A taxa básica de juros (Selic) subiu para 15%, o maior nível em quase duas décadas, e colocou o Brasil como 2º no ranking mundial de juros reais. Nesta análise com a economista Carla Beni (FGV), o Jornal Times Brasil discute os efeitos no crédito, indústria, agro e dívida pública. Entenda por que o Copom agiu de forma "agressiva" e como isso afeta seu bolso.
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00:00Bom, como a gente estava falando, a taxa básica de juros atingiu o maior patamar em quase duas décadas.
00:05Ela foi tomada por unanimidade pelos diretores do Comitê de Política Monetária e surpreendeu parte do mercado financeiro.
00:12O Brasil subiu para a segunda posição no ranking mundial de juros reais, já descontada a inflação.
00:19E para falar sobre o aumento da Selic, nós vamos conversar agora com a Carla Beni, ela que é economista e professora da FGV.
00:26Oi, Carla, muito boa noite para você, seja bem-vinda ao Jornal Times Brasil, tudo bem?
00:32Boa noite, Eric, um prazer estar aqui com vocês. Que semana essa, hein?
00:38Olha, quando o feriado chegou na quinta-feira, a gente já estava quase entrando no soro já.
00:44Foi um alívio, né, professora, aquele feriado, estrategicamente um alívio para o mercado, não é verdade?
00:50Agora, professora, a gente mostrou agora há pouco, antes de chamar a senhora, que o crédito tem caído e deve, assim, cai um pouquinho em abril, mas continua ainda aquecido.
01:05Agora, com esses 15%, esse aumento de 0,25 ponto percentual, a tendência é a procura por financiamentos cair um pouquinho, não é mesmo?
01:13É, exatamente. A tendência é dar uma retraída, esse é o objetivo, né, diminuir a liquidez, diminuir o crédito, diminuir a atividade econômica.
01:26Só que, por incrível que pareça, Eric, a gente tem um certo paradoxo aqui, que é o seguinte, você, quando faz um crédito, em grande medida, uma pessoa física, até uma jurídica, pequena empresa, até a média, que é exatamente esse que o índice cresceu,
01:43o que se olha muito é a parcela, é o quanto se vai pagar.
01:48Não há um cálculo muito refinado dos juros que se paga, das taxas embutidas, então é mais ou menos assim, se você acha que a parcela dá para pagar, você faz o crédito.
02:01Então, esse daí é o paradoxo nesse sentido, porque às vezes, repare que a gente tem uma subida da taxa Selic e você continua com o volume de crédito ainda com dinamismo.
02:13O professor, a gente viu que o Banco Central justificou, né, antes até da ata, anuncia esse aumento e já faz uma pequena justificativa.
02:24Ele diz o seguinte, que as incertezas externas, né, com guerra tarifária e agora com esse conflito no Oriente Médio, que pressiona, inclusive, o valor do petróleo.
02:34Também a gente tem problemas internos, né, como essa disputa do IOF, o aumento do IOF, então o problema fiscal.
02:41Tudo isso, né, essa conjuntura fez com que o Banco Central adotasse essa posição, como os analistas disseram, rockish, né, agressiva de aumento aí de juros neste momento.
02:54E que vai ficar essa taxa de forma prolongada, né, o guidance é que a gente não sabe quando que o Copom vai baixar essa taxa de juros.
03:05Faz sentido essa estratégia do Banco Central neste momento?
03:08Bom, dentro da métrica que ele trabalha com 3% de meta, que aí a gente pode até entrar nessa discussão, se 3% é muito baixa ou não, tem vários materiais a esse respeito, inclusive.
03:23Mas ele olha para 18 meses para frente.
03:27Quando ele olha 18 meses para frente, ele vai ver se passou dos 4,5% a inflação, aí ele faz a correção hoje.
03:35Porque é o Banco Central que determina o início da curva futura de juros, porque é ele que calibra a taxa Selic.
03:43Então, dentro da ótica do Banco Central, ele fez esse ajuste e é possível que a gente tenha aí um longo período mesmo, entrando aí numa neutralidade, digamos assim.
03:56Teremos novas reuniões do Copom e ele fará a manutenção a 15%, que é uma taxa elevadíssima aqui com todas as críticas à parte.
04:07É, professora. E o viés, segundo o Banco Central, é de que inclusive pode aumentar mais se a situação interna e externa sair do controle, né?
04:17O Banco Central informou que está de olho aí nos indicadores, tanto da economia brasileira como também indicadores, por exemplo, Estados Unidos, Europa,
04:26muito com reflexo também desse conflito, né? Entre Irã e Israel.
04:30Agora, professora, a gente viu uma crítica muito forte, né? Do setor produtivo, né? O setor industrial, porque um aumento de juros, você trava muito investimento, né?
04:43Na indústria, a gente vê também do agro, você pode aumentar, por exemplo, o custo do agronegócio.
04:50Como é que a senhora vê isso? Realmente pode dar uma travada e pode ter reflexos no PIB do Brasil?
04:56Essa daí, se você pegar a ótica do Banco Central, esse é o objetivo. O objetivo é diminuir o PIB e a atividade econômica.
05:06Só que quando você pega o setor real da economia, que aí você pega a indústria, o comércio ou o agronegócio,
05:13eles têm 100% de razão de fazer essa crítica, porque nós mudamos de padrão de taxa real de juros.
05:21Isso é muito importante e para quem está nos ouvindo aqui, né? Que tem seus investimentos e tudo, o Brasil, antes da pandemia,
05:31Eric, nós trabalhávamos entre 4 a 4,5 de taxa real de juros. Pegava a inflação, jogava 4, 4,5 em cima, você ia descobrir a Selic.
05:41Essa era a nossa taxa real de juros e já era uma das maiores do mundo. Na pandemia, em 2020, nós tivemos um ano de taxa negativa.
05:52Não sei se você lembra, mas a inflação ficou 4,52 e a Selic foi para 2% em 2020. Então, nós tivemos uma taxa real negativa.
06:02Desde a subida da Selic, que subiu de 2 para 13, em 18 meses, aí nós entramos num outro patamar.
06:14O Banco Central estava trabalhando com até 7 de taxa real de juros. Agora, a gente está trabalhando com 9.
06:22Então, é um outro patamar e é um patamar que eu diria para você praticamente inadmissível.
06:29O setor produtivo precisa mesmo xiar, ele tem toda a razão do mundo, porque para quem produz nesse país
06:36e precisa de crédito ou de reinvestimento, é algo quase impraticável.
06:43O professor, a questão dos juros também, além de ter um impacto na economia, no setor produtivo, na indústria,
06:49também pode elevar a dívida do país.
06:52Como é que fica essa situação num momento tão delicado que o governo tenta fechar o roubo,
07:00tenta aprovar aumento de imposto para manter a meta fiscal?
07:05Tem interferência também? A senhora acha que isso pode complicar um pouquinho?
07:09Olha, se você entrar no Google e colocar lá a dívida em grandes números,
07:13eles têm uns gráficos maravilhosos lá que vocês vão descobrir.
07:17E tem toda a divisão da nossa dívida pública por indexadores.
07:23O percentual da Selic é elevadíssimo.
07:26Cada um ponto percentual, Eric, que o Banco Central sobe da taxa Selic,
07:31ele provoca uma despesa no Tesouro de 50 bilhões.
07:36Então, só essas três subidas de um ponto percentual do ano passado até agora,
07:41foram 150 bilhões de despesa para o Tesouro.
07:46não tem corte de gasto, nem ajuste de conta pública que você consiga fazer nesse montante.
07:54Então, esse é o primeiro ponto aqui, extremamente relevante.
07:57E o segundo agora é que nós estamos com um problema fiscal no país,
08:02que é um embate entre o executivo, o legislativo e onde ninguém quer dar a sua contribuição.
08:12E aí o que acontece? Você fica com essa retórica de que a questão fiscal é importante,
08:18mas é só ver o que o Congresso tem feito agora com a questão do IOF, da aprovação,
08:25e também o próprio executivo com a sua dificuldade de comunicação e de definição do que precisa ser feito.
08:33Tá certo. Professora Carla Bene, economista e professora da FGV,
08:38queria muito agradecer a sua participação aqui no jornal Times Brasil.
08:42Prazer tê-la aqui. Uma ótima noite para a senhora, viu, professora?
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