Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, analisou a forte queda dos mercados, a pior em quatro meses, causada pela escalada de incertezas políticas entre Brasil e EUA. Ele destacou impactos diretos no câmbio e no setor bancário, além do risco de novas sanções. Alberto Ajzental e Vinicius Torres Freire também participam da discussão.
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00:00A gente vai conversar agora com o Sérgio Valle, economista-chefe da MB Associados.
00:05Sérgio, boa noite. Obrigada mais uma vez por ter aceitado estar aqui com a gente.
00:10Sérgio, essa reação do mercado nessa magnitude há quatro meses,
00:15a gente não viu uma queda como essa, foi justificável na sua opinião?
00:19E o que a gente pode esperar para os próximos dias?
00:22Boa noite, Cris. Prazer em falar com você também.
00:25Olha, isso de certa forma está acontecendo, a gente está vendo esse cenário bastante negativo,
00:30escalar ao longo dos últimos meses, por conta desse cenário extremo de incerteza que o Trump causa.
00:36Desde o início do ano, todo o cenário que ele trouxe de tarifas e agora,
00:40ele descobrindo esse caminho das sanções, adicionalmente as tarifas que ele tem usado
00:45de uma forma cada vez mais errática do ponto de vista econômico e cada vez mais do ponto de vista político,
00:51agora ele está também usando com mais intensidade as ameaças das sanções.
00:55E no caso da lei aplicada aqui, no caso específico do Brasil, por conta dos riscos políticos todos que foram criados
01:02nos últimos meses, em relação ao Trump e o presidente Lula, tudo que está interligado por conta do Bolsonaro,
01:08a gente entra num cenário de muita incerteza, Cris.
01:11E aí quando a gente olha para frente, dado que a gente não sabe exatamente onde isso vai parar,
01:16qual o risco de fato que tem para os bancos nesse momento,
01:18o cenário acaba escalonando, como a gente viu, e tem essa reação muito negativa de Bolsa e de câmbio.
01:26Pode ser que a gente ainda tenha repercussões disso, porque a gente vai precisar esperar
01:30a decisão adicional do Supremo e também o que os Estados Unidos vão fazer em relação a isso.
01:35Então esse cenário de incerteza ainda tende a permanecer,
01:38sem muita clareza de exatamente o que vai acontecer no final.
01:42E aí falando especificamente do câmbio, a alta hoje se descolou do índice dólar,
01:47o dólar subiu muito menos no restante do mundo, né?
01:51Pois é, porque é uma percepção de risco específica do Brasil que a gente está vendo agora.
01:55Quer dizer, toda aplicação dessa lei, que em geral na história da aplicação dela,
01:59desde que ela surgiu aí cerca de 12 anos atrás,
02:02foi em pessoas de fato de países autoritários, com questões legais muito profundas,
02:08o ineditismo de você ter um membro do Supremo, de um país democrático,
02:12que tem sua vida financeira funcional, relacionamento com os bancos tradicionais aqui dentro,
02:18que tem carteira e que tem posição lá fora.
02:21Isso tudo coloca o ineditismo na situação que a gente está vivendo agora,
02:25que fica muito mais complicada pela dificuldade também de entender
02:31como é que o Trump vai funcionar a partir de agora com isso.
02:34Então assim, a lei foi aplicada numa situação inédita,
02:36o Trump é um presidente de certa forma inédito nas práticas dele,
02:39e isso coloca um tempero muito ruim.
02:41Por isso, o risco da gente ter ainda efeitos negativos de bolsa e câmbio ao longo das próximas semanas,
02:47enquanto isso não se resolver.
02:49E por que o setor bancário foi o mais afetado?
02:53É basicamente por conta de justamente os bancos poderem ser os mais afetados
02:59por essa decisão que está vindo dos Estados Unidos,
03:03em relação à lei que foi aplicada contra o ministro do Supremo,
03:07e de que eventualmente esses bancos que têm operação lá fora
03:10podem eventualmente sofrer sanções do governo americano.
03:15Por imposição de você tentar de alguma forma continuar tendo uma relação financeira
03:21com o ministro do Supremo aqui,
03:23que é o que a justiça está caminhando para que continue acontecendo,
03:28o governo americano pode dizer simplesmente que,
03:30olha, se você tem essa relação financeira com o ministro do Supremo,
03:33você vai ter sanções e vai ter sua vida dificultada aqui dentro dos Estados Unidos.
03:38Então, esse cenário, obviamente, afeta com intensidade as empresas financeiras aqui no Brasil.
03:43Agora, isso tudo pode escalonar, porque a gente sabe que, eventualmente,
03:46a gente precisa ver o que vai ser a resposta do Brasil,
03:49se a gente vai afetar, de alguma forma, as empresas americanas que estão aqui.
03:52Tudo isso está escalando num grau, não é, Cris?
03:54Que é inédito.
03:56Não está caminhando, pelo menos no curto prazo, para ter uma solução muito positiva.
03:59A gente não consegue ir às partes dando uma tentativa de uma solução positiva para isso.
04:05Então, acho que o grau de estresse ainda vai permanecer muito grande.
04:08Nas próximas semanas, eu diria meses, até.
04:10Vamos passar para a pergunta dos nossos analistas, começando pelo Alberto Azental.
04:13Boa noite para você, Alberto.
04:15Cris, boa noite. Boa noite a todos que nos acompanham.
04:18Sérgio, que queda brutal hoje.
04:23Os mercados estão com os nervos à flor da pele?
04:26As instituições brasileiras, elas estão tão assim fragilizadas?
04:32A economia também, por causa do déficit fiscal?
04:35Será que o mercado está sentindo que talvez os poderes não são tão independentes assim como o discurso conta?
04:45Tudo bem, Alberto. Prazer falar com você também.
04:47Olha, esse caso específico de hoje tem muito a ver com essa situação efetiva da lei aplicada contra o ministro Alexandre de Moraes.
04:55Mas quando a gente vê a situação econômica desde o início do ano, a gente tem uma situação econômica relativamente positiva.
05:02A gente tem uma economia que está crescendo na expectativa mais do que estava no início do ano.
05:07Cenário de juros, a gente chegou a 15%, mas com a inflação começando a baixar agora, tem um cenário de começar a querer cair no final do ano.
05:15A economia está desacelerando?
05:16Está.
05:17Está desacelerando de uma forma natural que a gente precisa por conta da inflação elevada que a gente tem agora.
05:22Mas não tem um cenário econômico desastroso.
05:25O mercado entrou num compasso de espera em relação à questão fiscal, sabendo que não vai ter uma solução muito clara e efetiva esse ano ou no ano que vem.
05:31E que em 2027 a gente vai ter que encaminhar isso de uma forma melhor.
05:35Então, assim, tudo que a gente vê acontecer na Bolsa, no mercado agora, e muitas vezes está acontecendo de fato isso,
05:41é quando você tem uma situação crítica como a gente está vivendo agora.
05:44Agora, a dificuldade, né, Alberto, é que a gente não vê uma luz no fim do túnel para isso.
05:49Isso que coloca um pouco de insegurança porque não está caminhando para ter uma solução muito pacífica no curto prazo.
05:55Passar para o Vinícius.
05:57Sérgio, o cenário no qual o governo americano coloca, obriga bancos sob jurisdição americana, de algum modo brasileiros,
06:09a cancelar contas de Alexandre de Moraes e talvez outras autoridades brasileiras ainda é extremo.
06:15Por outro lado, o risco de que as sanções, os ataques americanos pudessem escalar já estavam no radar.
06:21Não só os comerciais, mas também os financeiros, como a própria aplicação da Magnitsky em escala pequena mostrou
06:29e pelas ameaças veladas que vêm sendo feitas nos últimos 10 ou 15 dias, pelo menos.
06:34Agora, tudo isso, essa piora de cenário foi detonada pela decisão do Dino de fazer com que os bancos entrem num dilema ruim
06:42ou obedecem à lei ou à decisão do STF ou têm problemas financeiros internacionais.
06:50Você acha que, havendo uma decisão, uma mágica e um milagre jurídico para tirar o Dino,
06:57as pessoas vão esquecer desse risco de escalada ou, finalmente, o pessoal vai acordar aqui o risco
07:02para o fato de que o risco de sanções financeiras está aí?
07:07Boa noite, Vinícius. Prazer falar com você também.
07:09Olha, eu acho que o risco de escalada está muito alto e vai continuar subindo.
07:14Quer dizer, vamos imaginar o início do ano, o que a gente teve desde o início do ano até agora
07:20em relação à questão das tarifas, essa questão da lei que foi aplicada no Brasil e tudo o que o Trump está fazendo.
07:25Apesar da gente ter tido uma suspeita de que alguma coisa grave poderia acontecer no final do ano com a eleição dele,
07:32a gente não imaginava que ele estava numa situação tão dramática em várias frentes como a gente tem agora.
07:36a demissão de pessoas relacionadas à gestão de dados nos Estados Unidos, enfim.
07:42Uma quantidade absurda de riscos estão sendo criados nos últimos anos e não dá para descartar que,
07:47eventualmente, por conta dessa situação, isso ainda escalone.
07:51E, eventualmente, o sistema financeiro vai ter que ter uma decisão muito complicada
07:54entre aplicar a sua sobrevivência lá fora como instituição financeira e ter esse cenário de aplicar a lei aqui dentro do Brasil.
08:03Eu acho que, assim, a justiça tem a impressão que vai se sensibilizar em relação a essa questão
08:09e vai ter que encontrar uma solução salomônica intermediária no meio do caminho que não está muito claro ainda como será.
08:16Acho que dá para dizer que não vai ser exatamente uma coisa extrema de cada lado, pelo menos por agora.
08:21Mas também não está muito claro exatamente para onde a gente vai.
08:23Você já falou aí nessa possibilidade de escalada nessa tensão, nesse conflito entre Brasil e Estados Unidos.
08:31Até onde, Sérgio, você acha que pode ir?
08:34E o quanto, de fato, isso afeta a economia brasileira?
08:38Olha, escalada o limite de uma coisa dessa, você pode pensar, por exemplo, de cada país chamar o seu representante diplomático.
08:47Ou seja, chegar a um ponto de cortar relações de uma forma mais definitiva.
08:51Acho que a gente ainda não está nesse cenário, mas está escalonando de tal forma.
08:55E, no nosso caso, a gente tem um processo eleitoral também muito complicado olhando pela frente.
08:59Uma pressão que vem da família Bolsonaro lá dentro dos Estados Unidos.
09:03Quer dizer, cada uma das partes estão tensionando com muita força de cada lado.
09:07Difícil imaginar uma solução muito concreta, correta no meio do caminho.
09:12Então, acho que situações extremas, né, Cris, hoje não dá para descartar.
09:16A gente pensar, a gente chamar um embaixador americano, como muitas vezes a gente vê acontecer mundo afora,
09:22numa situação tão extremada que a gente está vivendo nesse momento, não dá para descartar nem isso mais.
09:27Agora, a gente precisa pensar com muito cuidado que o Brasil é um país, apesar de ser um país fechado,
09:32tem uma relação internacional financeira grande com o resto do mundo,
09:35a gente vai precisar pensar muito bem como é que isso pode interferir em decisão de investimento também.
09:40Quer dizer, qual que fica a insegurança jurídica que você pode criar a partir de agora
09:45para as instituições financeiras, para as empresas,
09:48por conta de um país que está sendo atacado dessa forma pelos Estados Unidos
09:52e que dá a sinalização que vai continuar sendo atacado.
09:55Então, a gente entra num cenário que, de novo, Cris,
09:59eu não consigo ver uma solução muito boa, muito tranquila no curto prazo, não.
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