.
06:35A Índia e a China têm disputas históricas por território ali na região do Tibete.
06:40E tem também a questão do Paquistão.
06:42A China apoia o Paquistão, a Rússia apoia a Índia.
06:46Então, os cinco membros do BRICS, eles têm divergências.
06:51Mas se é uma coisa que o Trump conseguiu, e aí nós devemos agradecer a ele,
06:56foi unir mais os BRICS.
06:58Os BRICS se tornaram ainda mais unidos depois que houve essa situação de confronto com os Estados Unidos.
07:07E isso, de certa forma, até trouxe mais risco para os Estados Unidos,
07:11porque agora nós estamos, de fato, numa união de interesses muito grande.
07:17Vinícius Torres Freire.
07:19Janete, boa noite.
07:21Tentando falar um pouco de negócios.
07:24Dois grandes setores que foram vítimas do tarifácio foi café e carne.
07:31Em agosto, a gente viu que a quantidade exportada de café caiu 31%.
07:36O valor só não caiu porque teve uma alta de preço.
07:38Agora, no caso da carne, a gente teve um aumento de quantidade exportada de 26% por aí
07:43e ainda um aumento de preço.
07:45Agora, o que o pessoal do café está fazendo ou vai fazer?
07:50Já acharam algum caminho?
07:51Vai ter outro comprador?
07:53Vai vender alguma parte mais cara para os Estados Unidos?
07:55O que o pessoal vai fazer?
07:57Porque a gente teve uma queda de 31% só em agosto e isso não cheirou bem.
08:0231% para os Estados Unidos.
08:0531% para o mundo.
08:08Não, aí creio que ainda não há, então, talvez, o efeito substituição que a gente está imaginando.
08:15E primeiro tem o seguinte também.
08:18No mês de julho, houve uma grande formação de estoque pelos Estados Unidos,
08:24pelas grandes torrefações americanas,
08:26porque sabiam que ia enfrentar em seguida um período de escassez de café arábica de qualidade do Brasil.
08:33Então, claro que se caiu 31% é porque julho foi, provavelmente, 20% ou 30% mais do que a média dos meses anteriores.
08:42Então, a queda é um pouco a formação de estoque que veio junto para o tarifácio.
08:47Agora, o mercado mundial tem um equilíbrio e esses vasos são comunicantes.
08:52A Colômbia, provavelmente, vai substituir grande parte do café brasileiro nos Estados Unidos.
08:58Não todo, porque nem consegue.
09:00São 8 milhões de sacas por ano e a Colômbia vai vender, no máximo, umas 3 ou 4 a mais para os Estados Unidos.
09:05Só que a Colômbia, fornecendo essas 3, 4 milhões de sacas para os Estados Unidos, deixa de vender para a Europa.
09:13Então, a Europa vai comprar mais do Brasil, porque para o Brasil não tem tarifácio na Europa.
09:18Ao contrário, eles vão até estar muito satisfeitos de estar com café de boa qualidade brasileiro, também para o mercado europeu.
09:25Então, eu não vejo que tenha um problema de grave crise para o café, de jeito nenhum.
09:30A situação vai se acomodar, vai haver um efeito de substituição, uma mudança dos fluxos de comércio.
09:38E eu acho que, muito breve, o próprio governo americano vai cair a ficha de que foi um tiro no pé.
09:45Porque as grandes torrefações americanas estão reclamando que, de qualquer forma, vai haver falta de café arábica nos Estados Unidos.
09:53Café arábica, você não produz na África nem na Ásia.
09:56É só na América Latina.
09:57E eles não têm outro substituto grande de volume, a não ser Brasil e Colômbia.
10:03Se a Colômbia não pode fornecer tudo que o Brasil produz, que é 30% do fornecimento total dos Estados Unidos é café brasileiro,
10:11claro que vai faltar café.
10:12As torrefações vão reclamar em Washington, o café vai ficar mais caro, o consumidor vai ficar chateado.
10:18Será que vale a pena manter o café fora da lista de exceção?
10:21Eu acho que um pouco de bom senso o governo americano e o Trump vão ter de perceber, de repente, que vão tirar o café da lista, que não vale a pena.
10:31Agora, quanto à carne, também está um desvio de mercado.
10:34Vendemos mais para o México, estão vendendo talvez mais para os países asiáticos, para a própria China, que autorizou vários frigoríficos brasileiros.
10:41A situação vai se acomodando, Vinícius.
10:43O problema são os produtos mais elaborados.
10:48Por exemplo, vou dar um exemplo clássico aqui, o mobiliário.
10:52Você imagina uma empresa que eu encontrei outro dia no Paraná, que tem 90% da sua exportação, não da produção, da exportação, 90% da exportação dirigida aos Estados Unidos.
11:02Ele investiu em marca, depósito, distribuição, propaganda, criou um mercado nos Estados Unidos durante 10 anos.
11:13De repente, uma canetada do Trump tira ele do mercado e tudo foi por água abaixo.
11:18Isso sim é um caso dramático.
11:20São os produtos manufaturados, sapato, confecções, móveis, alguns alimentos industrializados.
11:27Esses não têm substituto, o americano vai ficar sem e vai procurar comprar, evidentemente, de outras marcas.
11:34Mas aquele produto brasileiro que ele comprava porque é de melhor design, melhor qualidade, melhor preço, ele não vai ter mais.
11:44Janete, a gente viu no último balanço do governo referente ao mês de agosto, uma queda nas exportações para os Estados Unidos e um salto formidável para a China.
11:51Mas eu imagino que a China não vai poder continuar crescendo esse volume de compra do Brasil na mesma proporção que cresceu em agosto, até porque já foi um crescimento bastante expressivo.
12:01Eu queria que você dissesse para a gente a expectativa que você tem em relação à capacidade da China de absorver parte da nossa produção que não está indo para os Estados Unidos.
12:10Olha, tem muito produto brasileiro ainda com o mercado potencial na China.
12:17E eu acho que sim, vai haver um aumento ainda significativo de exportação brasileira para a China de outros produtos que não são os produtos tradicionais da pauta.
12:28Talvez até alguns produtos semi-elaborados, alguns produtos na área de combustíveis.
12:36Eu estou falando especificamente do etanol, acredito que o etanol brasileiro muito breve vai ter acesso à China e é produto de bilhões de dólares de exportação.
12:46Então, tem muita coisa boa vindo por aí.
12:48Pode ter certeza que o Brasil e a China ainda tem muito campo para prosperar em termos de exportação, de importação.
12:55Eles vendendo mais para nós, nós vendendo mais para eles.
12:58Realmente tem sido uma complementaridade muito positiva e eu acho que é o que a gente tem que fazer, diversificar mercado e produto.
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