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O governo brasileiro iniciou o processo da Lei de Reciprocidade com acompanhamento da CAMEX, avaliando possíveis retaliações comerciais dos EUA. Vinicius Torres Freire e Lígia Maura Costa explicaram os riscos para empresas, setores afetados e o impacto estratégico nas negociações internacionais.

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Transcrição
00:00Eu chamo aqui ao estúdio para analisar esse movimento do governo brasileiro o Vinícius Torres Freire.
00:04Tudo bem, Vinícius? Boa tarde.
00:06Boa tarde, Fábio. Boa tarde para todo mundo.
00:08Vinícius, a gente vem acompanhando que os Estados Unidos não dão nenhum sinal de conversa,
00:12de querer conversa com o Brasil.
00:14Aí o Brasil, para provocar algum movimento, faz, anuncia o início desse processo.
00:19Faz sentido como estratégia?
00:22Olha, como o Gaia falou, o governo acredita que colocar esse processo em movimento
00:27levaria o governo americano a prestar atenção nas propostas de negociação do Brasil.
00:34O próprio governo não tem informação nenhuma, mas nenhuma, de como o governo americano vai se portar.
00:43O que ele pretende fazer se um dia pretende abrir negociação.
00:46Isso é uma opinião que está lá dentro do Itamaraty e dentro do Ministério do Desenvolvimento.
00:51Eles não falam em ON, não falam abertamente, mas honestamente e francamente dizem
00:57olha, a gente não está sabendo nada, mas nada.
01:01Se o governo não está sabendo de nada, ele está levantando a hipótese que isso pode movimentar alguma coisa.
01:06Eu não tenho como julgar.
01:08E se eu for se chutar, isso pode desencadear alguma nova reação americana
01:13e prejudicar os esforços diplomáticos empresariais.
01:18Porque as empresas estão indo lá conversar, tentando falar com seus pares, contrapartes, clientes, fornecedores e compradores
01:28para ver se elas abrem algum caminho.
01:31Isso parece um caminho mais razoável enquanto não tem nenhuma abertura política do governo Trump.
01:35E não tem.
01:37Isso segundo o próprio governo brasileiro.
01:39Do governo americano, eu não sei.
01:40A própria CNI hoje disse que a Confederação Nacional da Indústria, vamos com calma,
01:45inclusive eles estão indo para lá na semana que vem com muito empresário para conversar,
01:49vamos com calma que isso pode balançar o coreto e atrapalhar essas tentativas por debaixo do pano.
01:54Até agora, as atitudes que deram mais certo, com exceção da China,
01:58que tem tamanho, arma nuclear e economia para aguentar isso,
02:03os outros países o que fizeram?
02:04Ficaram quietos, não retalharam, ninguém retalhou.
02:08A Europa fez muita ameaça, a gente lembra, a gente anunciava aqui,
02:11vamos anunciar a retaliação na quinta-feira e depois todo mundo esquecia.
02:16Dois dias depois, daqui a uma semana, não aconteceu nada.
02:18Todo mundo engoliu as tarifas e o que todo mundo está fazendo é repensar
02:22como é que vai ser a posição de cada país ou bloco no comércio mundial
02:25e está começando uma estratégia de organizar um mundo de comércio livre e sujeito a regras
02:32fora, excluindo os Estados Unidos, que são mais ou menos 15% do comércio mundial.
02:37É muito pesado para um país só, mas 85% do comércio mundial não estaria sujeito às regras americanas.
02:43E o mundo está começando a se reorganizar nessa linha.
02:47Vai demorar, não vai ser um bloco inteiro de negociação,
02:50mas aos poucos vai ter arranjos para isso.
02:53Então, se o mundo inteiro, países muito mais poderosos, ricos e com mais instrumentos do Brasil
02:58estão fazendo isso, o Brasil é diferente.
03:02Esse diferente vai dar resultado?
03:03Não vimos até agora.
03:04O único país, quer dizer, teve um país que retalhou e tomou medidas mais drásticas contra os Estados Unidos,
03:10nem tão drásticas assim, mas tomou alguma medida contra os Estados Unidos,
03:12que foi o Canadá.
03:13E o Canadá agora está com a aposta de negociação fechada,
03:16está com um pouco mais de tarifa do que o México,
03:20embora eles tenham acordo de livre comércio e que ajuda bastante,
03:23mas o Canadá está sofrendo muito.
03:25Aliás, a economia do Canadá vai para a recessão.
03:28Caiu no primeiro trimestre, caiu no segundo e a coisa vai engrossar lá.
03:32Então, quem sorriu para julgar?
03:35O resto do mundo não está fazendo isso e está tentando fazer uma reação por debaixo do pano.
03:39E o Brasil agora deu um sinal de que pode confrontar e retalhar.
03:42Vamos ver, eu duvido que vai dar resultado.
03:47Vinícius, fica aqui com a gente, porque seguimos no assunto e conversando agora com a Lígia Maura Costa,
03:53professora da FGV, ela é professora da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV
04:00e também foi funcionária da OMC, Organização Mundial do Comércio.
04:04Lígia, boa tarde para você, muito obrigado pela gentileza da sua participação aqui com a gente.
04:08Olígia, partindo aí dessa notícia de que o presidente Lula decidiu dar início a um processo de reciprocidade,
04:16acionando ali, dando como primeiro passo o acionamento da Camex,
04:20como é que anda o processo a partir do momento em que a Camex entra na história
04:24e começa então a analisar a aplicação dessa lei?
04:27Bom, antes de mais nada, muito boa tarde, é um prazer estar aqui com você.
04:34Eu estava ouvindo as palavras do Vinícius, eu quase digo que eu assino embaixo do que ele disse
04:42e também tenho bastante receio.
04:44Respondendo a sua pergunta especificamente, papel da Camex,
04:47é avaliar tecnicamente qual seria o impacto de medidas retalhatórias para a economia brasileira
04:57e ouvir os setores afetados.
04:59É esse o papel da Camex antes de recomendar ou não as contramedidas.
05:05Que as contramedidas seriam restrições a produtos norte-americanos,
05:09o que seria extremamente difícil para a economia brasileira.
05:15Se a Camex entender, ouvir dos setores afetados e o governo que este é o melhor caminho,
05:23isso vai, sem dúvida, demonstrar uma grande determinação política brasileira.
05:28Mas isso também requer e deve ser analisado com extrema cautela,
05:34tendo em vista que os Estados Unidos têm um poder de força infinitamente maior
05:41ou bem maior do que o poder brasileiro.
05:45Então, retaliações poderiam, na verdade, abrir espaços a contra-retaliações norte-americanas
05:52que poderiam ainda piorar a situação que hoje já não é boa.
05:57E havendo um encarecimento absurdo de importações brasileiras
06:01e que vai gerar, no final, custos para as empresas brasileiras.
06:06E já, eu ia fazer a pergunta, se você fosse a consultora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
06:15o que você diria?
06:15Mas você acabou de dizer, já deu essa resposta.
06:18Agora, tendo a situação...
06:21Mas eu tenho outra resposta.
06:23Ah, tem?
06:23Tenho outra resposta, se você quiser.
06:25Então, tá, vamos lá, começando por aí.
06:27Se você fosse a consultora, você tem experiência.
06:30O que você diria?
06:31Pegue o telefone.
06:31O que o Trump quer?
06:33Pegue o telefone, ligue para o Trump.
06:36Quando estivermos mais fortes, aí a gente pode brigar de igual para igual.
06:40Agora não é o momento.
06:42Já que há, se ele me humilhar, que daí que ele me humilhou?
06:45Quem importa é o Brasil.
06:46E o Brasil continuar para frente?
06:48E os meus exportadores continuarem exportando?
06:50É o meu consumidor não ter que pagar mais caro por causa de mais tarifa?
06:54Ou seja, se é esse o modelo que eu tenho hoje e se países muito maiores, economias muito maiores,
07:00não tiveram a coragem de brigar com o Trump, quem somos nós para fazermos isso?
07:07Ou seja, o sofrimento para o Brasil será muito grande.
07:10Se, por ventura, o Trump ainda retalhar, se tivermos autorização da Camex para dar sequência a essa retaliação.
07:18Então, a alternativa, diante das portas fechadas, é tentar um canal direto, o presidente Lula, enfim,
07:28fazer a famosa ligação para o Trump, tentando, claro, fazer os arranjos prévios.
07:34E, fora isso, tem alguma alternativa brasileira, fora essa das empresas que estão tentando negociar?
07:42O Brasil tem algo a mais fazer.
07:44Não faz processo da lei de reciprocidade.
07:47Liga, tem mais algo a fazer? O governo brasileiro tem alguma algo a fazer?
07:51O governo brasileiro já acionou a OMC, mas nós sabemos que é uma série de limitações.
07:58Então, já existe um pedido formal de consultas que foi feito pelo governo brasileiro,
08:04junto à Organização Mundial do Comércio.
08:06Mas nós sabemos que mesmo que essas consultas não deem nada e que seja iniciado um painel,
08:11mesmo depois de definido o painel e mesmo que o Brasil ganhe este painel,
08:16nós sabemos que a OMC tem limites, porque o órgão de apelação não está operante.
08:23Então, os famosos dentes da OMC deixaram de existir.
08:27Então, diplomaticamente, essa seria a outra saída que o Brasil, aliás, já tomou.
08:33Então, é o que temos para hoje.
08:37E tentar negociar.
08:38Eu acho que talvez começar a CAMEX, você tem duas possibilidades.
08:44Ou eu melhoro a minha possibilidade de uma melhor negociação,
08:49mas sabendo que eu tenho um risco econômico muito grande e negativo
08:54de ter umas retaliações que vão encarecer importações para todas as empresas brasileiras,
08:59vai ter um aumento de custo de produção e sem falar em eventuais represálias adicionais
09:05que ninguém sabe o que pode vir disso.
09:09Lígia, na semana que vem começa o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
09:15E o presidente americano Trump, quando mandou uma carta para o Brasil informando sobre a tarifa de 50%,
09:21colocou o nome de Bolsonaro na primeira linha dessa carta.
09:24Claro que a justiça brasileira não tem que ceder, não tem que se curvar à pressão
09:29de quem quer que seja interna ou externamente.
09:32Mas o fato é que, aos olhos de Trump, o aliado dele começa a ser julgado na semana que vem.
09:37E esse é um motivador para a aplicação da tarifa sobre o Brasil.
09:42Você já falou sobre o mérito da reciprocidade em si, que você discorda.
09:46Será que, além do mérito, o timing também de colocar isso para andar foi infeliz?
09:54Eu diria que é delicado.
09:56Nós estamos num momento cada vez mais delicado.
09:59E eu imagino que numa negociação que já não está acontecendo,
10:03numa situação que já é bastante delicada, os governos não conseguem, os presidentes não se falam.
10:09Não houve uma visita formal nem ao Brasil, aos Estados Unidos, nem o governo,
10:12o presidente americano veio visitar o Brasil, que é o grande país da América do Sul.
10:17Ou seja, nós não diria que seria o momento mais adequado, que talvez esperar para ver o que acontece
10:25e depois a gente tomar uma atitude.
10:27Mas, seja como for, se a CAMEX fizer o seu serviço, o seu trabalho tecnicamente como deve ser feito,
10:33ela precisa escutar os setores afetados para ver o impacto que isso vai ter.
10:38Isso é possível de você ter uma noção de quanto que vai custar essas medidas.
10:43E aí, resolver com calma, com os números na mesa e saber quais poderiam ser as contrapartidas que viriam a partir disso.
10:55Não acho que o fato de começarmos uma medida via CAMEX de retaliação,
11:02que isso iria fazer a nossa posição negocial se tornar mais forte do pouco que eu conheço do modelo Trump.
11:10Mas, de novo, do pouco que todos nós conhecemos.
11:13Eu não acho que isso iria demonstrar que ele iria ter medo, iria querer, então, ter uma negociação mais amigável.
11:22Não acredito que isso vá ser assim.
11:25Eu tenho até muito receio de que, se tomarmos mais uma medida, que a resposta seja ainda mais dura.
11:35Que a gente parta para uma guerra comercial aberta.
11:38Lídia, os países e blocos estão se recompondo do tamanho da pancada, calculando prejuízo
11:47e, obviamente, estão estudando como é que vai ser a reconfiguração do comércio
11:51e o que vai ser das próprias alternativas para os seus setores afetados.
11:55Então, a coisa ainda está muito fresca para pensar.
11:57Mas o Brasil tem que pensar uma estratégia e a estratégia brasileira depende dessa reconfiguração.
12:02Você estima ou vê sinais de como pode ser essa reconfiguração de comércio internacional?
12:08Qual deve ser uma linha geral dos países para enfrentar essa nova realidade de comércio sem regras,
12:15pelo menos dos lados dos Estados Unidos?
12:19Eu acho que vai ser toda uma reorganização do comércio internacional,
12:23porque, na verdade, todo mundo sabe que os Estados Unidos são o maior mercado consumidor do mundo.
12:28Ninguém consome tanto como o mercado norte-americano.
12:32Então, uma reorganização não vai ser fácil.
12:35Eu imagino que é muito melhor você negociar isso, todo mundo já sabe, em bloco,
12:39do que você negociar individualmente.
12:43Infelizmente, o Brasil, apesar de ter o Mercosul, o Mercosul não é uma aliança tão forte
12:48como, por exemplo, a União Europeia.
12:51A aliança do BRICS, eu diria que é uma aliança bastante frágil
12:54e não é uma aliança comercial tão forte, muito pelo contrário.
12:58Você tem a China que dá as ordens, digamos assim, nos BRICS,
13:02mas você tem alguns países que são de economia que não há muito,
13:09o Brasil a ganhar com essas economias desses países, muitos países dos BRICS.
13:14Então, o ideal seria uma aproximação à União Europeia,
13:20mas todos nós sabemos que uma aproximação com a União Europeia é extremamente difícil.
13:24Por quê?
13:25Por causa do setor agrícola.
13:26E por quê?
13:27Por causa da França.
13:28O setor agrícola francês não admitirá um acordo agrícola com o Brasil,
13:35porque não tem condições de cortar os subsídios que são dados ao setor agrícola francês.
13:41Então, o baque seria muito grande.
13:44Então, não vejo medida e não acredito que a França conseguirá ir de enfrente
13:50ou de encontro aos seus agricultores.
13:53Já mais de uma vez os agricultores tomaram o país, Paris, como eles gostam de dizer,
13:58entraram com os tratores em Paris, ou seja, não tem presidente francês,
14:03seja Macron, seja de outras ideologias, de outros presidentes,
14:08que conseguiram, de fato, convencer e fazer diminuir subsídios agrícolas aos produtores franceses.
14:18E isso é um grande entrave a um acordo Mercosul-União Europeia,
14:22que seria um bom negócio para todos nós, tanto para a União Europeia quanto para o Mercosul.
14:30desenvolver novos mercados, sempre uma alternativa,
14:35mas todos nós sabemos que você não desenvolve um mercado de um momento para o outro,
14:39de um dia para o outro.
14:41Além do que, nós temos uma proximidade com os Estados Unidos,
14:45podemos exportar para a China?
14:48Temos.
14:48Mas, a distância da China e dos Estados Unidos, isso tem um custo logístico,
14:55ou seja, tem que ter uma reorganização, ou seja, não é fácil,
14:59mas precisa-se pensar numa próxima, numa alternativa que seja viável
15:04e economicamente não faça com que os brasileiros sofram demais.
15:11Talvez o momento agora seja o momento de recuar para se organizar para poder atacar.
15:17Olígia, nesse processo de reciprocidade que o presidente Lula colocou para andar,
15:23como a gente disse, em que momento e quem é que trata dos produtos americanos
15:28que eventualmente serão taxados ao entrar aqui no Brasil?
15:31A própria CAMEX, ela já faz uma lista de considerações, por exemplo,
15:35ponderando as possibilidades, prós e contras de cada uma?
15:39Exato.
15:42Exatamente.
15:42É o papel da CAMEX que vai, inclusive, vai ouvir os setores afetados,
15:47e vai colocar na mesa os números e vai entender quais serão os prós e os contras.
15:53Mas todo mundo já sabe, quer dizer, não precisa ser a CAMEX para saber quais seriam
15:57os setores brasileiros que seriam mais afetados.
16:00Provavelmente, certeza, são os insumos importados e as cadeias globais.
16:05O que nós temos de insumos importados?
16:07Nós temos a indústria farmacêutica, tecnologias de informação, máquinas e equipamentos industriais,
16:16cadeias globais.
16:17Nós temos o agro, o agro vai sofrer, pode sofrer muito, mais ainda.
16:22O setor automotivo, o setor aeronáutico.
16:26Então, esses são os exportadores brasileiros, também, que correm o risco de enfrentar retaliações cruzadas,
16:35além desses setores, do ponto de vista de importação.
16:39Lígia Amara Costa, professora da FGV e a ESP, a Escola de Administração de Empresas de São Paulo,
16:45e ex-funcionária da OMC.
16:47Lígia, muito obrigado pela gentileza da entrevista.
16:49Um bom fim de semana.
16:50Eu que agradeço, um bom fim de semana para você e para todos nós.
16:55Muito obrigado. Obrigado, Vinícius, também.
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