Carlos Primo Braga, professor da Fundação Dom Cabral e ex-diretor do Banco Mundial, analisou as projeções do Banco Central para crescimento de 2% e inflação de 4,8% no Brasil, avaliou a taxa Selic a 15% e comentou perspectivas da economia americana, incluindo ritmo de crescimento, mercado de trabalho e política monetária do Fed.
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00:00Conversa agora com Carlos Primo Braga, professor associado da Fundação Dom Cabral e ex-diretor do Banco Mundial.
00:06Professor, boa noite. Obrigada por ter aceitado o nosso convite.
00:09Queria começar ouvindo a sua avaliação sobre essas projeções do Banco Central de crescimento da economia de 2% nesse ano e inflação 4,8%.
00:19Boa noite. Bem, são projeções mais ou menos consistentes com o que o mercado está olhando.
00:30E também com o que instituições internacionais, como a OCDE, estão vendo no cenário futuro para a economia brasileira e para a economia mundial.
00:42A OCDE, por exemplo, acabou de lançar o seu outlook para a economia mundial e nela, nesse relatório, a projeção para crescimento do Brasil é de 2,3% nesse ano.
01:00Enquanto que o Banco Central está apostando aí nos 2%.
01:05Eu sempre costumo mencionar o John Kenneth Galbraith, professor de Harvard, economista canadense já falecido,
01:14que costumava dizer que economista só faz projeção econômica para dar credibilidade à astrologia.
01:23Mas são números consistentes e eu acho que, no caso do Banco Central, é uma instituição que, do ponto de vista da economia brasileira,
01:35tem grande credibilidade.
01:37Professor, assim como o Luiz Marinho, que é um crítico ferrenho há meses desse atual patamar dos juros,
01:43hoje o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também disse que a taxa Selic não deveria estar em 15%.
01:49Então, primeiro, eu queria ouvir a sua opinião sobre esse patamar e se o senhor acredita que o governo vai começar a subir o tom com o presidente Galípolo.
01:58Olha, o que está ocorrendo com relação a esse debate sobre a Selic não é novidade, obviamente.
02:07E, como alguma das intervenções anteriores no seu programa mencionaram, nós temos uma situação, digamos assim, positiva em termos das relações pessoais
02:24entre o atual presidente do Banco Central e o Ministério da Fazenda, o que não ocorria no mandato do Roberto Campos Neto.
02:35E, no entanto, é bem verdade que se pode fazer um caso sobre uma Selic acima daquilo que seria necessário
02:49em termos dos números relevantes para a economia brasileira, em termos de inflação, que é o mandato principal do Banco Central.
02:58A ideia básica é a seguinte, a gente tenta estimar o que se chama a taxa de juros neutra.
03:09No caso brasileiro, as estimativas variam aí em termos reais entre 5% e 5,5%.
03:17Essa é a taxa de juros que levaria a uma situação que, a nível de pleno emprego, não houvesse pressões sobre a inflação.
03:28Então, com uma taxa de juros de 5,5% e uma inflação correndo aí por volta também de 5,5%,
03:38nós estaríamos aí com uma taxa de juros neutra da ordem nominal, da ordem de 11%,
03:46enquanto que a Selic está a 15%. Então, é uma taxa restritiva.
03:51Agora, qual a razão para isso?
03:53É que o Banco Central, como já foi mencionado, tem uma preocupação muito grande com as expectativas de mercado
04:00e está apostando numa Selic mais elevada exatamente para ancorar essas expectativas de mercado.
04:11E, nesse sentido, eu diria que está fazendo o trabalho correto.
04:15Há algum espaço para a queda? Sim.
04:19Mas tudo isso vai depender de como as expectativas com relação à inflação evoluírem.
04:27Eu vou passar para a pergunta dos nossos analistas.
04:29Vamos começar pelo Eduardo Gair, lá em Brasília.
04:32Gair.
04:32Carlos, boa noite. Boa noite a todos.
04:38Eu tenho uma dúvida, sempre quando eu ouço essas críticas do governo federal ao Banco Central,
04:42que é a seguinte, o Banco Central só persegue a meta de inflação que é estabelecida pelo próprio governo,
04:48pelo Conselho Monetário Nacional, que é formado por três cadeiras, Banco Central, Ministério da Fazenda e Planejamento.
04:54Portanto, o governo tem maioria, poderia até mudar a meta de inflação.
04:58Então, se o governo considera que a meta de inflação está muito difícil de ser alcançada,
05:04porque o juro está muito alto para conseguir chegar lá e ainda estamos longe,
05:08por que não há uma mudança na meta de inflação?
05:10Nós sabemos os riscos de fazer isso, mas você considera que há espaço para o governo pensar em uma alternativa dessa
05:18ou o pragmatismo vai falar mais alto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não vai deixar isso acontecer.
05:24E já emendo, a meta de inflação está muito difícil de ser alcançada no Brasil e deveria ser revista?
05:31Bem, certamente é difícil de ser alcançada no curto prazo.
05:37Certamente em 2025 nós vamos estar com resultados acima da área do grau de flexibilidade,
05:49a meta de 3%, mas nós temos aí a flexibilidade de 1,5% para cima ou para baixo.
05:57Então, muito provavelmente nós estaremos fechando o ano acima do 4,5%.
06:03Agora, essa ideia de mudar a meta da inflação é um pouco como a ideia de mudar a posição dos gols
06:15num campo de futebol para facilitar você fazer o gol, mas isso naturalmente muda as regras do jogo
06:24e certamente vai influenciar a questão das expectativas do mercado com relação ao futuro.
06:34Então, eu seria totalmente contrário a essa mudança da meta de inflação.
06:41Vou passar para a pergunta do Vinícius.
06:44Professor, agora pensando nos Estados Unidos, que tem uma polêmica grande também sobre política monetária,
06:51ritmo de crescimento...
06:51Eu estou tendo uma voz no background de vocês.
06:58Bem, agora parou.
07:00Vamos lá então. Desculpa, professor.
07:02Pensando nos Estados Unidos, que está com uma discussão, aliás, uma briga quase sobre política monetária
07:08e sobre o que vai acontecer com o mercado de trabalho, qual o tamanho de desaquecimento.
07:13Então, a economia vai crescer menos, parece que vai crescer menos que no ano passado,
07:18pouco mais da metade do ano passado, mas não tem nenhum sinal estridente do que vai acontecer
07:24contra o mercado de trabalho e taxa de inflação.
07:29O número mais forte do mercado de trabalho é de criação de emprego, mas o mercado de trabalho não está mal,
07:33está com desemprego baixo.
07:35A inflação está crescendo, mas devagar, e o Fed ainda acredita que vai ser um movimento temporário
07:40por causa de tarifas e passa.
07:43A gente vai ver esse chove no molho na economia americana durante muito tempo,
07:48vai ter algum sinal decisivo de para onde vai, o que o Fed deve fazer, se o Trump vai reagir,
07:55porque, afinal de contas, o ano que vem ele tem eleição e não pode chegar com emprego e inflação ruins.
07:59Você acha que vai ter algum sinal grande ou a gente vai ficar nesse rame-rame durante muito tempo,
08:05a inflação não vai subir muito, a taxa de desemprego não vai subir muito,
08:09e o crescimento vai ser esse de um e meio durante dois anos e tudo bem?
08:12É, o cenário para os Estados Unidos, embora se você ouviu as declarações do presidente Trump
08:26na reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas, parece um cenário maravilhoso,
08:33mas a realidade é que a economia americana está desacelerando,
08:37ela cresceu algo como 2,8% em 2024, esse ano vai fechar por volta de 1,8%,
08:46e a expectativa para 2026 é algo como 1,5%.
08:52Então, isso é a realidade que as estatísticas de instituições, como a FMI, Banco Mundial, a CDE, sugerem.
09:01Em termos do debate sobre taxa de juros nos Estados Unidos,
09:08esse é um debate muito mais, digamos assim, raivoso,
09:14no sentido que, obviamente, o presidente Trump,
09:18nesses oito meses do seu governo, tem sido um crítico muito ferrenho
09:23do senhor J. Powell, o presidente do FED, o Banco Central americano.
09:29E agora, através de uma série de manobras,
09:34eles acabaram de indicar uma pessoa, obviamente, muito alinhada
09:40com a política econômica da administração Trump,
09:45que é o senhor Stephen Mirren, um economista, com um doutorado por Harvard,
09:51mas que tem algumas ideias, digamos assim, heterodoxas.
09:55Então, ele agora é uma voz no comitê monetário do FED,
10:02ele participou pela primeira vez essa semana,
10:06e que é favorável a uma queda substantiva na taxa de juros,
10:13e como você sabe, nessa última reunião,
10:15a taxa de juros foi reduzida do intervalo 4,25 a 4,5 para 4 a 4,25.
10:29Então, uma redução de 25 base points.
10:33Pois bem, o senhor Mirren é favorável a uma aceleração nessa queda,
10:39mas, respondendo a sua pergunta, até maio do ano que vem,
10:45que é o final do mandato de J. Powell, no FED,
10:49e com a composição do comitê monetário do FED,
10:54ele é uma voz, digamos assim, isolada nesse momento.
10:58Há alguns outros que também têm demonstrado interesse na queda da taxa de juros,
11:04mas eles ainda são minoria.
11:07Moral da história, a gente deve continuar, pelo menos até meados do ano que vem,
11:13com uma taxa de juros não muito diferente da que prevalece hoje.
11:19Talvez tenhamos mais uma ou duas diminuições,
11:24uma ou duas diminuições da taxa de juros fundamental do FED,
11:29que é o equivalente à nossa Selic,
11:32mas ninguém espera uma queda muito dramática,
11:37dada a situação,
11:38inclusive os dados do mercado de trabalho de hoje nos Estados Unidos,
11:43sugerem que a economia continua, vamos dizer,
11:46a ser uma economia relativamente dinâmica.
11:50O senhor Mirren e o governo falam que estamos muito abaixo
11:55daquilo que poderia se almejar por taxas de juros extremamente elevadas
12:01para o caso dos Estados Unidos.
12:05Mas, como eu já disse,
12:07não há assim uma grande expectativa de mudanças
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