Ex-Camex defende estratégia inteligente contra tarifaço: "Será desigual se não houver reciprocidade"

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O presidente Lula iniciou processo de reciprocidade contra os EUA em resposta à tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Roberto Gianetti, economista e ex-secretário da Câmara do Comércio Exterior, analisou os impactos e estratégias para negociação sem prejudicar consumidores ou a indústria.   Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://timesbrasil.com.br/guerra-comercial/   🚨Inscreva-se no canal e ative o sininho para receber todo o nosso conteúdo!   Siga o Times Brasil - Licenciado Exclusivo CNBC nas redes sociais: @otimesbrasil   📌 ONDE ASSISTIR AO MAIOR CANAL DE NEGÓCIOS DO MUNDO NO BRASIL:   🔷 Canal 562 ClaroTV+ | Canal 562 Sky | Canal 592 Vivo | Canal 187 Oi | Operadoras regionais   🔷 TV SINAL ABERTO: parabólicas canal 562   🔷 ONLINE: https://timesbrasil.com.br | YouTube   🔷 FAST Channels: Samsung TV Plus, LG Channels, TCL Channels, Pluto TV, Roku, Soul TV, Zapping | Novos Streamings   #CNBCNoBrasil  #JornalismoDeNegócios  #TimesBrasilCNBC

Transcript

00:006h19, o presidente Lula determinou o início do processo de reciprocidade contra os Estados Unidos

00:07em resposta à tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.

00:12A Câmara de Comércio Exterior tem 30 dias para analisar a aplicação da lei

00:16e determinou a notificação oficial de Washington.

00:20Apesar do movimento de início de um processo que pode resultar em retaliação,

00:25Lula afirmou nessa sexta que não tem pressa e aposta na medida como instrumento

00:31para abrir negociações comerciais com os norte-americanos.

00:35Sobre esse assunto eu vou conversar agora com o Roberto Janetti, economista e ex-secretário da Câmara do Comércio Exterior.

00:42Janetti, boa noite. Muito obrigado pela gentileza da sua participação aqui com a gente.

00:46Janetti, essa estratégia do governo de tentar fazer a conversa caminhar, já que não está caminhando,

00:53ela pode funcionar com esse propósito ou pode acabar sendo um tiro no pé também?

00:59Bom, depende de como for implementado. Pode ser uma coisa ou pode ser outra, ou as duas até.

01:05Porque, veja só, não deixa de ser uma estratégia em primeiro lugar.

01:10Porque há uma situação pendente das tarifas que foram impostas ao Brasil, altíssimas, de 50%,

01:19sem nenhuma justificativa técnica.

01:23E eles procuraram depois arrumar essas justificativas técnicas pela sessão 301, que eu explico.

01:31Foi uma série de investigações abertas contra o Brasil

01:35para procurar investigar alguma coisa que a gente esteja fazendo errado

01:39em relação às regras do comércio internacional

01:42e daí criar uma justificativa para a tarifa de 50%.

01:47Porque, do ponto de vista do fluxo de exportação e importação,

01:53os Estados Unidos é superavitário em relação ao Brasil.

01:57Então, não é como o caso da Europa, por exemplo,

02:00que a Europa tem 50 bilhões de dólares por ano de superávit que os Estados Unidos.

02:04Então, aí sim, havia um desequilíbrio, uma simetria,

02:07que os Estados Unidos tentam corrigir impondo tarifas que eles agora nivelaram em 15%

02:14para os produtos europeus nos Estados Unidos

02:17e, pasmem, 0% dos produtos americanos para a Europa.

02:22Então, é uma situação diferente ainda do Brasil.

02:25Agora, no caso brasileiro, nós temos que tomar cuidado,

02:27e isso eu tenho certeza que a equipe técnica da CAMETS,

02:30a qual eu já fui secretário executivo e conheço bem o procedimento,

02:33eles vão procurar, primeiro, dialogar com os vários ministérios

02:39que compõem a equipe do governo,

02:43procurando identificar produtos e, chama a atenção, serviços

02:48que possam ser objeto de retaliação,

02:52mas que tragam o menor castigo, o menor prejuízo

02:57para o consumidor ou para o produtor brasileiro.

03:00E eu me explico, qualquer retaliação tem um lado negativo,

03:07um lado que interfere na decisão de consumo

03:13das empresas e dos consumidores brasileiros.

03:16Se nós estamos comprando determinados produtos e serviços dos Estados Unidos,

03:21é porque, primeiro, nós precisamos deles,

03:24segundo, eles têm preço e qualidade melhor que outros concorrentes

03:27e, portanto, foi uma decisão livre do consumidor ou do produtor brasileiro

03:32de comprar produtos e matérias-primas e serviços dos Estados Unidos.

03:36Se a gente põe uma tarifa em cima disso,

03:39vai prejudicar o próprio consumidor brasileiro.

03:42Então, é o que a gente chama o tiro no pé.

03:45E aí, teria, inclusive, uma queda do PIB,

03:47porque você vai ter menos competitividade dos produtos,

03:50evidentemente, cai a demanda,

03:52e isso não é bom nem para a economia brasileira

03:55e, muito menos, para a americana, que vai também ter prejuízo.

03:58Agora, é uma estratégia de negociação,

04:01porque você vai pôr na mesa

04:02essa reciprocidade, a lei da reciprocidade brasileira,

04:07que pela primeira vez está sendo usada,

04:09contra a sessão 301 dos Estados Unidos.

04:13Então, dá uma conversa de barganha.

04:16Você não pode chegar na mesa,

04:18está sendo penalizado pelos Estados Unidos

04:19e você não está fazendo nada contra eles.

04:22Então, fica uma negociação desigual.

04:24Agora, vamos tomar cuidado,

04:25fazer com pragmatismo, responsabilidade

04:28e, principalmente, inteligência.

04:30E o Conselho de Ministros da Camex

04:32dará o mandato, então,

04:34para que essa negociação seja iniciada.

04:37Quer dizer, o que a Camex vai fazer agora,

04:39nas próximas semanas,

04:41a partir desse acionamento do processo

04:43pelo presidente Lula,

04:45é estudar esse cenário,

04:46essa pauta comercial entre os dois países

04:49e pensar produto a produto

04:51sobre qual seria mais estratégico,

04:55viável aplicar uma reciprocidade.

04:58É mais ou menos esse o trabalho da Camex agora.

05:01Sim.

05:02Mas, veja, tem que ser produtos e serviços

05:04que não afetem a qualidade

05:07do consumo desses produtos

05:12pelo consumidor ou pela indústria brasileira

05:15e nem sejam produtos de grande relevância econômica

05:20que tragam prejuízo para o Brasil.

05:23Eu diria que nós vamos encontrar

05:24mais facilidade ou mais condição de retaliação

05:31na área de serviços do que de produtos.

05:33Os Estados Unidos é muito eficiente,

05:36muito competitivo na área de serviços.

05:38E ali tem alguns produtos sensíveis,

05:40alguns serviços sensíveis

05:42que, de repente, a gente pode achar

05:44algum ponto em que vai doer muito

05:47na economia americana.

05:48E aí a barganha fica equilibrada.

05:51Quanto tempo pode levar todo o trâmite

05:53até se definir, se for o caso,

05:56por essa retaliação?

05:58Quer dizer, a Camex, nesse momento,

05:59tem 30 dias,

06:00mas o processo não para aí.

06:01Até a gente chegar, eventualmente,

06:03num ponto de retaliação,

06:05quanto pode passar de tempo?

06:07Olha, eu acredito que,

06:09para esse processo ser,

06:11primeiro, ter um parecer técnico,

06:13respaldando com essa inteligência,

06:15esse pragmatismo que eu citei há pouco,

06:18ser aprovado no Conselho de Ministros,

06:20isso pode ser feito,

06:21uma reunião até extraordinária da Camex,

06:23e depois ser implementado.

06:25Eu acho que é um processo

06:26que vai demorar 60, 90 dias.

06:28E eu acho outra coisa,

06:30que o Brasil está no fim da fila.

06:33Tem dezenas de países querendo negociar

06:35o acordo bilateral dos Estados Unidos.

06:42Abriu um verdadeiro palcão de negociação.

06:47E a fila é grande.

06:47Janete, estamos com uma dificuldade

06:50de comunicação aí no sinal de internet,

06:53acabou cortando a sua fala.

06:56Vamos tentar retomar,

06:57você vinha dizendo que o Brasil

06:59está no fim da fila aí,

07:01que outros países estão à nossa frente

07:03nessa fila para negociar com os Estados Unidos.

07:05Pedir para você, por gentileza,

07:07tentar retomar,

07:07vamos ver se a internet nos ajuda agora.

07:09Ok, desculpe.

07:13O presidente Trump abriu

07:16o verdadeiro balcão de negociação.

07:19E a fila é grande.

07:21Tem dezenas de países querendo negociar,

07:23não só o Brasil.

07:24O Brasil está realmente

07:25numa situação de fim de fila,

07:28porque a razão do nosso tarifácio

07:31não é técnica, é política.

07:33A gente sabe qual é.

07:35Enquanto não terminar o processo

07:37de julgamento do STF,

07:39enquanto alguns outros tópicos

07:41não forem esclarecidos e negociados

07:44nessa relação com os Estados Unidos,

07:46esse tarifácio vai ser mantido

07:49como uma forma de pressão.

07:50Por isso que eu acho que o presidente Lula

07:52está certo quando ele diz

07:53não precisa ter pressa.

07:55Eu sei que para algumas empresas brasileiras,

07:57trabalhadores brasileiros,

07:59isso é aflitivo,

08:00porque eles estão perdendo o negócio,

08:01estão perdendo empregos.

08:03Mas não há o que fazer.

08:04Realmente, a gente tentar

08:06fazer uma negociação

08:08às pressas, mal feita,

08:09é muito ruim para o país,

08:11muito ruim até moralmente,

08:13para a nossa imagem no mundo.

08:15O Brasil ceder a sua soberania

08:18a uma intervenção externa

08:19na nossa justiça,

08:21é algo que eu vejo inaceitável.

08:23Está certo o governo

08:24em manter essa tranquilidade,

08:27colocar uma negociação

08:28realmente num trilho racional,

08:31pragmático e responsável.

08:32Roberto Janetti,

08:34economista,

08:35ex-secretário da Câmara

08:36do Comércio Exterior.

08:37Muito obrigado, Janetti,

08:38pela gentileza da entrevista.

08:40Um bom fim de semana para você.

08:42Para todos também.

08:43Muito obrigado.

08:44Obrigado.

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