No Discutindo Direito, o Procurador de Justiça Marcio Sérgio Christino explica por que, segundo ele, o narcotráfico não é classificado como terrorismo. Christino afirma que a “ideologia do tráfico é dinheiro”.
Baixe o app Panflix: https://www.panflix.com.br/
Inscreva-se no nosso canal: https://www.youtube.com/c/jovempannews
Siga o canal "Jovem Pan News" no WhatsApp: https://whatsapp.com/channel/0029VaAxUvrGJP8Fz9QZH93S
00:00O secretário de defesa norte-americano, Peter Hexet, classificou as organizações de narcotráfico da América Latina como Al-Qaeda da América Latina.
00:12E o presidente Donald Trump está considerando como organizações terroristas, tanto que já está praticamente numa operação de guerra,
00:20considerando o ditador Nicolás Maduro como o chefe do cartel do SOIS.
00:25Qual é a sua avaliação sobre classificar organizações de narcotráfico como organizações terroristas e usar equipamento bélico das forças armadas para o seu combate?
00:36Na verdade são duas questões. O narcotráfico não é um terrorismo porque o objetivo dele é lucro.
00:45Ele não tem ideologia. A ideologia do tráfico é dinheiro.
00:49Eles não querem necessariamente se confrontar com o Estado.
00:53Eles se confrontam com o Estado porque o Estado se opõe. É um obstáculo para ele conseguir.
00:58Mas se eles conseguissem, por exemplo, arrecadar o dinheiro e traficar, eles não iriam corromper nem iriam atacar o Estado porque a atividade deles não é essa.
01:07Eles querem o dinheiro do tráfico. Já se falou que a cocaína é a bomba atômica da América Latina.
01:13Também tem esse viés. Mas eles não querem jogar bomba em lugar nenhum. Eles não querem destruir nada.
01:19Eles querem lucrar. O terrorismo tem outro significado.
01:23Eles querem destruir alguma coisa para causar medo com objetivos políticos.
01:28Então eles querem derrubar um poder, tomar determinada região, fazer um separatismo.
01:35Então o terrorismo tem esse viés. Vamos lembrar do ataque do Hamas a Israel.
01:40O ataque do Hamas a Israel foi um ato terrorista. Por quê?
01:44O que o Hamas visava de lucro ali? Que dinheiro eles ganharam atacando Israel?
01:49Nada. E muito pelo contrário. Eles foram massacrados, perderam tudo.
01:53Mas o objetivo deles não era ganhar dinheiro.
01:55Então aí você tem o terrorismo. Hamas atacando Israel.
01:58Agora, quando você tem um traficante matando um candidato, atacando um delegado e matando,
02:07você não tem terrorismo. O que ele quer é impedir a investigação, é atemorizar os seus adversários,
02:12é vingança, mas no final de tudo, tal lucro, tal dinheiro que ele quer ganhar com segurança.
02:20Muito bem. Agora, vamos falar de uma organização criminosa que o senhor conhece muito bem,
02:25porque o senhor foi um dos promotores que mais se destacaram no seu combate.
02:31Houve um grupo de promotores que combateram essa organização criminosa.
02:35Um deles, nosso colega, o doutor Lincoln Gaquia, paga um preço altíssimo, né?
02:39Ameaçado de morte. Ele e sua família cercado o tempo todo.
02:43Praticamente perdeu o seu direito, a liberdade, a sua vida.
02:46Então eu pergunto, PCC.
02:48Mais ou menos em 1993, PCC eram sete gatos pingados jogando bola num presídio lá no Vale do Paraíba, no Tremembé.
02:58O que aconteceu para que ele se transformasse na maior organização criminosa, alguns dizem, da América Latina?
03:05Nós fomos lenientes Estado, Poder Público, Executivo, Legislativo, Judiciário, órgãos de controle, de alguma maneira, para permitir que chegasse a esse ponto?
03:17Na verdade, é a soma de duas grandes características, duas grandes circunstâncias.
03:23A primeira foi a existência de uma liderança capacitada.
03:27Você tinha o Zé Márcio Felício, que é o Geleão, o César Augusto Auriciba, que era o Cezinha, que tinham uma visão, digamos assim, quase ideológica de futuro.
03:39O que eles pretendiam? Eles diziam o seguinte, olha, nós queremos dominar o meio ambiente criminoso.
03:47Eles queriam dominar a massa carcerária.
03:50Eles não estavam projetando atacar fora naquele momento.
03:54Eles queriam domínio lá dentro. Por quê?
03:56Porque vinham as quadrilhas de fora, em que o que acontecia?
04:00Geralmente é uma quadrilha de... Vamos dar um exemplo aleatório.
04:03Rouba banco. Eram dez caras que praticavam rouba banco.
04:05Eles eram presos, entravam no sistema prisional.
04:07E esses dez mantinham dentro do sistema prisional a mesma estrutura que eles mantinham fora.
04:13E começavam a tiranizar os outros presos.
04:16Abusava, tirava, não sei o quê.
04:18O que o Zé Márcio e o Cezinha viram foi o seguinte, foi a ideia dele do seguinte,
04:22olha, quem está fora, está fora.
04:24Mas o cara entrou aqui, aqui ele não é mais nada.
04:27Aqui quem manda somos nós.
04:29E eles criaram um ambiente dentro do presídio, onde você não tinha mais a exploração de um preso para o outro.
04:36Então, quando alguém ia se explorar, ele falava assim, não, esse cara está na minha proteção, eu sou do PCC.
04:40E isso ampliou a influência do PCC.
04:44Só que eles eram criminosos, eles não eram políticos.
04:48E a mentalidade deles foi voltar essa ideia para o crime.
04:52Então, eles começaram a praticar crimes fora também, dirigindo, façam isso, façam aquilo, aquela outra coisa.
04:59E isso começou a crescer e começou a dar certo.
05:03Porque o Estado demorou muito tempo para perceber que isso estava acontecendo.
05:10E quando percebeu, ao invés de reprimir e fazer, ele escondeu, ele omitiu essa existência.
05:19Até que não pôde mais.
05:20Tanto assim, que o maior combate efetivo com o PCC começou apenas depois da Mega Rebelião.
05:30Porque a Mega Rebelião, no começo dos anos 2000, ela tornou o PCC conhecido.
05:34Ninguém mais podia dizer que não existia.
05:36Mas até aquele momento, havia uma negação oficial de que o PCC existisse.
05:41Só que quando começou a repressão, o monstro já existia.
05:46O vírus já estava instalado e o corpo já estava infeccionado.
05:50E de lá para cá, isso veio evoluindo.
05:54Eu não tenho dúvidas de que se não tivesse a vida, se não houvesse o combate que houve desde aquela época,
06:01hoje eles seriam muito mais fortes do que eles são.
06:04Quer dizer, eu vi comentários de funcionários do sistema de que o preso chega,
06:10ele recebe uma certa assistência, uma acolhida, e depois ele é obrigado a pagar.
06:15Ele recebe uma toalha, sabonete, algumas coisas, ele é obrigado a pagar isso.
06:18E a maneira dele pagar a proteção que ele recebe durante o período de prisão
06:23é ser obrigado a cometer crimes quando ele sai, senão a sua família pode ser responsabilizada.
06:29Existe esse tipo de arquitetura?
06:31Chega a esse tipo de organização?
06:33Ou é um pouco de lenda também?
06:34Isso é um pouco de lenda, porque a estrutura criminosa que eles mantêm é muito diferente disso.
06:39Hoje, mais do que nunca, o PCC é tráfico.
06:44É traficante, eles são traficantes.
06:46Então você tem o controle da venda de drogas, de tráfico, nas regiões, por São Paulo,
06:54cidade de São Paulo, por exemplo, você tem o controle total da venda de drogas aqui.
06:58Você não vende droga aqui em São Paulo se você não for filiado no PCC.
07:02Não existe aquela figura do traficante de primeira viagem, do cara que vende para pagar o próprio...
07:10Não.
07:10É tudo mapeado, é tudo organizado.
07:13Houve uma operação da Polícia Civil recentemente, chamada Auditores,
07:16que eles tinham um mapa do que eles chamam lojas.
07:20São as biqueiras.
07:21Loja 1 vendia tanto.
07:23Tanto com metas.
07:25Metas de produção.
07:26Metas de venda.
07:27Então você tem, você vendeu 800 reais aqui, não sei, mas a quantia são bem maiores.
07:32Vamos dizer assim, você vendeu 800 reais aqui, se essa semana você vendeu 750, não pode.
07:36Você tem que vender pelo menos 850.
07:39E aí eles cobram esse...
07:40Então, o que acontece, por exemplo, se uma pessoa for para a Bolívia,
07:44roubou um carro, vai na Bolívia, troca por dois quilos de cocaína, chega aqui e quer vender?
07:48Não dura um dia.
07:50Porque quando você começar a vender, alguém virá até você e fala,
07:53olha meu chefe, aqui que essa área é nossa, você não pode vender aqui.
07:57Das duas, uma, ou você passa a trabalhar para eles, eles te matam.
Seja a primeira pessoa a comentar