Pular para o playerIr para o conteúdo principalPular para o rodapé
  • há 3 dias
Barbara Duvivier, head de criação do Porta dos Fundos, fala sobre o papel do humor como linguagem artística flexível, capaz de abrir espaço para improvisos e mudanças de roteiro, e salienta como o processo favorece a criatividade e possibilita a exploração do gênero para provocar não apenas o riso, mas o diálogo e reflexões sobre diversas temáticas da sociedade.

Categoria

😹
Diversão
Transcrição
00:00O humor é aquilo que não edifica, não destrói.
00:02Tipo, o humor que já nasce com uma pretensão de ensinar ou de destruir.
00:11Ele já nasce meio torto porque já está querendo ir além.
00:19Eu tenho uma peça de improvisação de humor, que é o portátil no Porta dos Fundos.
00:33Então, sim, eu acho que o humor é muito a improvisação.
00:36Ela floresce muito no humor e vice-versa.
00:40Eles conversam muito bem.
00:42Ao mesmo tempo, é claro que o ator tem que ter um domínio dos recursos de comédia
00:47e tem que entender porque muitas vezes também o roteirista fez um trabalho ali
00:51nos esquetes, principalmente quando a gente fala de esquetes, do Porta dos Fundos.
00:55O roteirista fez um trabalho pensando o timing, pensando a construção.
00:59E se o ator não tiver domínio desses recursos, ele vai possivelmente piorar o texto do roteirista.
01:08Então, eu acho que o roteirista e a gente no Porta tem uma confiança muito grande
01:13nos atores que a gente escolhe porque a gente sabe que eles dão conta e que dominam.
01:20Porque é isso, o improviso, a improvisação, ela é uma arte também que as pessoas precisam dominar.
01:26Então, não é só o inventário e o querer acrescentar o texto, mas é, se você domina a arte da improvisação,
01:33você pode dialogar com o texto do comédio de uma maneira muito inspiradora e criativa.
01:38Claro, também, se você entendeu aquele texto, se você já teve leitura antes, se teve um alinhamento
01:42com a direção, com o roteirista.
01:44Então, resumindo, sim, mas não é tão simples e não é sempre.
01:50Mas eu acho que o improviso é muito rico e eu acho que todo ator deveria estudar e dominar
01:59porque como recurso é algo muito potente.
02:01Se juntasse uma com a outra, configuraria união estável.
02:15E aí, amor, isso foi antes.
02:17O Porta tem um trabalho de escrita na sala de roteiro, de elaboração da ideia e isso
02:27depois vai para a escalação, para o casting.
02:31E muitas vezes, quando um personagem é escalado para uma esquete, um ator traz a essência dele
02:37e, às vezes, isso acrescenta tanto que tem cacos que viraram camisetas do Porta
02:47e tem esquetes que deram tão certo na química que viraram programas,
02:51como, por exemplo, o caso do Vralcash, que nasce como um esquete do Gustavo Vilela
02:56e que depois, com a química ali do Caíto e do Rafael Saraiva, aquilo vai tão bem
03:01que viram um programa do Porta, essas mudanças de rota são acolhidas e analisadas.
03:08E, às vezes, é isso.
03:09Às vezes, a gente vê, não, foi demais, foi uma mudança que desvirtuou o roteiro
03:14e descaracterizou.
03:15Às vezes, a gente vê, não, aqui realmente só ganhou, só cresceu.
03:19E a gente está em um laboratório constante aqui.
03:24Eu estou aqui no estúdio do Porta e a gente está sempre pensando
03:28e vendo a resposta das redes, das coisas, então a gente está realmente sempre,
03:33na verdade, quase que não existe uma rota, ela está sempre mudando
03:36e a gente está aqui ao vivo, sempre respondendo a isso, às redes.
03:42Não importa, muda cenário, dependendo do comentário.
03:45O Gregório tira calça, bota short porque clamam por ver as pernas dele
03:50e por aí vai.
03:51Então, enfim, isso é muito interessante do Porta,
03:55que ele é muito rápido nas respostas e muito vivo.
03:58Bom, pessoal, como vocês devem saber, vida de gerente de RH não é fácil, tá?
04:03Cada dia é uma adrenalina e as notícias que eu tenho hoje não são lá muito boas.
04:07A empresa está querendo que eu acabe com o setor de vocês quase todo.
04:10Aqui no Porta, a gente tenta ter a sala de redação mais diversa possível
04:16para a gente poder antecipar.
04:20E aqui dentro, geralmente, a gente tem no microcosmo os debates que vão acontecer fora.
04:24Então, a gente tem pessoas de meios, cidades, idades, lugares sociais diferentes
04:34para a gente conseguir entender onde que pode apertar para cada um.
04:41E aí, é claro, a gente...
04:42O Porta existe há muitos anos e já teve esquete sobre tudo
04:46e teve esquete que gerou debate, teve esquete...
04:49Isso foi gerando também aprendizados para a gente
04:52e erros que a gente não quer repetir e, ao mesmo tempo,
04:59foram se abrindo caminhos por onde a gente...
05:00Que a gente ainda não criou tanto e que a gente quer trilhar, né?
05:03A gente quer...
05:04Eu acho que eu sou uma representação disso.
05:07A gente quer ter uma sala mais feminina,
05:09a gente quer se abrir para um público mais feminino,
05:12a gente quer tocar em questões hoje em dia também relevantes
05:17que não sejam só as que o Porta já vem tocando,
05:19porque o Porta nunca teve medo, historicamente,
05:21de tocar em assuntos como religião, política e tal,
05:24mas, de modo geral, ainda é bastante masculino, né?
05:31A abordagem, geralmente.
05:32Então, acho que isso é a coisa que a gente mais está trabalhando, mudar,
05:36mas é isso, os debates acontecem muito internamente aqui
05:40e eles passam por muitos momentos,
05:44porque passa pelo texto,
05:45depois passa por um diálogo com a direção,
05:47passa por um diálogo com os atores,
05:49passa por um diálogo com a edição,
05:50passa por muito...
05:52E a gente vai sempre podendo mudar e reconversar.
05:57Eu tenho vídeos meus...
06:00nua...
06:01de inscrição para o BBB.
06:03O humor tem muitas funções
06:05e a gente aqui, o Porta já falou sobre tudo
06:10e, claro, que dependendo do momento,
06:13algumas questões se fazem mais necessárias, né?
06:17De se falar algo.
06:19A gente fez, por exemplo, uma parceria com o STF,
06:22em que a gente tinha que falar de violência de gênero.
06:25E é muito mais desafiador, né?
06:28É mais desafiador você fazer um...
06:31Porque Ricardo Araujo Pereira diz,
06:34já citando Machado de Assis,
06:38que o humor é aquilo que não edifica nem destrói.
06:41Tipo, o humor que já nasce com uma pretensão
06:46de ensinar ou de destruir,
06:49ele já nasce meio torto porque já está querendo ir além.
06:57A gente, na verdade, pode conseguir fazer isso, né?
07:00A gente pode conseguir acabar fazendo isso
07:02porque o humor liga as pessoas
07:04e eu acho que pode mover muita coisa, realmente.
07:10Mas o intuito primeiro é a observação do mundo,
07:14é a graça e, dependendo da observação
07:17e da visão dos roteiristas e dos criadores,
07:21isso vai ser transformador,
07:23isso vai estar num lugar social,
07:24isso vai estar num lugar importante.
07:27Então, é mais difícil, assim, digamos,
07:30fazer sobre encomenda uma coisa
07:32que tenha que ser transgressora,
07:34que tenha que ser disruptiva,
07:37do que, na verdade, só confiar ali
07:39no que aquelas pessoas que a gente tem no porta
07:42têm a dizer de maneira engraçada,
07:45com a sua visão.
07:45Acho que isso é mais orgânico
07:49e também funciona.
07:50O resultado, no fundo, é muito parecido.
Seja a primeira pessoa a comentar
Adicionar seu comentário

Recomendado