A economista e professora da FGV, Carla Beni, analisa os avanços do primeiro semestre, os impasses no IOF, riscos fiscais e alerta para cortes que ameaçam investimentos e crescimento.
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00:00E a gente vai conversar agora com a economista e professora da FGV, a Fundação Getúlio Vargas, Carla Bene.
00:06Carla, boa noite para você, obrigada por ter aceitado o nosso convite.
00:09Carla, a gente viu um semestre positivo para o principal indicador da Bolsa Brasileira para a economia do país como um todo.
00:16O que levou a isso, na sua opinião, e o que a gente pode esperar para o segundo semestre?
00:22Boa noite, Cristiane, um prazer estar aqui com vocês.
00:25Nós tivemos aí algumas explicações, digamos, tanto na parte de emprego, de renda, isso daí é um volume muito importante para o país.
00:36Vou começar um pouquinho com as apresentações do Alberto com relação ao Caged, porque quando a gente começa a ter um movimento de emprego e de renda,
00:48eu uso um termo para ficar bem fácil, que o investimento de hoje é o emprego de amanhã.
00:53Então, os investimentos se concretizando, você aumenta os postos de trabalho.
00:58E por que isso é tão importante?
01:00Porque se você quiser comprar ações de uma empresa, essa empresa tem que vender, seja lá o que for, ela vai ter que vender, bens, serviços ou o que for.
01:11Então, essa construção é muito importante para que a gente entenda esse processo evolutivo.
01:17Então, esse primeiro semestre, por várias razões, que nós até acabamos de ouvir uma grande parte,
01:23ele realmente foi um mês muito interessante para o mercado acionário, o que é até bem interessante,
01:30porque com uma taxa de juros que nós temos, a gente também estimula muito o mercado de renda fixa.
01:35O Carla, inúmeras pautas aí para a gente avaliar nesses últimos seis meses,
01:42mas o principal debate dos últimos dias tem sido, claro, essa questão das contas públicas com alta do IOF,
01:48posterior derrubada, o tema segue em pauta.
01:51Como é que você enxerga esse episódio especificamente?
01:55Olha, nós observamos agora um feito único, Cristiane, que foi um acordo que não foi cumprido.
02:01Então, houve uma reunião num domingo, imagine reunião com lideranças políticas no domingo,
02:08imagine o sacrifício para eles.
02:09Jamais visto, né?
02:11Jamais visto.
02:12E após tudo combinado, na segunda-feira o executivo encaminha o projeto
02:18e imediatamente o Gumota, por exemplo, posta nas redes sociais que vai travar isso.
02:25Então, esse é um feito único, isso sinaliza um enfraquecimento, sim, do governo,
02:32que, aliás, ele até poderia vetar isso, né?
02:36Ou seja, dá para pisar num acelerador aí, digamos, ou recuar.
02:41Então, olha que situação que a gente vê agora.
02:43O diálogo piora após uma reunião tão importante para justamente aparar arestas, digamos assim.
02:51Mesmo sabendo que as alterações de IOF, elas são feitas pelo Conselho Monetário Nacional.
02:59A política creditícia nossa e monetária é feita pelo órgão máximo do sistema financeiro,
03:05que é o Conselho Monetário Nacional, presidido pelo ministro da Fazenda.
03:09Então, ele tinha total autonomia para alterar o IOF.
03:12Mesmo assim, depois de várias confusões, vai e volta, que a gente sabe muito bem que isso também é péssimo.
03:18Resultado, recua, todo mundo senta e conversa e nada acontece.
03:23O pior, depois você bloqueia isso e cai a alteração do IOF.
03:31Então, a gente está literalmente numa situação muito confusa,
03:35onde a gente sai da política e acaba discutindo mesmo...
03:38Desculpa, a gente sai da economia e vai para a política.
03:42É, exatamente. Exatamente. Por isso, eu vou passar para a pergunta da Júlia Lindner,
03:46nossa analista de política, que hoje está aqui no estúdio com a gente.
03:49Júlia, fica à vontade.
03:51Carla, como você falou dessa situação confusa, eu queria ouvir a tua opinião
03:54sobre o quanto esse cenário todo pode influenciar as próximas decisões do Banco Central,
04:00considerando que essas incertezas da política fiscal têm sido muito citadas.
04:04se você acha que isso pode influenciar para mudar essa expectativa de uma estabilização da taxa de juros
04:11ou se você acha que mesmo isso já está precificado para esse cenário?
04:15Eu acho, Júlia, que em grande medida isso já está precificado.
04:20O Banco Central, em tese, o que se espera é que a partir do ano que vem
04:24a gente realmente comece uma trajetória de queda da taxa selic,
04:28que a taxa real nossa é completamente fora de qualquer propósito.
04:33E o que a gente vê dentro dessa sinalização agora, com relação à parte política,
04:39é um embate, uma pressão por mais emendas.
04:43É literalmente isso.
04:44Enquanto o governo fornece as emendas, digamos assim, com uma forma mais lenta,
04:50tudo dele vai ser bloqueado.
04:52E, sob essa ótica, é algo que eu acho que é muito ruim,
04:55é que só se fala em 2026.
04:58A gente não consegue viver o 2025 com tudo que a gente precisa fazer.
05:03Então, toda a discussão está centrada em 2026
05:07e a impressão que a gente tem do Congresso
05:10é que ele literalmente está fazendo o governo sangrar.
05:14Vamos passar para o Alberto Azental.
05:15Alberto.
05:16Carla, minha colega da FGV, é um prazer falar com você aqui.
05:21Quando a gente estava em dezembro do ano passado,
05:25a gente provavelmente não ia imaginar que ia ter esses dados agora,
05:29no final de junho, no final do primeiro semestre.
05:33Então, eu queria uma análise tua em duas partes.
05:35O que mudou nesse primeiro semestre?
05:39Por que vieram números tão melhores em determinadas áreas?
05:43E qual a tua expectativa para o segundo semestre,
05:46ou seja, até chegar ao final do ano?
05:48Bom, Alberto, querido, é um prazer estar aqui falando com você.
05:53A primeira resposta que eu diria para você,
05:56ela é uma resposta um pouco assim, digamos,
05:59funcional sob a ótica estatística.
06:03O mercado financeiro tem muitos erros nas suas previsões também.
06:08Então, a ideia de que a gente não teria esses números,
06:14parte do pressuposto que a política monetária contra acionista,
06:19ela tem uma velocidade que, na verdade, ela não tem.
06:22Por que a gente continuou subindo juros,
06:25como você explicou super bem antes da participação,
06:30e o que a gente observa?
06:32Que o movimento da economia, ele continua caminhando.
06:35Mesmo com esses juros, a gente tem crédito,
06:38as pessoas continuam tomando crédito,
06:40mesmo com essa taxa elevada,
06:42a gente continua com emprego,
06:44continua com melhora de renda.
06:47Então, a velocidade da política monetária,
06:50ela, inclusive, internacionalmente,
06:52ela tem se provado mais lenta.
06:55Agora, pegando a sua segunda questão,
06:58para o segundo semestre,
06:59a gente já começa a observar
07:01um exercício dessa própria política monetária,
07:04que não estava sortindo tanto efeito nesse primeiro semestre,
07:09e agora, com uma contração maior da liquidez,
07:13da economia,
07:14e o objetivo do Banco Central,
07:16que é um objetivo único,
07:18poderia ser duplo,
07:19como nos Estados Unidos, por exemplo,
07:21além de cuidar da inflação, cuidar do emprego,
07:23ele vai provocar mais desemprego,
07:26contração do PIB e da economia,
07:29para poder diminuir o processo inflacionário.
07:31Carla, um relatório recente do Banco Mundial
07:34sugere que o Brasil precisa fazer um ajuste
07:37de 3% do PIB nas contas públicas.
07:40Na sua visão, isso é possível?
07:42Não.
07:43Na minha visão, isso é muito difícil de ser feito,
07:46e se for feito,
07:48vai ser feito em cima
07:49de sacrifício de investimentos
07:53e de pautas realmente
07:54que são fundamentais para diminuir
07:57a desigualdade do país.
07:59Não vejo mudanças sérias estruturais,
08:03por exemplo,
08:03nos 627 bilhões de renúncias fiscais
08:07que nós temos.
08:09Se alguém quiser ver a lista,
08:10é só entrar no site do Tribunal de Contas da União
08:13e ver a lista de todos os grupos beneficiados.
08:17A gente não consegue discutir super salários,
08:20a gente acabou de aprovar
08:21um maior número de deputados,
08:24o que vai desencadear uma estrutura estadual toda.
08:28Então, eu acho que
08:29essa ideia de mais ajuste,
08:32muito bem lembrado,
08:34que a cada elevação de um ponto percentual da Selic,
08:37a gente tem 50 bilhões de despesas no Tesouro.
08:41Então, Cristiane,
08:42eu acho que as nossas pautas,
08:45elas só caminhariam
08:46se a gente tivesse uma junção
08:48entre o Executivo, o Legislativo, o Judiciário
08:52e a sociedade.
08:54Porque a sociedade também tem que entender
08:57que esses grupos que gritam mais
08:59e recebem benefícios fiscais
09:01não necessariamente devolvem isso para a sociedade.
09:05Então, sem essa junção,
09:07vai ser muito difícil a gente conseguir caminhar.
09:11Júlia.
09:12Carla, o governo tem agora um desafio,
09:14com a derrubada desse decreto do IOF,
09:16ainda que ele possa ser retomado
09:18e também com a medida provisória
09:20caminhando com dificuldade,
09:22que teria algumas medidas complementares,
09:24o governo tem o desafio também
09:25de conseguir cumprir a meta fiscal
09:28sem essas receitas esperadas.
09:30Qual que você acha que é o caminho
09:32que seria o ideal
09:33para conseguir esses recursos,
09:35seja contingenciamento
09:36ou outras fontes de receita?
09:39Bom, aquilo que eu acabei de falar,
09:41Júlia, eu acho que esse seria
09:42o caminho ideal, digamos assim,
09:44a gente tira as crianças da sala
09:46e vamos sentar os adultos para conversar.
09:48Sabendo que isso vai ser muito difícil de acontecer,
09:52a gente vai acabar caminhando para mais do mesmo.
09:56Por exemplo, o anúncio
09:57de que você vai reduzir a verba para o PAC.
10:01O PAC, ele é um programa fundamental
10:04por causa do começo da minha conversa com a Cristiane,
10:08que é o quê?
10:08O investimento de hoje é o emprego de amanhã.
10:11Então, se você tira dinheiro do PAC
10:14para cumprir a regra fiscal,
10:17você está impedindo esse desenvolvimento
10:20do país lá na frente.
10:21Então, o que sobra é o quê?
10:23Tira dinheiro do PAC,
10:25as emendas parlamentares,
10:26ninguém discute que esse seria
10:28uma questão fundamental para a gente entrar,
10:31inclusive até na constitucionalidade
10:34ou não das emendas impositivas.
10:36aí a gente vai sobrar o quê?
10:38Corte ou contingenciamento,
10:41que é exatamente isso que você está falando,
10:43nas pastas mais importantes,
10:45como saúde, educação
10:47ou outras tragédias possíveis,
10:50como desvincular o salário mínimo
10:52do aumento real de renda.
10:54E aí essa seria a tragédia maior, digamos assim.
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