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O Visão Crítica, analisa como o sistema financeiro se tornou vulnerável e debate as regras do BC para tentar fechar a porta contra a lavagem de dinheiro no país.O alerta de que a flexibilização do Banco Central na fiscalização das fintechs criou um vácuo regulatório foi confirmado por operações recentes.

Confira o programa na íntegra em: https://youtube.com/live/phDcXZOj20s

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00:00Então, vou começar primeiro com o professor Nelson Marconi, discutindo hoje, professor, ainda, claro, está na fase da comissão mista do Congresso Nacional.
00:09Comissão mista, para quem nos acompanha, é que você tem senadores e deputados federais, que está analisando justamente uma medida provisória.
00:18A medida provisória foi adotada, sem ser muito professoral, mas tem que ser pela Constituição de 1988.
00:23É uma novidade, nós não tínhamos medida provisória, nós tínhamos outras formas, muito piores, como o decreto-lei, e a medida provisória é mais típica do regime parlamentarista.
00:35Porém, ela foi votada antes de se votar o regime. Problemas da tramitação. E acabou criando alguns problemas.
00:42Ela foi mudando com o passar do tempo, inclusive o momento de quanto tempo precisa para ser votada, quando ela cai, por alguma razão.
00:52E essa é muito importante, porque envolve a questão da arrecadação do governo num momento de dificuldade das contas públicas.
01:00Eu vou rapidamente, anotei algumas questões, professor Nelson Marconi, muito rápido aqui.
01:05A discussão passou pelo imposto pelas fintechs, que devem subir.
01:11As apostas esportivas, que são as betes, que têm hoje um domínio fantástico no Brasil.
01:16O Brasil é um país maravilhoso, cassino é proibido e bete é permitido.
01:20Isso é só no Brasil, tá bom?
01:23Qualquer país sério do mundo pode ser o oposto, mas aqui, betes pode, cassino não.
01:29A questão que era para aumentar de 18%, parece que ficou cerca de 12%.
01:34As LCAs e LCIs, teria isenção.
01:39Isso também é a questão de pagar imposto do imposto de renda, mas acabou, vai continuando isento do imposto de renda.
01:46Só com essas duas medidas, o governo pede, das duas últimas, cerca de 4,3 bilhões.
01:52A grande questão, professor Nelson Marconi, é que ninguém sabe do que está sendo tratado.
01:57E tem gente na rua que discute com a maior facilidade.
02:00O que é uma fintech, por exemplo?
02:01De forma muito simples.
02:03Não adianta nada o sujeito brigar na rua com o vizinho, por um grupo do WhatsApp, se é o lulismo ou o bolsonarismo.
02:08Que não é nem ismo, porque o lulismo não tem ideias, nem o bolsonarismo tem ideias, no sentido de visão de mundo.
02:13Não existe ismo.
02:14Mas, na idiotia, a lá Nelson Rodrigues, que ele tão bem definiu, as pessoas começam a discutir fintech.
02:21Aí você para e pergunta, o que é uma fintech, assim, sinteticamente, por favor?
02:25Sinteticamente, é uma organização financeira pequena, tá certo?
02:32E que pode fazer várias operações com capital menor, digamos, com quantidade de recursos menor,
02:38trabalha com quantidade de recursos menor do que um banco maior atuaria, certo?
02:44Sem fiscalização do Banco Central?
02:45Sem, com uma fiscalização muito mais flexível, digamos, do Banco Central.
02:50Inclusive, foi por aí que a gente viu que aconteceram problemas recentes de denúncias
02:56enunciadas ao crime organizado, de que eles estavam usando algumas fintechs.
02:59Veja bem, as fintechs não são, de forma nenhuma, todas, nem a maioria, tá certo?
03:05Mas nada que existe uma flexibilização baixa, abre-se espaço para isso.
03:08A criação desse mecanismo foi para tentar democratizar mais o mercado financeiro, né?
03:15E tentar fazer com que você pudesse ter uma concorrência maior nesse mercado.
03:19De fato, você ampliou a concorrência, mas também a flexibilização da fiscalização
03:26acaba dando margem para você usar as fintechs para todo tipo de operação.
03:31Sem ser chato e abusar da sua bondade, ninguém sabe o que é LCA nem LCI.
03:38Eles imaginam ou que é um patrocinador de algum time da Premier League, né?
03:43Ou é algum grupo novo aí de rock, né?
03:50Porque o rock aqui hoje vive uma decadência.
03:52É de funk, é alguma coisa de gênero.
03:54O que é uma LCA e uma LCI?
03:57Sinteticamente também, porque nós vamos discutir umas questões que todo mundo está falando,
04:01só que nós temos de partir do pressuposto, nós que vivemos da universidade e do exercício
04:05professoral, que quem está nos ouvindo primeiro precisa saber o que é, para depois a gente
04:10discutir se aquilo é correto ou não em relação à tributação.
04:13Grosso modo, o que é uma LCA e uma LCI?
04:15São papéis que a gente fala títulos, né?
04:17Sim.
04:18Então, no caso da LCA, vinculados a investimentos no setor do agronegócio e a da LCI também
04:27são papéis, títulos, estão vinculados ao investimento no setor imobiliário.
04:31Quer dizer, o agronegócio e o setor imobiliário, quando eles vão fazer captação de recursos
04:38no mercado para fazer os investimentos, eles podem usar, vender esses títulos, vender esses
04:43papéis para captar recursos.
04:45Sim, perfeito.
04:46E são títulos que hoje têm uma tributação igual a zero.
04:49Então, muita gente fala, ah, eu vou aplicar em LCI e LCA, você tem uma tributação zero
04:55que, do ponto de vista da comparação com os outros ativos, não se justifica tecnicamente.
05:00Mas, a gente pode entrar nessa discussão primeiro, depois.
05:03Claro, claro.
05:03Primeiro, vamos explicar o que é cada um, né?
05:05Perfeito.
05:06Não, obrigado, obrigado.
05:07Vamos só fazer essa, uma breve introdução que eu acho necessária para a gente começar
05:12o nosso diálogo de hoje aqui no Visão Crítica, que é para a gente saber do que nós estamos
05:18tendo tratado.
05:19Foi importante o professor Nelson Marconi falar das fintechs, que elas ficaram para o grande
05:24público, que não sabe qual é o papel de uma fintech, como se todas elas tivessem vinculações
05:29com o crime organizado pelas denúncias recentes de valores bilionários, e aí não é exagero,
05:35bilionários, que transitaram pelas fintechs sendo lavados e oriundos de atividades ilícitas,
05:41tal.
05:41E, evidentemente, são algumas delas, né?
05:44E essa é uma questão que nós vamos ter se debruçar no futuro e ter o maior controle
05:48sobre elas.
05:49Eu vou começar com o nosso convidado externo, remoto.
05:53Professor Carlos, eu lhe desculpe aí, fizemos essa nossa introdução, porque eu acompanho
05:58o senhor há tanto tempo, porque muitas vezes a gente, eu brinquei aqui citando o Nelson
06:02Rodrigues, de início, é a história de que os idiotas vão tomar o poder no mundo e no
06:08Brasil, não pela capacidade, mas pela quantidade, e com aquela voz, ah lá, Nelson Rodrigues, porque
06:13eles são muitos, tal.
06:15E eu acho que nós, muitas vezes, fazendo grandes discussões no Brasil e, muito a pouco, as
06:19pessoas quase que não nos entendem.
06:21Primeiro, agradecer a presença do senhor.
06:23Eu começo com o senhor e coloco as seguintes questões.
06:26Hoje tivemos uma reunião da comissão mista da Câmara e do Senado, só para explicar
06:32sempre a quem nos acompanha.
06:33E 13 a 12, uma votação muito apertada, foi aprovada o texto da medida provisória,
06:38que tem depois de tramitar pela Câmara e pelo Senado, como determina a nossa Constituição.
06:43Eu pergunto para o senhor, grosso modo, eu sei que é um conjunto de questões que estão
06:47na MP.
06:48O senhor ficou satisfeito com a decisão, com o conjunto da medida provisória?
06:52Eu sei que é uma coisa muito ampla, mas estou falando mais no sentido genérico.
06:56E qual é a opinião do senhor sobre isso?
07:02Bom, isso é para mim, não é?
07:07Isso é para o senhor.
07:08Uma pergunta espécie de Deus e sua obra.
07:12Eu sei que é uma coisa muito ampla, mas...
07:15É porque eu ouvi você falar meu nome.
07:19Sim.
07:20Eu não ouvi você falar meu nome.
07:22Então, eu colocaria o senhor, essa questão, sobre o encaminhamento dado, agora nós estamos
07:29discutindo uma medida provisória, que é muito ampla, polêmica, e é natural, democracia
07:34sim.
07:35Eu queria saber a opinião do senhor sobre essa medida que hoje foi aprovada na comissão
07:39e ainda depois terá de ir ao plenário da Câmara dos Deputados e o Senado, como determina
07:44a Constituição.
07:45O que eu coloco para o senhor é qual a opinião sobre essa MP.
07:50Tá.
07:50Qual é a MP?
07:51Porque eu acho que eu perdi o começo da conversa.
07:54O começo da MP que foi hoje à noite, que está discutindo a questão do imposto sobre
07:58as fintechs, se deve subir ou não deve subir, a questão que envolve as bets, as chamadas
08:06apostas esportivas, as letras LCA e LCI.
08:11só esse conjunto de medidas que estão lá na MP.
08:18Este assunto eu não estou acompanhando, nem imaginava que iria ter de falar sobre ele.
08:25Eu estava entendendo que a nossa questão era do subsídio na conta, no aluguel, enfim,
08:37era aquela outra e não essa das fintechs.
08:41Eu não sei, a confusão aí, não sei de que lado.
08:46Não é problema.
08:46Então, sobre isso, sobre essa questão dos subsídios aí que o senhor destaca, qual
08:51é a opinião que o senhor tem?
08:54Tá.
08:54Aqui, o que eu queria chamar atenção é que nós precisamos falar sobre o grau de aprofundamento
09:05do envelhecimento populacional, que é uma variável chave para a gente discutir esse tipo de assunto
09:15que hoje em dia, nós não podemos tratar de algo que tem um impacto fiscal pesado, grande, como esse subsídio
09:26que está sendo concedido, sem falar sobre onde ele toca, onde ele pode pegar.
09:37E aí, esse grau do aprofundamento do envelhecimento populacional é algo que muita gente não está percebendo
09:47porque não acompanha, por alguma razão, o assunto assim mais de perto.
09:54Mas esse grau de aprofundamento, que é bastante forte no nosso caso,
10:01ele está, ou a gente podia chamar isso de algo que na demografia se chama razão de dependência dos idosos.
10:13E ele nos leva a um fenômeno que já está acontecendo, que a gente tem de perguntar se esse subsídio vai interferir,
10:24vai atrapalhar, é a questão da disparada dos gastos previdenciários, que é o item número dois.
10:36Eu falei, primeiro o envelhecimento populacional, depois a disparada dos gastos previdenciários,
10:45e agora eu falo da desabada dos investimentos públicos, que ocorreu em função da disparada dos gastos previdenciários,
10:58e por último eu menciono o crescimento real do PIB, que passou a estar ameaçado por conta disso que eu falei antes.
11:10Por quê? Porque se eu tenho um fenômeno, que é o envelhecimento populacional que existe hoje no Brasil,
11:20que causa uma disparada de gasto corrente, que é o previdenciário,
11:27e por sua vez isso leva à desabada dos investimentos públicos,
11:32É natural esperar que o crescimento real do PIB vai cair no fim desse processo,
11:41e aí vem a pergunta, para falar desse tipo de subsídio,
11:47alguém que toma as decisões imaginou que poderia ter esse impacto,
11:55que a meu ver é muito importante, que é o da, em última instância,
12:01da desabada dos investimentos públicos e da queda da trajetória de crescimento real do PIB
12:09e por trás do emprego.
12:13Enfim, isso é algo que tem que se perguntar a quem toma essa decisão,
12:18se isso foi discutido, se isso foi levantado,
12:23para ver se alguém tem algo a dizer sobre isso,
12:29porque isso está aí para quem olha as coisas com a lupa.
12:36Quem não olha não percebe isso e não vai pensar na questão do subsídio
12:42em relação a esse tipo de impacto que eu estou falando.
12:49Por isso que eu estou dizendo, é muito bom dar o subsídio,
12:52mas avaliou-se o impacto que isso poderia ter,
12:56dessa forma que eu falei, é a pergunta que eu devolvo.
13:03Bruno, eu vou fazer uma pequena mudança, então,
13:06do que eu tinha feito da introdução,
13:07e colocar uma questão que me parece central
13:11a partir das observações do professor Raul Veloso.
13:15É uma discussão política.
13:17Subsídio, para quem nos acompanha,
13:19são formas que o governo concede
13:21a classes sociais que têm poder no Congresso Nacional.
13:26O Zezinho, que mora no Capão Redondo,
13:28esse não tem influência no Congresso Nacional.
13:31Agora, aquele que tem um escritório muito bonito na Faria Lima, tem.
13:35Só que ele representa, em termos numéricos,
13:39é isso daqui.
13:41E o Zezinho do Capão Redondo, isso?
13:43Numa linguagem muito simples.
13:45Então, quem tem poder, fala grosso.
13:47E quem tem poder, é quem tem poder econômico e lobby em Brasília,
13:50e partidos políticos que vocalizam o discurso dos lobistas
13:54e daqueles privilegiados que não pagam impostos.
13:57Basta ver a renúncia fiscal de,
14:00antes era 500, bi, 600, 700, 800.
14:03Em São Paulo, o governo estadual renuncia 85 bi por ano aqui.
14:1085 bi.
14:11E fora, faltam as prefeituras.
14:13Nós temos em São Paulo 645 prefeituras.
14:16Então, veja aí agora.
14:17A Previdência, aí já pega quem?
14:20O andar de baixo, pausado em uma imagem do Hélio Gasper.
14:23Nós tínhamos uma referência aqui,
14:25isso para situar quem nos acompanha,
14:26que era o Chile.
14:27O Chile era uma maravilha em 2019, falavam aqui.
14:32Eu acompanho o Chile porque eu fiquei anos
14:34usando a aula de história da América Latina,
14:36apesar que eu soubeu o México,
14:38mas acompanhava o Chile e sabia que não era nada daquilo.
14:40Aquilo desabou, porque a média dava meio salário mínimo.
14:44Aí falaram, aí quando tudo desabou,
14:46a Praça Itália, em Santiago, lotada,
14:48com milhares de pessoas, aí deixou de ser o Chile.
14:51Passou a ser a nossa gloriosa Argentina.
14:53Aí o meu avô, que é argentino,
14:55eu acompanho a Argentina também por causa disso, já falecido,
14:59nós estamos vendo que tem agora 700 milhões de dólares de reservas,
15:04que pode usar 700 milhões de dólares de reservas.
15:08Um desastre o governo Milley.
15:10Mas era a solução apresentada um ano atrás.
15:14Eu perguntei para a pessoa,
15:15você conhece a história argentina?
15:16Comecei a perguntar da independência.
15:19Lembrar, afinal, eu nasci no dia da independência,
15:21no dia 25 de maio.
15:23Aí comecei 25 de maio, 1810,
15:26depois é o 9 de julho de 1816.
15:28Aí são as grandes avenidas,
15:29lembrar praça de maio e tal.
15:31Eu estou falando essa longa introdução,
15:32é que no Brasil nós pegamos exemplos externos,
15:35sem conhecê-los.
15:36E depois é uma grande tragédia.
15:38O Milley, alguém que anda com uma motosserra,
15:40você não pode levar a sério.
15:42E está dando no que está dando,
15:43inclusive com envolvimento com o crime organizado.
15:46Basta ver a eleição que está ocorrendo lá,
15:47que eu acompanho diariamente,
15:49que é a próxima eleição em outubro.
15:51Eu pergunto a você, Bruno,
15:52depois desse longo arrasoado,
15:54meu, como é que fica essa questão?
15:57Tem os subsídios.
15:59A pressão no Congresso Nacional é muito grande.
16:02Nós já tivemos várias reformas previdenciárias nesse século.
16:06É bom lembrar que a primeira foi a do PT,
16:08em 2003,
16:09que levou a um racha que nasceu o PSOL.
16:11Vamos só lembrar isso.
16:12Não vou fazer toda a história,
16:14mas só pegar o século XXI.
16:16Como é que fica essa questão?
16:18Contas públicas,
16:20subsídios para setores privilegiados,
16:22que não devolvem esses subsídios,
16:25que são na base da pressão.
16:29E a realidade concreta das contas públicas,
16:31que são preocupantes,
16:33nós temos a menor taxa de desemprego histórica
16:35desde 2012.
16:38Da série histórica, é menor.
16:40Não podemos...
16:40Eu não estou aqui fazendo elogio
16:42da política macroeconômica do governo,
16:44mas é o dado.
16:45Não posso fugir ao dado.
16:47Inclusive que eu tenho discordância sobre isso também.
16:49Mas o dado é esse.
16:50Como é que fica isso no campo
16:53da sua análise, do seu trabalho
16:55e dessas pressões,
16:56que afinal é Brasília que acaba decidindo tudo?
16:59O que a gente sabe sobre subsídio
17:01é que o governo muitas vezes vai bem intencionado,
17:05cria um subsídio,
17:06cria uma política pública,
17:08às vezes sem a necessária análise
17:12sobre o impacto dessa política pública.
17:15E não à toa,
17:15muitas dessas políticas públicas
17:17não são eficientes.
17:18Ou seja,
17:19esse investimento feito pelo governo,
17:21da forma que ele abre mão de receita,
17:23não retorna para o resto da população
17:25ou não retorna como ele gostaria.
17:27Enfim, isso acontece N vezes,
17:30e vem acontecendo, já aconteceu.
17:32A questão é que ele não consegue tirar os subsídios.
17:36Acho que aí a gente passa por um problema
17:37estritamente político.
17:39O governo tem uma série,
17:41como você bem comentou,
17:42uma série de subsídios,
17:45ali em torno de 600, 700 bilhões por ano,
17:48e ele não consegue tirar.
17:51Por que ele não consegue tirar?
17:53Até algo que a gente vinha conversando antes de entrar ao ar.
17:56O fato é que o governo não tem uma base de apoio suficiente,
18:00eventualmente, para propor políticas
18:01ou propor reformas profundas o bastante.
18:05Acho que é outra discussão se ele gostaria de fazer isso ou não.
18:07Mas o fato é que hoje ele não consegue propor a sua agenda.
18:12É verdade também que os governos anteriores
18:14não foram mexer nesse vespeiro.
18:16Então, enfim, em parte por conta de pressão
18:18de lobbies, enfim, grupos de interesse.
18:22Mas a grande verdade é que esses subsídios estão aí.
18:25Os gastos continuam crescendo em cima
18:28desse montante já expressivo de subsídios.
18:32E a gente tem hoje uma situação fiscal delicadíssima.
18:36A gente não só está em déficit,
18:40mas a perspectiva de sair do déficit
18:43depende mais, eventualmente, do próximo governo,
18:47seja ele quem for.
18:48Enquanto isso, a dívida continua crescendo,
18:51todos os agentes continuam assustados,
18:54o risco é muito alto e não à toa a taxa de juros está onde está.
18:59Então, isso reflete muito a nossa situação fiscal
19:03delicada e sem uma solução na mesa.
19:06Sem uma solução, não vou nem dizer definitiva,
19:10mas um plano razoável para o equilíbrio
19:13desse problema fiscal.
19:15Acho que esse é o grande problema.
19:16O subsídio, naturalmente, é uma das peças
19:20desse quebra-cabeça.
19:22Mas, eventualmente, é uma peça que tem um custo político
19:24muito elevado para o governo mexer nisso,
19:27nesse momento.
19:28Professor Nelson Marconi, desculpe aqui a minha rouquidão,
19:33que eu não me dou bem com o ar-condicionado.
19:36É a seguinte questão.
19:38A França, nos últimos dois anos,
19:40teve cinco primeiros ministros,
19:42inclusive agora, tem uma crise,
19:45e passa pela previdência social,
19:48que é uma discussão seríssima na França,
19:50e que tem outras razões,
19:51são muito mais complexas do que aqui no Brasil.
19:54A França tem um regime semipresidencialista,
19:57produto da Constituição de 1958,
19:59golista, aprovada por plebiscito,
20:02é bom lembrar, essa Constituição de 1958,
20:05mas tem a discussão da previdência social,
20:08que divide.
20:08Hoje, a França está um terço, um terço, um terço.
20:11Um terço está próximo ao atual presidente,
20:14que vive uma pressão até de renúncia.
20:16O outro terço está com a extrema-direita,
20:19e o outro terço com a França em submissa.
20:21Auto-intitulado França submissa,
20:24que é os grupos de esquerda,
20:26e mais à esquerda,
20:27do que aquela esquerda tradicional francesa,
20:29do antigo Partido Socialista.
20:31Bem, e a questão da previdência está colocada.
20:34No Brasil, nós tivemos, portanto,
20:36é um problema que está colocado em vários países do mundo,
20:39por isso que eu fiz essa colocação.
20:40No caso brasileiro, professor,
20:42se nós juntarmos os problemas que nós temos
20:45em relação às contas públicas,
20:47e aí uma questão que o senhor escreveu,
20:49e eu li,
20:49na conjuntura econômica, se não me engano,
20:52sobre a pejotização,
20:54que mistura essa questão,
20:56porque a pejotização,
20:58ela é uma irmã chipófaga
20:59dessa crise da previdência social
21:03e que tem a ver
21:05com essa situação grave
21:07dos gastos públicos por onde nós vamos.
21:09Como é que nós ficamos?
21:11Pois é, muito bem colocado, Marco.
21:14Desculpa, eu também fiquei rouco.
21:15A previdência, ela tem questão,
21:19se a gente não mudar de alguma forma
21:21o sistema, o regime de arrecadação,
21:24de financiamento no futuro,
21:26nós vamos ter também problemas muito sérios
21:27lá para frente.
21:30Por quê?
21:31Você tem o envelhecimento da população,
21:33primeira coisa, certo?
21:34Segunda coisa, você tem
21:36esse outro fenômeno que está acontecendo,
21:39que a gente vê no mercado de trabalho,
21:40que é essa chamada pejotização,
21:41que é as pessoas trabalharem
21:44como pessoas jurídicas,
21:46num regime que é diferente
21:48do que é o tradicional,
21:49que é o regime de carteira.
21:50Depois a gente pode entrar
21:51na discussão sobre quais são os motivos
21:53que isso aconteceu,
21:55mas o fato é que
21:56a pessoa que trabalha
21:57como pessoa jurídica,
21:59hoje, o chamado pejotizado,
22:01trabalha como se fosse
22:02uma microempresária individual
22:03ou mesmo com um contrato
22:04dentro de uma empresa,
22:05paga uma,
22:06recolhe um imposto muito menor,
22:08inclusive para a previdência.
22:09E o sistema previdenciário
22:12nosso no Brasil
22:13é o sistema de quem
22:14está recolhendo hoje o imposto,
22:17está contribuindo para pagar
22:19a aposentadoria
22:20de quem hoje está aposentado.
22:22É um regime que a gente chama
22:23de um regime solidário.
22:25É um regime no qual
22:26quem trabalha hoje
22:27contribui para pagar a aposentadoria
22:29de quem está aposentado hoje,
22:31certo?
22:32O que a gente vê,
22:33quando tem menos pessoas
22:34trabalhando sobre...
22:35Menos não,
22:36mas está crescendo muito
22:38o número de pessoas,
22:39proporcionalmente mais
22:40o número de pessoas
22:40que estão trabalhando
22:41por conta própria,
22:42como pejotizado,
22:43eles contribuem muito menos.
22:45E isso tende a desequilibrar
22:47o sistema,
22:48mais ainda previdenciário.
22:50Desequilibrar mais ainda,
22:51porque você continua
22:52tendo uma despesa crescente
22:53em função do envelhecimento,
22:55em função da própria evolução,
22:58digamos,
22:59da população,
23:00do ponto de vista demográfico.
23:01E do lado da arrecadação,
23:04a arrecadação tende a cair,
23:06se esse movimento
23:07no mercado de trabalho continuar.
23:09Então, o que acontece?
23:10Em algum momento,
23:11nós vamos ter que discutir
23:12tanto essa questão,
23:14já está sendo discutida,
23:15inclusive,
23:16no Supremo,
23:17essa questão dos contratos
23:19de trabalho,
23:20como vão ficar,
23:21e de outro ponto,
23:22do outro lado,
23:24a gente vai precisar discutir
23:24como financiar a previdência.
23:26Porque o financiamento
23:27da previdência
23:28é só baseado no trabalho,
23:29as duas coisas são complementares,
23:31é um financiamento
23:32que tende a não dar certo,
23:33porque você está mudando
23:35a cara do trabalho,
23:36quer dizer,
23:37as características do trabalho
23:38no mundo, certo?
23:39E, ao mesmo tempo,
23:41você também está mudando
23:45essa forma de financiar o trabalho
23:47e você não está conseguindo,
23:49digamos,
23:51ter um, vamos dizer,
23:53um crescimento suficiente
23:56da arrecadação
23:58de forma a financiar
24:00todo esse sistema.
24:01Então, a tendência
24:02é, a médio prazo,
24:04também com o envelhecimento
24:04da população,
24:06a gente precisar pensar
24:07como vai tributar
24:08menos a previdência,
24:09porque a tributação
24:10sobre o trabalho
24:10também é custo,
24:11de um lado,
24:12para as empresas.
24:13E a gente quer manter o...
24:14Eu acho que todo mundo aqui,
24:16pelo menos,
24:16todo mundo não digo,
24:17mas, enfim,
24:17mas acho que a maior parte
24:18da população
24:18quer que continue existindo
24:20um regime previdenciário.
24:21Ele é fundamental
24:22para a gente ter uma estrutura
24:23de bem-estar social
24:24na sociedade.
24:26Você vê que a própria
24:26briga na França,
24:28em boa parte,
24:29foi por causa
24:29do regime de aposentadoria.
24:32Então, parece que é
24:33uma coisa trivial,
24:34mas não,
24:34é uma coisa muito importante
24:35para a sociedade.
24:36Tem que ser feita
24:36uma discussão
24:37grande sobre isso.
24:40Raul Veloso,
24:40eu pergunto para o senhor,
24:42usando um título
24:43de um livro
24:44de um grande escritor,
24:45que eu li no colegial,
24:47na época,
24:48era colegial,
24:49só avisando
24:50aos mais jovens,
24:52a dominação depois mudou
24:53para segundo grau
24:54e depois foi ensino médio,
24:56mas eu sou lá de trás.
24:58Nós liamos,
24:58na época que se lia livro
24:59no colegial também,
25:01o Encontro Marcado
25:03do Fernando Sabino,
25:04um grande escritor,
25:05que infelizmente acabou
25:06ficando marcado
25:07para um livro pavoroso
25:08chamado
25:09do Zé Léo e uma paixão,
25:10que não tem nada a ver
25:11com a obra literária dele,
25:12que é muito importante.
25:14Eu, usando o título
25:15Encontro Marcado,
25:16eu pergunto ao senhor,
25:17será que o Brasil
25:18tem um encontro marcado
25:20com a crise
25:20em 2027,
25:22independente de qual
25:23presidente ser eleito
25:24em outubro do ano que vem?
25:25Bom, eu vou dizer
25:28para vocês o seguinte,
25:30a minha sensação
25:32de acompanhar esse assunto
25:34com bastante atenção,
25:36esse sobre o qual eu já falei,
25:39todos vocês estão falando,
25:43é de realmente ficar
25:46muito preocupado
25:48com o que eu estou vendo,
25:49que é o fato
25:51de que os gastos
25:54previdenciários
25:55no Brasil
25:56dispararam
25:58por conta
25:59fundamentalmente
26:01do grau
26:03de envelhecimento
26:04da população
26:06e a desabada
26:09dos investimentos públicos
26:11foi uma consequência
26:13natural
26:14e com ela
26:15é uma pena
26:16que eu não possa mostrar
26:18o gráfico
26:19que mostra
26:20isso tudo
26:21para vários anos
26:23recentes,
26:25mas
26:25o que que acontece?
26:28Desaba o investimento
26:30em infraestrutura,
26:33
26:33o crescimento
26:34e o privado,
26:36o investimento privado
26:38em infraestrutura,
26:39eu acompanho
26:40essa variável também,
26:42ela
26:42vem caindo
26:44porque
26:44ela se move
26:46em sintonia
26:47no Brasil
26:49com o que ocorre
26:50com o investimento
26:51público.
26:52Como o investimento
26:54público está
26:54sufocado
26:56pelo crescimento
26:57do gasto
26:58excessivo
26:59do gasto
27:01previdenciário,
27:02por sua vez,
27:03causado
27:04pelo envelhecimento
27:06populacional,
27:09
27:09o que nós
27:10estamos
27:11assistindo
27:12é a desabada
27:14dos investimentos
27:15públicos
27:16e na sequência
27:17do gráfico
27:19do crescimento
27:20real
27:21do PIB.
27:22Ele pode
27:22oscilar
27:23num ano
27:23aqui
27:24e outro ali,
27:25mas a tendência
27:26é de queda.
27:28Nós estamos
27:29presos
27:30nessa armadilha
27:32que eu mencionei,
27:34realmente é uma pena
27:35eu não poder
27:36mostrar o gráfico,
27:38porque aí
27:39ficaria muito
27:40mais claro,
27:41mas
27:41isso significa
27:42tal armadilha
27:44a que eu estou
27:45me referindo,
27:47é que o Brasil,
27:49se não der
27:50uma
27:51chacoalhada
27:53nessa situação
27:54para valer,
27:55vai ter
27:56uma tendência
27:57declinante
27:59de taxas
28:00de crescimento
28:01do PIB
28:02e do emprego,
28:03não há governo
28:04Lula,
28:05não há governo
28:06de esquerda,
28:08não há governo
28:09que consiga,
28:11supondo que
28:12essa tendência
28:14política
28:14continue
28:15presente,
28:17que consiga
28:18ter um
28:20resultado
28:21em matéria
28:22de crescimento
28:23econômico
28:24favorável,
28:25se ele
28:26não
28:27atacar
28:28esse problema
28:30da disparada
28:31do gasto
28:32previdenciário.
28:34Não tem
28:35jeito,
28:35isso tem
28:36de ser estudado,
28:37analisado
28:38e visto
28:39o que é que dá
28:40para fazer,
28:41para as coisas
28:42voltarem ao normal.
28:44Então,
28:44nesse sentido,
28:46pelo começo
28:47da sua
28:47pergunta,
28:48ou da sua
28:49colocação,
28:50o que eu digo
28:51é que nós
28:52estamos,
28:53aqui no Brasil
28:54hoje,
28:55no meio
28:56de uma,
28:57infelizmente,
28:58de uma grande
28:59enrascada.
29:01Eu pretendo
29:02escrever
29:03minha próxima
29:04coluna
29:05no Estadão
29:06falando isso,
29:08porque é
29:09muito dramático
29:10observar isso
29:12e perceber
29:13que...
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