Luccas Saqueto, economista da GO Associados, avaliou os impactos econômicos do impasse sobre o IOF e da nova tarifa de 50% dos EUA. Para ele, o risco de descumprimento da meta fiscal agrava a desconfiança do mercado e pressiona juros e inflação. Saqueto e os analistas Julia Lindner e Alberto Ajzental discutem como o cenário piora com a instabilidade internacional.
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00:00Sobre essa primeira reunião mediada pelo Supremo Tribunal Federal,
00:04eu vou conversar com o Lucas Saqueto, ele é economista da Geo Associados.
00:08Lucas, boa noite, obrigada por ter aceitado o nosso convite.
00:11Quais os panoramas possíveis a partir desse não acordo e quais os efeitos econômicos disso?
00:20Agradeço o convite, é um prazer estar aqui na CNBC.
00:23Olha, a gente tem falado aí, comentado ao longo dos últimos dias sobre as tarifas do Trump
00:28e acabou esquecendo um grande problema, um grande impasse, que é esse problema do IOF,
00:35e eu acho que é o problema fiscal no Brasil.
00:37A gente enfrenta uma situação fiscal delicada que não é de hoje.
00:42No final do ano passado foi aprovada uma nova meta, um novo arcabouço fiscal,
00:46que prevê que para esse ano o governo tenha um resultado zero, um resultado primário zero,
00:52ou seja, o governo vai gastar aquilo que ele arrecada no ano.
00:56Acontece que todas as projeções, até as mais otimistas, indicam que isso não vai acontecer de fato,
01:02que o governo vai gastar mais do que arrecada.
01:04E a solução de arrecadar um pouco mais com o IOF foi encontrada para não ativar os gatilhos do arcabouço fiscal.
01:12O problema é que esse impasse que está dado e se nada for feito,
01:18essa expectativa de arrecadação do governo não vai se concretizar e, consequentemente,
01:23o governo vai estourar a meta do arcabouço fiscal, que tem ali até uma tolerância,
01:28mas nem ela vai ser cumprida e isso tem impactos econômicos muito grandes.
01:32O principal deles, e a gente tem acompanhado isso, é o esforço que o Banco Central tem tido que fazer
01:38para subir a taxa de juros e, com isso, conter a inflação e um pouco da incerteza.
01:42Então, Cristiane, eu diria que a continuidade desse impasse era o grande problema que a gente tinha
01:48até semana passada, quando foram anunciadas as tarifas do Trump,
01:51é muito ruim para a economia brasileira.
01:54O ideal seria que o Congresso e o governo chegassem a um acordo sem a necessidade de uma decisão jurídica do STF
02:02e buscassem ali tentar um equilíbrio fiscal, um equilíbrio nas contas públicas,
02:07sem algumas alternativas na mesa.
02:09Essa que a Júlia comentou de cobrar um imposto sobre LCA e LCI, por exemplo,
02:16também vai enfrentar muita resistência no Senado.
02:20Eu lembro que a Frente Parlamentar da Agropecuária, por exemplo, é uma das que é contra esse tipo de aumento
02:26porque a LCA, a Letra de Crédito Agropecuária, é um importante mecanismo de financiamento desse setor.
02:32Então, as alternativas também são complicadas, Cristiane.
02:36Exatamente. E quais os reflexos econômicos da futura decisão do ministro Alexandre de Moraes,
02:42considerando os dois cenários, pró-governo e pró-legislativo?
02:45Se a decisão do ministro for em favor do governo, eu acredito que, do ponto de vista econômico,
02:58o governo tem uma expectativa de cumprir a meta fiscal,
03:02ou pelo menos de ficar ali na margem de tolerância, que é um déficit de 0,25%,
03:07mas é como você até adiantou na sua fala anterior, o governo teria muita dificuldade para aprovar outros projetos
03:15porque tem um desgaste muito grande, com o risco do Congresso, inclusive, aprovar outros projetos com impacto orçamentário
03:22e dificultar ainda mais o governo a alcançar esse déficit de 0,25% do PIB.
03:28Se a decisão do ministro Alexandre de Moraes for em favor do Congresso, ou seja, derrubar o reajuste do EF,
03:36aí o governo vai precisar buscar outros mecanismos para conseguir alcançar pelo menos um déficit de 0,25% do PIB.
03:44E é muito importante que o governo faça isso e não ative os gatilhos previstos no arcabouço fiscal, Cristiane,
03:50porque eu lembro que ano que vem é um ano eleitoral, um ano que tipicamente o governo ali gasta um pouco mais.
03:56E aí, se forem ativados, acionados esses gatilhos, o governo vai ter muito mais dificuldade para conseguir expandir, de alguma maneira, o gasto público.
04:05Vou passar para a pergunta de nossos analistas. Vamos começar pela Júlia Lindner. Júlia, fica à vontade.
04:13Lucas, você chegou a mencionar a questão da política monetária, né?
04:17Como é que você vê agora o curso dessa política, considerando o cenário externo, que começou a ficar ainda mais instável do que já estava,
04:25e considerando também o cenário doméstico?
04:28Olha, Júlia, eu acho que é muito importante a sua pergunta, porque do ponto de vista interno, a situação fiscal brasileira é delicada.
04:36A gente, na semana passada, na quinta-feira, saiu o resultado da inflação do IPCA de junho,
04:41e a gente já estourou a meta de inflação, que agora é o acumulado de seis meses.
04:46Então, o Banco Central já precisa atuar para conter a inflação, dada essa incerteza fiscal.
04:54O que acontece é que agora, como eu disse, a gente tem um ingrediente externo que não tinha antes, né?
04:58Eu acho que é um problema muito maior com esse problema das tarifas impostas pelo Donald Trump.
05:04Eu acho que, para a economia, um grande problema, para a economia em geral, é o crescimento da incerteza.
05:09A gente vive isso internamente e a gente está relativamente acostumado com o grau de incerteza,
05:15esses embates entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário,
05:18e agora a gente tem acompanhado isso do ponto de vista externo também.
05:21Então, eu acho que os reflexos, Júlia, são muito ruins.
05:25A perspectiva não é muito boa, né?
05:27Se a gente não tem feito a lição de casa, a gente vê essa briga entre os poderes aí.
05:32E precisa que seja dito que tem alternativas que seriam mais dolorosas do ponto de vista político,
05:40mas até mais eficientes do ponto de vista econômico.
05:42Tem uma reforma administrativa, por exemplo.
05:44Isso ajudaria a reduzir o gasto público e resolver, entre aspas,
05:49parte desse problema, desse grande problema fiscal do ponto de vista interno.
05:53Mas aí eu não vi e não acho que o Congresso tenha colocado isso na pauta.
05:58Do ponto de vista externo, eu acho que a situação é um pouco mais delicada,
06:01porque aí não é só fazer a lição de casa, né?
06:02Aí tem a expectativa de uma relação com o governo dos Estados Unidos também,
06:06que vai trazer mais dificuldades para a economia brasileira, né?
06:09Eu acho que tem impacto na balança comercial.
06:12Alguns setores muito importantes da economia brasileira também podem enfrentar dificuldades,
06:16como a gente viu aí o agronegócio, por exemplo, o setor industrial.
06:20Então, eu acho, Júlia, que essa situação do IOF, como eu disse antes,
06:23a gente tinha um problema que achava que era o maior até quinta-feira,
06:27quarta-feira da semana passada,
06:29e hoje ele foi somado aí a mais um grande desafio, agora externo também.
06:34Passar para o Alberto. Alberto, por favor.
06:37Lucas, numa situação limite hipotética,
06:41onde o governo está no limite, está ultrapassando o menos 0,25 do primário,
06:48você imagina que ele ultrapassa e fala, dane-se,
06:51ou ele vai tentar ficar dentro desse limite e, eventualmente, para algum setor do governo?
06:59Quais seriam as alternativas?
07:01Olha, Alberto, eu acho que o governo não ligar para o arcabouço fiscal seria um cenário catastrófico.
07:08Uma regra aprovada no final do ano passado e já desrespeitada seria muito ruim para a economia brasileira.
07:14Eu acho que seria o pior dos cenários.
07:16O governo tem algumas soluções intermediárias.
07:20A gente viu, recentemente, o ministro Haddad anunciou um bloqueio em contingenciamento do orçamento,
07:25que é um problema também.
07:26A gente vê que áreas muito importantes, como a saúde ou a infraestrutura, por exemplo,
07:30sofreram cortes no orçamento justamente no esforço do governo tentar cumprir essa meta fiscal.
07:37Isso pode acontecer de novo.
07:39Eu acredito que é muito provável que, nesse segundo semestre,
07:41a gente também vai ver aí uma segunda rodada de bloqueio ou de contingenciamento do orçamento
07:47para tentar alcançar esse déficit de pelo menos 0,25% do PIB.
07:52Se o governo, apesar de todos os esforços e de todas essas discussões, não conseguir,
07:58aí eu acho que o caminho, eu espero que o caminho escolhido seja o de cumprir a regra prevista,
08:04como eu disse, aprovada no final do ano passado, de ter aí alguns gatilhos.
08:11Você limita e bloqueia concursos públicos, reajuste salarial do funcionalismo,
08:17os gastos, as despesas discricionárias também não podem crescer.
08:23Eu acho que o cenário ideal seria um esforço, como eu disse, do governo tentar cumprir a meta.
08:29Tem algumas alternativas ali intermediárias.
08:32E um outro aspecto também, Alberto, que eu acho que é importante a gente destacar aqui,
08:36é que a gente já viu regras fiscais serem cumpridas com várias ressalvas.
08:41Você tira boa parte do orçamento ali, que é um problema da regra fiscal,
08:46e diz, olha, cumpri a regra, mas com ressalvas.
08:49Então, eu acho que isso também seria um grande problema.
08:51O ideal é que o governo, e aí o Congresso também deveria fazer um esforço
08:57e ter a consciência da importância de um equilíbrio fiscal,
09:00ter esse esforço coletivo para tentar manter a meta do arcabouço fiscal,
09:05e mais importante do que isso, eu acho que ter responsabilidade fiscal
09:08e para os próximos anos, da continuidade desse governo,
09:12ou na próxima eleição, ter uma política fiscal mais responsável.
09:16A gente precisa, assim como a gente vê as famílias brasileiras aí
09:20se equilibrando para manter o orçamento e conseguir gastar menos do que arrecada,
09:26o governo deveria também se esforçar mais nessa linha.
09:31Lucas, muito obrigada. Prazer conversar com você. Boa noite.
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