O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, analisa os impactos da possível tarifa de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros. Ele alerta para os riscos de inflação, desaceleração da economia e queda no consumo. Bentes comenta ainda o aumento do IOF e a decisão do STF sobre o risco sacado, além das projeções para o comércio até o fim de 2025.
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00:00O comércio brasileiro vê com preocupação a ameaça do tarifácio de 50% dos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros.
00:07Por isso a gente conversa agora com o economista-chefe da CNC, que é a Confederação Nacional do Comércio, o Fábio Bentes.
00:13Bom dia para você, Fábio. Seja bem-vindo ao Real Time.
00:17Bom dia, Marcelo. Bom dia a todos.
00:20Fábio, até agora o crescimento do PIB vinha num ritmo até razoável aí, a inflação também começando a cair.
00:25Você acha que essa ameaça de tarifácio muda a rota?
00:27Bom, na realidade, a economia tem apresentado, ou vinha apresentando um resultado bem favorável nesse início de 2025,
00:39até surpreendendo um pouco. Acontece que as expectativas já apontam para um processo de desaceleração.
00:46Em termos de nível de atividade, espera-se que a gente chegue ao final do ano com um ritmo um pouco mais lento que o atual.
00:54E, obviamente, toda essa questão envolvendo a guerra de tarifas, essa crise tarifária global, não contribui em nada para reverter esse processo,
01:06ou seja, para causar uma inflexão nessas expectativas novamente para cima.
01:10O setor exportador que o diga, nesse momento, o setor talvez mais preocupado com as barreiras tarifárias que estão sendo colocadas aos produtos brasileiros nos Estados Unidos.
01:21Mas o setor de comércio, que é um setor importador, historicamente, tem aí na aprovação da lei de reciprocidade e nas suas consequências para os comerciantes brasileiros,
01:36uma preocupação também num segundo ato dessa crise tarifária, na medida em que, se a gente adotar uma alíquota semelhante ao que foi adotado pelos Estados Unidos,
01:47seguramente esses produtos importados pelo comércio brasileiro e consumidos pela população tendem a ficar mais caros.
01:55Então, obviamente, o ideal seria que a gente não estivesse passando por esse problema nesse momento,
02:02mas diante das possibilidades que a gente tem de reverter ou de mitigar os impactos dessa alta tarifária,
02:10me parece que a questão envolvendo os medicamentos, enfim, quebra de patentes, embora isso não seja desejável,
02:18nesse momento me parece uma saída um pouco mais viável e menos danosa até para a economia no curto prazo,
02:25na medida em que, se a gente adotar uma tarifa mais elevada, não só para esse tipo de produto,
02:30mas para combustíveis, que a gente também importa de lá, isso acaba tendo um impacto bastante desfavorável sobre a inflação.
02:42Uma saída que você está colocando aí, Fábio, de, em vez de aplicar reciprocidade no sentido estrito da palavra,
02:48de 50% lá, 50% cá, você analisasse em setor por setor, porque tem produtos que é de interesse do Brasil importar,
02:57tem produtos que não é tão de interesse assim, que a gente consegue suprir internamente,
03:02e tentar fazer dessa maneira para não prejudicar tanto o andamento bom da economia por aqui.
03:07Pois é, a gente vinha acompanhando aí os índices de preço, em desaceleração,
03:14obviamente isso deriva de um cenário de juros muito elevado,
03:18de 15% ao ano de taxa básica de juros, é o maior patamar em quase 20 anos,
03:24a economia já ia sofrer por conta disso, esse efeito colateral do controle da inflação,
03:30se a gente tenta apagar a fogueira da inflação jogando gasolina,
03:35literalmente a situação piora, então em termos de medicamentos parece que essa saída
03:40via quebra de patentes, enfim, parece ser menos danosa para a economia,
03:47na medida em que se a gente adotar uma tarifa mais elevada, semelhante àquela que foi aplicada lá fora,
03:53e imediatamente, por se tratar de produtos de primeira necessidade,
03:58essa alta de tarifa vai acabar sendo repassada para o preço.
04:01No caso do combustível é bem mais difícil fazer isso,
04:04a estratégia seguramente vai passar pelo estreitamento de laços comerciais
04:09com outros fornecedores, lembrando que dentro do IPCA,
04:14dentro do índice oficial de inflação,
04:17gasolina, os combustíveis, para ser mais preciso,
04:20são os itens que têm maior peso,
04:22e não só têm um peso bastante significativo,
04:25como têm uma capacidade de se espalhar para os demais preços,
04:29ou seja, para a gente aqui, em termos de desempenho da nossa economia
04:32e de flexibilização da política monetária,
04:36fica mais difícil esperar essa flexibilização diante de um cenário,
04:40por exemplo, de alta de preços dos combustíveis.
04:43Vamos falar agora do aumento do IOF,
04:45porque a grande assombração do comércio,
04:48que era o aumento do imposto sobre o risco sacado,
04:50essa assombração já foi embora, já caiu no STF.
04:53Ficou de bom tamanho para o setor?
04:56Olha, menos mal.
04:58O decreto, da forma como ele estava inicialmente,
05:02era extremamente danoso para o comércio.
05:05E, obviamente, o Congresso cumpriu o seu papel,
05:09e nós, aqui na Confederação,
05:10parabenizamos o Congresso por essa tentativa
05:14de se evitar que um imposto,
05:16que tinha um caráter meramente regulatório,
05:18se transformasse num imposto arrecadatório,
05:21e, de fato, isso ocorreu.
05:23O IOF respondia, em 2006,
05:25por 1,8% do total das receitas
05:28administradas pela Receita Federal.
05:31Agora, em 2024,
05:33esse percentual já saltou para 4,3%.
05:37E engana-se quem acha que o IOF
05:39é um imposto voltado exclusivamente para rico,
05:41que faz transação em câmbio,
05:43que envia remessas de recursos para o exterior.
05:46Não.
05:46Então, o comércio, quando toma linhas de crédito,
05:51seja para capital de giro, desconto de duplicato,
05:54ele acaba pagando IOF.
05:56E, naturalmente, diante desse cenário de desaceleração da economia,
06:00qualquer custo adicional só tende a acelerar essa desaceleração.
06:06Portanto, isso seria inevitavelmente repassado para o custo dos produtos.
06:12Menos mal, conforme você colocou,
06:14que o risco sacado foi preservado dessa tributação adicional,
06:19que, aliás, é uma modalidade muito usual,
06:24muito corriqueira no comércio.
06:26Então, se a gente tributasse o risco sacado,
06:28seria mais um reforço nesse cenário de desaceleração econômica
06:33via aumento de preço.
06:35O comércio, já há muitos anos,
06:37vem passando por dificuldades no Brasil por uma série de questões.
06:41Então, ter um aumento de arrecadação em linhas de crédito
06:45tão importantes para o comércio,
06:47um aumento de alíquota em linhas de crédito tão importantes
06:49para o comércio, obviamente,
06:51traria impactos danosos para o setor
06:53e, seguramente, para a sociedade
06:55por meio de reajuste de preço.
06:58E isso nem o comércio quer, nem a sociedade quer.
07:00Então, diante das possibilidades que nós tínhamos, Marcelo,
07:05ficou uma situação intermediária
07:06não tão ruim quanto a original,
07:09mas o ideal seria que a gente evitasse sempre,
07:12na medida do possível, aumento de impostos,
07:14porque o Brasil não aguenta mais aumento de carga tributária.
07:17Está estrangulando o setor produtivo da nossa economia.
07:21Como é que você está vendo o desempenho do comércio
07:23daqui até o fim do ano?
07:24Bom, a expectativa do comércio é que ele feche
07:28com uma alta, aproximadamente, de 2% e 3%
07:31nesse ano de 2025.
07:34Num ano de certa normalidade,
07:38a gente estaria mais seguro em relação a essa previsão,
07:42mas diante do desenrolar dos acontecimentos,
07:45aliás, tanto na crise do tarifácio quanto na crise do EOF,
07:48obviamente, esse cenário pode ser revisto.
07:52E o que liga essas duas crises
07:54é o impacto que isso teria sobre o consumo.
07:57O consumo é o principal motor da economia
07:59quando a gente analisa o PIB pela ótica dos gastos.
08:02Se há um encarecimento do consumo
08:05num ambiente em que as taxas de juros
08:07já estão tão elevadas,
08:09a previsão seguramente seria revisada para baixo.
08:12Então, a gente mantém essa expectativa
08:15de leve desaceleração até o final do ano,
08:17mas a gente ainda aposta
08:19por conta do dinamismo do mercado de trabalho.
08:23O consumo e o comércio, especificamente,
08:25devem fechar o ano ainda no azul,
08:27com crescimento de 2% e 3% em 2025.
08:31Fábio Bentes, economista-chefe da CNC,
08:33Confederação Nacional do Comércio.
08:35Muito obrigado pela sua participação e boa tarde.
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