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O Ministério do Trabalho e Emprego criou uma Câmara Nacional para proteger empregos diante do tarifaço imposto por Donald Trump. A professora Marisley Nishijima, da USP, analisa como a medida pode funcionar no médio e longo prazo, os desafios para realocar exportações e os possíveis impactos positivos e negativos no comércio exterior brasileiro.

Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://timesbrasil.com.br/guerra-comercial/

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Transcrição
00:00Como a gente já falou aqui ao longo do Conexão, o Ministério do Trabalho e Emprego
00:06criou hoje uma Câmara Nacional para acompanhar e preservar empregos
00:12diante do tarifaço do Donald Trump.
00:15Sobre esse assunto, eu converso com Marisley na Nishijima,
00:21professora titular de Economia do Instituto de Relações Internacionais da USP,
00:25o IRI, aqui da Universidade de São Paulo.
00:30Professora Marisley, perdão pelo Nishijima.
00:33Agora acho que ele saiu mais bem pronunciado, para que não haja aqui nenhum desconforto entre a gente.
00:40E para eu começar perguntando, como é que na visão da senhora,
00:43isso pode vir a funcionar em mais médio, longo prazo?
00:48Porque esse tarifaço a gente não sabe o que vai acontecer.
00:50Não sabe o tamanho da duração, se vai aumentar as tarifas,
00:54se o Donald Trump, que já mudou de ideia tantas vezes, pode interromper o fluxo.
00:58A questão é que segurar empregos durante um período de tempo, ok,
01:03mas se essa bola de neve for crescendo à medida que ela vai andando montanha abaixo,
01:10às vezes vira uma avalanche, é difícil de segurar.
01:13É factível um plano desse de garantias de emprego,
01:17se a gente tiver um arco de tempo um pouco maior?
01:19Então, como o plano foi lançado com um critério,
01:25que é a critério de ser justamente para socorrer de imediato,
01:31então eu já te diria que um plano rápido para você socorrer a economia
01:38não aguentaria mudanças de mais longo prazo.
01:43entretanto, o programa que foi apresentado,
01:47ele é um pouco mais amplo do que um socorro de primeiro passo, né?
01:53Por quê?
01:54Porque ele, além de contingenciar um tanto de recursos bem grande
02:01para crédito, né, e crédito barato para as pessoas afetadas,
02:05para os exportadores afetados pelo programa,
02:08ele também tem outras, então tem uma contingência que é o segurar
02:15e por um tempo o emprego, mas ele tem uma contingência que é a seguinte,
02:21eles também estão atuando no sentido de encaminhar essas exportações
02:27para novos mercados e também no sentido de negociação,
02:31de negociações com os próprios Estados Unidos.
02:34Além disso, o programa tem uma parcela, que é uma parcela que é bem interessante,
02:40que é assim, ela tem uma parcela que a gente chama de política vertical,
02:44que é você justamente socorrer quem acabou de ser afetado,
02:49mas tem uma coisa nessa política, que é uma que a gente chama de política horizontal,
02:55que eles estão tentando melhorar os mecanismos de exportação.
03:01Então, quando você melhora os mecanismos de exportação,
03:05você não está melhorando só aqueles setores que foram afetados,
03:09mas você está melhorando todos.
03:11Então, isso tende, então, essa política de você tentar melhorar o ambiente para todos
03:19e tentar buscar mercados alternativos, ela tende a ser mais duradoura
03:27em termos do resultado que se espera aqui dentro para emprego.
03:32Agora, falando do seu ponto, que é, a gente não sabe se os Estados Unidos vão mudar de posição ou não,
03:40e isso a gente realmente não tem como prever,
03:44porque o que acontece agora é que os Estados Unidos trocou um critério de eficiência econômica
03:51para as suas decisões de tarifa, que sempre foi, assim, nos últimos 30, 40, 50 anos,
03:57a gente vem seguindo esses critérios, para critérios que não são esses de eficiência econômica.
04:04Isso significa, na prática, que é um conjunto de choques que a gente está tendo,
04:10e não só o Brasil, mas também os outros países,
04:14e esses choques, eles são muito ruins para os setores produtivos.
04:18Por quê? Porque um choque toda hora, uma das coisas boas que você precisa,
04:23da boa governança que você tem para que os empresários possam ter um horizonte de planejamento
04:28para produzir, é ter um ambiente estável.
04:32E se você tem um ambiente de choques toda hora, não tem como prever no longo prazo
04:37se vale a pena fazer um investimento produtivo ou não.
04:42Então, todos os nossos exportadores, mas não só os nossos,
04:45mas os exportadores de todos os demais países estão diante dessa situação agora.
04:51Então, assim, eu diria que a gente não sai, não se difere tanto da crise que os outros países estão vivendo.
04:57É claro que tem os países que são mais afetados, como o México e o Canadá,
05:02porque o volume de comércio com eles é muito grande,
05:05o que nos afeta menos porque o volume é pequeno.
05:08Então, eu diria sim que não dá, precisaria de novos mecanismos,
05:14mas eu acho que nesse momento, e no momento vai um horizonte aí de um ano,
05:20a gente não tem como prever e eu acho que não tem como segurar o risco.
05:24Acho que nenhum governo teria como segurar o risco desses choques que não pararam de vir.
05:29Porque, por exemplo, hoje um país que está com uma tarifa de 15%,
05:34embora pareça bem sucedida em relação ao Brasil,
05:38hoje a gente não sabe se essa tarifa continua no mês que vem para esse país.
05:42Então, é um ambiente de bastante incerteza,
05:46então, nesse sentido você tem razão.
05:49Realmente fica difícil prever empregabilidade.
05:52Professora Marisley, queria pegar um pedaço da sua primeira resposta
05:56para a gente tentar colocar aqui no chão da realidade
05:59as diferenças entre expectativa e o que é realmente possível fazer
06:05quando se pensa em realocação de produtos, por exemplo, novos mercados.
06:13Ok, se a gente botar um cronograma num papel, funciona, né?
06:17Há um produto que ia para os Estados Unidos, agora eu vou tentar vender para o Sudeste Asiático.
06:22Mas aí entram os complicadores.
06:24É perecível, eu não tenho espaço na docagem do porto,
06:31a logística para lá não é favorável.
06:34E aí tem algo que é o paladar.
06:37Parece uma coisa pequena, mas faz toda a diferença, né?
06:39Eu uso um exemplo aqui corriqueiramente no programa
06:41porque eu acho que é um exemplo muito simbólico.
06:44Existe uma cooperativa produtora no Nordeste que abastece os Estados Unidos com um tipo de fruta,
06:52uma manga, que não agrada o paladar brasileiro,
06:55mas que tinha uma função determinada lá, estava dentro da cadeia de abastecimento dos Estados Unidos.
07:01Vai para a indústria, vai para o suco, para a compota.
07:05Difícil recolocar esse produto no mercado brasileiro porque não tem paladar, não tem mercado.
07:10Preciso sair procurando um mercado que atenda a este enorme volume
07:16porque eu tenho uma cooperativa inteira, quase que uma cidade que gira em torno de uma fruta
07:20que ninguém mais quer quanto os americanos.
07:22As soluções às vezes ficam fáceis no macro,
07:25mas quando a gente vê o micro, tem essas dificuldades que vão atingindo populações específicas.
07:32Essa questão de procurar novos mercados, claro, hoje a gente tem outras conexões,
07:39mas não é tão simples assim, né?
07:41Sim, o que você está dizendo é o seguinte, a gente tem,
07:45quando a gente vende um produto para alguém, para algum país,
07:49a gente tem um custo que é o custo de agradar essas pessoas,
07:54no caso de perefissíveis principalmente.
07:56Então, a gente consegue divergir uma parte, tem uma parte que não vai ter como,
08:02porque a gente até chama isso de sunk cost em economia, um custo perdido,
08:06porque você se especializa vendendo para um certo tipo de preferência
08:11e quando você fosse vender para outro, você não conseguiria reaproveitar isso.
08:14Então, mas o que eu acho é que diante da gravidade da coisa,
08:20vai ser possível o país fazer alguma diversificação,
08:25ou vendendo, direcionando no curto prazo para mercado interno,
08:30ou para algum mercado, mas obviamente vão ter perdas.
08:33Essas perdas não são só nossas, como eu observei,
08:37acontecendo com os países todos,
08:39e uma coisa que vai acontecer também é que, por outro lado,
08:46se no curto prazo os agentes estão prisioneiros,
08:50os exportadores estão prisioneiros dessas preferências,
08:53desses custos irrecuperáveis, que a gente chama,
08:57num prazo mais largo vai ter uma divergência.
09:01Então, vai ter uma tendência de mudar,
09:04mas com certeza haverão perdas,
09:06e alguns grupos vão ter essa perda que você está falando
09:11pelo excesso de especificação do produto que você está mencionando.
09:16Sim.
09:17Professora Marisley, estudei economia em algum momento
09:20da minha formação acadêmica,
09:22eu acho que falta uma frase em todo o livro de teoria econômica,
09:26que é da linguagem popular,
09:29mas a gente até encontra um arcabouço na teoria,
09:32que é o seguinte, na economia se divide aqueles que choram
09:35e aqueles que vendem o lenço de papel.
09:37Vai ter um problema para muita gente,
09:40mas existem quais vantagens?
09:42Vamos tentar olhar o copo meio cheio,
09:45que é o seguinte,
09:45talvez sobre no mundo produtos de alto valor agregado,
09:50aqueles que iriam da Europa Ocidental para os Estados Unidos,
09:52da Ásia para os Estados Unidos,
09:54que por causa do custo vão ser diminuídos.
09:57O consumidor americano vai comprar menos.
10:01Estou criando aqui uma situação imagética
10:03de que sobre produtos de alto valor agregado.
10:06A gente pode ter um impacto deflacionário
10:10para alguns setores, para alguns produtos,
10:13e pode ser uma vantagem para compras de produtos
10:16de alto valor agregado.
10:17Por exemplo, de novo, estou fazendo um momento poliana aqui,
10:20tentando achar uma saída boa diante desse furacão.
10:24Eu acho que, em termos de a gente considerar as possibilidades, sim.
10:30Mas a gente vê também que, por exemplo,
10:33o caso da Europa,
10:35que a Europa estava comprando café do Brasil,
10:39quando eles pensaram que os Estados Unidos
10:44iam encarecer muito o café para a gente,
10:47eles já começaram a querer pagar menos no café.
10:50Então, a gente tem possíveis perdas
10:53e possíveis ganhos, dependendo do poder de barganha
10:57de quem nos atinge.
11:00Mas eu somaria para esse efeito que você está mencionando,
11:04que é o efeito que a gente vai ter.
11:06Pode ser que em alguns setores a gente tenha barateamento,
11:08porque aumente a oferta,
11:10que venha de outro país para a gente.
11:13Mas eu acho também que vai ter uma tendência
11:15de tentativa de autonomia,
11:18porque, assim, quando a gente estava na onda da globalização,
11:22a grande coisa era
11:23todo mundo pode produzir aquilo que tem vantagem na produção
11:29e comprar o que não tem vantagem.
11:31Então, essa era a grande coisa da globalização.
11:35Quando se quebra esse quadro,
11:37fica todo mundo muito preocupado
11:38se tem autonomia para viver sozinho ou não.
11:42Então, além desse efeito que você está mencionando,
11:45eu acho que as economias vão ter um efeito
11:47de tentar também fechar o mercado delas
11:50para tentar ganhar autonomia dos produtos que perderam.
11:54Então, aí esse movimento também pode dificultar
11:58também um pouco de exportação para outros países,
12:01mas, obviamente, como a gente tem,
12:04por exemplo, a gente predominantemente exporta commodities,
12:07normalmente os países precisam disso.
12:11Então, a gente tem menos riscos nesse sentido.
12:15Mas eu acho que sim, a resposta é sim.
12:17A gente pode ter alguns efeitos de encarecer alguns setores,
12:20de baratear outros,
12:22e de tentativas de voltar a ter autonomia
12:27no sentido de gerar aqui dentro também
12:29as empresas que deixaram de existir,
12:33assim como os Estados Unidos estão fazendo hoje,
12:35nesse momento.
12:36Voltamos ao campo das hipóteses.
12:39Todo mundo entendeu, professora Marislei,
12:41que estamos falando de uma equação
12:42que tem muitas variáveis.
12:45A gente deixa aí, talvez, futuras conclusões
12:47quando a gente tiver dados um pouco mais concretos.
12:50Queria agradecer a conversa que eu tive
12:51com a professora Marislei Nishijima,
12:55docente titular de Economia do Instituto de Relações Internacionais
12:59da USP, chamado IRI, aqui da Universidade de São Paulo.
13:03Professora Marislei, obrigado mais uma vez.
13:05Até a próxima.
13:06Até a próxima.
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