José Niemeyer, economista e professor de relações internacionais do Ibmec-RJ, analisou no Money Times Brasil o impacto do novo acordo entre Estados Unidos e União Europeia. Ele discutiu riscos para o Mercosul, pressões sobre o Brasil e a urgência de uma política externa mais estratégica.
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00:00Money Times de volta ao vivo falando agora de um dos acordos recentes fechados por Donald Trump que foi com a União Europeia e diminuiu aquela tarifa inicial de 30% para uma tarifa básica de 15% em troca de uma lista de investimentos europeus nos Estados Unidos e compras maciças de energia e de equipamentos militares.
00:21União Europeia e Mercosul estava em meio a um acordo comercial anterior inclusive às tarifas de Donald Trump. Agora como é que fica esse acordo? Será que esse acordo de União Europeia com Estados Unidos pode atrapalhar de alguma forma o desenrolar da conversa com o Mercosul e por consequência para a gente aqui no Brasil é o tema da conversa com o economista e professor de relações internacionais do IBMEC do Rio de Janeiro José Neymar que já está aqui com a gente ao vivo no Money Times para falar mais sobre isso.
00:48Tudo bem José? Bem-vindo de volta ao Money Times. Boa tarde.
00:52Oi Natália. Obrigado pelo convite. Um abraço a você, o Filipe e o assessor da TPC.
00:58Bom, vamos lá José. Trazendo todo aquele contexto, qual que é a principal mudança prática para o Brasil, para o Mercosul nesse momento em que Estados Unidos e União Europeia se aproximam ali, pelo menos fecham um acordo próprio, reduzindo tarifas, ampliando relações. Como é que isso impacta o Mercosul e o Brasil?
01:16Olha, eu acho importante o acordo União Europeia e Estados Unidos porque para a economia internacional e para o comércio exterior isso dá mais liquidez ao sistema internacional e o Brasil pode se aproveitar disso.
01:29O Brasil exporta produtos com mais valor agregado para os Estados Unidos da América, óleos combustíveis, suco de laranja, café torrado e moído, aviões, aços finos, produtos de ferro e aço.
01:42Para a União Europeia o Brasil exporta mais produtos agrícolas, uma variedade bem maior do que para os Estados Unidos.
01:49Os Estados Unidos não vão fornecer para a União Europeia os produtos do agronegócio que o Brasil pode vender para a União Europeia, principalmente dentro do acordo do Mercosul.
01:58Então, me parece que ainda temos oportunidades no comércio exterior brasileiro.
02:03O acordo União Europeia e Estados Unidos é positivo para o sistema econômico internacional e o Brasil precisa agora fechar definitivamente um acordo com a União Europeia,
02:13mostrando para os europeus que eles não vão ter preço de carne de frango, carne bovina, de soja, de açúcar, de alquanido, de vinho,
02:22ou de vários produtos que alguns países europeus pensam produzir com excelência e não produzem mais,
02:29porque a agricultura é subsidiada na União Europeia, para o Brasil conseguir chegar nesses mercados.
02:34Para isso, o Brasil vai ter que abrir mão de um certo reserva de mercado para compras governamentais.
02:41O que é isso, Natália e Filipe?
02:42Na hora que as construtoras brasileiras forem construir grandes obras aqui, elas terão que competir com construtoras alemãs, francesas, italianas,
02:52que vão operar esses serviços de construção, para dar um exemplo em compras governamentais aqui no Brasil.
02:59Na hora que a Petrobras for comprar máquinas e equipamentos, ela não vai comprar só das empresas que fornecem aqui no Brasil máquinas e equipamentos,
03:07vai comprar das grandes produtoras de máquinas e equipamentos ligadas a petróleo europeias.
03:11Então, há oportunidades. Eu estou mais preocupado, Natália, bem mais preocupado nesta semana com a questão norte-americana.
03:19Por quê? Porque o Brasil, nos últimos anos, não diversificou muito a sua pauta de exportação.
03:25Esse é o problema estrutural do Brasil.
03:27Então, na hora de negociar com os Estados Unidos, me parece que não é o melhor dos mundos o presidente Lula a negociar com o Trump.
03:35É melhor que as equipes de Itamaraty e do Departamento do Estado, que já estão conversando com o chanceler Mauro Veira
03:40e com a nossa embaixadora muito competente e lógica, a Maria Luísa Viotti,
03:45para que a gente possa ouvir o que os Estados Unidos têm como proposta,
03:49se é definitiva aquela taxação e o Brasil oferecer, por exemplo,
03:54e vai fazer isso porque a economia norte-americana é mais importante para o Brasil
03:58do que o Brasil para os Estados Unidos, no geral, do comércio exterior.
04:01E o Brasil vai oferecer, por exemplo, baixar a tarifa de importação para alguns produtos
04:05que ele já importa dos Estados Unidos, da América.
04:08Eu acho que esse seria um bom início de conversa.
04:11Uma conversa agora entre o presidente Lula e o presidente Trump,
04:14eu não acho que é um bom meio estratégico para este momento.
04:18Certo. Felipe, sua pergunta.
04:20É verdade, professor, até porque o presidente Lula, a gente tem visto aí nos encontros públicos,
04:25nos comícios praticamente, comícios públicos ali, nos encontros,
04:30ele tem tido uma atitude um pouco de confronto, realmente é bom esperar um pouquinho.
04:36Mas, professor, eu queria saber do senhor, como é que o senhor vê esse mundo pós-tarifas?
04:42Daqui a pouco vai ser meio que... a gente vai ter um cenário um pouco mais claro,
04:47depois de 1º de agosto, ali, ao longo do mês de agosto.
04:50Como é que você vê esse cenário geopolítico que está se desenhando
04:54nesse mundo pós-tarifas do Donald Trump?
04:57Olha, Felipe, excelente questão.
04:59Eu sou analista também da área de segurança internacional.
05:02Eu até discuto um pouco mais temas de política internacional contemporânea
05:05e segurança internacional do que economia.
05:07Mas com vocês aqui eu tenho essa honra de poder discutir temas de economia internacional,
05:11que para mim é um grande prazer também, pela minha formação.
05:14Mas a situação internacional é muito grave.
05:17Vamos pegar o caso do Brasil.
05:18O Brasil está agora numa enrascada, ou numa esquina difícil de saber se ele vai para a direita ou para a esquerda.
05:25Literalmente.
05:26Porque nós não podemos ter só os Estados Unidos da América,
05:29só e somente só os Estados Unidos da América, como nosso parceiro comercial estratégico.
05:34Nós teremos que ter outros parceiros comercial estratégicos, como é a China,
05:37ou como é o mundo asiático, como é a União Europeia.
05:40Ainda mais com o acordo do Mercosul, União Europeia.
05:42E o Brasil é o grande país dentro do Mercosul para poder comercializar com a União Europeia.
05:46É muito maior que a Argentina, Paraguai e Uruguai, nem preciso dizer.
05:50Então, nós estamos com esta esquina no mundo, porque o mundo está muito dividido.
05:55Eu não diria que hoje há dois blocos, não.
05:57Hoje há pelo menos três blocos.
06:00Eu identifico os Estados Unidos da América com uma postura muito autárquica,
06:04nacionalista, sob o governo Trump.
06:05Eu identifico a União Europeia, que nos últimos meses se separou um pouco do ponto de vista estratégico militar
06:12dos Estados Unidos da América com relação à guerra na Ucrânia, por exemplo.
06:16E temos a China e a Rússia, essa formando um bloco, sim, de uma interdependência complexa entre China e Rússia.
06:21A China ajuda muito a Rússia nesse esforço de guerra.
06:25Está exportando e importando, fazendo a linha de comércio com a Rússia,
06:29que é necessária para manutenção do balanço de pagamento russo,
06:32para que o país não quer, e o país vai bem, vai estar com crescimento.
06:35Geralmente, o esforço de guerra, Natália e Felipe, geram um crescimento econômico.
06:39Então, você tem esses três blocos.
06:41O Brasil tem que olhar esses três blocos com muita responsabilidade,
06:45como que eu chamo de uma autonomia, mas uma autonomia com responsabilidade.
06:48Ela tem que ser uma autonomia estratégica,
06:50porque o Brasil é muito mais fraco do que esses países,
06:53tanto do ponto de vista econômico e comercial,
06:55como do ponto de vista estratégico e militar.
06:58A gente vê esse movimento de um certo isolamento,
07:03um protecionismo, já falando dos Estados Unidos,
07:06mas também tem gente que fala e critica um certo isolamento do Brasil
07:10nas negociações, professor, com a União Europeia agora priorizando os Estados Unidos,
07:15e a gente vê também o dólar se valorizando diante do real.
07:20Esse contexto pressiona mais o Brasil, nesse momento geopolítico conturbado?
07:25Como que o senhor está vendo esse... Quem que está mais isolado aí?
07:29Olha, o Brasil acabou se isolando, e aí é uma questão que nós não vamos ter a resposta certa, Natália.
07:35O que aconteceu no final da cúpula dos BRICS,
07:38que fez com que o presidente Lula tivesse aquele discurso,
07:41que do ponto de vista conceitual, com relação à governança global,
07:45foi um discurso correto, mas incomodou muito os Estados Unidos da América,
07:48principalmente o questionamento do dólar como moeda padrão para as negociações e a economia internacional.
07:55Só que Xi e Putin, os líderes russo e chinês, nem foram àquela conferência e não falaram sobre isso.
08:02Então, talvez o Brasil tenha se exposto ali.
08:05O presidente Trump se aproveitou disso para aumentar as tarifas,
08:09para questionar também questões de política doméstica no Brasil,
08:12que aí eu acho que estaria fora da alçada do presidente Trump
08:16se intrometer em questões da política doméstica brasileira,
08:19isso é da soberania nacional brasileira,
08:21como também nós não podemos nos intrometer diretamente em questões políticas norte-americanas.
08:27Então, o Brasil realmente, você tem razão,
08:29ele acabou assumindo uma posição ligada ao mundo em desenvolvimento,
08:34mas que acabou sendo uma posição que hoje está muito exposta
08:38a este sistema internacional, que é contraído, competitivo e fragmentado.
08:44Num sistema contraído, competitivo e fragmentado,
08:48o Brasil tem que ter mais responsabilidade, dar passos para trás
08:51e observar esses três centros de poder,
08:53numa perspectiva de global trader, não de global player.
08:58O Brasil não será um global player nos próximos 200, 300 anos.
09:02O Brasil não vai influenciar em temas de segurança internacional.
09:05O Brasil vai participar nos temas de comércio e de economia e cooperação econômica internacional.
09:11Nada mais além disso, está muito bom para o Brasil.
09:14O Brasil está longe dos centros de ruptura, tem uma economia forte,
09:18pode aumentar a sua pauta de exportação com a União Europeia
09:21e pode aprimorar as suas pautas de exportação e importação com os Estados Unidos da América
09:26e tocar a vida.
09:27O Brasil tem que tocar a vida com muita responsabilidade
09:30e não buscando uma autonomia que ele pode até ter vontade de ter,
09:35mas ele não tem capacidade para bancar esta autonomia.
09:38Certo.
09:39Quero agradecer a José Neemeyer, economista e professor de Relações Internacionais do IBMEC Rio de Janeiro,
09:45pela entrevista excelente aqui ao vivo no Money Times.
09:47Muito obrigada, viu, professor?
09:49Até a próxima.
09:50Eu que agradeço, Natália.
09:52Um abraço a você, ao Felipe e ao assinante da CRIBC.
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