O governo federal deve anunciar até terça-feira (12) um plano de contingência para minimizar os impactos do tarifaço dos EUA. A proposta inclui linhas de crédito emergenciais, compras governamentais e a criação de um fundo privado temporário. O consultor em comércio internacional Welber Barral analisa os riscos, desafios e efeitos da medida sobre setores estratégicos, exportações e empregos no Brasil.
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00:00Deve sair até terça-feira o plano de contingência do governo federal em resposta ao tarifácio.
00:06A proposta prevê a criação de linhas de crédito emergenciais para atender os setores mais atingidos,
00:11além de compras governamentais de produtos que não consigam de imediato acesso a outros mercados internacionais.
00:18Também está em discussão a formação de um fundo privado temporário desenhado para ampliar o acesso ao crédito de empresas
00:24ou segmentos impactados e que possam escapar do radar inicial da equipe econômica.
00:30Segundo integrantes do governo, o pacote tem foco em preservar empregos, garantir liquidez às companhias
00:36e assegurar que setores estratégicos consigam atravessar o período de restrições sem perdas irreversíveis.
00:43Sobre esse assunto, a gente conversa agora com o Elber Barral, que é consultor em comércio internacional.
00:48Boa noite para você, Elber. Seja muito bem-vindo ao Jornal Times Brasil.
00:52Boa noite, Marcelo. Obrigado pelo convite.
00:54Bom, a gente não tem nenhuma medida concreta ainda, mas várias especulações e algumas delas especulações até bem informadas
01:01porque vieram diretamente do governo. De tudo que a gente ouviu até agora, o que você está achando que é mais importante
01:07nesse pacote que está para chegar?
01:10Marcelo, a situação de muitas empresas que dependem do mercado norte-americano é muito urgente por causa justamente do fluxo de caixa.
01:17Você teve várias empresas que tiveram pedidos cancelados, contratos cancelados, até cargas já embarcadas que vão ficar retidas.
01:27Então, você tem empresas que, por exemplo, no setor moveleiro, exportam 80% da produção para os Estados Unidos.
01:33O impacto imediato é muito grande.
01:35Então, é muito importante que essas empresas tenham a oportunidade, de um lado, de estender pagamento de tributos,
01:41estender o cumprimento de drawback, por exemplo, e cumprimento de outras obrigações tributárias.
01:48Bom, quando a gente fala em adiar um pouco o pagamento de imposto, não tem um custo fiscal tão significativo.
01:53Mas quando a gente fala de empréstimo com juros subsidiados, obviamente, em economia não tem almoço grátis.
01:59Alguém vai pagar essa conta, os bancos não vão dar empréstimo aí, arcando com o prejuízo.
02:05O Brasil tem condição, nesse momento, de fazer um esforço fiscal para fazer um pacote robusto?
02:11Porque as contas estão bem apertadas, né, Welber?
02:14Exato. E você tem razão, o impacto fiscal pode ser grande, dependendo dos setores que forem observados.
02:20O que nós estamos falando é principalmente pequenas e médias empresas.
02:24Quando você olha essas pequenas e médias empresas, o impacto não é tão grande.
02:28É claro que setores como café, como celulose, por exemplo, são setores que têm um impacto muito grande.
02:36São empresas muito grandes, com operações gigantescas, acima de um bilhão de dólares.
02:41O governo vai ter que dimensionar como serão esses empréstimos, qual será a taxa aplicada e qual será a situação de cada empresa.
02:50Evidentemente, também, alguns setores têm empresas que exportam 10% ou 15% da produção para os Estados Unidos.
02:56Esses setores terão que você ter menos urgência, evidentemente, do que aqueles setores que são muito dependentes.
03:03Falou-se também em compras governamentais, né, de o governo comprar, por exemplo, aí vai, frutas e outros pescados, né,
03:11e outros produtos aí que vão ter uma tarifa proibitiva para exportação.
03:15Mas não tem um risco também para os produtores que miram no mercado nacional?
03:20Porque se o governo começar a distribuir, né, esse tipo de produto, pode ser que o preço caia e deixe o custo de produção inviável aqui com o preço que o produtor vai receber.
03:32Não tem esse risco também?
03:33Tem vários riscos, Marcelo.
03:35Na verdade, qualquer alteração que você faz no mercado, você tem um impacto na cadeia produtiva.
03:40No caso, por exemplo, de compra, está se falando principalmente da compra de produtos perecíveis,
03:46que poderiam perder esse mercado se não fosse a venda para os Estados Unidos ou se a venda para os Estados Unidos não se confirmar.
03:53Você tem um risco, evidentemente, que é a compra sem licitação, que sempre é um risco.
03:58Um segundo risco, que é relacionado com a própria distribuição, porque muitos desses produtos não têm uma cadeia de distribuição no Brasil.
04:05Um terceiro risco é que não se mantenha a cadeia de exportação para outros mercados.
04:11E um outro risco, como você comentou, é o efeito dos preços inteiros.
04:15Então, a depender de como seja feito, você tem a gente de tirar com a mão, de dar com a mão e tirar com a outra, baixando o preço para o mercado como um todo.
04:23Você tem expectativa de que a inflação de alimentos vai cair por causa dessa exportação mais dificultada para os Estados Unidos?
04:28Se você olhar os produtos exportados para os Estados Unidos, os grandes produtos exportados para os Estados Unidos, você tem, por exemplo, café e carne.
04:37Nesses dois casos, os Estados Unidos são um mercado muito relevante, mas não são...
04:42No caso do café, por exemplo, o Brasil exporta para o mundo inteiro.
04:46E o café está em um valor muito alto já nos últimos anos, por outras razões.
04:51Então, você pode ter, eventualmente, um...
04:52Vamos esperar um segundinho para ver se o Elber volta, porque o sinal deu uma travada ali, mas geralmente volta em 10 segundos, né?
05:01Então, a gente sempre espera esse pouquinho aqui e parece que voltou, deu certa regra mais uma vez.
05:06O Elber, a gente perdeu uma frase sua aí.
05:08Você estava dizendo que o Brasil exporta café para o mundo inteiro, depois disso travou.
05:11Para o mundo inteiro.
05:12Então, não necessariamente uma oferta um pouco maior vai afetar o preço interno.
05:18A mesma questão é a carne. O Brasil exporta muita carne, mas o consumo interno, hoje, é a maior demanda da produção de carne brasileira.
05:27Então, pode haver alguma pressão temporária de redução de custos, mas isso não deve durar muito, porque, claro, os exportadores vão buscar outros mercados imediatamente.
05:37Agora, que tipo de produto você acha que vai ter mais dificuldade para ser redirecionado para outros mercados?
05:43Principalmente aqueles produtos que têm uma logística destinada aos Estados Unidos.
05:47O caso que seria mais trágico, que acabou não ocorrendo, porque entrou na lista de exceção, foi o suco de laranja.
05:54Todo suco de laranja brasileiro, uma boa parte dele, é direcionado para o mercado americano.
05:58Há terminais em Santos preparados para isso, há navios destinados para isso.
06:04Você não conseguiria redirecionar nem para o mercado interno, nem para outros mercados, muito rapidamente.
06:09No caso de frutas também, você tem uma grande dificuldade.
06:13Até porque grande parte delas sai do Nordeste, diretamente para os Estados Unidos.
06:17A cadeia logística não é tão destinada ao mercado interno.
06:20Então, esses produtos, principalmente produtos perecíveis, têm uma emergência maior no que se refere ao impacto que pode ter para os produtores locais.
06:30A gente vê a China já querendo comprar boa parte desses produtos que não vão para os Estados Unidos,
06:35o que é ótimo para os produtores, mas também levanta uma outra questão.
06:38A gente também não pode ser tão dependente da China mais do que a gente já é.
06:42Obviamente, a China até agora não mostra nenhuma vocação para interferir em assuntos externos do Brasil,
06:48mas é sempre mais sábio pulverizar as exportações.
06:54Seguramente, Marcelo.
06:55Uma das tarefas do governo sempre é diversificar destinos e diversificar produtos.
07:01Essa é uma máxima do comércio exterior.
07:04O Brasil já é muito dependente do mercado chinês.
07:08Mais de 30% da exportação brasileira já vai para a China.
07:11Então, o risco de dependência de um único mercado, como é o caso do mercado chinês,
07:15ou uma dependência muito grande de um único mercado,
07:17não é só a eventual interferência nos assuntos internos do Brasil,
07:22mas também o risco de haver uma crise econômica neste mercado, por exemplo,
07:26cair muito a demanda e você ter um impacto muito grande na produção brasileira.
07:30Então, sempre é recomendável a diversificação de destinos e de produtos.
07:36Que tipo de crise de credibilidade você acha que os Estados Unidos vão ter nos próximos anos,
07:41mesmo no pós-Trump, por causa dessa situação?
07:44Em primeiro lugar, os Estados Unidos estão desobedecendo vários acordos internacionais.
07:47O mais importante é da OMC, mas os Estados Unidos estão desobedecendo acordos com o Canadá,
07:52com o México, acordos de livre comércio com a Coreia,
07:55alguns assinados pelo próprio Trump no outro governo dele.
07:58Então, isso cria uma fragilização muito grande dos acordos assinados pelos Estados Unidos.
08:03Uma segunda questão de confiabilidade é a eventual atração de investimentos para os Estados Unidos,
08:09que é um dos objetivos declarados por Trump,
08:12mas que depende da confiança do país e da estabilidade de regras.
08:16Então, ao contrário do que pretende o governo Trump,
08:19você corre o risco de diminuir o investimento nos Estados Unidos,
08:22por conta da alteração abrupta de regras, inclusive agora,
08:27que ele inclusive demitiu a presidente do Instituto de Pesquisa Estatística do trabalho nos Estados Unidos,
08:35o que parece muito mais uma reação de um governo kirchnerista do que de um governo americano.
08:40Exatamente, bela observação, porque a Cristina Kirchner fez isso também,
08:43chegou um ponto que na Argentina as pessoas não sabiam qual era a taxa de inflação,
08:47e você ver isso nos Estados Unidos agora é algo impensável,
08:51a gente nunca imaginou que a gente fosse ver isso nos Estados Unidos.
08:54Não, isso não era imaginável nos Estados Unidos,
08:57e uma das razões pelas quais o dólar, desde a Segunda Guerra Mundial,
09:02é a moeda padrão internacional,
09:04é justamente a confiança dos mercados na transparência e na previsibilidade da economia americana.
09:10Lembre que, no caso da Argentina, todas essas intervenções,
09:14alterando dados, divulgando dados falsos, impedindo a divulgação de dados,
09:19acabou atrapalhando muito o investimento na Argentina, de um lado,
09:23e fazendo com que os institutos privados de pesquisa fossem até ameaçados de prisão.
09:28Então, você começa a ter impactos na confiança do país no cenário internacional.
09:34A gente viu o Trump ficando furioso aí com o Pix,
09:37e ano que vem vem o Drex por aí também, né?
09:39Parece que essas disrupções aí no comércio internacional,
09:44elas vão ser cada vez maiores, vai chegar a um ponto que talvez o dólar, de fato, não seja tão usado.
09:49O senhor acha que pode haver uma ação dos Estados Unidos aí para tentar interromper ou retardar esse movimento?
09:56É, os Estados Unidos, na chamada investigação da Sessão 301,
10:00eles já dizem que o Pix seria uma discriminação contra empresas e cartões de crédito norte-americanos.
10:05O que não é verdade, porque o Pix não impede nenhuma empresa de entrar no mercado brasileiro.
10:11O mercado digital e de pagamentos digitais brasileiros é extremamente aberto.
10:15Agora, o Pix é um orgulho para os brasileiros,
10:18é realmente um mecanismo de pagamentos muito mais evoluído do que vários países desenvolvidos.
10:23E principalmente comparando com os Estados Unidos, onde se usa até hoje cheque nos pagamentos até privados.
10:30Então, o Pix é uma grande evolução e o próprio fato do Pix prever a entrada futura do Drex
10:37e prever o pagamento em parcelas, que é utilizado por grande parte da população brasileira,
10:43aparece como um desafio para esses concorrentes internacionais,
10:47o que acabou provocando a reação dos Estados Unidos.
10:50O Elber Barral, consultor em comércio internacional,
10:53muito obrigado pela sua participação hoje aqui no Jornal Times Brasil e boa noite.
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