As tarifas impostas pelos Estados Unidos impactaram exportações brasileiras: vendas para os EUA caíram 25% entre agosto e outubro, mas as exportações totais cresceram 6%. Eduardo Saldanha, pós-doutor em direito internacional, e Vinicius Torres Freire analisam como o Brasil diversifica mercados, aproveita preços de commodities e enfrenta desafios em produtos industriais.
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00:00E o tarifácio imposto por Donald Trump vem provocando uma reconfiguração das exportações brasileiras.
00:06Se por um lado o Brasil perdeu espaço no maior mercado do mundo, por outro, conseguiu aumentar exportações para outros países como China e Argentina.
00:15Resultado? As exportações para os Estados Unidos caíram 25% de agosto a outubro, mas as exportações totais do Brasil cresceram 6% no mesmo período.
00:25Quem vai ajudar a gente a entender esses números é o Eduardo Saldanha, pós-doutor em Direito Internacional e o nosso analista Vinícius Torres Freire participa da entrevista.
00:35Eduardo, boa tarde, tudo bem com você?
00:38Boa tarde, Turci.
00:39Eduardo, obrigado pela sua participação.
00:41Bom, para começar, o que esses números dizem sobre a versatilidade das exportações brasileiras e a nossa dependência do mercado americano?
00:50Diz duas coisas fundamentais.
00:55Primeiro, é que o Brasil não tem mais uma grande dependência do mercado dos Estados Unidos, que tinha durante muitos anos.
01:02Então isso mostra uma maior diversificação da pauta de exportações brasileiras.
01:08E, por outro lado, mostra também um impacto das medidas tarifárias do governo dos Estados Unidos com relação a outros países.
01:16Se você for pensar bem, quando há imposição de tarifas a outros países, assim como está havendo com o Brasil, o mercado continua aberto, o mercado continua precisando de produtos.
01:29Enquanto ele precisa de produtos, e esses produtos sofrem com retaliações tarifárias, com tarifas muito altas, abre-se uma oportunidade muito grande para produtores, para produtos que nunca entraram em determinados mercados.
01:46Como, por exemplo, a Índia, como, por exemplo, a China.
01:49Mercados que não eram tão explorados pelo Brasil, passam a ser um destino muito importante e uma saída essencial para manter o superávit da nossa balança de importações e exportações.
02:01Vinícius?
02:02Agora, é claro que a gente diversificou, é claro que os Estados Unidos por hora não estão fazendo impacto, mas ainda eram ou são o segundo mercado, o maior mercado para o Brasil em termos de países sem considerar blocos.
02:16E parte desse ganho nas exportações se deveu a preço. Café, a gente teve redução de quantidade, mas aumento de preço. Frutem, a gente, no entanto, conseguiu aumentar a quantidade.
02:27E tem mercados que têm produtos para os quais a indústria brasileira, a economia brasileira não vai achar produtos, como é o caso da indústria.
02:36Então, assim, Estados Unidos continua sendo essencial, de alguma maneira. Até porque perder um mercadão desse tamanho, mesmo conseguindo outros mercados, é problema, não é?
02:45Com certeza. O mercado dos Estados Unidos é e jamais deixará de ser muito importante para o Brasil.
02:53Muito deste ganho, desse superávit da nossa balança comercial, vem também a essa oscilação dos preços das commodities, né?
03:00Quanto mais esses preços da commodities oscilam, mais isso afeta a balança comercial.
03:07Isso não tira a importância dos Estados Unidos como um destino muito importante das nossas exportações,
03:14por ser um mercado que consome muitos produtos primários e alguns produtos secundários e terciários do Brasil,
03:22com uma fome muito grande, diferentemente de outros países.
03:27Então, o mercado norte-americano nunca deixará de ser muito importante para o Brasil.
03:31Mas há aí uma luz no fim do túnel, mostrando que o Brasil tem saídas temporárias, mesmo porque tais tarifas não são para sempre.
03:41Agora, no macro, a gente tem esse olhar positivo de um país que está se virando e conseguindo alternativas.
03:48Mas quando a gente olha por setores, a situação é mais complicada, né?
03:52Quer dizer, pensando em commodities, é muito mais fácil encontrar mercado alternativo para commodities.
03:57Agora, se a gente fala de produtos industriais, caso de máquinas, caso de produtos de madeira, por exemplo,
04:02que é um setor que a gente, inclusive, entrevistou aqui no Radar na semana passada,
04:06os produtos são muito customizados, atendem a padrões, exigências técnicas.
04:11Quer dizer, fica muito mais difícil e leva muito mais tempo encontrar essas alternativas, né?
04:16Nós não podemos esquecer que, além de barreiras que nós chamamos de barreiras tarifárias, né?
04:22Que, nesse caso, muitos são salvaguardas, muitos são sobretaxas.
04:26Nós temos também as barreiras de caráter não tarifário, que são barreiras técnicas.
04:30Barreiras técnicas que cada país coloca de uma determinada forma.
04:34Então, você entrar num mercado tendo que acessar novas barreiras técnicas,
04:39novas barreiras qualitativas, é muito difícil e leva um tempo.
04:43Um tempo grande de adaptação da própria indústria brasileira de produtos com alto valor agregado.
04:50É exatamente por esse motivo que, num primeiro momento,
04:54neste momento de adaptação da indústria brasileira a novos mercados,
04:58há uma oscilação para baixo e para cima.
05:01Agora, teve essa notícia de sexta-feira, uma redução de...
05:07Quer dizer, a anulação daquele 10% de tarifas recíprocas para o mundo inteiro
05:12para uma lista enorme de alimentos e fertilizantes.
05:15E alimentos e coisas similares, né? E fertilizantes.
05:18Agora, o Brasil continua em 40%.
05:19Continua em 40% para carne, café.
05:22E aí?
05:22Agora está tendo um debate seguinte, político.
05:25O Brasil está com mais problema ou menos?
05:28Porque agora os Estados Unidos podem ter um alívio de preços relativo,
05:32porque café depende muito do Brasil ainda.
05:35Pode ter um alívio de preços relativo.
05:37E esse era o problema do Trump, esse era o problema do Partido Republicano imediato,
05:42porque a popularidade está baixa e a eleição...
05:44Eles perderam a eleição parcial por causa de queixa de custo de vida.
05:50Agora isso deve ser atenuado, pelo menos.
05:52E aí? O Brasil fica numa situação pior ou melhor para negociar?
05:56O Brasil fica numa situação bem delicada nesse momento.
06:00Porque nós não podemos esquecer que, além de todas as tarifas de exportação e importação
06:05que estão sendo impostas, há uma pressão interna nos Estados Unidos
06:09daqueles consumidores internos.
06:11Se você pegar setor por setor, o setor da agropecuária, o setor do café,
06:18ele consegue buscar novos fornecedores em países que estão saindo desta lista negra dos Estados Unidos
06:26de altas imposições tarifárias.
06:29Não esquecendo que essas tarifas são sobretaxas.
06:33Pode haver uma diminuição na tarifa geral, mas essas sobretaxas ao Brasil, elas continuam.
06:38Enquanto que sobretaxas a outros países que são concorrentes do Brasil dentro do mercado dos Estados Unidos,
06:45como, por exemplo, no mercado de café, esses produtos serão muito mais acessíveis.
06:50E toda esta abertura que está sendo feita, esse jogo político feito por Donald Trump,
06:56ele também leva em consideração a pressão do mercado interno,
07:00que também não suporta altas tarifas, porque isso diminui o consumo,
07:05isso aumenta os preços dentro dos Estados Unidos.
07:08Essa diminuição de tarifas para países seletos acaba piorando,
07:14colocando o Brasil numa posição um pouco mais delicada.
07:17Agora, uma outra questão em relação, nessa mesma linha, se melhorou ou se piorou.
07:23Quer dizer, a gente passou de 50% para 40%, então, para esses produtos apresentados na lista desse documento assinado por Trump na sexta-feira.
07:33Isso foi para o mundo inteiro, no que diz respeito a esses produtos.
07:37Então, tem país que tinha 10% e passou até zero.
07:39A gente passou de 50% para 40%.
07:41Quem tinha 20% talvez tenha passado para 10%.
07:44No fim das contas, é vantagem para a gente, nesses mercados, cair de 50% para 40%,
07:49sendo que os nossos concorrentes também estão caindo?
07:51A mudança é positiva ou negativa?
07:55Essa mudança não é positiva para o Brasil,
07:58mesmo porque há uma maior concorrência de países que já eram, historicamente, concorrentes do Brasil no mercado externo.
08:04Nunca podemos deixar de lembrar que acesso a mercados é algo muito difícil.
08:10Você quebrar a concorrência, você quebrar aquele vínculo que existe entre fornecedor e comprador é muito difícil.
08:18A partir do momento em que uma lacuna se abre para que você conheça novos produtos,
08:23novos fornecedores no mundo inteiro, isso acaba dificultando novamente o acesso ao mercado.
08:30Por isso que qualquer oscilação à tarifa, seja mínimo 5%, 10%, 15%,
08:35isso afeta necessariamente e é um prejuízo para aquele país que está em desvantagem tarifária.
08:42Por quê? Porque isso dificulta o acesso a mercados.
08:45Agora, para a negociação brasileira com os Estados Unidos, vai sobrar o quê?
08:51Quer dizer, os Estados Unidos podem ceder no quê?
08:54Porque, afinal de contas, eles abriram em negociações.
08:58Talvez eles queiram só concessões, claro.
09:01Aliás, qualquer negociador prefere isso.
09:03Mas eles tinham em mente que podiam ceder em alguma coisa.
09:05Vocês acham que eles poderiam ceder em quê?
09:08Café é o item de alimentos que tem maior inflação nos Estados Unidos.
09:12É 18,9% ao ano, o dado de setembro.
09:16E é aquele produto que tem maior dificuldade,
09:21que os Estados Unidos tem maior dificuldade de achar um fornecedor de qualidade igual.
09:24Afora café, você acha que pode ter alguma outra vantagem para o Brasil?
09:29Nós podemos pegar, por exemplo, um histórico de conflitos dentro da Organização Mundial do Comércio.
09:35Para dizer quais são os produtos que não terão alteração,
09:39que os Estados Unidos não abrirão mão de altas tarifas,
09:42como, por exemplo, alumínio, aço e algodão.
09:45Outros produtos, como, por exemplo, o café,
09:48é um produto com uma chance um pouco melhor de haver uma negociação.
09:53Então, nesse tipo de produto, como o café,
09:56há aí uma margem de negociação, tanto no café como na carne.
10:00Nesses produtos, há margem de negociação.
10:03Outros produtos nem se pensa, como, por exemplo, alumínio, aço, algodão,
10:08que sempre foram produtos que receberam medidas de proteção muito fortes
10:14dos governos dos Estados Unidos,
10:16devido a sua produção interna ser um pouquinho mais deficitária
10:19e os produtos importados serem de grande qualidade,
10:23principalmente os produtos do Brasil.
10:26Eduardo Saldanha, pós-doutor em Direito Internacional.
10:29Obrigado, Eduardo, pela sua análise aqui com a gente.
10:31Obrigado, Vinícius, também pela participação.
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