O professor Feliciano Guimarães, do Instituto de Relações Internacionais da USP e diretor acadêmico do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebre), analisou no Real Time o primeiro encontro entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado americano, Marco Rubio. Ele explicou como tarifas, comércio, Brics e questões políticas estratégicas influenciam a relação Brasil-EUA.
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00:00E as negociações entre Estados Unidos e Brasil mudaram de patamar após o encontro entre o chanceler brasileiro Mauro Vieira e o secretário de Estado norte-americano Marco Rubio.
00:10O timing da diplomacia é diferente do pragmatismo da vida comum.
00:14Então vamos conversar sobre este primeiro round dos entendimentos entre os dois países com o Feliciano Guimarães,
00:20professor do Instituto de Relações Internacionais da USP e diretor acadêmico do SEBRE, o Centro Brasileiro de Relações Internacionais.
00:29Oi professor, muito bom dia para você, seja bem-vindo aqui ao Real Time, tudo bem?
00:34Bom dia, tudo bem, como vai? Obrigado pela oportunidade, é um prazer falar com vocês aqui, Eric.
00:39Prazer é todo nosso de tê-lo conosco aqui no Times Brasil, licenciado exclusivo CNBC.
00:44Professor, ontem a gente viu ali a primeira conversa, né, que ajuda já ao dar o início, né, para distensionar essa relação entre Brasil e Estados Unidos.
00:53Nenhuma informação prática foi divulgada, mas alguns elementos sinalizam de que essas conversas possam evoluir ali para um final interessante ou benéfico para o Brasil, né?
01:05A gente viu que Jameson Greer, um dos principais representantes comerciais dos Estados Unidos, estava presente também na reunião,
01:12encontra um bate-papo aí que levou cerca de uma hora.
01:15Com certeza eles devem ter trocado alguma pauta, né, de reivindicações aí para saber o que os dois lados querem.
01:22É um sinal importante, é um bom passo já para tentar unificar os dois países e começar a desconstruir essas barreiras tarifárias?
01:30Eu acho que sim, eu acho que é um momento importante, é um momento positivo, de um processo que continuará a ser duro, né,
01:39não é natural que você tenha agora dos dois lados manifestações positivas sobre reunião, né,
01:45dizendo que foi uma boa conversa, que agora vamos preparar uma agenda conjunta,
01:50mas será, obviamente, uma negociação bastante difícil nos próximos meses, né.
01:54O mais importante é você realmente ter uma reunião pública, né, entre o Mark Rubio e o ministro Malvieira,
02:02isso vai distensionar um pouco as relações e vai, sobretudo, criar um mecanismo de contato diplomático mais frequente
02:11entre o Departamento de Estado e o Ministério das Relações Exteriores, isso que não havia até então, né.
02:15O governo brasileiro não tinha conseguido ainda entrar diretamente nesse canal de contato
02:20que o Departamento de Estado tem com todos os outros países, né.
02:22Agora conseguiu, por isso que é um momento importante, aparentemente a ordem veio de cima, né,
02:27foi uma decisão do presidente Trump em contato com o presidente Lula para você começar essa negociação,
02:32e agora que efetivamente a negociação concreta dos temas vai acontecer.
02:37Agora é importante que a gente tenha a noção de que nós nunca mais voltaremos para aquele ambiente pré-tarifas, né.
02:44As tarifas vieram para ficar no mercado americano, o que nós podemos fazer nessa negociação agora
02:49é retirar essa média tarifária que está em 40%, né, que é 50% para vários produtos,
02:55mas aí tem várias exceções, então a média tarifária caiu um pouco,
02:58para aquele primeiro cenário que os americanos tinham aplicado no Brasil
03:01e a muitos outros países de 10% de tarifas, né.
03:04Então, agora nós vamos tentar fazer uma negociação entre esses dois campos,
03:08entre esses dois polos, para sair um resultado melhor.
03:11Agora, isso efetivamente vai fazer com que as nossas exportações,
03:15que vêm diminuindo, como foi apontado recentemente aí na própria reportagem, né,
03:19para os Estados Unidos, não diminuam tanto, mas elas vão diminuir,
03:23inveravelmente vão diminuir, né, porque as tarifas, elas fazem um,
03:27elas criam um certo bloqueio no comércio entre os dois países.
03:31Então é um momento importante, nós não podemos superestimar esse momento,
03:35achar que agora a relação vai ficar positiva, porque não ficará positiva,
03:37mas também nós não podemos subestimar, que achar que esse momento não tem nada de importante.
03:42Então ainda o processo será longo.
03:44Ah, com certeza.
03:45Professor Feliciano, o senhor acredita que nessa negociação vai haver acordos mais setorizados,
03:55individualizados?
03:56Por exemplo, a gente tem o café, o café brasileiro, a exportação caiu bastante para os Estados Unidos,
04:01porém os norte-americanos têm sentido falta do café brasileiro
04:05e tem pressionado o governo Trump.
04:07O senhor acha que vai ser mais setorizado, produto a produto, ou em bloco?
04:11Pode acontecer aí, por exemplo, uma revisão dessa sobretaxa?
04:16Olha, eu sempre digo que não dá para viver sem o café brasileiro, né?
04:19Os americanos são os maiores importadores.
04:21O Brasil é o maior produtor de café no mundo dos últimos 150 anos, né?
04:25E de longe é o maior produtor e o maior exportador mundial.
04:28Não há possibilidade de outros países conseguirem substituir o café brasileiro na sua totalidade
04:34do mercado americano ou qualquer outro mercado, da produtividade que a produção de café no Brasil tem.
04:39Então esse é um setor que muito provavelmente os americanos acharão um acordo com o Brasil
04:44para reeminar as barreiras estabelecidas para que o fluxo volte a ser mais ou menos normal,
04:49com alguma tarifa, mas uma tarifa um pouco menor do que foi aplicado.
04:52O que eu acho é o seguinte, eu acho que a negociação não será uma negociação apenas sobre tarifas.
04:58É importante que se diga isso.
04:59As tarifas vão estar dentro de uma negociação de vários temas,
05:03que vão passar desde os temas mais políticos, né?
05:06Que é a questão dessa ameaça aos americanos, à Suprema Corte Brasileira,
05:10até outros temas da relação bilateral, como a relação do Brasil com a Venezuela,
05:15a questão das terras raras, né?
05:18Que é um interesse muito, os materiais estratégicos que o Brasil tem,
05:21que é de interesse muito grande nos Estados Unidos,
05:24o interesse das big techs no Brasil e a importância que elas dão,
05:28algumas regulamentações que são negociadas no Congresso Brasileiro
05:31e outras posições do Brasil em outros temas internacionais.
05:35Então as tarifas vão estar dentro desse contexto mais amplo.
05:39Então é importante que os setores econômicos, eles devem ter consciência disso,
05:42de que algumas barganhas serão feitas entre temas políticos versus temas tarifários.
05:46E que, portanto, é difícil prever que tipo de solução será dada a um setor ou outro.
05:53O que eu sempre digo é o seguinte, se o governo brasileiro, nesse processo agora,
05:57que iniciou nessas últimas semanas com os americanos, conseguir evitar
06:01com que até as eleições de 2026 o governo americano aplique mais sanções
06:08a autoridades brasileiras ou ao Brasil, já será uma vitória.
06:11Se o Brasil conseguir, nesse processo, diminuir as tarifas de alguns setores,
06:16será uma super vitória.
06:18Mas nós não podemos achar que essas tarifas de alguns setores,
06:21mesmo as de 50% ou 40%, irão baixar nessa negociação.
06:25Não necessariamente irão baixar.
06:28Porque, primeiro, como a gente sabe, os americanos estão aplicando tarifas no mundo todo,
06:32alguns países mais, outros países menos, isso veio para ficar.
06:35Isso que gera uma grande instabilidade, porque as decisões vão e vêm,
06:39e elas têm muita variação, não têm uma racionalidade, uma teoria econômica
06:43pela decisão de tarifas, são decisões meramente políticas,
06:46dentro de uma barganha bilateral entre os Estados Unidos e aquele outro país.
06:51Vou tirar um exemplo claro.
06:52Ontem, o vice-presidente Alckmin anunciou que o governo da Índia vai comprar
06:556 milhões de barris de petróleo do Brasil.
06:57Por quê?
06:58Porque o governo americano aplicou tarifas extras na Índia
07:02porque a Índia compra petróleo da Rússia,
07:05que vende um petróleo mais barato por conta da guerra, na Ucrânia.
07:08Então, vai comprar do Brasil.
07:10Por que a Índia faz isso?
07:12Porque ela quer retirar a tarifa que os americanos aplicaram à sua economia.
07:16Então, mostra que é sempre politizado.
07:19Portanto, nós não podemos, o que eu imagino que pode acontecer,
07:22é uma grande frustração de vários setores econômicos brasileiros,
07:25porque a negociação do governo brasileiro, às vezes,
07:27não redundará em derrubada específica de tarifas.
07:31É porque a questão é muito mais ampla que tarifas.
07:34Na relação com o Brasil, é uma questão política.
07:37Quando você lê aquela carta inicial do presidente Trump,
07:40é um ataque político ao Brasil.
07:42É quase uma sanção econômica ao Brasil.
07:44E ali a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes
07:47sobre argumentos implausíveis,
07:49que a lei foi feita para grandes violadores dos direitos humanos,
07:54mostra que é um ataque político ao Brasil.
07:56E tem outro, só o último ponto, Eric, que é,
08:00existem também as táticas de negociação,
08:03que é o governo americano comprar tempo na negociação com o Brasil.
08:05A gente não pode subestimar o interesse americano
08:09de simplesmente levar com a barriga,
08:11de levar o Brasil nos próximos meses
08:13com uma negociação diplomática mais branda,
08:16mais calma, mais normal,
08:18para na virada do ano, em 2026,
08:20quando começarem os seus debates eleitorais,
08:21os americanos aumentam a pressão
08:23e adicionam vários tipos de sanções seguidamente.
08:26Por isso que é importante também
08:28não ceder e não negociar imediatamente.
08:32Porque se você cede e negocia imediatamente,
08:35certo, setor A versus setor B com temas X e Y,
08:38nada impede que os americanos,
08:40daqui a quatro meses,
08:41dobrem a aposta.
08:42Foi isso que aconteceu com o Panamá,
08:44foi isso que aconteceu com a Índia,
08:45e isso aconteceu com vários países e a União Europeia,
08:49que imediatamente negociaram,
08:50abriam um processo de negociação com os americanos,
08:52acharam um acordo,
08:54está aqui, está firmado,
08:55você vai ceder esse...
08:56Eu vou ceder isso,
08:58passa dois meses,
08:59o Trump ataca novamente.
09:00E aquele acordo breve é rompido.
09:03Portanto,
09:03tem que ter muita paciência,
09:06é um jogo,
09:06é uma corrida de fundo,
09:07é uma maratona,
09:08não é uma corrida de 100 metros.
09:10Até porque Donald Trump é imprevisível,
09:13a gente não sabe como ele pode acordar amanhã,
09:16o humor de Donald Trump,
09:17tudo pode mudar.
09:18Agora, professor,
09:19o senhor tocou num ponto importante,
09:20que não é só questão comercial.
09:23Os Estados Unidos,
09:24claro,
09:24estão de olho nas terras caras brasileiras,
09:26tem a questão do etanol,
09:27para entrar no mercado também aqui do Brasil,
09:31mas os Estados Unidos querem um apoio brasileiro
09:34para outras questões,
09:35que são,
09:36por exemplo,
09:37parar com essa história de inventar
09:40ou criar uma moeda específica
09:42para as negociações dos BRICS,
09:44eles querem apoio contra a desdolarização,
09:47o presidente Lula ventilava bastante
09:50essa questão de uma nova moeda ali para os BRICS,
09:53Donald Trump não quer isso,
09:54quer acabar com isso,
09:55a gente já viu a China,
09:56baixou o tom,
09:57a Índia,
09:57inclusive,
09:58nessa questão também parou de alardear
10:01uma nova moeda.
10:02Em relação à Venezuela,
10:04os Estados Unidos estão com uma tensão ali
10:08na Venezuela,
10:09e o presidente Lula já falou hoje
10:11que o problema da Venezuela
10:12é do povo venezuelano,
10:14então tem algumas coisinhas
10:16que poderiam causar ruído
10:17no meio do caminho.
10:19Isso poderia mesmo causar esse ruído
10:22até onde o Brasil poderia ir,
10:24nas suas palavras,
10:25o apoio, por exemplo,
10:26à Venezuela,
10:27a essa criação de uma nova moeda dos BRICS?
10:31A questão da moeda dos BRICS
10:32é um bom ponto,
10:33isso o Trump,
10:34várias vezes em tweets,
10:35reclamou dos BRICS,
10:36que estavam fazendo uma moeda,
10:37que isso não ia acontecer e tal.
10:39Na realidade,
10:39os BRICS não discutem a criação
10:40de uma nova moeda,
10:41a questão fundamental dos BRICS
10:43é o uso de moedas locais,
10:45Brasil e rupia,
10:46por exemplo,
10:47real e rupia da Índia,
10:49na transação comercial,
10:51remime da China com o real brasileiro,
10:54então essa é para não passar pelo dólar.
10:55Isso em si já é ruim para o dólar
10:57como moeda internacional de transação,
10:59porque diminui a demanda
11:00pela moeda do dólar,
11:01mas não é a criação efetiva
11:02de uma moeda.
11:03Existe a retórica em relação a isso,
11:05que é muito sensível
11:06isso aos Estados Unidos,
11:06existe as decisões práticas
11:08dos bancos centrais,
11:09dos ministérios da fazenda,
11:11da economia,
11:12dos países dos BRICS.
11:13Eu acho que as questões práticas
11:14elas são inexoráveis.
11:16É cada vez maior
11:17essa tendência
11:18entre os países dos BRICS
11:19de fazer comércio
11:21com suas moedas locais
11:22sem passar pelo dólar.
11:24Isso significa
11:25novas legislações
11:27que têm que ser aprovadas
11:28em cada um desses países,
11:29especificamente,
11:30e os atores econômicos
11:32teriam interesse
11:33de receber a moeda estrangeira,
11:35o que tem crescido
11:36e tem crescido pouco.
11:38É bom que se diga,
11:39é a troca do real
11:40com o remílio da China,
11:41por exemplo.
11:42É muito pouco ainda
11:43perante o poder
11:45do dólar
11:46no mercado internacional.
11:47Então, existe uma dimensão
11:48da retórica
11:49e existe uma dimensão
11:49da prática.
11:50Se o Brasil recuar,
11:52não só o Brasil,
11:53mas a Índia também,
11:53na retórica em relação
11:55à moeda dos BRICS,
11:56como é assim,
11:56colocada pela mídia
11:57e pelo debate público,
11:59já pode aliviar um pouco
12:01a pressão
12:02dessa negociação.
12:05Agora, a questão da Venezuela,
12:06ela é muito mais sensível,
12:07porque estão crescendo os sinais
12:09de que os americanos
12:10vão usar força
12:11contra a Venezuela.
12:12Nós não sabemos
12:13se eles vão fazer
12:14só medidas de inteligência
12:16contra o governo Maduro,
12:17se eles vão efetivamente
12:18fazer ataques militares,
12:20bombardeio na Venezuela.
12:22A invasão americana,
12:23até o momento,
12:24parece improvável
12:25porque o número de tropas
12:26que os americanos
12:26estão reunindo
12:27em torno do Mar do Caribe
12:28ainda não é suficiente
12:29para esse tipo de ação,
12:30mas elas vêm crescendo
12:31e elas vêm se aproximando
12:32cada vez mais
12:33da costa venezuelana.
12:35Isso tem gerado
12:35uma pressão enorme
12:36na Venezuela.
12:37Ontem, o jornal
12:38Miami Herald, por exemplo,
12:39noticiou que já
12:41isso está gerando
12:42um dissenso
12:42dentro do governo Maduro,
12:43que você tem grupos
12:44do governo Maduro
12:45tentando negociar
12:45separadamente com os Estados Unidos
12:47para que os americanos
12:48não façam uma pressão maior.
12:50E nós, o Brasil,
12:51podemos ser duramente
12:52afetados
12:52por esse tipo de ação.
12:54Porque se os americanos
12:55usarem a força
12:55contra a Venezuela,
12:56isso pode gerar
12:57uma crise enorme
12:59na Venezuela.
12:59E nós temos
13:00uma fronteira
13:00de 2 mil quilômetros
13:01com a Venezuela,
13:03em Roraima.
13:04Não é à toa
13:04que o Brasil
13:04tem aumentado
13:05o número de tropas fixas
13:06e também
13:07de exercícios militares
13:08em Roraima.
13:09Então, Brasil
13:10e Estados Unidos
13:12podem coordenar
13:13as ações
13:14em relação
13:14à Venezuela?
13:15Essa é uma possibilidade
13:17da negociação em si.
13:19É claro que o Brasil
13:19quer evitar ao máximo
13:21que os americanos
13:22usem a força
13:22contra a Venezuela.
13:24E é muito difícil
13:25o Brasil.
13:26O Brasil não tem os meios
13:26de, caso os americanos
13:27tenham tomado essa decisão,
13:28de impedir
13:29com que isso ocorra.
13:30mas o Brasil
13:31pode, nesse processo,
13:33criar um relacionamento
13:34de contatos diplomáticos
13:37com os Estados Unidos
13:38nessa questão
13:39venezuelana.
13:40Então, essa é uma outra
13:41possibilidade
13:42de que os americanos
13:43estão fazendo
13:43esse movimento tático
13:44de agradar o Brasil,
13:47de chamar o Brasil
13:47para negociação,
13:48mas, na realidade,
13:49eles estão fazendo isso
13:49porque eles querem
13:50fazer com que o Brasil
13:52não mais seja tão duro
13:54em relação aos Estados Unidos
13:55na questão da Venezuela,
13:56por exemplo.
13:56Eles falam assim,
13:57vamos recuar um pouco
13:58com o Brasil,
13:58vamos fazer com que o Brasil
14:00sinta que a gente
14:01está se aproximando deles
14:02e que, portanto,
14:03eles não podem ser tão duros
14:04contra a nossa posição
14:06que nós vamos ter
14:07com a Venezuela
14:07e que, depois,
14:08a gente renegocia com o Brasil
14:09e volta a ser duro
14:10com o Brasil.
14:11A gente não pode esquecer
14:12que há setores
14:14muito importantes
14:15do governo americano
14:16que querem aumentar
14:18a pressão
14:18contra o Brasil,
14:20inclusive o próprio
14:20Marco Lula,
14:21porque existe a questão
14:23estratégica de longo prazo
14:24e existem os movimentos
14:25táticos de curto prazo.
14:27Nós não podemos cair
14:29numa situação
14:29que a gente acha
14:30que a gente até agora
14:31vai normalizar a relação
14:32com os Estados Unidos
14:33porque simplesmente
14:33é um movimento tático
14:34dos Estados Unidos
14:35e não uma mudança estratégica.
14:37E a mudança estratégica
14:38pode ser de continuidade
14:40da pressão
14:40contra o Brasil.
14:42Por isso que eu falei
14:43que é uma maratona.
14:44A gente vai ver várias idas
14:45e vindas
14:46nesse processo
14:47de negociação.
14:48Então é importante
14:49que os setores econômicos
14:50brasileiros,
14:51afetados pelas tarifas,
14:52tenham plena consciência
14:53que nada virá amanhã.
14:55E se vir alguma coisa amanhã,
14:57pode mudar depois amanhã.
14:59Professor Feliciano,
15:00até porque Donald Trump
15:02não mudou a sua linha ideológica,
15:04ele que é mais ligado à direita,
15:06é voltado ali
15:07ao centro-direita
15:08e a gente sabe
15:09que a gente tem um governo
15:10hoje de esquerda
15:11aqui no Brasil,
15:12então ele quer uma aproximação,
15:14mas ele não mudou
15:14a sua ideologia,
15:16então sabe
15:17que um governo de esquerda
15:18não favoreceria a ele,
15:19mas ele precisa do Brasil
15:22que já ganhou
15:22um protagonismo mundial
15:24em relação até
15:25com fortalecimento de BRICS,
15:28a gente viu
15:29nas Nações Unidas
15:30também
15:30o presidente Lula
15:32sendo ovacionado,
15:33tendo uma voz
15:34muito importante
15:35então para os Estados Unidos
15:36é uma posição
15:37até simpática
15:39se aproximar
15:40nesse momento
15:40do Brasil.
15:42E até em relação a isso,
15:43eu queria saber
15:44do senhor ontem
15:44o chanceler Mauro Vieira
15:46confirmou que o encontro
15:48entre Lula e Trump
15:49está confirmado,
15:50não tem uma data marcada,
15:51mas que em breve
15:52deve acontecer.
15:53Um encontro pessoal
15:54entre os dois,
15:55isso também pode ajudar
15:57bastante o Brasil?
15:58A gente sabe
15:58que o presidente Lula
16:00é um encantador político,
16:02politicamente falando,
16:04ele encanta
16:04com quem ele conversa
16:05e foi assim na ONU,
16:06por exemplo,
16:07a gente viu o Trump
16:07dizendo que rolou uma química,
16:09que gostou muito
16:10de ter encontrado Lula.
16:11Isso pode ser
16:12benéfico para a gente,
16:14um encontro pessoal
16:15entre os dois?
16:16Pode sim,
16:17eu acho que
16:18os dois presidentes
16:20eles podem impedir
16:21qualquer,
16:21principalmente o presidente Trump,
16:23grupos mais radicais
16:25dentro do governo americano
16:26contra o Brasil
16:27tomem conta
16:27da negociação.
16:28Então,
16:29é importante que se diga
16:30o seguinte,
16:30o presidente Trump
16:31não gosta de perdedores.
16:34Esse primeiro movimento
16:35que eles fizeram
16:36de pressionar
16:36a Suprema Corte Brasileira
16:38deu tudo errado.
16:39Eles fortaleceram
16:39o presidente Lula
16:40e não mudaram
16:41as decisões
16:42da Suprema Corte Brasileira.
16:43Então,
16:44existe também
16:45uma análise
16:45dos americanos
16:46que eles precisam fazer
16:47uma mudança
16:47da estratégia.
16:48Essa estratégia
16:49não está funcionando,
16:51a gente precisa fazer
16:52outra estratégia.
16:53É que tudo depende
16:54do objetivo da estratégia.
16:55Qual é o objetivo
16:56da estratégia?
16:57Inicialmente,
16:58eu lembro
16:58que na primeira vez
16:59que eu li a carta,
17:00a primeira impressão
17:01que eu tive na época,
17:01e muitos outros
17:02comentadores
17:04também falavam isso,
17:05é de que o governo americano
17:06queria mudar
17:06o governo brasileiro.
17:07Fazer uma mudança
17:08de regime,
17:09como a gente chama,
17:10que era pressionar
17:11a Suprema Corte Brasileira,
17:12aumentar o poder
17:13da oposição do Brasil
17:15para que a oposição
17:16eventualmente pudesse
17:17ganhar uma eleição
17:18em 2026.
17:20Esse tiro saiu
17:20pela culatra
17:21até o momento.
17:22Então,
17:22eles podem estar
17:23mudando a estratégia
17:24sem que tenham,
17:26com isso,
17:26mudado o objetivo
17:27da estratégia.
17:28Então,
17:28é importante que se tenha
17:29isso em mente.
17:31São dois negociadores
17:32ultra-experientes,
17:34que é o presidente Lula
17:35de um lado,
17:35o Trump do outro,
17:37o ministro Mauro Vieira,
17:38o Mark Rube,
17:39o Celso Morin,
17:40e assim vai.
17:41Então,
17:41ninguém vai enganar ninguém,
17:42então eles vão saber ler
17:43os momentos aqui
17:45da negociação.
17:47Mas é importante
17:48que se diga que
17:48esse apoio
17:50irrestrito
17:51do governo americano
17:52aos grupos
17:53bolsonaristas
17:54no Brasil
17:54está em dúvida.
17:56Pode ser que volte
17:57a ter esse grande apoio
17:58em 2026.
18:00Pode ser que não volte,
18:00depende um pouco agora
18:02das circunstâncias.
18:03Porque em política externa,
18:05muitas vezes o governo
18:06faz uma estratégia,
18:07elabora uma estratégia,
18:09faz as ações,
18:09as ações
18:10dão errado,
18:11elas não funcionam.
18:12Então,
18:13essas estratégias
18:13precisam ser revistas.
18:15Pode ser que os americanos
18:16estejam passando
18:17por um processo
18:17de revisão
18:18dessa estratégia
18:20e o presidente Trump,
18:21mais do que ninguém,
18:22que demandou
18:23essa revisão
18:24da estratégia.
18:24Vamos mudar a estratégia,
18:25vamos tentar engajar
18:26o Brasil
18:27de outra maneira.
18:28E eu queria ressaltar
18:29também um papel importante
18:30que a diplomacia
18:31empresarial teve
18:32nos últimos dois meses.
18:35Dado que o Itamaraty
18:36tinha muita dificuldade
18:37de acessar
18:38o presidente
18:38do governo americano,
18:39foram os empresários
18:40brasileiros,
18:41que têm grandes investimentos
18:43nos Estados Unidos,
18:44inclusive alguns empresários
18:45que fizeram doações
18:46à campanha do próprio Trump
18:47lá nos Estados Unidos,
18:47dado que eles têm
18:48grandes investimentos lá
18:49e têm interesses econômicos lá,
18:51que conseguiram audiências
18:52com o presidente Trump
18:53e passaram ao presidente Trump
18:55uma visão diferente
18:56sobre o Brasil.
18:56Porque, veja,
18:57o governo americano
18:58tem muita informação
18:59sobre o Brasil.
19:00Primeiro, ele tem
19:01a rede de embaixadas,
19:02tem os mecanismos
19:03de espionagem
19:04e tem a quantidade
19:05impressionante
19:06de especialistas
19:07sobre o Brasil,
19:08dentro do Brasil
19:09e nos Estados Unidos.
19:10Então, informações
19:10sobre o Brasil
19:11eles têm.
19:12Eles estavam selecionando
19:13aquelas informações
19:14que Eduardo Bolsonaro
19:15e Paulo Figueiredo
19:17passavam
19:18para o governo americano.
19:21Davam credibilidade
19:21a essas informações.
19:22Com a conversa
19:24entre o Trump
19:24e esses empresários
19:25brasileiros,
19:26outras informações
19:28com credibilidade
19:29chegaram aos ouvidos
19:30do Trump.
19:31E ele é uma pessoa,
19:32como nós sabemos,
19:33é um empresário,
19:33portanto,
19:34escuta empresários
19:35de sucesso,
19:36reconhece empresários
19:37de sucesso.
19:38E também,
19:38outra coisa,
19:39é que eles subestimaram
19:40o presidente Lula
19:40na sua vontade
19:41de resistir à pressão.
19:43Então,
19:44e o presidente Trump
19:45respeita muito isso.
19:46Se você ler
19:47A Arte da Negociação
19:48do livro dele,
19:49que eu tenho aqui,
19:50usei várias vezes
19:50em aula,
19:51esse é um dos pontos
19:52fundamentais.
19:53A força do oponente,
19:55digamos assim,
19:55o quão forte
19:58é a decisão
19:58da contraparte
20:00em resistir
20:01às pressões
20:02que eu faço.
20:03Então,
20:03o Brasil,
20:03ao contrário
20:04da maioria dos países
20:05da América Latina
20:05que foram pressionados,
20:06resolveu
20:07fincar o pé,
20:09não ceder
20:10no primeiro momento.
20:11Isso teve um efeito
20:12muito positivo
20:12no processo de negociação.
20:14Mas agora,
20:15é uma nova fase,
20:16é uma outra lógica
20:17de negociação,
20:18porque nós,
20:18de fato,
20:19estamos no processo
20:20de negociação.
20:20Então,
20:21por isso que eu falei
20:22que vai ser
20:23um longo processo
20:24e que deve continuar
20:26durante todo o ano
20:27de 2026,
20:28até no mínimo
20:29as nossas eleições
20:30em outubro,
20:30novembro de 2026.
20:33Professor Feliciano Guimarães,
20:34queria muito agradecer
20:35a sua participação
20:36aqui no Real Time.
20:37Um ótimo final de semana
20:38para o senhor,
20:39um grande abraço,
20:40viu?
20:40Obrigado, Eric,
20:41pela oportunidade.
20:42É sempre um prazer
20:43falar com o Real Time
20:44e estou sempre à disposição.
20:45Um abraço
20:46a todos os telespectadores.
20:48Obrigado.
20:49Tchau, tchau.
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