Presidente da ABPA diz que é contra tarifaço e critica as últimas medidas tomadas por Trump

TIMES BRASIL - LICENCIADO EXCLUSIVO CNBC

O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, criticou a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos às exportações brasileiras e defendeu uma saída diplomática para preservar a relação comercial entre os países.

“Nós somos contra esse tarifaço, isso é uma coisa que não condiz com o momento mundial”, afirmou, em entrevista ao Times Brasil – Licenciado Exclusivo CNBC nesta quinta-feira (17).

Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://timesbrasil.com.br/guerra-comercial/

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00:00E nós vamos continuar falando de tarifaço de Trump, porque a Associação Brasileira de Proteína Animal

00:06manifestou preocupação com a medida do presidente norte-americano sobre exportações brasileiras

00:11e defende solução diplomática.

00:14Segundo a entidade, a exportação de proteína animal é fundamental para a sustentabilidade do setor

00:19e ressalta a importância de negociações em alto nível para preservar as cadeias produtivas.

00:26Então a gente vai chamar agora, que está vindo aqui no Agora para falar um pouquinho deste mercado também,

00:33o Ricardo João Santin, que é o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal.

00:39Oi Ricardo, muito bom dia para você, seja bem-vindo aqui no Agora.

00:43Bom dia Eric, bom dia Mariana, prazer estar com vocês aí no Agora, falando um pouco desse tema que é tão importante para o Brasil.

00:51O prazer é nosso de tê-lo aqui.

00:52Ricardo, a gente sabe que o mercado norte-americano, por exemplo, para carne suína, é ali o 12º mercado,

01:00mas a gente tem também ovos.

01:02Ovos são produtos muito importantes lá para os Estados Unidos.

01:06Esse setor, vou também incluir a carne suína aqui, carne suína, ovos, já está sentindo algum impacto?

01:12Já tem algum burburinho aí de suspensão ou de cancelamento de negócios?

01:16Bem, primeiro, os setores são afetados, no caso você coloca bem, para ovo de mesa, ovo de consumo, que a gente come todo dia,

01:25ele é o maior mercado exportador.

01:28Ele cresceu 1.247% nesse mês contra o mesmo período do ano passado, porque a base era absolutamente pequena.

01:36Os Estados Unidos teve um problema de influência viária na sua produção,

01:38teve que abater mais de 170 milhões de aves e faltou ovo lá para eles.

01:44Aí abriram para os nossos produtos.

01:47O Brasil ajudou, esse setor ajudou a combater a inflação nos Estados Unidos.

01:51E agora essa tarifa, ela torna bem difícil a comercialização.

01:55No caso desse hino, isso não é tão impactante, Tereck. Por quê?

01:58Porque equivale a 2% das exportações brasileiras.

02:01Mas, naturalmente, as empresas que vendem para lá vão sentir a perda desse mercado,

02:05que é um mercado que foi construído com muita calma, com muita dedicação,

02:11para fazer uma troca que é absolutamente complementar com a produção local.

02:15Mas o impacto maior é no ovo, na tilápia também, os peixes de cultivo,

02:20tem lá 81% do seu mercado de exportação.

02:23E, claro, no frango não, porque o Brasil e os Estados Unidos são os dois maiores exportadores,

02:27a gente não tem exportações recíprocas.

02:29Agora, enfim, em relação a esses efeitos, porque tem o que está acontecendo agora,

02:34que você estava trabalhando, estava citando e colocando aí um pouco nos mercados,

02:38mas do ponto de vista do médio prazo, assim, porque acaba sendo uma instabilidade

02:42que parece que, de alguma maneira, algum grau de taxação,

02:46e aí eu estou pensando, inclusive, nos efeitos mais gerais, não só para as proteínas,

02:51mas mais gerais, vai ficar uma taxação.

02:53Isso você imagina que pode afetar os preços, no caso, agora, assim,

02:56voltando para as proteínas de maneira mais geral,

02:58porque a gente já estava vendo, é um mercado que já está complicado.

03:01O ovo, que é um dos principais, já teve várias altas,

03:04inclusive com quebra de produção lá nos Estados Unidos.

03:07Então, quer dizer, isso pode ter um efeito sobre preço e a gente pensar aí

03:10numa oferta mais geral, mais alta?

03:13Ou o inverso, que seria porque vai sobrar a produção e vai entrar?

03:16Como que você vê esse efeito do preço?

03:18Não, no caso nosso aqui, o efeito preço é pequeno, Mariana.

03:21Por quê?

03:22Porque, quando eu falo em carne suína, são 2% das exportações.

03:26Então, esses 2% das exportações são lá, na média, de 60 mil toneladas,

03:3130 mil toneladas por ano.

03:33Então, veja que a gente exporta mais de 100 mil toneladas por mês.

03:36Então, essas 30 mil toneladas, dentro de 1 milhão e 300,

03:39não vão dar um impacto de mexer no efeito preço?

03:41Sim, vai ter que vender essas 30 mil, talvez, por um preço um pouco menor

03:45do que vinha vendendo lá naquele mercado.

03:47No caso do ovo, que é um mercado importante, são 61% desse mercado de exportação,

03:53mas esse mercado de exportação equivale a 0,6% da produção brasileira.

03:57A gente exporta menos de 1%.

03:59Os Estados Unidos, em 24 mil toneladas que foram exportadas nesse semestre,

04:03comprou 15 mil.

04:04Mas essas 15 mil não vão afetar de fazer o preço no mercado interno baixar muito

04:09porque está voltando o produto, vai sim ter efeito preço lá nos Estados Unidos.

04:13Por quê?

04:14Os Estados Unidos estavam pagando mais de 1 dólar por ovo,

04:16entrou o ovo brasileiro, ajudou a amenizar,

04:20mas eles continuam com os mesmos fatores que tinham 60 dias atrás.

04:25Então, esse é um problema maior para os americanos,

04:27no caso do setor de postura, do que para os brasileiros.

04:30Nós vamos adequar.

04:32As empresas sabem, nós temos empresas hoje no setor de ovos

04:35que são multinacionais, que já têm empresas produtoras na Europa,

04:39têm empresas no próprio Estados Unidos.

04:41Então, a gente sabe que o setor vai continuar, vai sobreviver bem.

04:46Não vai ter esse efeito preço aqui no Brasil, mas é ruim.

04:49Sabe por quê?

04:50Nós somos contra esse tarifácio.

04:52Isso é uma coisa que não se coaduna com o momento mundial.

04:57E agora, o país fez o tarifácio.

05:00Nós precisamos negociar.

05:02Precisamos negociar por quê?

05:03Porque, para o nosso setor, embora a gente não seja afetado diretamente,

05:07se eu não vender boi para lá, se eu não vender café,

05:11se eu não vender o suco de laranja,

05:14e só isso são 5 bilhões de dólares que não entram na nossa economia.

05:17Então, a gente precisa, sim, fazer um acerto,

05:20porque as nossas economias são complementares,

05:22não podemos perder cidadania, a nossa soberania.

05:26Agora, temos que deixar fora.

05:28Ideologia não combina com economia.

05:29As retóricas políticas precisam ser exercitadas

05:33para mostrar que nós somos um país soberano.

05:36Mas tem que, ao lado disso, sentar na mesa,

05:38negociar pragmaticamente o que você quer que eu diminua a sua tarifa,

05:42quanto você vai diminuir a tarifa nos meus produtos.

05:44É isso que, na verdade, não concordo com a técnica,

05:48mas essa é a propositura dos Estados Unidos,

05:49que fez com todos os países.

05:51Acertou com a China, acertou com a Comunidade Europeia,

05:53acertou com vários países.

05:54Então, vamos sentar, como a gente está sentando,

05:56o vice-presidente Alckmin está coordenando esse processo,

05:59pragmaticamente.

06:00Vamos trabalhar para manter esse fluxo de comércio,

06:03que é muito importante para os dois países.

06:05Problema, né, Ricardo?

06:06Os Estados Unidos quererem negociar logo, né?

06:09O Brasil já sinalizou que quer sentar a mesa de negociação

06:12o mais rápido possível.

06:13Agora, os Estados Unidos estão deixando meio à margem aí,

06:16essa resposta ao Brasil.

06:18Em relação a isso,

06:20você acredita que vai haver uma solução até dia 31 de julho,

06:24que é possível chegar a um acordo?

06:26Até porque, pelo que você estava falando,

06:28o seu setor pode não ser afetado diretamente.

06:32Mas se você tem outras cadeias afetadas,

06:34você pode afetar emprego, né?

06:36Pode haver desemprego.

06:37E quanto menos dinheiro rodando na economia,

06:39por exemplo, você pode ter uma queda de compra de ovo,

06:42de carne suína aqui dentro também,

06:43você dá uma desaquecida no mercado interno também, né?

06:47Sem dúvida, por quê?

06:48Porque nós temos na BPA as proteínas mais acessíveis,

06:52que são a proteína do ovo, a do frango e, em terceiro lugar, o suíno.

06:57Ou seja, se as pessoas não tiverem dinheiro para comer,

07:00como é que elas vão comprar esses produtos?

07:02A gente, por isso, a gente espera.

07:04Eu não sei te dizer se vai acontecer,

07:06mas, com certeza, eu torço e espero,

07:09e na colaboração que a gente pode dar,

07:11tem feito isso.

07:12A gente tem falado com os nossos colegas

07:14da Associação de Frango lá,

07:16dos suínocultores,

07:17a gente tem falado com os importadores de ovos,

07:19as empresas que são exportadoras estão conversando com eles,

07:23a pressão também sai desse lado para o governo americano,

07:27exatamente porque o café,

07:29nós somos o maior exportador para lá.

07:31Suco de laranja nem se fala.

07:33No nosso caso, no caso dos ovos,

07:36nós estamos ajudando a não dar inflação

07:38na comida dos americanos.

07:40Então, esperamos que esses elementos,

07:41e aquilo que a gente pode fazer, está fazendo,

07:43é pressão para que o governo americano

07:45também olhe para o Brasil, sente,

07:48tira essa bobagem de retórica política,

07:50que fica só no último parágrafo da carta dele.

07:53Tem alguns produtos que eu gostaria de exportar para o Brasil,

07:55você não me permite,

07:56tem algumas tarifas que precisam ser revistas.

07:58E nós estamos dizendo para ele,

07:59tarifa de 50% não cabe numa relação tão sólida

08:05como temos as nossas relações de Brasil e Estados Unidos,

08:08nas nossas indústrias,

08:09nós precisamos dos motores,

08:11nós precisamos dos remédios que vêm de lá,

08:13eles precisam da nossa comida.

08:16Isso é uma complementariedade que já funcionou há muito tempo.

08:19Eu não quero fazer julgamento dessa situação específica,

08:23mas, na minha visão, foi equivocado

08:25o movimento do presidente Trump

08:27de colocar esse valor em 50%.

08:30Poderia ter sentado com a gente,

08:32negociado valores maiores,

08:33e dizer, olha, eu quero que você diminua a tarifa nos iPhones,

08:36por exemplo.

08:37Mas, vamos conversar.

08:39Importante que o Brasil agora tenha parcimônia,

08:41a altivez de ser soberano,

08:43que nós somos soberanos,

08:44ninguém tem que vir se meter na nossa vida do dia a dia.

08:47Mas, se tiver alguma coisa,

08:48nós vamos conversar e vamos esclarecer o que é preciso.

08:52Ricardo João Santin,

08:53muito obrigado pela sua participação aqui no Agora,

08:57bom ouvi-lo e saber também o que pensa a Associação de Proteínas.

09:02Uma ótima quinta-feira para você.

09:04Obrigado, Eric, obrigado, Mariana,

09:05obrigado pela oportunidade,

09:06e aí aos espectadores do Agora.

09:08um feliz fim de semana que a gente está chegando próximo do final de semana,

09:12e que a gente tenha, antes do final de julho,

09:14a resolução dessa situação,

09:16que não é boa para ninguém.

09:17Um abraço a todos aí,

09:19uma boa semana.

09:20Obrigado, um abraço.

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