Com o tarifaço imposto por Donald Trump, o Brasil enfrenta um dilema: responder com reciprocidade ou buscar a via diplomática? Pedro Abramovay, doutor em ciência política e VP de programas da Open Society Foundations, analisa os possíveis caminhos e suas consequências econômicas e políticas.
Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://timesbrasil.com.br/guerra-comercial/
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00:00Estou de volta. O Brasil fornece 30% do café consumido nos Estados Unidos.
00:06Por isso, a tarifa de 50% anunciada por Trump está preocupando o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil.
00:13O diretor-geral do C-Café afirma que a decisão do presidente americano é uma notícia muito dura para o Brasil.
00:20De acordo com Marcos Matos, a relação comercial entre os dois países, sem as taxas, é benéfica para ambos.
00:27Ele disse que cada dólar gasto pelos Estados Unidos com a importação de café brasileiro gera 43 dólares na economia americana.
00:37E lembra ainda que concorrentes diretos do Brasil na produção e exportação de café tiveram tarifas menores.
00:46No caso do Vietnã, por exemplo, a taxa caiu de 42% para 20% depois da negociação.
00:53Sobre os impactos da tarifa de 50% anunciada por Trump, eu converso agora com o doutor em ciência política e vice-presidente de programas da Open Society Foundations, Pedro Abramovay.
01:07Pedro, boa noite para você. Obrigada por ter aceitado o nosso convite.
01:10Bom, as tarifas estão previstas para entrar em vigor no dia 1º de agosto.
01:15Há tempo de uma solução negociada até lá? A gente está falando de 20 dias. Qual é a sua expectativa?
01:20Há tempo sim. Pelo que a gente viu nos outros casos, o Trump coloca essas tarifas, sobe o tom e quase sempre depois volta atrás e coloca tarifas tão altas ou ameaças tão altas para depois poder negociar.
01:39Então, a expectativa geral é a de que ele volte atrás.
01:43A complicação nesse caso, acho que é essa mistura do componente político que o Trump colocou no caso brasileiro, quando ele abre a carta falando do seu amigo Jair Bolsonaro.
01:54Então, isso é uma novidade. Isso não aconteceu em outros lugares dessa maneira e torna mais difícil de prever num presidente que já é bastante imprevisível como o Donald Trump.
02:03Pois é, como é que se avalia o teor dessa carta que tem muito mais uma pegada política ideológica do que comercial, como você bem disse?
02:13O começo da carta já cita o ex-presidente Jair Bolsonaro, depois ele fala do nosso Supremo Tribunal Federal. Qual é a sua análise?
02:21Não, ela é algo absolutamente inédito, né? Assim, na política comercial, na diplomacia, na relação entre Brasil e Estados Unidos.
02:29Você vincular uma decisão, um julgamento da Suprema Corte com tarifas é algo que está fora de qualquer padrão.
02:38Claro que é inédito tanto do ponto de vista americano, um presidente americano querer fazer isso por meio de tarifas com o Brasil,
02:46é inédito também do ponto de vista brasileiro.
02:48Quer dizer, que um caso brasileiro que alguém peça ajuda para um presidente americano
02:53para colocar castigo sobre a economia brasileira como forma de chantagem sobre a Suprema Corte
02:59para que isso possa gerar impunidade.
03:02Então, isso é muito ruim e atrapalha muito as conversas,
03:05porque traz a conversa da política, da questão interna, da proteção da democracia, inclusive,
03:12misturada com a questão comercial.
03:15Claro que os Estados Unidos têm tradição de interferência em democracias na América Latina,
03:20mas isso nos anos 60 e 70, quando diretamente apoiavam golpes militares.
03:25A gente achou que esse tempo tinha passado, e isso traz esses fantasmas de volta,
03:29que são os Estados Unidos não manifestar apreço para a democracia no Brasil,
03:34mas ao contrário, tentar interferir nela da pior maneira possível.
03:38Pedro, se não houver um acordo ou um recuo até 1º de agosto,
03:43é possível dimensionar o impacto no mercado e nas exportações brasileiras?
03:47É, é possível dimensionar tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos,
03:52e esse, no fundo, é um dos trunfos do Brasil nessa questão.
03:56Quer dizer, diferentemente, a gente estava ouvindo agora na matéria o caso do Vietnã.
04:01O Vietnã é um país que 25% do PIB vietnamita depende do comércio com os Estados Unidos.
04:08No caso brasileiro, a gente está falando de menos de 2%.
04:10Claro que menos de 2% do PIB é muita coisa, e claro que isso atrapalha a economia brasileira,
04:15mas não é uma facada de morte.
04:17Então, o Trump escolher, para politizar o debate, para querer colocar isso na mesa,
04:23um país como o Brasil, com o qual os Estados Unidos têm superávit comercial,
04:27ou seja, a gente compra mais deles do que eles compram da gente.
04:31Então, parece uma estratégia ruim.
04:34Por exemplo, no caso brasileiro, é claro que isso afeta vários produtos que a gente produz,
04:42tanto no agro, como café, suco de laranja, como, acho que esse é um ponto importante,
04:46os Estados Unidos são um dos principais compradores de produtos industrializados brasileiros.
04:50A China, por exemplo, compra pouco, compra muito mais matéria-prima, minério.
04:56Nos Estados Unidos, não, compra avião, compra coisas que são importantes para o Brasil.
05:00Então, claro que isso é muito ruim.
05:02Mas vamos pegar como essas coisas são interconectadas.
05:05O avião da Embraer, por exemplo, ele é feito basicamente de peças americanas.
05:10Então, o avião da Embraer, a gente exporta para os Estados Unidos peças americanas,
05:15que a gente comprou dos americanos, e devolve na forma de avião.
05:19Então, quando os Estados Unidos colocam uma taxa e param de comprar o avião da Embraer,
05:23ele afeta a Embraer, mas ele afeta a indústria americana,
05:26que produz o motor, que produz os propulsores que estão vindo de lá.
05:31Quando o Trump coloca a tarifa no suco de laranja, no café,
05:35suco de laranja no cacau brasileiro, esses produtos,
05:39quer dizer, suco de laranja, 50% do suco de laranja que os americanos consomem vem do Brasil.
05:46Ou seja, o preço do café da manhã, 30% do café,
05:49a Starbucks, 22% do café da Starbucks americana é brasileiro.
05:54Então, vai subir o preço do café na Starbucks,
05:56vai afetar o consumidor americano diretamente se ele mantiver isso.
06:01Então, quando o Brasil entrar na negociação,
06:03a gente tem que saber que é claro que tem que negociar,
06:05mas tem que entender, e Trump claramente prefere negociar com quem joga duro com ele,
06:10mas tem que entender que também é ruim para os Estados Unidos.
06:15Tem que jogar, claro, com o efeito que isso tem para o consumidor americano,
06:19e entender que a gente não pode, do ponto de vista da negociação comercial,
06:25realmente não faz sentido o Brasil simplesmente aceitar isso.
06:29E tem muitas maneiras de responder.
06:31Agora, do ponto de vista da democracia,
06:32isso não tem a menor chance do Brasil aceitar que isso faça parte da negociação.
06:38Então, o momento agora é de, com frieza, com serenidade,
06:42deixar claro que a gente sabe que isso tem peso para os Estados Unidos,
06:46que quer negociar e que não vai ceder nesses pontos centrais,
06:50que são os pontos de defesa da democracia.
06:52O tom que o presidente Lula está usando até agora em relação a isso
06:55é o mais adequado, na sua opinião, Pedro?
06:58Acho que é bastante adequado, porque a gente não pode nem, claro,
07:03ter um tom histriônico, como a gente viu alguns presidentes já terem nesse momento,
07:08isso, claro, atrapalha, enfraquece, nem um tom de brigar para brigar,
07:12mas não pode ter um tom de abaixar a cabeça.
07:15Não é o momento.
07:16Trump claramente não valoriza negociadores que abaixam a cabeça quando ele fala algo.
07:22Então, é importante deixar claro que existe uma linha que não será ultrapassada.
07:27O Supremo Tribunal Federal não vai mudar de decisão
07:30por ameaça de um presidente americano, seja ela qual for.
07:35Isso não faz parte da nossa tradição e nossa democracia é mais forte que isso.
07:39Então, dizer isso de maneira clara é importante.
07:43Dizer também que a gente sabe que quer esse comércio,
07:46que é um comércio importante para os dois países,
07:48e colocar essa disposição de negociar também.
07:51Eu sinto que o presidente Lula tem navegado nos dois sentidos.
07:55Claro que vai haver politização disso para dentro do Brasil.
07:59E, de alguma maneira, é importante que haja, porque é inadmissível
08:02que uma pessoa que está sendo condenada, um ex-presidente sendo condenado,
08:06que acha razoável que, para conseguir a sua impunidade,
08:12socorra-se ao presidente de outro país, colocando penas na economia brasileira.
08:19Então, essa linha é muito fina e tem que navegar com muito cuidado
08:23da questão política brasileira, da serenidade na resposta
08:27e da defesa da soberania nacional,
08:29que acho que o presidente Lula, nesses dias, tem feito de maneira bastante adequada.
08:33Vou passar para a pergunta dos nossos analistas.
08:36Vamos começar pela Júlia Lindner.
08:39Júlia, fica à vontade para fazer a sua pergunta para o Pedro.
08:44Pedro, com toda essa situação, especialmente no Brasil,
08:46que tem agora esse fator político muito claro na carta,
08:49mas também considerando as outras cartas que têm sido enviadas,
08:53o quanto você acha que isso vai mudar a dinâmica global de negociação?
08:57E também se acha que isso vai influenciar no fortalecimento de blocos,
09:01outras dinâmicas que podem surgir a partir de agora,
09:04com essa incerteza toda gerada por Trump?
09:08Já mudou completamente.
09:09O Trump conseguiu bagunçar a credibilidade das negociações comerciais
09:14de maneira que a gente nunca tinha visto.
09:16Não dá mais.
09:17É muito difícil confiar nos Estados Unidos
09:19em uma negociação agora, depois de tudo que aconteceu.
09:23A gente nunca sabe se as ameaças vão ser cumpridas,
09:26se a negociação é feita de boa fé, se existe uma disposição
09:29de criar uma integração econômica entre os países.
09:33Isso muda muito.
09:34Então, gera também a necessidade.
09:36O Brasil é um país, como eu falei aqui antes,
09:39que depende, que tem um comércio com os Estados Unidos,
09:41é um parceiro comercial importantíssimo,
09:44mas a dependência econômica desse comércio é relativamente baixa.
09:47Se a gente compara com Malásia, com Biatinã,
09:51com outros países, inclusive na América Latina,
09:53claro, México, Canadá, uma série de países no mundo
09:56que têm uma dependência gigantesca dos Estados Unidos
10:00e que perceberam que essa dependência é danosa a esse país.
10:05E a partir disso, começam a buscar outros mercados.
10:08E essa é uma oportunidade para o Brasil.
10:10O Brasil, inclusive, acho que deve conversar mais com outros países,
10:13deve trocar mais com o país da África, do Sudeste Asiático, do Golfo,
10:17para o Golfo Pérsico,
10:19como maneira de buscar essa diversificação
10:23em países que já não veem nos Estados Unidos
10:25um porto seguro para a sua negociação comercial.
10:29Alberto, pode fazer sua pergunta.
10:32Pedro, pode ser que não seja o mais importante para o Trump
10:36defender a questão do Bolsonaro,
10:39eventualmente pode ser que seja um pouco mais importante
10:41a questão das redes sociais,
10:44mas o que você imagina,
10:45o que está por trás do teor e da forma dessa carta?
10:50Qual teria sido o motivador,
10:52ou a gota d'água,
10:54ou o ego ferido nesse processo todo?
10:59Muitos analistas no mundo inteiro,
11:01e principalmente nos Estados Unidos,
11:03estão há muito tempo tentando entender
11:05o processo decisório do presidente Donald Trump
11:07para qualquer assunto.
11:08Então, aí é quase um pouco de bruxaria,
11:13quase, para tentar entender isso.
11:16Mas eu acho que tem alguns fatores, sim,
11:18acho que a gente pode tentar fazer quase que uma arqueologia
11:20dessa decisão.
11:22Claro que uma série de assessores do Donald Trump
11:25tem brifado ele sobre a questão do Bolsonaro,
11:28uma série de assessores do Donald Trump
11:29tem colocado o tema das big techs
11:31como termos relevantes,
11:32e isso estava um pouco ali
11:33quicando na pequena área
11:35das conversas com o Donald Trump.
11:38Quando, nesse momento,
11:39onde ele vai enviar as cartas,
11:41o presidente Lula aparece
11:44com o destaque que apareceu
11:46hospedando no Brasil
11:48como anfitrião dos BRICS,
11:50que teve uma enorme cobertura
11:51na mídia americana,
11:53eu acho que isso foi um pouco a gota d'água.
11:55Não que assim,
11:57ah, então os BRICS é uma obsessão
11:59do presidente Trump por causa disso,
12:00é essa coisa do momento,
12:02quer dizer,
12:02a gente sabe como essas decisões são tomadas,
12:04ele está ali no Salão Oval,
12:06vê os BRICS,
12:06está irritado com o Lula,
12:08lembra que tem a questão do Bolsonaro,
12:09alguém fala,
12:10olha só,
12:10a gente precisa mesmo,
12:11e tem essa questão das techs,
12:13e aí coloca tudo numa carta
12:14absolutamente,
12:16ele tem um copia e cola,
12:17fala como se a gente não tivesse superávit,
12:20se eles não tivessem superávit comercial
12:22com o Brasil,
12:23é uma carta completa,
12:24então a atrapalhada do texto da carta,
12:28a gente reflete um pouco a atrapalhada
12:29no processo de decisão,
12:30onde todos esses fatores,
12:32acho que foram levados em conta,
12:33o que também,
12:34de alguma maneira,
12:35ajuda a pensar
12:36que pode,
12:37do mesmo jeito que foi tão confuso
12:40o processo de decisão,
12:41pode ser também que isso,
12:43ele mude de ideia rapidamente,
12:44aceite alguma negociação,
12:46como aceitou com tantos outros países.
12:48Pedro,
12:48para a imagem e a reputação
12:50do governo Lula,
12:51e até o presidente Lula propriamente,
12:54já é possível fazer uma avaliação
12:56do impacto desse episódio?
12:57Eu acho que no Brasil,
13:01é uma imagem,
13:02acho que é do ponto de vista político
13:04para o presidente Lula,
13:06é algo positivo,
13:08no sentido que ele consegue reunir,
13:12em torno dessa ideia de soberania,
13:15de defesa do país, etc.,
13:17uma série de setores que não estavam,
13:19não tinha nada aglutinando em torno do governo
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