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O diretor executivo da Eurasia Group, Christopher Garman, analisa se o Brasil está preparado para enfrentar as recentes tarifas impostas pelos EUA. Ao Jornal Times Brasil, ele aborda os impactos econômicos, a estratégia diplomática e os cenários possíveis para mitigar os efeitos do tarifaço.

Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://timesbrasil.com.br/guerra-comercial/

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Transcrição
00:00Sobre a tarifa de 50% anunciada pelo Donald Trump e sobre a possível reação brasileira,
00:06eu converso agora com Christopher Garman, que é diretor executivo para as Américas
00:11na consultoria Eurasia Group.
00:14Boa noite, Garman. Prazer recebê-lo aqui.
00:17Pelo seu vínculo com colegas do Hemisfério Norte, lá da Eurasia Group,
00:22como é que a disputa entre Brasil e Estados Unidos tem sido vista globalmente?
00:30A tarifa que o Trump colocou sobre o Brasil se destaca porque tem um teor muito mais político
00:36do que econômico e comercial.
00:39Se a gente olha as tarifas que foram colegas até agora,
00:44muito foi focado na balança comercial, numa competição com a China,
00:49produtos que desviam de outros países para entrar nos Estados Unidos via as portas dos fundos.
00:55Mas essa foi uma tarifa que foi colocada quase explicitamente por razões políticas e ideológicas,
01:01onde a carta que o presidente Trump enviou para o Brasil explicitou diretamente
01:07o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, regulação das redes.
01:11Então, chamou atenção nesse sentido,
01:13que foi um uso de tarifas por um objetivo mais político do que comercial.
01:19O Brasil, havia expectativa que o Brasil poderia entrar na primeira leva de países no 2 de abril,
01:27não entrou e aparentemente foi só postergado porque essa relação bilateral, de fato, é bem problemática.
01:35Armando, é o seguinte, olhar o governo Donald Trump,
01:39que ele não é novíssimo, a gente já teve uma experiência de um primeiro mandato entre 2017 e 2021.
01:45Colocar mandato de Donald Trump e previsões está se tornando uma contradição em termos.
01:52Não cabem na mesma frase.
01:54Uma função como a sua fica cada vez mais complicado que fazer previsões.
01:58Ele desrespeita qualquer liturgia do cargo, rasga a diplomacia,
02:04ele manda cartas para presidentes com teores misturando o público com o privado,
02:10as funções de executivo, citando o judiciário,
02:14e ele torna as cartas públicas antes de mandar para o destinatário,
02:19pelas vias diplomáticas, o que seria o normal previsto pelos Estados Unidos nos últimos 240, 250 anos.
02:27Agora, olhando para frente, queria olhar um pouco dentro dessa atmosfera de imprevisibilidade
02:34dos Estados Unidos, sob a batuda do Donald Trump,
02:38já se tem um cálculo do chamado custo Estados Unidos,
02:42dessa insegurança administrativa,
02:45porque o tarifácio era uma promessa de campanha.
02:48Ele começa a colocar a partir do momento em que ele toma posse.
02:51No tal dia da libertação, isso já mudou de cálculo,
02:54já mudou de justificativa, já mudou de data,
02:57já mudaram os países atingidos.
02:59Existe ali esse custo da imprevisibilidade.
03:04Como é que isso é colocado nos relatórios de vocês para os clientes que te perguntam
03:09o que a gente pode esperar do Donald Trump?
03:12Não, perfeito.
03:13Eu até diria que é muito difícil você antecipar decisões específicas
03:18que esse segundo governo Donald Trump está encaminhando.
03:22Mas no início do ano, a nossa leitura da Eurásia
03:25era que esse segundo mandato ia ser muito diferente do primeiro.
03:28É porque o Donald Trump está entrando nesse segundo mandato
03:31com muito mais confiança de si mesmo.
03:34Ele está rodeado de um secretariado muito mais leal a ele.
03:37Ele controla o Partido Republicano com uma mão de ferro.
03:40Então, é um presidente que entra sem freios nas suas convicções.
03:45E, no fundo, é um presidente que acredita piamente no uso de tarifas
03:49para, pelo menos, atender um desequilíbrio
03:53que ele vê como histórico nas relações comerciais entre os países.
03:56e um movimento político com um compromisso sério
04:01de fazer uma reindustriação do país.
04:03Então, a gente sempre viu que esse segundo mandato
04:06ia ser bem diferente do primeiro.
04:09Mas as vindas e vindas são muito difíceis de você antecipar.
04:12É um presidente que estica a corda,
04:15aí ele recua quando ele está vendo um desastre econômico pela frente,
04:19o recuo vem e aí ele estica novamente.
04:22Então, assim, acreditar que tudo isso é só para negociar um bom acordo
04:28de comércio e que vamos voltar para o negócio normal,
04:33a nossa mensagem na Eurásia é que os mercados estão subestimando,
04:36pelo menos, o desejo político para essa reindustrialização,
04:41um presidente que não tem paciência e tem muita pressa e convicção nas suas visões.
04:46Então, infelizmente, acreditamos, e as vezes me alertando,
04:49que provavelmente a comunidade americana deve desacelerar mais
04:53do que os mercados estão antecipando com um pouco mais de inflação.
04:57Agora, as vindas e vindas, mas é difícil a gente antecipar.
05:00Por exemplo, a gente não estava antecipando esses 50% sobre o Brasil.
05:04A gente não antecipou especificamente a carta de 30% sobre México e Canadá,
05:08que veio nesse sábado.
05:09Então, a gente, e a aposta na Casa Branca é que não vai ter recessão
05:15e que o impacto inflacionário não vai ser tão grande.
05:18Então, a gente só vai saber mais para o final desse ano e entrando nisso no ano que vem.
05:23Garman, estava esperando a nossa conversa avançar um pouquinho
05:26para eu ganhar uma certa flexibilidade com você.
05:30Eu vou esquentar a batata e jogar para você descascar, que é o seguinte, né?
05:34Eu recebi uma orientação de um colega que é um catedrático das relações internacionais,
05:40inclusive mora nos Estados Unidos, leciona nos cursos superiores nos Estados Unidos.
05:44Ele me disse o seguinte, ó, esquece um pouco os manuais de relações internacionais
05:49e olha mais para o Art of Negotiation, que é um best-seller, né?
05:56Supostamente escrito pelo Trump, se é que ele não teve um ghostwriter,
05:59mas que o próprio Donald Trump, ele se orgulha muito de vender e fazer parte aí
06:05da biografia e bibliografia dele.
06:09E o Art of Negotiation fala muito desse brinkmanship, né?
06:13Aperta o seu adversário no mundo dos negócios, chuta uma exigência lá em cima.
06:20Quando você sentir um enfraquecimento do seu adversário,
06:24quando ele vier para a sua mesa de negociação, você começa a dar as cartas.
06:29Isso está escrito, não nessas linhas, estou fazendo aqui um recorte geral,
06:33mas está na famosa Art of Negotiation, dispensa a tradução aí do livro do Trump.
06:39Fazendo uma analogia para uma mesa de pôquer, é o seguinte,
06:42você apresenta para o seu adversário ali aquele bolo de fichas e fala,
06:48estou com uma carta boa na mão.
06:50O seu adversário vai recuar, chama blefe.
06:53Funciona uma vez, funciona uma segunda vez.
06:57Na terceira, já começa a ter uma certa desconfiança.
07:01Nos Estados Unidos, surgiu uma expressão jocosa contra o Donald Trump,
07:07que é o TACO, né?
07:09Trump always chicken out.
07:12Ele se acovarda, ele amarela, né?
07:15Eles usam a expressão de galinha, nesse sentido que ele foge
07:18quando a situação não está mais favorável para ele.
07:23Então, pode ser que estejamos vendo mais um blefe?
07:27E se for, concorda comigo que é a última vez que ele usa essa cartada?
07:31Porque aí começa a ficar muito manjada, né?
07:33É verdade.
07:34Não, a expressão Trump always chicken out é exatamente essa noção
07:38que você colocou na mesa, Marcelo.
07:40Porque ele joga uma tarifa enorme, desastrosa, catastrófica,
07:45e aí ele acaba recuando quando ele enxerga
07:47que esticou a corda demasiadamente.
07:52Mas eu vou lhe dizer a razão que eu não gosto dessa expressão,
07:55não acho que representa bem a dinâmica do governo Trump.
07:58Porque a expressão Trump always chicken out,
08:03no fundo, tenta conotar e sugerir
08:07que o Trump está ameaçando tarifas,
08:11mas, no fundo, ele não vai fazer uma política tarifária profunda
08:15que possa levar a economia para um equilíbrio pior.
08:20Então, ele está só tentando negociar um bom acordo.
08:22Mas vamos comparar o primeiro mandato com o segundo mandato.
08:25No primeiro mandato, a tarifa média de todos os produtos
08:28que estão na economia americana estava em 1,5%.
08:31No final do mandato, o Trump chegou a 2,5%.
08:34Nesse segundo mandato, nós estamos com uma tarifa média
08:38que foi de 2,5% para 18%.
08:43No 2 de abril, foi para 25%.
08:45Então, quando ele recuou, ele recuou de 25% para 15%
08:50e agora está em 18%.
08:51Então, aquele primeiro recuo,
08:54até nem sei se foi tão check-in-out assim,
08:57porque foi um recuo do catastrófico para o desastroso.
09:02A grande pergunta, acho que no mercado hoje é
09:05será que levar a tarifa média para algo próximo de 15% a 16%
09:10é tão ruim no lado de inflação e crescimento
09:12quanto os economistas estavam projetando nisso desse ano?
09:15O que a gente tem vindo com os dados econômicos
09:17é que a inflação não está subindo ainda,
09:19a economia não está subindo tanto.
09:21Então, a gente está vendo que as bolsas estão muito valorizadas
09:24a despeito de um nível tarifário razoavelmente elevado.
09:27mas o desafio é que não vamos saber se esse efeito virá ou não
09:32porque tem uma defasagem entre momentos de tarifa e impacto de preço.
09:36Então, isso a gente só vai conseguir saber
09:37mais para o final do segundo semestre desse ano.
09:40Do meu ponto de vista,
09:42isso não é um presidente que está recuando para um patamar normal.
09:46É um presidente que está seriamente comprometido
09:48com uma política industrial mais profunda.
09:50Ele está muito convicto das suas preferências.
09:53Se você conversa com as pessoas ao redor do presidente Trump na Casa Branca,
09:57eles descrevem esse governo como um governo revolucionário
10:00que está querendo atender a classe trabalhadora americana
10:03e não vão ficar refém dos interesses de Wall Street.
10:06Então, é um governo bem diferente, sim, do primeiro mandato.
10:11Acho que ele vai esticar esse programa
10:14até a corda e vamos ver se dá certo ou não.
10:19Garman, excelente você ter chegado nesse ponto.
10:21Deixa eu pegar um rabicho da sua resposta anterior
10:23para falar da classe trabalhadora.
10:26Vamos falar de classe média, classe média baixa, classe operária,
10:29que não coincidentemente, assim como nos Estados Unidos e aqui no Brasil,
10:33são a massa populacional e, consequentemente, a maior massa de eleitores.
10:38Quero chegar na parte do capital político.
10:41Eu acho que falta uma frase, que ela é basilar,
10:44mas não está escrito desse jeito em nenhum manual de política
10:47nem de relações internacionais.
10:48que o eleitor, ele vota sempre com a parte mais sensível do corpo,
10:53que é o bolso.
10:54A partir do momento em que o bolso é ferido,
10:57as preferências políticas vão de um lado para o outro,
11:01tirando aqueles que estão mais arraigados nas suas ideologias.
11:05Mas, de um modo geral, o eleitor vai atrás daquele que tem a melhor promessa
11:09de qualidade de vida ou aquele que feriu menos a renda familiar.
11:14Olhando para isso, nessa guerra comercial entre Estados Unidos e Brasil,
11:19vamos manter os dados sólidos que nós temos até hoje.
11:22Em 1º de agosto, são 50% de tarifação para o Brasil.
11:26Produtos que a gente manda para os Estados Unidos,
11:27que fazem parte da matéria-prima, commodities,
11:31vão desde a cesta básica até a construção de carros,
11:34fica mais caro.
11:35Para cá, nem se falha.
11:37A gente compra dos Estados Unidos muito material de alto valor agregado,
11:41celular, computador, só para citar dois exemplos.
11:44Vai ficar mais caro para essas classes,
11:47para o americano e o brasileiro médio.
11:49Fazendo esse cálculo de futurologia,
11:52o que pode sobrar de capital político
11:54para o presidente Lula e para o presidente Donald Trump?
11:58Sabendo que as próximas eleições,
12:00na polarização que nós temos aqui,
12:02como nós temos nos Estados Unidos,
12:03não é só a aceitação do candidato,
12:06mas o nível de rejeição do candidato.
12:09E aí eu volto nessa teoria, nessa tese do capital político.
12:14Perfeito.
12:15Acho que a sua pergunta é central.
12:17Porque a tese,
12:19vamos examinar o capital político do presidente Trump
12:22e depois a situação política do presidente Lula.
12:26O presidente Trump e o governo dele estão fazendo uma aposta.
12:29Que se você fizer uma política
12:31de aumentar as barreiras tarifárias,
12:33isso deve incentivar mais investimentos para os Estados Unidos.
12:37Você deporta imigrante ilegal
12:39e para o fluxo de entrada de imigrante ilegal.
12:42Isso eleva o poder de salários.
12:44Você reduz impostos e você reduz regulação.
12:47Isso é o receituário
12:49para uma nova onda de investimentos
12:51que possa reindustrializar o país
12:52e dar empregos para essa classe trabalhadora
12:55que ficou perdida no cinturão americano.
12:57O problema é que você gera tanta incerteza tarifária
13:03que o empresário não sabe qual é que vai ser o nível de tarifas
13:06não só nesse próximo ano,
13:07mas nos próximos cinco anos, se vai perdurar.
13:10Então, os investimentos não vêm
13:11e o que fica mais
13:13é mais inflação, mais custo e menos crescimento econômico.
13:17E provavelmente esse custo inflacionário
13:19só chega no final desse ano.
13:22Então, na nossa avaliação da Eurásia,
13:24o presidente Trump provavelmente vai pagar um preço político
13:27nas eleições do ano que vem,
13:29porque a grande calcanhar de Aquiles
13:31que ajudou o Trump que foi eleito
13:33foi custo de vida, foi inflação.
13:35Isso aconteceu nos Estados Unidos e boa parte da Europa.
13:38Vamos para o presidente Lula.
13:40O presidente Lula, no curto prazo,
13:42pode ter um ganho político, sim,
13:43na medida que ele culpabiliza Jair Bolsonaro
13:47e Eduardo Bolsonaro
13:48pela tarifa imposta pelo Brasil.
13:50Então, claramente, o Passo Panalto
13:51vai fazer um argumento de nacionalismo,
13:54argumentando que a oposição está abraçada
13:57com o governo que está querendo tirar empregos do Brasil.
14:00Mas o grande calcanhar de Aquiles do Lula
14:03também é a inflação.
14:04O custo de alimentos foi o que realmente levou
14:06à queda de popularidade do presidente Lula
14:08nos primeiros seis meses do ano.
14:09Então, para o presidente Lula, o que é importante?
14:11Que o dólar permanece valorizado
14:13e que você não tenha inflação vindo de fora.
14:16Então, a retaliação do governo Lula
14:18vai ter que ser bem cautelosa.
14:20Assim, vai ser um tiro no pé,
14:21se, de fato, retaliar dando tarifa de produto americano,
14:24porque isso vai penalizar o consumidor brasileiro.
14:27Por isso que eles estão falando em quebra de patentes.
14:29Mas, mesmo assim, isso pode levar a uma retaliação americana.
14:32Igualmente importante,
14:33se você tem uma guerra comercial com os Estados Unidos,
14:35isso pode impedir o fortalecimento do real,
14:38que tem ajudado a inflação nesse primeiro semestre desse ano.
14:42Então, veja que, mesmo que no curto prazo
14:45o Lula pode ganhar com essa onda nacionalista,
14:47culpabilizando o Bolsonaro,
14:49o importante é onde é que vai estar a inflação
14:51e custo de vida no ano que vem.
14:53E a eleição vai daqui a um ano e quatro meses.
14:55Então, tem muito tempo pela frente.
14:57Então, não está claro para mim que o Lula
14:59sai ganhando com essa brincadeira toda.
15:01Bom, a gente chega diante dessas premissas,
15:05por enquanto, Garman,
15:07que estamos falando de uma equação que tem muitas variáveis
15:11e elas têm muito a mudar até o final do ano que vem,
15:14quando há eleições no Brasil
15:16e também eleições legislativas nos Estados Unidos.
15:19Conversei com o Christopher Garman,
15:21diretor executivo para as Américas na Eurásia Group,
15:24a quem eu agradeço muitíssimo.
15:26É sempre uma garantia de uma aula rápida aqui,
15:29quando a gente ouviu o Christopher Garman falar.
15:33Queria fazer um elogio público.
15:34Garman, o seu material, os seus relatórios balizam o meu trabalho.
15:39É um elogio público, um agradecimento aqui.
15:42Espero que tenha sido a nossa primeira conversa de muitas.
15:44Até uma próxima.
15:45Agradeço o convite.
15:46É sempre uma honra poder participar.
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