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O economista e ex-secretário de Comércio Exterior Roberto Gianetti analisou as negociações entre Brasil e Estados Unidos após o encontro entre Mauro Vieira e Marco Rubio. A retomada diplomática pode reduzir tarifas, impulsionar o mercado de etanol e abrir novas oportunidades bilionárias em minerais críticos e tecnologia verde.

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Transcrição
00:00A gente volta a falar sobre o encontro do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira,
00:05com o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio.
00:08Eu converso agora com Roberto Janetti, economista e ex-secretário de Comércio Exterior.
00:13Professor, boa noite. Obrigada por aceitar o nosso convite.
00:17Está aqui presencialmente.
00:18Professor, ainda é cedo demais ou a gente pode dizer que, de fato, o caminho para o fim do tarifácio foi aberto?
00:25Acho que iniciou aquilo que a gente esperava, que é a diplomacia em jogo, em curso.
00:32Acho que foi muito bom que tenha havido esse primeiro encontro já do nível de encaminhar uma negociação,
00:39mas é o primeiro passo de muitos.
00:41Isso não vai ser uma conversa fácil nem simples.
00:44Eu julgo que isso ainda vai rolar até o final do ano e, quem sabe, até o início do ano que vem,
00:49para chegarmos a uma solução consensual entre o Brasil e os Estados Unidos,
00:53que são muitos pontos para conversar.
00:56Tem assuntos de minerais críticos, tem assuntos de colaboração para abrir o mercado internacional de etanol,
01:03tem assuntos relacionados a data centers.
01:06Eu acho que todos esses tópicos vão ser ainda discutidos com profundidade.
01:11E, portanto, não é uma coisa que, do dia para a noite, não vamos esperar que o assunto seja resolvido.
01:16Paciência para fazer bem feito, porque fazer mal feito é fácil.
01:19É, um passo depois do outro. Mas dá para a gente reverter ou amenizar, pelo menos, essas tarifas, na sua opinião?
01:26Ah, não tenho a menor dúvida. Porque as tarifas também não interessam nos Estados Unidos.
01:30As tarifas, quem paga é o consumidor americano.
01:33Claro que prejudica também o Brasil, porque ficando mais caro os produtos brasileiros no mercado americano,
01:39reduz o consumo. Então, a gente exporta menos. Não é que esteja proibido.
01:43Para alguns casos, a tarifa é tão alta que se torna proibitivo.
01:46É quase um embargo.
01:48É quase um embargo. Mas, por exemplo, o café, para pegar um caso clássico, o café ficou mais caro.
01:54Vão consumir menos. Agora, eles podem prescindir do café brasileiro? Não.
01:59Porque o café brasileiro, a qualidade dele é necessária para fazer o blending nos Estados Unidos.
02:05Só que vai ficar mais caro. Eles vão consumir menos, nós vamos vender menos.
02:08Então, é um problema de olhar o interesse dos dois países.
02:12Mas, a quem interessa o tarifácio? Na verdade, a ninguém.
02:17É um perde-perde, na opinião do senhor?
02:18É um perde-perde. Porque não é produtos.
02:20Da lista dos produtos, eu diria que a maioria, os Estados Unidos, não vai produzir lá.
02:27Ele vai continuar importando, porque não tem questões até naturais,
02:32ou às vezes até de vocação, de tipo de trabalho.
02:35Não vai mudar a produção para lá.
02:38Então, essa ideia do Trump, não, vamos fazer tudo na América, isso não existe.
02:42Vai continuar muita coisa sendo feita no Brasil.
02:44E quanto mais barato e mais competitivo for, melhor para o consumidor americano.
02:49E nesse perde-perde, dá para a gente dizer quem perde mais?
02:53Se é os Estados Unidos ou a gente?
02:54Eu acho que, na minha percepção, os Estados Unidos perdem mais.
02:57Por incrível que pareça, quer dizer, é um tiro no pé para eles.
03:01Porque eles não vão ter a transferência da indústria e vai ficar mais caro para o consumidor americano.
03:06O Brasil consegue desviar parte da produção, que é para os Estados Unidos, para outros países, que está acontecendo.
03:11Você vê que a balança comercial não teve nenhum efeito significativo.
03:15Então, eu acho que os Estados Unidos perdem mais.
03:17Inclusive, traz inflação, que começa a aparecer em alguns produtos, em alguns índices, especialmente na área de alimentos.
03:26Já um efeito inflacionário que não poderia estar ocorrendo, mas é por conta do tarifácio.
03:34E, para o consumidor americano, é a menor qualidade de vida.
03:38Porque ele está tendo o menor poder de compra em vários produtos que ele estava habituado.
03:42Na opinião do senhor, o Brasil falhou na estratégia diplomática, ao deixar chegar aonde chegou essa questão?
03:50É, eu acho que sim.
03:51Eu acho que faltou, talvez, uma atitude preventiva, sabendo que essa conversa...
03:58Desde abril, a gente sabia que essa conversa estava esquentando.
04:03Eu, aliás, levei um susto quando vi que o Brasil estava com apenas 10% de tarifa na primeira lista.
04:09Até foi uma boa surpresa, porque...
04:10Devou um susto, porque imaginou que seria mais.
04:12É, que seria mais.
04:14Daí, acho que naquele momento, a gente já deveria ter começado uma conversa.
04:19É isso mesmo? Vai ser 10%? Então, ok.
04:22Vamos agarrar esses 10%.
04:23É, vamos agarrar os 10%.
04:24Se tem alguma coisa que a gente pode melhorar na relação, vamos abrir aqui um diálogo construtivo.
04:31Não, nós ficamos calados, mudos.
04:33Como se, sabe, aquilo não tivesse nenhum risco.
04:38E, de repente, vem os 40% a mais, que coloca a taxa em 50%.
04:43Aí, eu acho que nós falhamos de não termos tido uma atitude preventiva.
04:48Mas, enfim, mal está feito.
04:50Eles erraram, nós erramos também.
04:53Mas dá tempo de consertar, sem maior dano, para os dois países.
04:57Vamos passar para a pergunta dos nossos analistas.
04:59Vinícius, começar por você.
05:00Janete, boa noite.
05:03Essa negociação, que você bem disse, vai ser longa.
05:06E, em vários casos, os Estados Unidos levou pelo menos 3, 4 meses para chegar a um acordo quadro de diretrizes.
05:15É possível que os Estados Unidos peçam acesso a mercado de bens?
05:21Quer dizer, redução de tarifa brasileira.
05:24Não só daqueles produtos que já são negociados com os Estados Unidos.
05:28Produtos que não vêm para cá, porque a tarifa é alta.
05:31Porque os Estados Unidos conseguiu isso até com a União Europeia.
05:33Conseguiu com a Coreia do Sul.
05:35No caso da Indonésia, que a gente não vai levar muito a sério, mas é a décima sexta maior economia do mundo.
05:40No caso da Indonésia, ele conseguiu uma abertura quase total.
05:43Quase zeragem de tarifa, de importação.
05:46Os Estados Unidos vão pedir isso, vão querer isso.
05:49Você acha que o Brasil vai ter que negociar abertura de mercados de bens?
05:53Olha, Vinícius, eu acho que a tarifa média que o Brasil tem com os produtos americanos já é bastante reduzida.
06:00Isso é efetiva, né?
06:02Não conta aquelas de produtos que não vêm para o Brasil, porque, por exemplo, automóvel, 35%, a gente não importa fora um outro milionário.
06:10Mas, assim, essa é a tarifa efetiva dos bens negociados.
06:12Eu estou falando daqueles que não vêm, por quê? Por causa de tarifa alta.
06:16É, pode ser que tenha algum outro caso que isso possa acontecer.
06:20Mas eu acho que eles estão com muito foco num produto que eu quero citar aqui, que é o etanol.
06:25E nós temos uma tarifa de 18% e eles estão, como tem muita produção nos Estados Unidos e no Brasil,
06:33é um produto que está muito no foco da relação bilateral.
06:36E aqui a nossa sugestão é que, primeiro, se for para reduzir a tarifa, que seja igual para os dois países
06:43e que seja uma tarifa relativamente, vamos chamar assim, ainda protetiva, na faixa de 12%, 15%, por aí, para os dois lados, com cota.
06:53Porque a gente tem que deixar de procurar competir um com o outro no mercado de etanol
07:00e olhar para o mundo, que nós podemos colaborar, Brasil e Estados Unidos, para criar um mercado internacional de etanol.
07:07Conversa que vem desde 2007, quando o presidente Bush visitou o Brasil e esteve com o presidente Lula.
07:13Assinaram aqui, perto ali até do aeroporto de Guarulhos, numa reunião com a Petrobras e empresas americanas,
07:23um acordo para criar um mercado internacional de etanol.
07:25Isso nunca foi feito.
07:27Temos que recuperar esse documento e colocá-lo de novo na mesa e vamos criar um mercado internacional de etanol,
07:33onde os dois países saem ganhando.
07:36O Brasil tem hoje potencial para crescer, Estados Unidos também,
07:39e isso pode criar dezenas de bilhões de dólares de exportação adicional para ambos os países
07:44e não ficar disputando de forma mesquinha quem vai exportar mais de um mercado para o outro,
07:50quando nós somos os dois protagonistas de longe desse mercado de biocombustível.
07:55Vamos passar para a pergunta do Gayer, lá em Brasília. Gayer.
08:00Janete, boa noite.
08:02O vice-presidente-geral do Alckmin falou nesta semana sobre a possibilidade
08:06de os Estados Unidos retirarem as tarifas enquanto acontece a negociação.
08:11Ele disse que isso foi um pedido do Brasil.
08:13Pela sua experiência e diante desse cenário de química entre Donald Trump e o presidente Lula,
08:18hoje de reunião entre Marco Rubio e Mauro Vieira,
08:22esse cenário é factível ou o investidor vai ter de esperar o fim das negociações completas
08:29para ver, de fato, o que vem de saldo do fim do tarifaço?
08:34Olha, eu creio que o vice-presidente Geraldo Alckmin se inspirou nessa sugestão que ele deu,
08:40na verdade, isso é uma sugestão, um desejo dele, naquilo que aconteceu com a China,
08:44que teve uma trégua.
08:46É mais um wishful thinking.
08:47É um wishful thinking.
08:48É, o que quer que seja.
08:50Bom, com o Xi Jinping, de repente, ele esteve lá e falou,
08:53vamos suspender a tarifa que era de 100%,
08:56vamos começar uma negociação e depois a gente vê como é que fica.
09:00Só que, enfim, não deu certo, né?
09:04Quer dizer, a China está de novo com 100%,
09:06colocou a questão das terras raras aí também numa tensão muito grande
09:11e eu acho que talvez tenha sido isso.
09:14Eu não acredito que os Estados Unidos vá suspender a tarifa de 50% do Brasil
09:18enquanto negocia.
09:20Por quê?
09:20Por uma razão muito simples e pragmática.
09:22Perderia o poder de barganha.
09:23E nós também, vamos dizer assim, a gente está vivendo com essa tarifa de 50% sem drama.
09:31Nós também estamos com o poder de barganha melhorado porque nós não estamos assim,
09:35vamos chamar mortalmente feridos que estão lá, pelo amor, desespero, corta a tarifa.
09:42Não.
09:42Vamos sentar com calma, com firmeza e negociar com uma coisa que pode ser boa para os dois países,
09:48mas que saia exatamente dessa relação de concessões recíprocas e benefícios também mútuos aos dois países.
09:57Professor, qual seria o pior erro que o Brasil poderia fazer nesse momento?
10:03Seria não ter flexibilidade de negociar.
10:05Por exemplo, a questão das chamadas terras raras,
10:08que eu prefiro chamar metais críticos ou minerais críticos
10:11porque é muito mais amplo do que os 17 elementos das terras raras.
10:15Isso é uma coisa que leva os Estados Unidos ao desespero.
10:18Por quê?
10:19Porque atinge indústrias estratégicas dos Estados Unidos,
10:23no setor militar, no setor aeroespacial, tecnológico,
10:28toda a parte ligada à economia verde, baterias, painéis solares, etc.
10:34Aí surge esse fato de que o Brasil tem 25% das reservas mundiais.
10:40Isso precisa ser esclarecido.
10:41Nós não temos reservas, nós temos indícios.
10:44Quando se fala na parte, por acaso, especialização em economia mineral.
10:49Eu sei do que estou falando.
10:51Quando você faz pesquisa geológica, você tem três níveis de reserva.
10:54Reserva inferida, reserva estimada e reserva medida.
10:59O que existe no Brasil é reserva inferida.
11:01São indícios.
11:02Nós temos muitas terras raras, ocorrências, em vários depósitos que a gente conhece.
11:07Só que elas não estão sequer estimadas e muito menos medidas.
11:12Então, tem um investimento muito grande a ser feito em pesquisa geológica.
11:17E depois tem um outro papel ainda, que aí os Estados Unidos podem ser importantes,
11:22que é no processamento do minério.
11:25Porque esse minério tem que ser concentrado e refinado.
11:28E é essa tecnologia que nem os Estados Unidos e nem o Brasil hoje conseguem concorrer com a China.
11:34Então, você vê que tem uma mina de terra rara hoje em produção no Brasil, que é de Serra Verde.
11:41Sabe onde é que o concentrado é tratado?
11:44Na China.
11:45Porque nós não temos opção.
11:47Você manda para os Estados Unidos, eles também não têm como tratar.
11:49Então, nós precisamos investir.
11:51Estados Unidos e Brasil precisamos parar de brigar.
11:54E nesse aspecto, nós temos convergência com os Estados Unidos.
11:57Vamos fazer um trabalho de desenvolver tecnologia.
12:00Porque não é impossível.
12:02É claro, se a China tem, por que a gente não pode...
12:04Não é questão, eles não são mais inteligentes.
12:06Eles investiram mais.
12:07E antes, nós temos que investir juntos agora para desenvolver tecnologia de processamento e refino dos metais críticos
12:15para podermos ter realmente capacidade de competir com a China.
12:19E para isso, os Estados Unidos é o nosso maior parceiro.
12:22Porque essa reserva também de baixo do solo intocável não vale nada.
12:26O que adianta você olhar para a montanha que está lá e dizer,
12:29ó, aqui eu tenho uma fortuna.
12:31Você precisa aproveitar aquilo.
12:33E as gerações atuais querem isso.
12:35O mundo precisa dessas reservas.
12:38Nós não podemos ficar sentada em cima delas, em berço esplêndido, como diz o nosso hino,
12:43sem aproveitar.
12:44Para isso, precisa de investimento, tecnologia, muito trabalho.
12:48E mais outra coisa, celeridade no processo.
12:50Na licença ambiental e licença mineral, precisa ter fast track, precisa dar prazo.
12:56Seis meses, um ano, senão o investimento não vem.
13:00Eu sou investidor no setor mineral, eu vejo assim, ficar três, quatro anos esperando uma licença ambiental,
13:06mata qualquer investimento.
13:07Com essa taxa de juros, com essa dificuldade de crédito para o setor mineral,
13:11tem que ter uma...
13:12Está tendo criado isso, mas ainda está muito incipiente.
13:15Tem muita conversa a ser feita e nós temos que conversar de forma pragmática com os Estados Unidos
13:20para que os dois saiam ganhando e o mundo saia ganhando.
13:24E acho que é bom que isso esteja acontecendo até a Cristiane,
13:26porque eu acho que está despertando o tema de uma forma, de uma relevância...
13:31Está jogando luz sobre um tema que não se dava tanta importância.
13:34Colocou o bode na sala.
13:36Nós temos que resolver isso agora, não é daqui a 10, 15 anos.
13:39É agora que nós temos que resolver isso.
13:41Professor Janete, um prazer recebê-lo aqui.
13:43Muito obrigada.
13:44Eu que agradeço. Estão sempre à disposição.
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