Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, analisou o impacto do corte de 25 pontos nos juros do Fed, a trégua sino-americana e a valorização do Bovespa. Ele destacou riscos fiscais no Brasil e a influência de fatores externos no cenário de inflação e câmbio.
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00:00Agora a gente vai conversar com o Beto Saadia, ele é diretor de investimentos da NUMUS.
00:05Beto, boa noite, obrigada por ter aceitado o nosso convite.
00:08Bom, Beto, uma semana marcada por decisão de juros nos Estados Unidos,
00:12encontro entre Trump e Xi Jinping.
00:15Quais são as expectativas do mercado brasileiro em relação a esses temas?
00:22Boa noite, Cristiane, é um prazer sempre estar aqui nesse programa.
00:25E a semana foi muito pesada em indicadores e acontecimentos econômicos.
00:30A gente vira a semana já, como o colega falou, bem mais otimista a partir de dois índices de inflação
00:37que saíram na semana passada, tanto no Brasil, que mostrou o IPCA comportado,
00:42quanto um CPI americano, um dos poucos dados que tem saído dentro do universo do shutdown americano,
00:49um dado de inflação americana também comportado, um pouquinho mais alto, é verdade,
00:52mas também comportado, o que aliviou grande parte dos investidores em relação ao impacto das tarifas na inflação.
00:59Então, a gente vem agora para uma semana que é uma semana que tem três temas aí.
01:04Tem o tema do acordo e do início de conversas Xi Jinping e Trump,
01:10tem os balanços, principalmente os balanços de techs que estão acumulados amanhã,
01:16e tem também a reunião do Fed, que vai reduzir mais uma vez os juros,
01:19e a gente aqui na expectativa, principalmente para saber o que o Fed vai fazer com o balanço do Fed,
01:28que são as reservas do Fed que já têm sido enxugadas durante algum tempo e o que ele vai fazer sobre isso.
01:34Então, vamos nos aprofundar mais sobre essa questão dos juros americanos.
01:39Você diz com convicção que o Fed vai cortar os juros.
01:43Quais são os efeitos para os mercados globais e de quanto deve ser esse corte?
01:49Perfeito, Cristiane. É um corte de 25 pontos, 25 pontos percentual.
01:55O mercado já está precificando isso, na verdade não muda.
01:59A expectativa está mais em relação a um corte provável em dezembro,
02:03que ainda não é uma certeza, ainda é só uma probabilidade.
02:06A maioria dos investidores acredita nesse corte também para dezembro.
02:09E também mais um corte no ano que vem, que a gente ainda está numa incerteza de quando que ele vai ser.
02:15Mas o que está acontecendo na economia americana são dados de mercado de trabalho relativamente fracos,
02:21porém uma inflação mais alta.
02:23Mas o próprio Banco Central americano já há muito tempo sinaliza que eles vão atacar bem mais esse mercado de trabalho fraco.
02:32E aí, soma-se a isso, na verdade, uma intervenção ali, já posso usar essa palavra,
02:39do presidente Trump, na diretoria do próprio Fed, então existe ali uma redução de taxa de juros,
02:48até de forma, como é que eu posso, até de uma forma preventiva, na verdade.
02:53A economia americana não está entrando em recessão,
02:55ela não está com sinais muito claros de que se caminha para uma recessão,
02:59ela só teve um enfraquecimento ainda relativamente leve no mercado de trabalho,
03:04e, por conta disso, o Fed está se antecipando e reduzindo os juros para que você não cause uma recessão.
03:12Então, é uma reação um pouco atípica de um Banco Central,
03:15diferentemente do Brasil, que ele espera primeiro acontecer uma eventual recessão para depois reduzir juros.
03:21Então, isso aí que o mercado está questionando,
03:25poxa, por que o Banco Central americano vai reduzir juros quando as bolsas estão batendo recorde,
03:30quando o preço das casas está batendo recorde, o ouro nas máximas, o consumo está forte,
03:35então, isso ainda é um risco.
03:37E a inflação agora está forte por conta das tarifas,
03:40então, esse é o risco que muitos investidores estão vendo nessa ação do Fed,
03:45que pode acabar pagando o seu preço lá na frente, Cristiane.
03:48Vamos olhar agora para o nosso cenário dentro de casa,
03:51e Bovespa renovando o recorde, dólar em queda,
03:54esse otimismo vai continuar, Beto?
03:56Pois é, é difícil saber, porque a gente tem os motivos bons,
04:02que são os ventos que estão vindo de fora.
04:04A inflação, é verdade, ela está um pouquinho mais comportada a se ver
04:08por esse dado que eu comentei do IPCA 15, que saiu na sexta-feira.
04:13A gente já vê o real, tendo se valorizado ao longo do ano, ajudou bastante.
04:19Grande parte da nossa inflação brasileira, ela desinflacionou,
04:24a gente tem boas notícias por conta de ventos externos, né?
04:28A gente ainda não pode atribuir tanto ao mérito próprio o fato dessa inflação ter se comportado.
04:35Por quê?
04:36Porque é uma valorização do real e, basicamente,
04:40todas as moedas dos países emergentes também têm se valorizado.
04:43Então, isso acabou ajudando na inflação de alimentos,
04:46acabou ajudando na inflação de bens industriais,
04:48o clima também ajudou, a oferta de alimentos aumentou.
04:51Então, ou seja, fatores climáticos que não têm a ver muito também com méritos nossos, né?
04:57Então, existe ali o risco ainda, que é um risco que é o risco fiscal,
05:03que todo mundo sabe.
05:04A gente precisa aí de pouco mais de 40 bilhões para fechar uma conta no ano que vem.
05:10A gente ainda não sabe onde a gente vai buscar esses 40 bilhões de reais.
05:14E, por isso, o mercado ainda não está abaixando a guarda em relação a diversos outros ativos de risco no Brasil.
05:23Isso ainda é um risco, inclusive, se a gente não resolver isso no futuro próximo,
05:27é um risco que pode fazer, inclusive, com que o nosso dólar suba de volta para casa dos 5,70, 5,80,
05:36um valor tão desconfortável como a gente conviveu no finzinho do ano passado.
05:40Eu vou passar para a pergunta dos nossos analistas.
05:43Vamos começar pelo Vinícius Torres Freire.
05:46Beto, boa noite.
05:47Vou dar uma esticada aí na pergunta da Cris.
05:50Na virada de setembro para outubro, a gente, durante os primeiros dias de outubro,
05:54a gente teve uma alta dos juros, a gente vê a curva de juros subindo.
05:59Teve uma alta de juros aqui que parecia meio estranha, que a gente não sabia bem de onde vinha.
06:04Depois, a gente teve uma pancada no dólar, por quê?
06:07Por causa de turbulências na relação sino-americana.
06:10Agora, como você disse, a gente tem sintomas de alívio,
06:14as taxas de juros estão caindo, pelo menos em alguns prazos intermediários,
06:18o dólar voltou a ficar tranquilo, especialmente porque agora tem a perspectiva
06:23de, pelo menos, trégua entre os Estados Unidos e a China.
06:25Agora, tirando esse bodão da sala, esse elefante, esse rirão funcionante enorme,
06:30Estados Unidos e China, vamos supor que tenha trégua.
06:33Dado que a gente tem inflação um pouquinho melhor, a gente pode achar que vai ter uma
06:41tranquilidade, tirando esses bodões.
06:43Teve aquela alta estranha de juros, mas agora está tendo uma queda.
06:46Não sei o que aconteceu, você poderia até falar um pouco sobre isso.
06:48E tem um pouquinho de queda nas expectativas de inflação para todos os períodos,
06:53para todos os anos, muito devagarinho, mas voltou a cair de novo.
06:57Então, assim, você acha, como a Cris perguntou, você acha que, tirando esse bodão sino-americano,
07:04essa coisa permanece?
07:05Você falou do risco fiscal, mas o risco fiscal já estava dado também.
07:09A gente está com esse problema faz tempo.
07:11Você acha que vai ter expectativas de inflação caindo e juros comportados mais ou menos,
07:16pelo menos, até dezembro, quando é o mês mais turbulento?
07:21Perfeito.
07:21Isso é ótima pergunta, porque dá para explicar a dinâmica do que a gente chama de curva de juros.
07:27A taxa de juros pode cair por dois motivos.
07:31O primeiro motivo é um desafio que eu acho que a gente está chegando perto de conquistar,
07:37que é a desinflação, principalmente a desinflação de curto prazo.
07:40A gente deve encerrar o ano de 2025, não perto da meta, mas pelo menos dentro dos limites de alta da meta,
07:49que é o limite de 4,5.
07:50Então, a gente deve encerrar 2025 também dentro dessa banda, dentro desse teto.
07:55Ajudou, recentemente, o preço do petróleo, que acabou fazendo com que fosse reajustado o preço da gasolina,
08:02outras commodities também ajudaram e tudo mais.
08:05Então, em relação à meta de inflação, é verdade, a gente chega mais perto também?
08:09Caramba, a gente aumentou os juros para níveis estratosféricos, como poucas vezes se viu no Brasil.
08:15Então, isso causa também as suas consequências.
08:19A gente está vendo isso na dívida brasileira.
08:22Existe um outro desafio dos juros, que é os juros de longo prazo.
08:26E aí, a gente está falando em dívida pública.
08:30E aí, esse é o nosso grande desafio.
08:32Então, a gente tem duas reações da taxa de juros.
08:36Uma é aquela que coloca a inflação na meta.
08:39Então, essa parte de juros, que é os juros intermediários, esses juros já estão cedendo.
08:44Mas tem os juros de longo prazo, que esses estão cedendo menos, que dizem em favor do nosso risco fiscal.
08:53E, de fato, o governo começa ali por volta de 72% de dívida PIB.
09:00E a gente pode caminhar no ano que vem por volta de 84% de dívida PIB.
09:04A dívida aumentou muito, a dívida geral.
09:06Mesmo que a gente cumpra o arcabouço fiscal, ainda assim, o arcabouço fiscal fala somente sobre o superávit primário.
09:14Ou seja, aquele superávit que é antes do pagamento dos juros, que já estão muito altos.
09:22Então, soma-se a isso também o fato de a gente ter mudado uma vez a meta do arcabouço fiscal.
09:29Existe uma expectativa já dos investidores de que isso possa acontecer novamente.
09:34porque a gente não está conseguindo descobrir de onde vão ser tirados ali pouco mais de 40 bilhões de reais
09:40para fechar a conta do ano que vem.
09:43Então, para esse tema, não só é um tema que não há perspectiva de que ele seja resolvido no ano que vem,
09:50como existe uma dificuldade grande, aí sim, na minha opinião, dele ser resolvido também em 2027,
09:57independente de alternância política.
10:00Porque a gente tem visto no resto do mundo, a gente viu isso em alguns países na Europa, a gente viu na França,
10:06a gente vê isso nos Estados Unidos também, de como é difícil no mundo hoje, polarizado, ideológico,
10:12e com o envelhecimento da população, como é difícil você fazer ajuste fiscal.
10:16Em geral, você causa muitas turbulências no governo e por isso que não necessariamente vai ser fácil a gente fazer um ajuste da magnitude que a gente precisa em 2027,
10:27independente do presidente que for eleito.
10:30Vamos passar para a pergunta do Eduardo Gair lá em Brasília.
10:33Gair.
10:33Beto, boa noite.
10:37Queria voltar a falar um pouco da decisão de amanhã do Federal Reserve.
10:40Queria te ouvir a respeito de expectativas sobre divisões dentro do FONC.
10:45É muito possível que a divisão entre a ala mais rokesh e a ala mais dovish deve se aprofundar daqui para frente.
10:52Como que essa divergência dentro do FONC pode impactar os ativos?
10:56Perfeito, e parece que o secretário do Tesouro, Scott Besson, ele nomeia ali quatro a cinco candidatos possíveis a serem o próximo presidente do Federal Reserve.
11:10Como se fosse um jogo de quem performa melhor.
11:16Pelo menos a mim me pareceu dessa forma.
11:18Então quem vai performar melhor aos olhos do Trump, sob a ótica do presidente americano, é aquele que votar por mais quedas de juros.
11:27Como aconteceu na reunião passada, que foi muito anedótico, a posição do Stephen Miran, que votou ali por uma queda de 50 pontos percentual.
11:37E agora, em relação a essa reunião de amanhã, a gente deve ver uma divisão, mas uma divisão em relação...
11:48A maioria hoje dos candidatos tem um alinhamento muito grande também com o Scott Besson e com o Trump de serem mais lenientes com a inflação e de provocarem menos juros.
12:01Eles querem todos, na sua grande maioria, menos juros e é aí que mora o perigo para a estratégia do Federal Reserve de se antecipar a uma possível recessão.
12:13O que a gente deve ver amanhã é alguns... Amanhã não tem o dot plot, aqui são os pontinhos de como cada um pensa,
12:20mas a gente já vê durante algum tempo os membros do FED quererem quedas, além do que prevê, na verdade, as fórmulas do Banco Central,
12:32principalmente pensando ali no emprego e um pouquinho menos na inflação.
12:37Beto, muito obrigada. Prazer de receber. Boa noite para você e até a próxima.
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