Enquanto os EUA endurecem tarifas, o Brasil intensifica laços com o México e Ásia em busca de novos parceiros comerciais. A visita de Alckmin ao México reforça a estratégia de diversificação frente à pressão do governo Trump. O cenário global pode se reconfigurar diante da imprevisibilidade americana. Karina Calandrin, professora de relações internacionais do Ibmec-SP, traz detalhes.
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00:00Paralelamente às tentativas de negociar com os Estados Unidos, o governo atua para ampliar e intensificar relações comerciais com outros países.
00:10É o caso do México. Uma comitiva liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin vai ao país, México, agora em agosto.
00:18A visita foi acertada em um telefonema entre o presidente Lula e a presidente mexicana, Cláudia Sheinbaum.
00:24Sobre isso eu converso com Karina Calandrin, que é professora de Relações Internacionais do IBMEC em São Paulo, a quem eu recebo aqui no Conexão de maneira remota e agradeço a presença.
00:37Professora Karina, a gente viu aí nos 15 primeiros minutos do jornal que existem duas claras linhas de negociação com os Estados Unidos.
00:45Uma com o teor político, em que os ânimos estão bem mais inflamados e outra uma linha mais comercial, propriamente dita, liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que tem sinais aí de mais solidez.
01:04Vou achar uma terceira via, saindo da relação política Brasil-Estados Unidos, da relação comercial Brasil-Estados Unidos,
01:12olhando para o que pode vir a ser uma saída, tendo a hipótese que as portas sejam fechadas dos Estados Unidos para o Brasil,
01:22o que justifica essa viagem do Brasil para o México, a aceleração nas tratativas de Mercosul com a União Europeia.
01:32No seu entendimento, isso pode, neste momento em que o caldo está na fervura, isso mais pode prejudicar ou ajudar o Brasil?
01:42Perdão pela minha longa introdução aqui, queria deixar todo mundo na mesma página. Boa noite mais uma vez.
01:49Boa noite, muito obrigada pelo convite.
01:52Bem, visto as tensões que têm se intensificado com esse tarifácio de Donald Trump,
02:01e vamos lembrar que as razões pelo tarifácio agora aplicado ao Brasil são muito diferentes das razões do tarifácio aplicado a outros países.
02:12A relação comercial Brasil-Estados Unidos, ela é superavitária para os Estados Unidos.
02:19Nós importamos mais dos Estados Unidos do que eles importam de nós.
02:24Então, no início do tarifácio aplicado por Donald Trump, o Brasil estava na tarifa mais baixa, que era de 10%,
02:31exatamente por sermos esse país que, para os Estados Unidos, é vantajosa a relação.
02:38Temos essa relação de vantagem comercial para eles.
02:42E esse era o princípio adotado pelo governo americano até então.
02:45Então, aqueles que eram superavitários, tudo bem, mantém a tarifa base de 10%.
02:51E com aqueles que têm uma relação deficitária, que eles aplicariam uma tarifa muito maior para tentar diminuir esse déficit.
03:01O que acontece agora é um caso, então, fora, um ponto fora da curva, que é o caso atual com o Brasil.
03:07Com isso, o Brasil tem que buscar alternativas, exatamente porque esperamos que as tarifas serão aplicadas agora, a partir de agosto.
03:17E o Brasil tem que buscar alternativas porque os Estados Unidos são um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, junto com a China.
03:25China e Estados Unidos, primeiro e segundo lugar.
03:27Então, o Brasil tem que buscar alternativas com outros parceiros.
03:32Diversificação de parceiros é a saída.
03:34Então, por isso, fora da estera política, que eu acredito que o Brasil não deva se envolver, porque isso pode prejudicar ainda mais a relação,
03:43acho que a iniciativa de Geraldo Alckmin é muito bem-vinda.
03:47Então, buscar alternativas com parceiros estratégicos, como é o caso do México,
03:52e algo que o Brasil já vinha fazendo antes do tarifaço, quando o presidente Lula foi para o Japão,
03:58visitou países do Sudeste Asiático mais cedo este ano.
04:01Perfeitamente. Eu até completo a sua observação, professora Karina.
04:05O presidente Lula já anunciou que pretende fazer uma nova viagem,
04:10num futuro não muito distante, também para a Ásia, para expandir essas novas parcerias comerciais,
04:17como ele voltou aí com contratos assinados com o Vietnã, por exemplo.
04:21Agora, vamos olhar, porque a China, perdão, a China, o México está naquela zona de influência dos Estados Unidos,
04:29está numa zona completamente orbital dos Estados Unidos, tanto que pertence ao Tratado United States Mexican in Canada, o SMCA.
04:39Isso não seria uma provocação, talvez, olhando ali para as entrelinhas?
04:48Não corremos o risco da Casa Branca olhar isso como uma provocação?
04:51E aí eu vou estender a pergunta, fazendo uma observação de quem também estudou relações internacionais,
04:57que é o seguinte, as relações internacionais à diplomacia, elas são baseadas em teorias,
05:02em aspectos históricos, em normas, mas também convenhamos, professora Karina,
05:09nós temos um presidente dos Estados Unidos que quebra todos esses protocolos, né?
05:13No dia 2 de abril, quando o Trump aparece lá com a placa do tarifácio e não sei o quê,
05:19a própria Casa Branca apresenta uma equação justificando as tarifas.
05:25Passados aí 120 dias, 115 dias, o presidente Donald Trump, a Casa Branca, o governo americano na atual administração,
05:32simplesmente rasga a própria regra do jogo deles, some com aquela equação e agora aplica o que nós,
05:42o que para nós era 10%, que entuplica para 50%.
05:45Então a gente sai da menor tarifa para a maior tarifa, sem nenhuma justificativa matemática,
05:52como ele havia feito em 2 de abril, há pouco mais de 4 meses, ou há pouco menos de 4 meses.
05:57Então, nós aproximarmos de alguém que está na órbita nos Estados Unidos,
06:03aí para que lado da balança vai pender na sua opinião?
06:08Bem, eu acho que qualquer atitude do Brasil agora que não seja ceder aos caprichos de Donald Trump
06:13pode ter consequências na relação comercial.
06:17Mas não fazer nada também não muda a situação brasileira com os Estados Unidos
06:23e nós temos um setor exportador que é a principal força econômica brasileira
06:30e que precisa de alternativas neste momento, que gera empregos, que gera riqueza para o Brasil
06:35e que precisa encontrar novos compradores.
06:39Então é um pouco, uma equação muito delicada que o governo brasileiro tem que fazer.
06:44Se não se aproxima de parceiros que podem, de alguma forma, absorver parte da produção brasileira
06:51que os Estados Unidos agora não irão mais consumir,
06:55esse setor exportador irá sofrer muito economicamente.
06:59Então essa busca de parceiros é importante.
07:03Visto a aproximação com o México, vamos lembrar que o México, assim como o Canadá,
07:07apesar desse acordo de livre comércio com os Estados Unidos,
07:10também sofreram tarifas bem altas, aplicadas na primeira etapa do tarifácio de Donald Trump
07:17e conseguiram reverter essas tarifas, não apenas na negociação diplomática,
07:24mas também se impondo frente aos Estados Unidos e demonstrando aos Estados Unidos
07:28que eles sairiam perdendo com essas tarifas.
07:31Então o México e o Canadá tiveram uma postura bastante assertiva.
07:35Então acredito que o Brasil se aproximar do México não será uma provocação tão grande
07:41quanto, por exemplo, se aproximar de outros países com que os Estados Unidos
07:45têm uma relação mais complicada atualmente, como é o caso da China,
07:50que já o Brasil é bem próximo, faz parte junto nos BRICS
07:54e também é o maior parceiro comercial do Brasil hoje.
07:57Então acredito que se aproximar do México ou de outros países não será uma provocação,
08:02pois a relação já está muito tensionada.
08:06Acredito que outras decisões mais recentes da política brasileira,
08:10nem tanto na área comercial, é que podem prejudicar a relação com os Estados Unidos
08:14mais do que essa especificamente.
08:17Professora Karina, é claro que a gente abre aqui uma margem de interpretação,
08:21estamos fazendo aqui uma construção de hipóteses,
08:24porque o presidente Donald Trump, e de novo, não estou fazendo nenhuma crítica,
08:28é um fato concreto, que nesses seis meses de governo ele já mudou muito as próprias regras do jogo.
08:36Então a gente não sabe exatamente o que vai acontecer,
08:38porque a qualquer momento ele pode mudar a tarifação, mudar a regra,
08:42exercer maiores períodos de latência, suspensão e tudo mais.
08:47Então os nossos dados são pouco concretos,
08:50mas eu gostaria de aproveitar a sua presença aqui, a sua expertise,
08:53para um desafio, que é um cenário imagético.
08:57A gente não sabe exatamente quais serão, quando e como serão aplicadas as tarifas,
09:03visto que ele já mudou de opinião várias vezes.
09:05Mas a gente entende que vai haver um novo reposicionamento
09:08nessa analogia clássica do tabuleiro da geopolítica.
09:12Na sua interpretação, o que pode restar?
09:15Seja o tarifácio aplicado na risca da regra, seja ele flexibilizado,
09:21vai haver novas cadeias de conexões.
09:26Então o desafio que eu lhe lanço agora, professora Karina,
09:28é para a gente fazer um cenário imagético aqui, desafio ponto dois,
09:33que é, a gente tem um minuto mais de conversa.
09:37Eu acredito que as tarifas sendo aplicadas,
09:41então o Donald Trump cumprindo a sua promessa e aplicando essas tarifas no Brasil,
09:47que, novamente, como já citamos, não seguem uma lógica comercial,
09:53não seguem as diretrizes que tinham sido apontadas pelo próprio governo Donald Trump
09:59para a aplicação das tarifas,
10:02isso pode representar um risco para outros países.
10:05Então isso pode gerar um temor no cenário internacional
10:10de que outros países sofrerão tarifas dos Estados Unidos
10:15sem necessariamente ter uma relação deficitária de comércio internacional com eles.
10:21Então, simplesmente por uma razão política da conjuntura,
10:26às vezes doméstica do país, que foi o caso do Brasil.
10:29Nem era de uma postura internacional brasileira,
10:32pelo menos essa não foi a justificativa dada pelos Estados Unidos.
10:34Então isso apresenta um risco muito grande
10:37e pode, por exemplo, criar um temor nas bolsas de valores internacionais,
10:43o aumento do dólar, como já vemos.
10:45Então tudo isso pode tensionar ainda mais o cenário.
10:49Queria agradecer a conversa que eu tive com a professora Karina Calandrin,
10:54que é docente de Relações Internacionais do IBMEC de São Paulo.
10:58Obrigado pela presença.
10:59E repetidamente eu encerro as entrevistas dizendo
11:02temos de esperar para ver o que vai acontecer.
11:05Espero que na nossa próxima conversa, professora Karina,
11:07a gente tenha aí dados um pouco mais sólidos.
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