- há 5 semanas
Apresentador e jornalista fala sobre Um Tanto Familiar, série documental que acaba de lançar na HBO Max, na qual conta sua experiência como pai e retrata diversos modelos de família pelo mundo. Também relembra a trajetória como comunicador, com passagens por programas como o Manhattan Connection, do GNT.
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CriatividadeTranscrição
00:00:00Olá, eu sou Isabela Alessa e esse é o A Ideia, podcast do Meio Mensagem, que é o espaço para as pessoas contarem sobre as ideias que regem seus trabalhos e suas trajetórias.
00:00:11Se essa é a sua primeira vez aqui, aproveita para seguir a página do Meio Mensagem no YouTube e seguir o A Ideia lá no agregador da sua preferência, confere lá que tem bastante conversa legal.
00:00:23Meu convidado de hoje é desde cedo um viajante. Essa vida itinerante o levou das passarelas do mundo da moda à bancada do Manhattan Connection no GNT.
00:00:35Ele também apresentou o programa Pedro Pelo Mundo no mesmo canal e apresentou diversas atrações, inclusive o Entre Mundos na CNN.
00:00:43O Natural do Rio de Janeiro divide o seu tempo entre o Brasil e os Estados Unidos há pelo menos 20 anos.
00:00:51E nos últimos dois ele tem vivido intensamente a experiência da paternidade sobre a qual ele conta na série Um Tanto Familiar, que estreou ontem, dia 21 de outubro, na HBO Max.
00:01:04Estou falando de Pedro Andrade, seja muito bem-vindo.
00:01:07Muito obrigado pelo convite, estou muito feliz em estar aqui.
00:01:13Pedro, como é que surgiu a ideia de fazer uma série documental para contar a sua experiência como pai?
00:01:23Quase sempre as perguntas mais simples são as mais complexas da gente responder.
00:01:27Eu acho que essa é uma delas.
00:01:29Eu costumo dizer que eu divido essa ideia em dois pilares, em dois momentos sobre dois eventos importantes na minha vida.
00:01:40Um foi a ideia de ser pai, que já existe desde que o meu mundo é meu mundo e é uma contagem regressiva pela qual eu passei minha vida inteira.
00:01:52Mas a ideia de compartilhar isso, sendo o foco desse projeto, eu acho que ela nasceu conforme eu fui me informando sobre a realidade das barrigas de aluguel.
00:02:10Eu acho que essa escolha vem carregada com muita bagagem.
00:02:18Todo mundo acha que tem uma opinião, mas a maioria do mundo não entende direito o que acontece realmente.
00:02:24Então, antes mesmo de eu conhecer a Whitney, que é a barriga de aluguel,
00:02:32eu pesquisei muito sobre o que eu teria que fazer para me tornar pai dessa maneira.
00:02:37E antes de eu decidir ser pai por via de barriga de aluguel, eu também tive que estudar as outras possibilidades,
00:02:43adoção e tantas outras maneiras de construir uma família.
00:02:47E eu vi que era um tema muito rico.
00:02:49Eu tenho o privilégio, que eu acho que é um privilégio do qual você compartilha,
00:02:54que é quando eu tenho uma curiosidade verdadeira sobre alguma coisa, eu sugiro a pauta.
00:03:00Então, foi assim no Pedro pelo Mundo, quando eu queria ir a um lugar por um motivo específico,
00:03:04eu sugeria a gente visitar aquele lugar.
00:03:07No Entre Mundos, a gente cobria comunidades.
00:03:09Então, quando eu tinha um fascínio por algum tema sobre o qual eu não entendia,
00:03:13fosse psicodélicos ou comunidade carcerária ou profissionais do sexo,
00:03:18eu falava, vamos mergulhar nesse universo para entender essa realidade que a gente não conhece.
00:03:23E não foi diferente com barrigas de aluguel.
00:03:25Eu falei, o que leva uma pessoa a fazer isso?
00:03:28E depois de trabalhar nesse episódio sobre barrigas de aluguel, eu fiquei fascinado por essa realidade.
00:03:39E além de me sentir mais informado e preparado para embarcar nessa jornada, eu falei,
00:03:44eu acho que isso tem que ser mais falado, mais conhecido, mais digerido pela nossa sociedade.
00:03:50E foi assim.
00:03:52Só que isso veio com um preço alto.
00:03:56Apesar de eu já ser jornalista há muito tempo e ter sido o primeiro e único apresentador brasileiro
00:04:03em rede nacional americana, já ter ido a quase 90 países, mergulhado nessas realidades,
00:04:08eu me vi refém de uma ansiedade interessante, porque eu nunca fui o tema, o protagonista das histórias que eu contava.
00:04:20Eu sempre contei as histórias dos outros.
00:04:24E nunca a minha mesmo.
00:04:26Então isso vem com uma vulnerabilidade, uma entrega que eu desconhecia.
00:04:34Mas eu sou um homem cheio de defeitos, mas uma das qualidades pelas quais eu sou mais apaixonado,
00:04:43sem pretensão alguma, é a minha coragem.
00:04:46Eu costumo dizer que quem vive com medo vive pela metade.
00:04:49E quando alguma coisa me dá esse frio na barriga, de certa forma, aquilo é meio que um imã para mim.
00:04:56Me gera curiosidade.
00:04:58E aí eu pensei, será?
00:05:00E era uma coisa que não envolvia só as minhas escolhas.
00:05:04Eu tive que falar com o Ben, meu marido.
00:05:06Eu tive que pensar na exposição da minha filha.
00:05:09Eu tive que considerar a proteção e a gratidão que eu tenho pela barriga de aluguel,
00:05:14que é uma coisa difícil de descrever, que é muito falada na série.
00:05:19Mas quando eu conversei com o Ben, eu conversei com a Whitney,
00:05:24e eu apresentei o projeto, para minha surpresa, imediatamente ele foi recebido de forma muito intensa, sabe?
00:05:36Pela emissora e pela produtora.
00:05:38Eu acho que ele traz um formato novo, singular, mas muito verdadeiro.
00:05:48Novo em que sentido?
00:05:50Agora falando da estrutura da série, não tanto do conceito da série.
00:05:59Enfim, talvez eu devo começar pelo conceito e ir para a estrutura.
00:06:01A série, para quem não sabe, é uma série sobre diferentes estruturas familiares pelo mundo,
00:06:07onde o fio condutor, onde a essência, a espinha dorsal da narrativa, é a minha história pessoal.
00:06:14Então, todos os gatilhos, eles começam comigo.
00:06:18Então, eu vou explorar a adoção na Coreia do Sul,
00:06:21eu vou explorar a realidade de pais mais velhos, de mães solteiras, porém jovens.
00:06:28E todos esses gatilhos, eles começam com uma dúvida que nasceu dentro da minha casa, da minha cabeça.
00:06:40Eu falo que ele é único, esse projeto, porque ele se segura embaixo de três pilares.
00:06:48Você tem o pilar que a gente chama de reality show,
00:06:51que é um tema, é uma expressão que tem que ser encarada cuidadosamente,
00:06:57porque ela vem com uma bagagem enorme.
00:07:00Eu acho que é uma série documental, nada contra reality show,
00:07:03existe uma parte de reality muito forte nessa série,
00:07:06mas você tem a minha intimidade, a minha casa, a minha filha, o parto dela,
00:07:13quer dizer, uma coisa muito íntima, pessoal.
00:07:17Esse é um dos pilares.
00:07:18O outro pilar é muito mais conhecido do público,
00:07:23que é essa minha exploração por outras realidades, outros pontos de vista,
00:07:27outros olhares muito distantes do meu.
00:07:31Então, aí a gente foi para a Itália, a gente foi para a Coreia do Sul,
00:07:34foi para o Japão, foi para o Tibete, foi para Nashville, nos Estados Unidos,
00:07:39foi para tantos lugares para entender o que é uma família,
00:07:44e o que há de semelhante e o que há de diferente.
00:07:50E é o outro pilar, talvez, não vou dizer que é o meu favorito,
00:07:56mas foi muito gostoso construir, que é o que eu chamo de sessão de terapia,
00:08:01que em vez de eu olhar para você e falar o que eu estou falando,
00:08:05eu olho para a câmera e eu me abro como se eu estivesse em uma sessão de terapia.
00:08:10Você vai assimilando o que você está vivendo ali na frente das câmeras,
00:08:13enquanto você vai fazendo o programa.
00:08:15E isso meio que pontua a narrativa e conecta as histórias.
00:08:20É um pilar muito importante para que as pessoas entendam não só o que está acontecendo,
00:08:27o porquê de eu estar visitando esses lugares, falando com essas pessoas,
00:08:31mas o que me levou a escolher a barriga de aluguel,
00:08:35o que eu senti quando eu descobri que a gente ia ter uma filha,
00:08:42o que eu senti quando eu descobri que,
00:08:44apesar de a gente ter implantado dois embriões, só um vingou,
00:08:49os meus medos, as minhas ansiedades.
00:08:52Então, isso tudo é dividido com muita entrega.
00:08:58E quando eu falo, é engraçado porque, ao longo dos anos,
00:09:05eu aprendi a lidar de uma maneira muito tranquila,
00:09:12com feedback negativo, com críticas.
00:09:15Eu não tenho...
00:09:16Sobre o seu trabalho.
00:09:17É, eu não tenho muitos haters, mas também não tenho a pretensão de falar com todo mundo,
00:09:22de que todo mundo concorde comigo,
00:09:24mas, principalmente, na época do Manhattan Connection,
00:09:28eu sabia navegar, né?
00:09:30Imagina, eu era um moleque quando eu entrei para aquela bancada.
00:09:33A gente estava falando de coragem,
00:09:34aquilo demandou uma certa coragem, né?
00:09:38E eu ouvia muita crítica.
00:09:40E eu acho que eu sou tão seguro,
00:09:46e eu acho importante distanciar a palavra seguro de pretencioso, tá?
00:09:51Tá.
00:09:53Que eu dou conta, eu seguro o tranco,
00:09:55eu dou conta do recado no sentido que
00:09:57as pessoas podem me criticar e está tudo certo.
00:10:01Eu acho que todo mundo deve ter o direito de gostar ou não gostar
00:10:05e deve ter o direito de falar o que pensa.
00:10:07Politicamente, antropologicamente, culturalmente,
00:10:11e eu sou conscientemente vítima, sou um alvo desse tipo de crítica.
00:10:16Mas me dá muito medo
00:10:19pensar em como eu vou encarar críticas à minha filha,
00:10:25críticas ao Ben, críticas à barriga de aluguel.
00:10:29Eu quero acreditar, eu prefiro poetizar essa equação,
00:10:33acreditando que as pessoas vão entender o meu ponto de vista
00:10:38e reconhecer o nosso amor verdadeiro
00:10:41e a nossa gratidão eterna pela Whitney.
00:10:47No último episódio, no oitavo episódio,
00:10:49tem um momento muito vulnerável em que eu falo sobre
00:10:52o que eu quero que a Isabel pense
00:10:56quando ela tiver noção do que é esse registro.
00:11:01Porque é muito louco.
00:11:02Meus pais me tiveram quando...
00:11:06Eles eram muito jovens.
00:11:09E eu daria tanto para presenciar, para entender,
00:11:13para...
00:11:14Eu tenho uma curiosidade.
00:11:16Por que eles se apaixonaram?
00:11:19Por que eles casaram?
00:11:21Por como foi ter um filho aos 21, 22 anos?
00:11:26Eu tenho 46 anos.
00:11:28Eu tenho a idade que provavelmente meu avô tinha,
00:11:31ou algo parecido, quando eu nasci.
00:11:34Sabe?
00:11:34Então, eu espero que a Isabel curta ter esse registro, sabe?
00:11:42De conhecer os pais num momento tão distante
00:11:46do momento que ela conheceu, né?
00:11:48Antes dela nascer, de ver como foi implantar um embrião,
00:11:53o que passou pela nossa cabeça,
00:11:54quais eram os nossos medos, receios.
00:11:56Mas isso o tempo dirá.
00:11:58E hoje, quando você pensa sobre a sua noção de paternidade
00:12:03antes da Isabel e que ela é hoje...
00:12:07Nossa, é tão diferente.
00:12:08Qual que é o principal desafio seu hoje com ela,
00:12:15com dois anos de idade?
00:12:17Eu acho que é válido eu dizer que eu realmente acredito
00:12:21que as pessoas podem ter uma vida absolutamente completa
00:12:25sem ser pai ou mãe, sem a paternidade.
00:12:29Mas eu confesso que, para minha surpresa,
00:12:35hoje eu digo que tudo que te falam sobre paternidade,
00:12:38você pode multiplicar por 10.
00:12:40O bom e o ruim.
00:12:43Quando falavam para mim...
00:12:45Ah, ser pai é uma coisa, é um amor que você não entende.
00:12:48Eu falava, imagina, eu sou enlouquecido pelos meus pais.
00:12:52Minha avó foi uma figura super influente na minha vida.
00:12:56Eu sou casado.
00:12:58Eu sei o que é amor.
00:13:01Entendo as nuances da diferença do amor para um cachorro,
00:13:04que é um amor verdadeiro.
00:13:05Mas eu sei o que é amor.
00:13:08Hoje eu digo que, na minha concepção,
00:13:10isso é o meu ponto de vista,
00:13:11eu não sabia o que é amor.
00:13:12É um amor diferente.
00:13:14Não é que uma pessoa que não tenha filho
00:13:15não saiba o que é amor.
00:13:17Não é o que eu estou dizendo.
00:13:19Mas você acha que entende
00:13:21aquele tsunami emocional que acontece?
00:13:26Pelo menos no meu caso,
00:13:27que não foi uma gravidez acidental
00:13:29e que, mais uma vez,
00:13:31também não acho que a pessoa que tem uma gravidez acidental
00:13:33não ame o filho.
00:13:34Não é o que eu estou dizendo.
00:13:34Mas a Isabel foi muito esperada, planejada,
00:13:38anos e anos e anos,
00:13:39eu querendo esse neném.
00:13:42E quando ela chegou,
00:13:43é uma coisa que é realmente difícil de descrever
00:13:47o que aconteceu comigo.
00:13:48E quando falam,
00:13:51ser pai é muito difícil, sabe?
00:13:54Eu falava, imagina,
00:13:56eu já infiltrei cartel,
00:13:57já entrevistei terroristas,
00:13:58já fui cercado de 250 indígenas armados
00:14:02na Amazônia,
00:14:03quando eu estava gravando o documentário
00:14:05Anão na Amazônia,
00:14:06que ganhou um monte de prêmio nos Estados Unidos.
00:14:09Já passei por um monte de coisa,
00:14:10eu sei o que é ser difícil.
00:14:14E eu também reconheço as dificuldades,
00:14:17eu vivo uma vida privilegiada,
00:14:20sempre vivi,
00:14:22mas dentro dessa vida privilegiada,
00:14:26eu também tenho meus receios,
00:14:29eu tenho meus obstáculos,
00:14:31meus desafios,
00:14:32mas o maior desafio da minha vida
00:14:34é, coincidentemente,
00:14:35o maior presente da minha vida.
00:14:37Então existe esse paradoxo na paternidade,
00:14:40que é muito interessante, sabe?
00:14:41Essas nuances do que parece insuportável,
00:14:45mas que depois você sente falta, né?
00:14:47A criança que não dorme,
00:14:49você quer pular da janela,
00:14:51e fala, meu Deus do céu,
00:14:52como é que eu escolhi isso para a minha vida?
00:14:55Aí quando ela passa a dormir,
00:14:56não que você sinta falta das noites em claro,
00:14:58mas você vê ela crescendo rápido,
00:15:00você fala,
00:15:02eu sinto falta de quando ela dormia
00:15:04aqui na minha barriga.
00:15:07Ah, não era tão ruim assim,
00:15:08de ser acordada.
00:15:09A gente poetiza,
00:15:12de certa maneira,
00:15:15a dificuldade.
00:15:16E Pedro,
00:15:16voltando um pouco para o passado agora,
00:15:20eu estava vendo uma entrevista sua
00:15:21com o Jô Soares,
00:15:22em que você se descreveu
00:15:24como nerd na infância.
00:15:27Quais que eram os seus gostos?
00:15:29Você já sabia que você queria
00:15:31trabalhar com comunicação,
00:15:32ser jornalista?
00:15:34Nossa,
00:15:34pergunta ótima.
00:15:35O Jô sempre foi muito generoso comigo.
00:15:41Eu acho que fui algumas vezes ao programa,
00:15:44mas eu era tão novo,
00:15:46eu era tão jovem,
00:15:48eu era tão ingênuo,
00:15:50mas é engraçado,
00:15:52porque hoje eu vejo que eu sou um adulto
00:15:54muito coerente com a criança que eu era.
00:15:57As coisas que eu gostava de fazer,
00:15:59eu adorava arte,
00:16:02eu ainda adoro arte,
00:16:03eu detestava esporte,
00:16:06eu ainda detesto esporte.
00:16:09Faço, pratico, respeito, cubro,
00:16:11já cobri duas Copas do Mundo,
00:16:14mas o que eu estou querendo dizer
00:16:16é que eu gostava de conversar,
00:16:21eu valorizava o que a gente está fazendo agora.
00:16:24E eu acho que é uma paixão minha
00:16:27essa que me trouxe até aqui.
00:16:33Eu costumo dizer que
00:16:34quando eu estou fazendo o que você está fazendo agora,
00:16:37que é falando com um entrevistado,
00:16:40é quase como se o tempo não passasse,
00:16:43é quase como se uma pombagira baixasse em mim
00:16:47e o meu cansaço não existisse.
00:16:49eu estou tão presente,
00:16:51estou tão completo ali naquele momento
00:16:53que nada me incomoda.
00:16:59E quando eu era criança,
00:17:00eu era uma criança muito isolada,
00:17:04eu acho,
00:17:04eu não tinha grandes amigos,
00:17:05eu tinha óculos fundo de garrafa
00:17:08e aparelho,
00:17:09e eu olho para os meus primos
00:17:10e para o meu irmão,
00:17:11eu acho que
00:17:12o mundo apostava em todo mundo,
00:17:15menos em mim.
00:17:16E eu não falo isso de um pódium de vitorioso,
00:17:19não,
00:17:20porque ser vitorioso é muito subjetivo.
00:17:24Mas eu acho que eu tenho sucesso
00:17:26porque eu vivo uma vida muito semelhante
00:17:28à vida que eu escolhi para mim.
00:17:30E eu acho que isso é um privilégio.
00:17:31Eu acho que 90% do mundo
00:17:34vive uma vida que meio que foi escolhida.
00:17:39Eu acho que a loteria geográfica,
00:17:42onde você nasceu,
00:17:43como você nasceu,
00:17:44isso tudo tem um impacto gigantesco.
00:17:47Mas eu também fui muito cavador, sabe?
00:17:51Eu fui muito determinado,
00:17:53muito focado.
00:17:54E como eu falei no início da nossa conversa,
00:17:58eu sentia o medo,
00:17:59mas eu ia em frente,
00:18:01ainda assim.
00:18:02Desde cedo.
00:18:03Desde cedo.
00:18:04Mas qual foi essa virada
00:18:05entre ser uma criança,
00:18:06um adolescente sem amigos
00:18:08para um que decidiu se jogar?
00:18:10Teve um momento, assim,
00:18:12que você teve esse ímpeto de coragem?
00:18:17Eu acredito que eu sempre tive apetite
00:18:21por conexão.
00:18:23Assim, conexão.
00:18:26Valorizava minhas amizades,
00:18:28fiz terapia.
00:18:29E terapia me ajudou muito,
00:18:32porque eu costumo dizer que
00:18:33o meu estilo de entrevistar,
00:18:36eu nem adoro essa expressão,
00:18:38entrevistar,
00:18:38porque o que a gente está fazendo
00:18:39é ter uma conversa, né?
00:18:41Entrevista,
00:18:41ela vem com um peso.
00:18:44Mas eu aprendi muito mais com terapia.
00:18:47Eu fui bartender por seis anos.
00:18:49Então, noite morta,
00:18:51como a gente chama,
00:18:52na indústria da hotelaria,
00:18:56da gastronomia,
00:18:57eu tinha oportunidade de conversar
00:19:00e conhecer pessoas, né?
00:19:01Então, a faculdade de jornalismo,
00:19:03não quero cuspir no prato que eu comi,
00:19:05mas eu aprendi pouco nela, sabe?
00:19:07Porque eu acho que você
00:19:09aprender a desarmar os outros
00:19:13de uma maneira entregue,
00:19:15trazer a pessoa,
00:19:16fazer com que a pessoa confie em você
00:19:18em pouco tempo,
00:19:18é uma coisa que você ou tem ou não tem,
00:19:20ou você conquista ao longo de muito tempo.
00:19:23Você não tem um PDF que você vai ler,
00:19:25que você vai aprender a estabelecer
00:19:28essa conexão com a pessoa.
00:19:30Mas eu acho que muito por uma fuga pessoal
00:19:35decidi fazer intercâmbio.
00:19:38E quando você chega num outro país,
00:19:42ninguém te conhece.
00:19:43Pra onde que você foi?
00:19:44Eu fui pra Lynchburg, Virginia,
00:19:47que é uma cidade pequena,
00:19:48preconceituosa,
00:19:50conservadora,
00:19:51uma cena religiosa,
00:19:56radical,
00:19:57gigantesca.
00:20:00E naquele momento,
00:20:01eu ainda não
00:20:02tinha me entendido gay,
00:20:05eu não tinha explorado
00:20:06a minha orientação sexual
00:20:08como hoje em dia
00:20:10eu já entendo ela.
00:20:13Mas eu ganhei um presente ali.
00:20:16Quando aterrissei em Lynchburg,
00:20:18eu ganhei a oportunidade de ser
00:20:20a pessoa que eu queria ser,
00:20:22me mostrar de uma maneira diferente.
00:20:25Uma tela em branco
00:20:26pra aquelas pessoas.
00:20:27E aquele exercício foi
00:20:29muito impactante.
00:20:31Eu sou muito agradecido
00:20:32ao meu pai e à minha mãe
00:20:33por terem deixado
00:20:34e permitido que eu fosse.
00:20:38Eu não fui
00:20:39por via de um programa
00:20:43caríssimo,
00:20:44não na minha concepção na época,
00:20:47mas eu fui estudar.
00:20:48e fiquei numa casa,
00:20:52numa comunidade
00:20:54não marginalizada,
00:20:55mas relativamente carente,
00:20:58estudar numa escola pública
00:20:59americana,
00:21:00hipersegregada.
00:21:03E eu lembro claramente
00:21:04que ser brasileiro
00:21:06me permitiu navegar
00:21:08as duas realidades
00:21:10daquela escola.
00:21:12Eu tenho olho verde, azul,
00:21:14sei lá,
00:21:15eu sou branco,
00:21:17mas poderia passar
00:21:17por um americano.
00:21:18Sim, exatamente.
00:21:20E eu consegui
00:21:23adquirir uma popularidade
00:21:25que talvez é o fato
00:21:27de eu vir de um lugar distante.
00:21:30Quando você fala,
00:21:31hoje em dia,
00:21:31com a globalização,
00:21:33com a internet,
00:21:33com as redes sociais,
00:21:34eu acho que eu não
00:21:35ouviria o tipo de pergunta
00:21:36que eu ouvi
00:21:37quando eu tinha 16 anos.
00:21:38vocês têm cinema no Brasil,
00:21:41vocês criam macaco
00:21:43em vez de cachorro,
00:21:45como é a Amazônia.
00:21:48Existiu uma ignorância
00:21:49quando a gente falava
00:21:52de distância geográfica
00:21:55que hoje em dia
00:21:55não existe mais.
00:21:56Mas,
00:21:57voltando ao que eu falei
00:21:58de ser uma escola
00:21:58absolutamente segregada,
00:22:00e também fui muito acolhido
00:22:02pela comunidade negra
00:22:04da escola.
00:22:05Então,
00:22:06eu era convidado
00:22:07para as festas
00:22:07onde eu era o único branco
00:22:10e também
00:22:11enxergar também
00:22:13essas nuances
00:22:14e não entender
00:22:15por que o meu amigo,
00:22:17o meu melhor amigo,
00:22:18que era preto,
00:22:19não era acolhido
00:22:20nas festas dos brancos
00:22:22e por que os meus amigos brancos
00:22:24achavam que era esquisito.
00:22:26Eu preferi ir na festa
00:22:27da comunidade preta.
00:22:30Então,
00:22:31isso foi interessante
00:22:32porque eu pude ter
00:22:34um olhar mais analítico,
00:22:38entender que,
00:22:40apesar de ser uma cidade pequena,
00:22:41por ser uma escola
00:22:42ainda menor,
00:22:46viajar do Brasil
00:22:47para os Estados Unidos
00:22:48era uma distância menor
00:22:50do que ir de uma sala de aula
00:22:52para outra.
00:22:53Então,
00:22:54isso despertou em mim
00:22:55essa curiosidade
00:22:57e essa capacidade
00:22:59de analisar uma coisa
00:23:00e entender que era um privilégio
00:23:02eu poder ser acolhido
00:23:02pelas duas comunidades,
00:23:04mas me deu também essa...
00:23:06De repente,
00:23:06eu me senti popular.
00:23:08Acho que eu falei isso tudo,
00:23:09me perdoa por ser prolixo.
00:23:11Imagina.
00:23:11Mas,
00:23:12pela primeira vez,
00:23:14eu me senti popular.
00:23:16Eu me senti que eu...
00:23:18Te deu uma segurança.
00:23:19Sim.
00:23:19Foi o começo ali da...
00:23:21E sem ressentimento algum
00:23:23com relação aos meus amigos de escola
00:23:26aqui no Brasil,
00:23:27mas eu tenho,
00:23:28acho que,
00:23:28dois amigos de escola no Brasil,
00:23:30porque eu não tinha amigos
00:23:32aqui.
00:23:34E quando eu voltei
00:23:35e entrei para a faculdade,
00:23:36eu me senti mais seguro.
00:23:38Eu passei a gostar de mim.
00:23:41Sabe?
00:23:42precisou viver essa experiência
00:23:45de estrangeiro
00:23:47e notar outras realidades ali.
00:23:50Exatamente.
00:23:51E aí,
00:23:51a sua carreira,
00:23:52os seus planos
00:23:53com o jornalismo
00:23:54foram atropelados,
00:23:56digamos assim,
00:23:57pela sua carreira de modelo.
00:23:58E como é que foi
00:24:00essa experiência?
00:24:02Porque muito se fala
00:24:03sobre os perrengues,
00:24:04né?
00:24:04De ser modelo,
00:24:06de morar em lugares
00:24:07muito pequenos,
00:24:08de dormir pouco,
00:24:10de se alimentar mal.
00:24:11Também se fala muito
00:24:13sobre um certo,
00:24:15uma certa competitividade,
00:24:17né?
00:24:17Muito cruel.
00:24:19Como é que você viveu?
00:24:21Como é que foi para você
00:24:22essa experiência de modelo?
00:24:23O que ela te ensinou?
00:24:25Eu imagino que deve ser
00:24:25uma vida regrada
00:24:26ao mesmo tempo, né?
00:24:27É,
00:24:28eu fui um modelo
00:24:30medíocre,
00:24:32né?
00:24:32Mas eu...
00:24:33Em que sentido?
00:24:34Eu trabalhei,
00:24:39mas assim,
00:24:40eu não ganhava dinheiro
00:24:41o suficiente,
00:24:42não pegava trabalho
00:24:45o suficiente,
00:24:46mas eu já contei
00:24:47essa história
00:24:47algumas vezes,
00:24:48eu vou ser bem sucinto
00:24:50com relação
00:24:51a como eu fui descoberto,
00:24:53eu estava andando,
00:24:53alguém perguntou
00:24:54você quer ser modelo?
00:24:56Eu falei,
00:24:56que ser modelo?
00:24:57Eu não tinha essa vaidade,
00:24:59você quer ganhar dinheiro?
00:25:00Eu falei,
00:25:00ah, sim,
00:25:01mas eu acho que
00:25:02não vou ganhar dinheiro,
00:25:03você quer ser famoso?
00:25:03Eu falei,
00:25:04não,
00:25:04não quero ser famoso,
00:25:05você quer viajar?
00:25:07E aí foi a frase
00:25:09que despertou
00:25:11essa minha vontade
00:25:12de ser modelo
00:25:12e realmente foi
00:25:13o que me levou
00:25:15para o mundo,
00:25:16sabe?
00:25:16Eu sou muito grato
00:25:17a esses anos
00:25:18dentro da indústria da moda
00:25:19por dois motivos,
00:25:21um,
00:25:21por ter permitido,
00:25:24né?
00:25:24Por ter sido
00:25:25um trampolim
00:25:25para o mundo
00:25:26e outro,
00:25:29por me ensinar
00:25:31a lidar com rejeição.
00:25:33que é uma coisa
00:25:35que é um músculo
00:25:36que eu uso muito
00:25:37até hoje,
00:25:38né?
00:25:38E quando eu falo
00:25:39que eu fui um modelo
00:25:40medíocre,
00:25:41o que eu quero dizer
00:25:42é que eu,
00:25:43quando eu estava
00:25:43em Atenas,
00:25:45eu estava em Milão,
00:25:46eu estava em Tóquio,
00:25:47eu ia a 30 castings
00:25:49e tinha muita sorte
00:25:51se eu pegasse
00:25:52um callback,
00:25:53não era nem o trabalho,
00:25:54não era nem a confirmação.
00:25:55e eu aprendi
00:25:57a navegar
00:25:57a porta na cara,
00:25:58sabe?
00:26:00E não levar
00:26:01para o pessoal
00:26:02e entender
00:26:03que
00:26:04o cliente
00:26:07não era um canalha
00:26:08porque eu não
00:26:09tinha o nariz
00:26:11que ele estava
00:26:11procurando,
00:26:13que eu não era
00:26:14um erro
00:26:15porque eu não andava
00:26:16ou não tinha altura,
00:26:17que,
00:26:17né?
00:26:18Isso na carreira
00:26:19de modelo,
00:26:20não sei se ainda é,
00:26:21mas era muito difícil
00:26:22porque você não tem controle,
00:26:24controle da sua altura,
00:26:27da sua afeição,
00:26:27se você vai
00:26:28ter o look
00:26:30da temporada,
00:26:32né?
00:26:33Então,
00:26:34você fica meio refém
00:26:35e eu sou uma pessoa
00:26:37com relação
00:26:38às minhas conquistas
00:26:39muito controladora,
00:26:41né?
00:26:41Eu quero ter as rédeas
00:26:42nos meus projetos,
00:26:43eu sou produtor executivo,
00:26:45eu lido diariamente
00:26:47com os editores,
00:26:48eu trabalho sempre
00:26:49com o mesmo diretor
00:26:50de fotografia,
00:26:51eu escolho a produção
00:26:52porque existe esse controle
00:26:54ilusório que a gente tem,
00:26:56na nossa vida
00:26:57a gente não tem controle,
00:26:58mas no nosso trabalho
00:26:59a gente quer ter controle,
00:27:00né?
00:27:00E na moda
00:27:01não existe controle,
00:27:02não existe controle.
00:27:04Então,
00:27:05eu acho que
00:27:07ser modelo
00:27:08foi bom
00:27:09por esse motivo
00:27:10e ser modelo
00:27:11de certa maneira
00:27:11me levou para
00:27:12Nova York também.
00:27:13Quando eu cheguei
00:27:14em Nova York,
00:27:14eu costumo dizer
00:27:15que Nova York
00:27:15vivia em mim
00:27:16muito antes
00:27:16de eu viver em Nova York,
00:27:18porque eu me senti
00:27:19em casa,
00:27:20eu falei,
00:27:21não é igual ao que
00:27:22eu tinha visto
00:27:22nos filmes,
00:27:23é muito melhor
00:27:24do que eu tinha visto
00:27:24nos filmes.
00:27:25Eu tenho fascínio
00:27:26pela cena cultural
00:27:28dos anos 70
00:27:29em Nova York,
00:27:31os filmes do Woody Allen,
00:27:33Basquiat,
00:27:34enfim,
00:27:35Patti Smith.
00:27:36Então,
00:27:36quando eu cheguei lá
00:27:37e respirei
00:27:38aqueles ares,
00:27:39mesmo morando
00:27:40num apartamento
00:27:41chechelento
00:27:41com oito modelos,
00:27:43depois eu morei
00:27:44num apartamento
00:27:44microscópico,
00:27:46sem banheiro,
00:27:46o banheiro
00:27:47era comunitário,
00:27:47todos esses desafios
00:27:50eu acho que eu matei
00:27:51no peito
00:27:52porque eu me joguei
00:27:53antes,
00:27:54e a indústria da moda
00:27:56me deu esse preparo.
00:27:58E esse lance
00:27:59de lidar
00:28:00com a própria imagem,
00:28:01fotografar,
00:28:02te ajudou
00:28:03de certa maneira
00:28:04a trabalhar com TV?
00:28:09Sim e não,
00:28:10porque
00:28:11quem trabalha comigo,
00:28:14quem me conhece,
00:28:15meu time,
00:28:16eu diria,
00:28:19eu não quero botar
00:28:20palavras nas bocas
00:28:21alheias,
00:28:22mas
00:28:22o meu foco
00:28:25nunca é
00:28:25a minha imagem.
00:28:29Eu nunca chego
00:28:30num lugar,
00:28:30aterrisso numa cidade,
00:28:32exploro uma pauta,
00:28:34sento para entrevistar
00:28:35uma pessoa
00:28:36preocupado
00:28:37com qual lado
00:28:38a câmera
00:28:39está me pegando,
00:28:42pelo contrário,
00:28:43frequentemente
00:28:43eles falam
00:28:44você vai assim
00:28:44de pijama?
00:28:46Então,
00:28:48eu não quero
00:28:49ser hipócrita,
00:28:50dizer que eu não tenho
00:28:51vaidade nenhuma,
00:28:52eu acho que a gente
00:28:53vive num mundo
00:28:54muito
00:28:55viciado
00:28:57em
00:28:57beleza,
00:28:59né?
00:29:02Também acho que
00:29:03é fácil
00:29:04eu
00:29:05sentar aqui
00:29:06e falar
00:29:07ah,
00:29:07beleza não me ajudou
00:29:08em nada,
00:29:09né?
00:29:09mas nunca
00:29:11isso,
00:29:14esse aspecto
00:29:16da minha
00:29:16personalidade,
00:29:18da minha pessoa
00:29:19foi o carro-chefe,
00:29:21não é o que me dá
00:29:21tesão,
00:29:23não é o que
00:29:24me gera
00:29:27orgulho,
00:29:28sabe?
00:29:29Eu tenho
00:29:29muito orgulho
00:29:30de
00:29:30alguns aspectos
00:29:32da minha carreira,
00:29:33das minhas escolhas,
00:29:35do homem
00:29:35no qual eu me tornei,
00:29:36no pai
00:29:38que eu sou,
00:29:39mas
00:29:40ser bonito,
00:29:42eu sou grato
00:29:43aos meus pais
00:29:44e ao universo,
00:29:45mas não é
00:29:46pelo que eu quero
00:29:47ser conhecido.
00:29:48E aí você chegou
00:29:48a trabalhar
00:29:49na NBC
00:29:50e
00:29:51aquilo
00:29:52veio antes,
00:29:53essa experiência
00:29:54veio antes
00:29:54do Manhattan Connection,
00:29:55certo?
00:29:56Foi,
00:29:56é meu primeiro trabalho
00:29:57mesmo como jornalista,
00:29:59eu
00:30:00quando cheguei
00:30:01nos Estados Unidos,
00:30:02eu era modelo,
00:30:04trabalhei como bartender
00:30:05durante seis anos,
00:30:06em alguns dos bares
00:30:07mais toscos
00:30:08dos Estados Unidos,
00:30:10tenho muito orgulho
00:30:10em dizer...
00:30:10Achei que você ia falar
00:30:11os mais descolados.
00:30:12Não,
00:30:13não,
00:30:13sem camisa,
00:30:15de cueca,
00:30:16eu,
00:30:17pra mim,
00:30:17não tinha tempo ruim,
00:30:18sabe?
00:30:20E
00:30:20hoje em dia
00:30:22eu falo
00:30:22sem a menor vergonha,
00:30:24falo com sorriso
00:30:25no rosto,
00:30:26não quero voltar
00:30:28até aquela vida,
00:30:29porque a vida evolui
00:30:30e eu quero mudar,
00:30:31mas foi um período
00:30:32precioso,
00:30:34sabe?
00:30:34Na minha vida,
00:30:35mas eu ia
00:30:36a todas as,
00:30:38todos os testes,
00:30:39tinha um jornal
00:30:40chamado Backstage,
00:30:42que se você queria
00:30:43trabalhar na televisão,
00:30:46seja fazendo novela,
00:30:49técnico de áudio,
00:30:51fazer o set design,
00:30:54ou ser jornalista,
00:30:55ser âncora,
00:30:56ser estagiário,
00:30:58tudo tinha,
00:30:59todas,
00:30:59eram classificados,
00:31:00umas páginas amarelas.
00:31:01E eu acho que voltando
00:31:03a essa gratidão
00:31:04que eu tenho
00:31:05à moda,
00:31:07eu saía de casa
00:31:08às seis da manhã
00:31:09e eu fazia
00:31:10quarenta testes
00:31:12e eu até hoje
00:31:14não sei como
00:31:15me escolheram.
00:31:17Era um teste
00:31:18pra ser apresentador,
00:31:20era isso que você queria
00:31:21desde a faculdade?
00:31:22É,
00:31:23sim.
00:31:24É,
00:31:25a faculdade de jornalismo,
00:31:26eu não sei se você fez
00:31:28faculdade de jornalismo.
00:31:30Eu fiz faculdade de jornalismo
00:31:32muito por ser
00:31:34não perdido,
00:31:35mas pelo leque
00:31:36de opções
00:31:37e possibilidades
00:31:38que o jornalismo oferece.
00:31:39Você pode ser
00:31:39repórter político,
00:31:42esportivo,
00:31:42cultural,
00:31:43e eu decidi
00:31:44me achar ali.
00:31:46Eu sabia que eu queria
00:31:47conversar com as pessoas,
00:31:49mas eu não sabia exatamente
00:31:50se era investigativo,
00:31:51o que eu ia fazer.
00:31:52Tenho.
00:31:52Mas esse foi um teste,
00:31:56eu ia pra teste de tudo,
00:31:57de tudo,
00:31:58de tudo,
00:31:58de tudo.
00:31:59E ninguém me ligava,
00:32:01sabe?
00:32:02Por uma série de motivos.
00:32:03O meu inglês não era fluente,
00:32:05hoje a gente vive
00:32:06num mundo globalizado.
00:32:07Quando eu dava cara a tapa
00:32:09nos anos 90,
00:32:11início dos anos 2000,
00:32:12nos Estados Unidos,
00:32:14todo mundo falava,
00:32:14você com sotaque brasileiro,
00:32:17gay,
00:32:19latino,
00:32:22imigrante,
00:32:24nenhuma emissora vai te acolher.
00:32:27Vai se interessar.
00:32:28E muitas não,
00:32:30assim,
00:32:31literalmente,
00:32:32meu nome é Pedro Andrade,
00:32:33eu tô aqui,
00:32:35obrigado,
00:32:36próximo,
00:32:37sabe?
00:32:39E aí,
00:32:40um dia,
00:32:42um executivo
00:32:43de TV,
00:32:45que eu conheço até hoje,
00:32:47e serei grato
00:32:47pro resto da minha vida,
00:32:49Morgan Hertzson,
00:32:51é o nome dele,
00:32:51ele fez um teste
00:32:53e gostou.
00:32:55Falou,
00:32:57tem que melhorar aqui,
00:32:58tem que melhorar ali,
00:32:59tem que não sei o quê,
00:33:00o sotaque é assado,
00:33:01você tem experiência,
00:33:02eu não tinha experiência
00:33:03nenhuma.
00:33:05E ele me botou
00:33:06como correspondente
00:33:07da noite nova-iorquina.
00:33:09Porque eu acho
00:33:10que ele viu em mim
00:33:11um acesso,
00:33:12a noite nova-iorquina
00:33:13é muito interessante,
00:33:14porque não importa
00:33:15quanto dinheiro você tem,
00:33:16você tem que conhecer as pessoas.
00:33:17existe essa valorização
00:33:20do seu networking.
00:33:22E eu acho que trabalhando
00:33:23na noite,
00:33:23eu conheci muita gente,
00:33:24eu tinha porta,
00:33:25eu conhecia todos os seguranças.
00:33:27Alguns eu ainda conheço,
00:33:28eu que não saio,
00:33:29mas eles ainda estão lá
00:33:30e eu abraço
00:33:31e vou visitá-los.
00:33:33Conhecia todos os DJs
00:33:34e ali eu acho que ele viu
00:33:35uma oportunidade
00:33:36de entrar nesses lugares
00:33:37exclusivos,
00:33:39sem ter que passar
00:33:40pelo dono da boate.
00:33:42E deu super certo.
00:33:43E aí eu virei
00:33:44de apresentador
00:33:46de noite,
00:33:48eu fui para apresentador
00:33:49gastronômico,
00:33:50de hotelaria,
00:33:51de viagem,
00:33:52virei âncora
00:33:52da NBC
00:33:53e o programa
00:33:55passava
00:33:56imediatamente depois
00:33:58do Saturday Night Live,
00:33:59que é um dos grandes
00:34:00programas.
00:34:02Momentos de audiência ali.
00:34:03E aí todo mundo
00:34:05foi também
00:34:05quando a tecnologia
00:34:07me ajudou,
00:34:08porque os táxis
00:34:09de Nova York
00:34:10passaram a ter TV.
00:34:13E o único conteúdo
00:34:14da TV
00:34:14era esse meu programa.
00:34:17Então, assim,
00:34:18o Robert De Niro
00:34:20quando chegava
00:34:21do JFK
00:34:22ia para a casa de táxi
00:34:23e me via.
00:34:25Isso era pré-Uber.
00:34:27E foi assim
00:34:27que eu entrei no Manhattan.
00:34:29A mulher do Lucas Mendes
00:34:30falou,
00:34:31tem um cara,
00:34:31Pedro Andrade,
00:34:32esse nome é tão brasileiro,
00:34:33não sei o quê.
00:34:34Ele falou,
00:34:35vamos ver.
00:34:35E aí a Angélica Vieira,
00:34:37que era a produtora do Manhattan,
00:34:38me ligou,
00:34:38a gente queria...
00:34:39Você sabe o que é Globo?
00:34:40Eu falei,
00:34:41você sabe o que é Globo?
00:34:41É Manhattan.
00:34:42Cresci vendo Manhattan.
00:34:44Aí eu fui entrevistado
00:34:45e encurtando muito a história.
00:34:47No ar,
00:34:47o Lucas olhou para a câmera
00:34:49e falou,
00:34:49Pedro,
00:34:50deu muita liga,
00:34:51você tem uma cadeira cativa aqui.
00:34:53Falei,
00:34:53quem dera?
00:34:54E corta,
00:34:57acabou o programa.
00:34:58A Letícia Murrana,
00:34:59que era a cabeça
00:35:00da líder do GNT,
00:35:02falou,
00:35:03é sério?
00:35:03Porque a gente quer você.
00:35:05Depois eu fui descobrir
00:35:06que eles estavam fazendo teste
00:35:07com pessoas assim,
00:35:08com currículos muito maiores
00:35:10que os meus,
00:35:10muito mais preparadas,
00:35:12muito mais experientes.
00:35:13Mas o Manhattan
00:35:14tinha muito
00:35:14esse aspecto de...
00:35:19A informação,
00:35:20ela era importante,
00:35:21mas a nossa bossa,
00:35:22a nossa conexão
00:35:23era muito mais importante.
00:35:24E você sentiu
00:35:27uma insegurança
00:35:28ali de estar
00:35:29no meio deles,
00:35:30de não ser
00:35:31o seu ambiente,
00:35:32né?
00:35:33Eu me achei
00:35:34insano
00:35:35de aceitar.
00:35:37O que que te deu segurança?
00:35:38Eles mesmos
00:35:38devem ter te ajudado,
00:35:40né?
00:35:40A se sentir confortável.
00:35:41Duas pessoas
00:35:42me deram muita segurança.
00:35:44O Lucas Mendes,
00:35:45que até hoje
00:35:46é uma das minhas pessoas
00:35:47favoritas no mundo.
00:35:49Eu tenho um amor,
00:35:51uma gratidão,
00:35:52um respeito,
00:35:52uma admiração
00:35:53pelo Lucas,
00:35:55que me emociona,
00:35:57sabe?
00:35:59Assim,
00:36:00mudou a minha vida,
00:36:01não só profissional,
00:36:02sabe?
00:36:04Desculpa.
00:36:06Imagina.
00:36:09É difícil, assim.
00:36:17É o impacto
00:36:18que a pessoa causa
00:36:19não só na sua carreira,
00:36:20mas muda o rumo
00:36:21de tudo, né?
00:36:22É bem isso,
00:36:23assim.
00:36:24A minha vida
00:36:24é uma com o Lucas
00:36:25e a minha vida
00:36:26é outra sem o Lucas,
00:36:27sabe?
00:36:28É muito incrível.
00:36:30Que sorte a minha.
00:36:31Mas nunca,
00:36:33o Lucas,
00:36:33ele nunca
00:36:34foi...
00:36:38Ele nunca me viu
00:36:40como café com leite.
00:36:42Nunca me tratou
00:36:43como o fedelho
00:36:44da bancada.
00:36:45Sabe?
00:36:46Ele sempre foi
00:36:47duro comigo,
00:36:48eu nunca vou esquecer.
00:36:49Eu escrevi
00:36:50meu primeiro guia
00:36:51de Nova York
00:36:52e pedi para ele
00:36:52escrever o prefácio.
00:36:54E o texto
00:36:54do Lucas Mendes
00:36:55é, assim,
00:36:56na minha opinião
00:36:59e na opinião
00:36:59de muita gente
00:37:00que eu respeito,
00:37:01o melhor texto
00:37:01do jornalismo brasileiro.
00:37:04Eu nunca vou esquecer,
00:37:05eu mostrei para ele
00:37:07a primeira versão
00:37:08do meu primeiro capítulo,
00:37:09ele falou,
00:37:09tá uma merda.
00:37:12Curto e grosso.
00:37:14Tá uma merda.
00:37:15Ele falou,
00:37:17menos adjetivo,
00:37:18frases mais curtas,
00:37:19não sei o quê,
00:37:20isso, isso, isso, isso.
00:37:23Mudou meu texto,
00:37:24assim,
00:37:25e acho que me mudou
00:37:26como jornalista mesmo,
00:37:28né?
00:37:31Como pessoa,
00:37:32isso aqui tá piegas,
00:37:33isso aqui não tá,
00:37:34não sei o quê.
00:37:35E eu aceitei
00:37:36fazer parte do Manhattan
00:37:38na condição
00:37:39falando
00:37:41eu entro aqui,
00:37:44né?
00:37:44No furacão.
00:37:46Mas eu não vou ser
00:37:47o café com leite
00:37:48da bancada.
00:37:49Vocês vão,
00:37:49vocês vão bater em mim
00:37:51como vocês batem
00:37:52um no outro.
00:37:53E o Lucas,
00:37:55de cara,
00:37:55acreditou em mim
00:37:57e o Diogo Mainardi
00:37:58também
00:37:59falou,
00:38:00é ele,
00:38:01não tem outro,
00:38:02é ele.
00:38:03E eu acho que eu tive
00:38:05que conquistar o Caio,
00:38:06tive que conquistar o Ricardo,
00:38:08mas hoje,
00:38:11imagina,
00:38:11foi uma escola,
00:38:13assim,
00:38:13pra mim,
00:38:14que se hoje eu entro
00:38:17na HBO Max,
00:38:19se eu entro
00:38:20na CNN,
00:38:22se eu converso
00:38:23com o maior executivo
00:38:24da Disney,
00:38:25da,
00:38:25sabe,
00:38:26da Netflix,
00:38:28eu entro de cabeça erguida
00:38:29porque eu hoje,
00:38:31eu tive um dever de casa
00:38:32semanal,
00:38:33de 12 anos
00:38:34que me forçou a estudar
00:38:36a eleição na Índia,
00:38:39o novo filme do Woody Allen,
00:38:41a nova exposição do,
00:38:43focado no trabalho
00:38:44do Toulouse-Lutrec,
00:38:46a política americana,
00:38:48a economia,
00:38:49né,
00:38:49do Mercosul.
00:38:51Então, assim,
00:38:51hoje eu falo
00:38:52com segurança,
00:38:54não estou certo,
00:38:54sobretudo,
00:38:55com humildade,
00:38:56mas com preparo
00:38:57que as pessoas falam
00:38:58e hoje eu,
00:38:59modéstia à parte,
00:39:01entrei em cadeia,
00:39:02entrei em cartel,
00:39:03viajei pra 88 países,
00:39:04então eu entro
00:39:05sabendo que ninguém
00:39:06tá me fazendo favor
00:39:07em falar comigo,
00:39:08sabe,
00:39:09e isso nasceu
00:39:09no Manhattan.
00:39:10Essa foi a faculdade
00:39:11de fato,
00:39:12né,
00:39:12de jornalismo.
00:39:13Exatamente,
00:39:14exatamente.
00:39:15E aí depois,
00:39:16fazer programa de viagem,
00:39:18né,
00:39:18você já tava preparado,
00:39:20por mais que a pauta,
00:39:21né,
00:39:21que o formato fosse outro,
00:39:23né.
00:39:23É,
00:39:23programa de viagem
00:39:24é um tesão,
00:39:25é um...
00:39:26fala,
00:39:27desculpa.
00:39:27Não,
00:39:28imagina,
00:39:28mas você se envolvia já
00:39:31desde o começo
00:39:31do Pedro Pelo Mundo
00:39:32na produção,
00:39:34você pensava roteiro
00:39:36ou você ficava
00:39:37na condição no começo
00:39:38como só apresentador?
00:39:40O Pedro Pelo Mundo
00:39:41é um...
00:39:42é um marco
00:39:45na minha vida,
00:39:46mas eu quero acreditar
00:39:48que é um marco
00:39:49na mídia brasileira também,
00:39:51porque foi o primeiro programa
00:39:52que apresentou viagem
00:39:53de uma maneira
00:39:54não turística,
00:39:57apresentou
00:39:57esse conceito
00:39:59de você
00:40:00encarar a viagem
00:40:02como algo mais
00:40:03que mero entretenimento,
00:40:06né,
00:40:06a viagem,
00:40:07ela abre a sua cabeça
00:40:09pra
00:40:10outros pontos de vista,
00:40:14outras perspectivas,
00:40:15o Pedro Pelo Mundo,
00:40:18ele nasceu,
00:40:20acho que na minha cabeça
00:40:22ao longo dos anos,
00:40:23mas eu falei com o GNT
00:40:28que eu queria fazer
00:40:28um programa de viagem
00:40:30e se eu não me engano,
00:40:33posso estar enganado,
00:40:33eles me conectaram
00:40:34a Producing Partners,
00:40:36que é a Tatiana Issa
00:40:37e o Guto Barra,
00:40:39que são dois
00:40:40dos maiores produtores
00:40:42no Brasil,
00:40:44são responsáveis
00:40:44por alguns
00:40:45dos maiores sucessos
00:40:46documentais
00:40:47da TV brasileira,
00:40:48dentre eles
00:40:49o documentário
00:40:51da Daniela Pérez
00:40:52na HBO Max
00:40:52e tantos outros,
00:40:53já ganharam vários Emmys,
00:40:55mas foi um momento
00:40:56muito rico,
00:40:57muito especial
00:40:58pra gente,
00:40:59e eu vou incluir
00:41:00o meu diretor de fotografia,
00:41:01o Gustavo Nasser,
00:41:02pra nós quatro,
00:41:03porque estava tudo
00:41:04meio que começando
00:41:05pra gente,
00:41:06tipo, eles já tinham
00:41:07uma experiência
00:41:08que eu não tinha,
00:41:09a Tatiana Issa
00:41:09já tinha produzido
00:41:11e dirigido
00:41:12o Zee Croquetes,
00:41:13que é um documentário
00:41:14que quem não viu
00:41:15tem que ver,
00:41:16o Guto Barra
00:41:18é um puta jornalista
00:41:20incrível,
00:41:21e o Gustavo Nasser
00:41:22é de longe
00:41:22o melhor diretor
00:41:23de fotografia
00:41:23com o qual
00:41:24eu já trabalhei
00:41:25na vida,
00:41:25nos Estados Unidos,
00:41:26no Brasil,
00:41:26em qualquer lugar do mundo,
00:41:28e aí eu,
00:41:28quando cheguei
00:41:29pra propor
00:41:30esse programa de viagem
00:41:31pra eles,
00:41:32eles falaram,
00:41:32a gente já tinha entrado
00:41:33em contato com você,
00:41:34e eu na época
00:41:35fazia um programa matinal
00:41:37pra ABC
00:41:37nos Estados Unidos,
00:41:40e o meu e-mail
00:41:41que eu checava
00:41:41era o programa
00:41:42da ABC.
00:41:43Ah, daí ficou lá
00:41:44esquecido.
00:41:44Isso,
00:41:45mas aí eu fui cavucar
00:41:46e lá estava,
00:41:47então é uma dessas coisas,
00:41:49dessas conexões cósmicas
00:41:50do universo,
00:41:51eles pensando em mim,
00:41:52eu pensando neles,
00:41:53eles querendo propor
00:41:54um programa
00:41:55que também já existia
00:41:56na minha cabeça,
00:41:57e foram cinco temporadas
00:42:00do Pedro Pelo Mundo,
00:42:02ainda é um sucesso
00:42:04de audiência
00:42:05e comercial gigantesco,
00:42:07eles ainda passam
00:42:08Pedro Pelo Mundo
00:42:09semanalmente,
00:42:10várias vezes,
00:42:12e eu acho que
00:42:14deu tão certo,
00:42:16porque as pessoas
00:42:16se apaixonavam,
00:42:18os telespectadores
00:42:18se apaixonavam
00:42:19por aquelas vozes
00:42:22que tinham
00:42:22essa generosidade
00:42:24de abrir as portas,
00:42:25as vidas
00:42:26para a gente,
00:42:27e eu acho que
00:42:28a gente falava
00:42:28sobre verdades
00:42:31e não sobre
00:42:31aquela plasticidade,
00:42:33aquela superficialidade
00:42:34do turismo,
00:42:36nada contra,
00:42:37cruzeiro,
00:42:38turismo por mero
00:42:39entretenimento,
00:42:40mas o Pedro Pelo Mundo
00:42:42não era isso,
00:42:44ele se aprendia
00:42:45alguma coisa
00:42:46comigo,
00:42:47e uma coisa,
00:42:48uma semelhança,
00:42:49eu acho que é um fio condutor
00:42:50em todos os meus projetos,
00:42:52inclusive
00:42:52num tanto familiar,
00:42:53eu acredito
00:42:56que a informação
00:42:57e a notícia
00:42:57não tem que ser pesada,
00:43:00eu acho que a gente
00:43:00pode falar sobre
00:43:01genocídio no Camboja,
00:43:04ditadura em Mianmar,
00:43:06Brexit,
00:43:08movimento de extrema direita
00:43:10na Alemanha,
00:43:12de uma maneira clara,
00:43:13não rebuscada,
00:43:15não pesada,
00:43:16eu acho que a gente
00:43:17se identifica
00:43:19com a dor
00:43:21do outro
00:43:22quando
00:43:23aquilo não está
00:43:26compartilhado
00:43:28de uma maneira
00:43:29formal,
00:43:31quando a gente
00:43:32conversa,
00:43:33se desarma,
00:43:34meu pai
00:43:35morreu
00:43:36na
00:43:36guerra do Vietnã,
00:43:38como foi isso,
00:43:39o que você lembra,
00:43:40eu era pequena,
00:43:41tá,
00:43:41você não lembra aqui,
00:43:42mas você lembra em algum lugar,
00:43:44olhando para trás,
00:43:45eu acho que
00:43:46uma conversa como essa
00:43:48ou quando
00:43:48no Egito,
00:43:49por exemplo,
00:43:49que eu entrevistei
00:43:50uma
00:43:50cozinheira
00:43:52que alimentou
00:43:54as pessoas
00:43:56que estavam
00:43:56protestando
00:43:57na primavera árabe,
00:43:59era um ângulo
00:44:00tão diferente
00:44:01de falar sobre
00:44:02um tema político
00:44:03e tão mais humano
00:44:05e tão mais claro,
00:44:07e no Pedro pelo Mundo
00:44:08nas primeiras temporadas
00:44:09a gente teve que lutar muito,
00:44:10eu e a produtora,
00:44:12eu amo o GNT,
00:44:13eles foram o lar
00:44:13perfeito
00:44:14para o Pedro pelo Mundo,
00:44:15mas porque,
00:44:16ai,
00:44:18vamos mostrar mais
00:44:19surf,
00:44:20vamos mostrar mais
00:44:21o Pedro fazendo palhaçada
00:44:23na cozinha,
00:44:25porque dá mais ibope,
00:44:26essa pesquisa aqui
00:44:27mostra que
00:44:28quando o Pedro
00:44:29tira a camisa,
00:44:30os números melhoram,
00:44:32eu falava,
00:44:33tá,
00:44:33a gente pode tirar a camisa,
00:44:35mas vamos,
00:44:36eu tinha essa,
00:44:37não um cabo de guerra,
00:44:38mas essa negociação
00:44:39constante,
00:44:40né,
00:44:40do,
00:44:41porque eu realmente
00:44:43não acredito que a gente,
00:44:45isso vai soar muito
00:44:46pretencioso,
00:44:46mas eu acho que o que a gente
00:44:47faz também é arte,
00:44:48eu acho que a arte
00:44:49é uma coisa muito maior
00:44:51que só o que está pendurado
00:44:52na parede,
00:44:53né,
00:44:53eu acho que a gente
00:44:55não consegue fazer arte
00:44:56pensando em números,
00:45:00isso vai para música,
00:45:02isso vai para teatro,
00:45:04isso vai para cinema,
00:45:07para criatividade publicitária,
00:45:08inclusive,
00:45:09que é boa parte do público
00:45:10do Meio Mensagem,
00:45:11né,
00:45:11hoje está tudo muito ditado
00:45:12por algoritmo,
00:45:14exatamente,
00:45:14o que é dado ali
00:45:15como certo,
00:45:16e eu acredito que você
00:45:17para se distanciar,
00:45:21para você brilhar,
00:45:23isso é a minha opinião,
00:45:24você tem que trazer
00:45:25alguma coisa,
00:45:26algo de novo,
00:45:27né,
00:45:28e se você chega
00:45:30em 20 reuniões,
00:45:31todo mundo fala,
00:45:32ah,
00:45:32então você vai ser
00:45:34o próximo,
00:45:37a próxima Didi Wagner,
00:45:39que eu amo,
00:45:40a próxima Ingrid Guimarães,
00:45:42o próximo Faustão,
00:45:44o próximo Hulk,
00:45:45o próximo,
00:45:47você acaba caindo
00:45:48numa fórmula,
00:45:50que é um formato
00:45:51que já deu certo,
00:45:52e deu certo
00:45:53porque ele,
00:45:54de alguma maneira,
00:45:55era novo,
00:45:57né,
00:45:57e eu acho que
00:45:57quando a gente trouxe
00:45:58o Pedro pelo Mundo,
00:46:00ele tinha um ângulo,
00:46:02uma coragem
00:46:03de falar sobre temas
00:46:05que não combinavam
00:46:07teoricamente
00:46:08com a leveza
00:46:09de um programa de viagem,
00:46:10ah,
00:46:10o povo quer escapismo,
00:46:12vai ter escapismo,
00:46:13mas vai sair,
00:46:15sabe,
00:46:15eu sou fascinado
00:46:16por aquele conceito
00:46:17de,
00:46:18é,
00:46:21projeto,
00:46:22não é projeto,
00:46:23é material
00:46:23que vira
00:46:24conversa de bebedor,
00:46:26isso é uma expressão
00:46:27americana,
00:46:28o que significa isso?
00:46:30No dia seguinte,
00:46:31na escola,
00:46:32você vai estar falando,
00:46:32você viu
00:46:33um tanto familiar
00:46:34na HBO Max?
00:46:35vai virar uma conversa
00:46:36ali no cafezinho,
00:46:37no jantar,
00:46:38na casa,
00:46:39você sabia
00:46:40que menos de 3%
00:46:42das mulheres
00:46:42que querem ser
00:46:43barriga de aluguel
00:46:44são aceitas?
00:46:45Você viu
00:46:46que no fim
00:46:47do século passado
00:46:48houve um movimento
00:46:49que era quase
00:46:50um tráfico humano
00:46:52na Coreia do Sul
00:46:53que distribuiu
00:46:55crianças
00:46:56pelo mundo
00:46:57que hoje
00:46:57estão tentando
00:46:58achar seus pais?
00:46:59Então,
00:47:00essas histórias,
00:47:03eu sempre penso,
00:47:04ah,
00:47:04você tem que ser generoso
00:47:05e dar o que o público
00:47:06quer,
00:47:07mas eu acho que às vezes
00:47:08a gente dá o que o público
00:47:09ainda não sabe
00:47:09que quer,
00:47:11sabe?
00:47:12É.
00:47:12E eu sei que
00:47:14em algum momento
00:47:15a conta,
00:47:16alguém tem que pagar a conta,
00:47:18né,
00:47:18e sem audiência
00:47:20não tem segunda temporada,
00:47:22mas
00:47:23eu sou muito
00:47:24confiante
00:47:26Dá pra dosar,
00:47:30né,
00:47:30as coisas?
00:47:31Eu tenho bode
00:47:32e eu me recuso
00:47:33a subestimar
00:47:34o telespectador.
00:47:36Eu ouvi muito
00:47:37ao longo da minha carreira
00:47:38a dona de casa
00:47:40não vai entender isso.
00:47:42Eu tenho respeito
00:47:43pela dona de casa
00:47:44ímpar.
00:47:46Eu falo
00:47:47com o meu telespectador
00:47:48olhando
00:47:48eu tô embaixo dele,
00:47:51eu olho pra cima,
00:47:53eu não olho
00:47:53pro telespectador
00:47:54pra baixo,
00:47:55eu não olho
00:47:56pros meus seguidores
00:47:56pra baixo,
00:47:58deixa eu ensinar.
00:47:59Não,
00:47:59a gente vai aprender junto.
00:48:01Eu quero aprender
00:48:02com você,
00:48:04sabe?
00:48:04Você me diz
00:48:05o que você não gostou,
00:48:06você me diz
00:48:07o que você quer,
00:48:08sabe?
00:48:08Então essa coisa,
00:48:10essa pretensão
00:48:11de não,
00:48:12vamos ceder
00:48:13o que eles já estão pedindo,
00:48:16eu falo
00:48:16não acho que seja
00:48:17o tipo de projeto
00:48:18que eu quero trabalhar.
00:48:21A coisa super roteirizada,
00:48:22tem que...
00:48:23Engessada, né?
00:48:24É.
00:48:24E você já viajou
00:48:26pra 88 países.
00:48:28Mais ou menos,
00:48:29eu já meio que perdi a conta,
00:48:30mas é.
00:48:31E aí,
00:48:31o que que você acha
00:48:33que tem de universal
00:48:36entre tudo,
00:48:38todas essas regiões
00:48:39pelas coisas que você passou?
00:48:40Porque são realidades
00:48:41muito diferentes,
00:48:42mas deve ter coisas
00:48:43muito comuns ali.
00:48:46Nossa,
00:48:46tanta coisa,
00:48:47eu acho que
00:48:47tanto entre mundos
00:48:49quanto Pedro pelo mundo,
00:48:51quanto um tanto familiar também,
00:48:53porque a gente vai
00:48:54pra vários lugares,
00:48:55eu saboreio esse exercício
00:48:59de entender
00:48:59o que nos une
00:49:00e o que nos separa.
00:49:02E esse projeto
00:49:03tem muito isso, né?
00:49:05Quando você pensa em família,
00:49:07parece um tema tão universal,
00:49:08mas esse projeto mostra
00:49:09que há um leque
00:49:10de possibilidades.
00:49:12E eu acho
00:49:13que o nosso mundo
00:49:14é dividido em dois grupos.
00:49:16Um que acredita
00:49:17que a solução
00:49:17de todos os nossos problemas
00:49:19é a família tradicional conservadora.
00:49:21Isso não é uma declaração política,
00:49:24é uma observação pessoal,
00:49:26humana.
00:49:27E um outro grupo
00:49:28que acredita
00:49:28que há outras maneiras
00:49:30de encarar
00:49:30o que é uma família.
00:49:33E respondendo a sua pergunta
00:49:35do que eu aprendi
00:49:36viajando pra todos esses países,
00:49:39navegando todas essas realidades,
00:49:41é que a gente é muito mais parecido
00:49:43do que a gente imagina
00:49:45que a gente seja.
00:49:45O ser humano se adapta,
00:49:48se adapta
00:49:49às condições
00:49:52às quais ele nasceu,
00:49:54à realidade política,
00:49:57à realidade econômica,
00:49:58à realidade racial,
00:49:59à realidade atrelada
00:50:00à orientação sexual,
00:50:02à religião.
00:50:03Mas há fenômenos
00:50:05absolutamente universais.
00:50:07Você chega...
00:50:10Eu já fui a lugares
00:50:12muito marginalizados, né?
00:50:17Tive acesso a esses mundos
00:50:22que fazem parte
00:50:24de um underground
00:50:25que a gente não enxerga,
00:50:27geralmente.
00:50:29E você nota que
00:50:31o seu julgamento muda.
00:50:34Quando você está na...
00:50:38Você precisa de cabeça aberta.
00:50:39Você precisa ter humildade
00:50:40pra saber que você não sabe de tudo.
00:50:42e isso já é meio caminho andado.
00:50:44Mas quando você vai pra Namíbia,
00:50:46de onde eu acabei de chegar,
00:50:48é muito fácil você virar e falar
00:50:50a culpa é dos poachers,
00:50:53dos caçadores,
00:50:54que ganham...
00:50:56meia...
00:50:59ganham uma merreca
00:51:01pra matar um leão,
00:51:03pra matar um elefante.
00:51:05Mas você não se dá conta
00:51:07de que ou ele mata o leão
00:51:08e o elefante...
00:51:09Eu estou dando um exemplo,
00:51:10não é todo mundo.
00:51:11Ou ele não tem comida
00:51:13pros quatro filhos
00:51:14que estão em casa,
00:51:14pra mulher dele,
00:51:15pra mãe que precisa de remédio.
00:51:19Então,
00:51:20eu acho que
00:51:21essa capacidade de sobrevivência
00:51:24ela é universal.
00:51:27É fácil você achar
00:51:28que você sabe o lado certo
00:51:30e o lado errado.
00:51:31Quem é o vilão
00:51:31e quem é o mocinho.
00:51:32em algumas equações,
00:51:33eu acho que você...
00:51:35É muito claro.
00:51:36Eu que explorei,
00:51:37já fui a Ucrânia,
00:51:38já fui a Geórgia,
00:51:39já...
00:51:39Polônia.
00:51:41Quando você fala
00:51:41de uma pessoa como Putin,
00:51:42por exemplo,
00:51:43que invade terras
00:51:44que não são dele e tal,
00:51:46eu acho que é mais fácil
00:51:47você ter essa visão infantilizada
00:51:49do que é o certo,
00:51:50do que é o errado,
00:51:51do que é o...
00:51:52Mas, geralmente,
00:51:54há nuances
00:51:54que você realmente
00:51:55tem que prestar atenção
00:51:56e estar com a cabeça aberta
00:51:58pra você tentar entender
00:51:59por que aquela pessoa
00:52:00cometeu aquele erro.
00:52:01E sem querer ser ainda mais
00:52:02prolixo,
00:52:03outra coisa que pra mim
00:52:04é fascinante
00:52:05é vaidade.
00:52:06Vaidade é uma coisa
00:52:07que transcende dificuldade.
00:52:09Você vai pra zonas
00:52:09devastadas
00:52:12por desastres naturais,
00:52:13como foi Nova Orleans
00:52:14depois de Katrina,
00:52:15como foi o Haiti,
00:52:17né?
00:52:17E você vê
00:52:18as mães
00:52:20trançando o cabelo da filha,
00:52:22você vê o menino
00:52:23querendo
00:52:24se sentir bonito,
00:52:26você vê...
00:52:27E isso
00:52:27tem um poder,
00:52:29assim,
00:52:30é...
00:52:32Quando eu falo vaidade,
00:52:32eu não tô falando
00:52:33de beleza só.
00:52:36Tô falando
00:52:36de autoestima.
00:52:37É,
00:52:38um traço
00:52:38de dignidade humana.
00:52:40De dignidade,
00:52:41sabe?
00:52:42E isso passa
00:52:43por...
00:52:44É...
00:52:46Etarismo,
00:52:47racismo,
00:52:48né?
00:52:48Um preconceito
00:52:48de você ver
00:52:49que o mundo
00:52:49não tá te vendo
00:52:50ou te...
00:52:51Tem uma exposição
00:52:52sendo muito rápido.
00:52:54É...
00:52:54Eu sou completamente
00:52:55apaixonado pelo
00:52:56Instituto Morela Salles.
00:52:57Eu sou fotógrafo também.
00:52:59E eu acabei de ver
00:53:00a exposição
00:53:01do Gordon Parks,
00:53:03que é um fotógrafo
00:53:04espetacular
00:53:05do meio do século passado
00:53:06que falou sobre temas
00:53:07raciais nos Estados Unidos.
00:53:09E tem muito isso,
00:53:10assim,
00:53:11da...
00:53:12De como era difícil
00:53:14não só sobreviver,
00:53:16não só lidar
00:53:16com as injustiças,
00:53:17mas como era difícil
00:53:18olhar pro espelho.
00:53:20Porque aquilo que você via
00:53:21não era ok, né?
00:53:23Não condizia com...
00:53:24É.
00:53:24Então arte,
00:53:25eu acho que tem
00:53:26esse poder, né?
00:53:27Tem esse poder de...
00:53:28Eu olhei praquelas imagens
00:53:30e eu falei,
00:53:30meu Deus do céu,
00:53:31uma imagem como essa
00:53:32diz tão mais
00:53:33que um livro inteiro
00:53:34sobre o tema, né?
00:53:36E você
00:53:37pretende continuar
00:53:39viajando
00:53:39com a Isabel?
00:53:41Vai ser possível isso
00:53:43ou já é possível?
00:53:44Eu e o Ben,
00:53:45a gente teve
00:53:46a nossa primeira viagem
00:53:47de família
00:53:47semana passada.
00:53:48Eu fui dar uma palestra
00:53:51nas Bahamas
00:53:52e aí
00:53:53eles fizeram a...
00:53:56Enfim,
00:53:57tiveram a generosidade
00:53:58de convidar
00:53:59o Ben e a Isabel.
00:54:01E...
00:54:01E, cara,
00:54:03isso é um tema
00:54:03totalmente diferente,
00:54:05mas a gente viaja
00:54:06sem babá, né?
00:54:08E quem é pai
00:54:09de uma criança
00:54:10de dois anos,
00:54:11um ano e oito meses,
00:54:12sabe que
00:54:13não é simples.
00:54:15É,
00:54:15ali no aeroporto,
00:54:17não é?
00:54:18Nossa,
00:54:18delícia.
00:54:19É,
00:54:19eu vou trazer a Isabel
00:54:20pela primeira vez
00:54:20para o Brasil,
00:54:22se eu não me engano,
00:54:22em dezembro.
00:54:23Então,
00:54:24eu...
00:54:26Ser pai
00:54:26é muito incrível
00:54:28porque te expõe
00:54:29a um mundo,
00:54:31né?
00:54:33Absolutamente desconhecido.
00:54:34Eu que sou jornalista
00:54:35e mergulho
00:54:36e ouço podcast,
00:54:38leio matéria
00:54:38e pesquiso.
00:54:40Quando você vira pai,
00:54:41você vê que
00:54:41aquilo tudo ajuda,
00:54:43mas é diferente, né?
00:54:45Então, assim,
00:54:45eu...
00:54:46É claro que eu exponho,
00:54:47as minhas paixões,
00:54:49eu compartilho
00:54:49as minhas paixões
00:54:50com a Isabel.
00:54:52Eu levo ela
00:54:53a galerias,
00:54:55a museus,
00:54:56a concertos,
00:54:58a parques.
00:54:58Eu quero que ela
00:55:00leia livros,
00:55:02geralmente em português,
00:55:03falo português.
00:55:04Quero que ela
00:55:04se acostume
00:55:05com diferentes tipos
00:55:06de comida.
00:55:07Quero estimular ela
00:55:08a viajar, né?
00:55:11Mas,
00:55:12no final das contas,
00:55:13ela vai ser
00:55:13quem ela quiser ser.
00:55:15Eu não quero que ela
00:55:15tenha essa pressão
00:55:17de seguir os meus passos.
00:55:19Eu quero que ela saiba
00:55:20que eu vou estar sempre lá
00:55:21para aplaudir
00:55:23as escolhas dela
00:55:25e para, né,
00:55:26fazer o melhor
00:55:26que eu posso fazer
00:55:27para que ela se sinta
00:55:30amada,
00:55:31acolhida,
00:55:32desejada, né?
00:55:34Para mim,
00:55:35esse é o meu dever de casa.
00:55:37Mas eu gosto da vida...
00:55:38Eu gosto da vida
00:55:43que eu construí
00:55:43para a gente, né?
00:55:45E eu espero
00:55:46que ela curta também.
00:55:48Ô, Pedro,
00:55:48a gente tem uma
00:55:49brincadeirinha aqui
00:55:50que é um trocadilho
00:55:51com o nome do podcast.
00:55:53A ideia,
00:55:54e eu sempre pergunto isso
00:55:55para todo mundo
00:55:55que passa aqui,
00:55:56que é qual é a melhor ideia
00:55:58que você já teve?
00:55:59Ser pai.
00:56:01E foi uma ideia
00:56:02pelo que você contou
00:56:03que vem
00:56:04desde muito antes,
00:56:06assim, né?
00:56:06Se sempre quis ser.
00:56:07Sim,
00:56:09eu falo no programa,
00:56:11acho que no primeiro episódio,
00:56:12que ser pai
00:56:15era uma certeza
00:56:17na minha vida,
00:56:17era quase tão certo
00:56:18quanto a morte.
00:56:20Eu sabia que eu ia ser pai.
00:56:21Eu não sabia
00:56:22que eu ia ser pai
00:56:22com o Ben,
00:56:24com a ajuda da Whitney,
00:56:26eu não sabia
00:56:27se eu ia adotar,
00:56:28se eu ia ter
00:56:28uma família temporária,
00:56:29se eu ia ser pai sozinho,
00:56:31se eu ia ser pai novo
00:56:31ou velho,
00:56:32mas isso era um
00:56:34dos poucos aspectos
00:56:35da minha vida
00:56:36que não eram
00:56:37negociáveis.
00:56:39E por mais difícil
00:56:41que seja,
00:56:42e por mais
00:56:42que eu tenha
00:56:43que abrir mão
00:56:44para viver
00:56:46essa realidade hoje,
00:56:48vale cada
00:56:51minuto,
00:56:53cada noite mal dormida,
00:56:54cada pirraça,
00:56:56cada momento
00:56:56de desespero
00:56:57dentro do avião,
00:56:59cada noite mal dormida
00:57:01porque ela está
00:57:02agripada,
00:57:02é muito difícil,
00:57:04mas foi o melhor
00:57:07apocalipse
00:57:08que eu podia ter escolhido
00:57:10para a minha vida.
00:57:11E a pior ideia
00:57:12que você já teve?
00:57:15Nossa!
00:57:18Nunca pensei nisso,
00:57:19olha,
00:57:19você sabe que a entrevista
00:57:20é boa quando ela
00:57:21faz você pensar.
00:57:24A pior ideia
00:57:24que eu já tive...
00:57:25Eu já tive
00:57:31tantas ideias ruins,
00:57:33mas eu
00:57:33não
00:57:34sou ressentido,
00:57:38não me arrependo,
00:57:39sabe,
00:57:40dessas ideias equivocadas
00:57:41e ruins,
00:57:42porque eu acho
00:57:43que eu não seria
00:57:44o homem que eu sou,
00:57:45o pai que eu sou.
00:57:47Eu tento ser...
00:57:48Eu tento me perdoar
00:57:49mais hoje,
00:57:51sabe?
00:57:51Às vezes eu falo
00:57:53quando eu tinha 16 anos
00:57:54eu magoei
00:57:57fulana de tal
00:57:58ou
00:57:59desapareci,
00:58:03não dei tanta bola
00:58:04para o meu pai
00:58:05com quem eu tenho
00:58:07uma relação
00:58:07espetacular,
00:58:09sempre tive,
00:58:10mas
00:58:10decepcionei
00:58:12minha mãe
00:58:13quando decidi
00:58:14fazer isso,
00:58:14aquilo.
00:58:16Mas
00:58:17acho que a gente
00:58:18não pode viver a vida
00:58:19se arrependendo
00:58:20das escolhas erradas,
00:58:21eu acho que
00:58:22a gente tem que
00:58:23aprender
00:58:25com elas,
00:58:26mas
00:58:27acho que talvez
00:58:32talvez não ter tido
00:58:35a Isabel antes,
00:58:36mas talvez eu não
00:58:36tivesse vivido
00:58:37as coisas que eu vivi
00:58:38que me tornaram o pai
00:58:39que eu me tornei.
00:58:41Então,
00:58:41não tenho arrependimentos.
00:58:44E, Pedro,
00:58:44para a gente finalizar,
00:58:46você
00:58:46fez carreira
00:58:48como jornalista
00:58:49e apresentador
00:58:49na televisão
00:58:51e hoje
00:58:52a gente vive
00:58:53uma transformação
00:58:54constante
00:58:55do jornalismo,
00:58:57da comunicação.
00:58:58Como é que você
00:58:59se acha
00:59:00nesse mundo
00:59:01de Instagram
00:59:02e redes sociais?
00:59:04Eu acho
00:59:05essa nova
00:59:06realidade
00:59:07absolutamente
00:59:08deliciosa.
00:59:10Eu adoro
00:59:11um desafio.
00:59:13Eu,
00:59:14com toda gratidão
00:59:15e respeito
00:59:16que eu tenho,
00:59:16a mídia
00:59:17que me botou
00:59:18aqui,
00:59:18que me trouxe
00:59:19até aqui,
00:59:20eu gosto
00:59:22da ideia
00:59:23de hoje em dia
00:59:24você poder
00:59:25escolher
00:59:25quem você ouve,
00:59:27em quem você confia.
00:59:29Eu gosto
00:59:29de...
00:59:31da liberdade,
00:59:34que talvez...
00:59:36Eu sou péssimo
00:59:37em tecnologia,
00:59:38então isso é um
00:59:39obstáculo gigante
00:59:40para mim,
00:59:40eu preciso de ajuda.
00:59:41Eu não sei postar,
00:59:43não sei subir podcast,
00:59:44não sei...
00:59:46Não saberia
00:59:47como fazer
00:59:49o meu conteúdo
00:59:50e postar
00:59:51e ver números,
00:59:52etc.
00:59:52Eu sempre tive
00:59:53o conforto
00:59:54de contar
00:59:54com incríveis times
00:59:56das emissoras
00:59:58pelas quais eu passei
00:59:59e a produtora
01:00:00com a qual eu trabalhei,
01:00:02mas eu gosto
01:00:03de mudança.
01:00:04Eu acho que
01:00:05a gente...
01:00:06Eu tenho pavor
01:00:07a esse discurso
01:00:08nostálgico
01:00:10de...
01:00:10Ai,
01:00:10o mundo era tão melhor,
01:00:12o mundo não sei o quê.
01:00:13O mundo é o que é
01:00:15e a gente se adapta
01:00:16e só tem graça
01:00:18porque muda
01:00:18e se não mudasse
01:00:20ia ser um saco,
01:00:21sabe?
01:00:22Então eu...
01:00:23Eu acolho
01:00:24e espero
01:00:26que esse novo universo
01:00:28me acolha também,
01:00:29né?
01:00:30Pedro,
01:00:31é isso,
01:00:32obrigada
01:00:32pela conversa.
01:00:33Eu que agradeço,
01:00:33sou eu quem agradece,
01:00:35você...
01:00:36O papo foi uma delícia,
01:00:37você é incrível,
01:00:38obrigado,
01:00:39obrigado,
01:00:39obrigado e parabéns
01:00:40pelo trabalho.
01:00:41Mais uma vez,
01:00:42antes da gente começar a gravar,
01:00:43eu falei que eu sou
01:00:44fã incondicional
01:00:45do Meio e Mensagem
01:00:46há muito tempo
01:00:46e é uma honra,
01:00:48um privilégio estar aqui,
01:00:49obrigado.
01:00:50A gente que agradece,
01:00:51até uma próxima.
01:00:51Até.
01:00:52Continue acompanhando a ideia
01:00:53em todas as plataformas
01:00:55de Meio e Mensagem,
01:00:56no YouTube
01:00:56e nos agregadores
01:00:57de podcast.
01:00:58Até mais.
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