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Por que a economia do Brasil, que teve um alto crescimento entre 1930 e 1980, estagnou? No Só Vale a Verdade, o filósofo e ex-ministro Roberto Mangabeira Unger analisa a realidade do país. Para o especialista, o Brasil se escondeu atrás de seus recursos naturais e se acomodou, deixando de investir em inovação.

Confira o programa na íntegra em: https://youtube.com/live/UOREuEnpyDg

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Transcrição
00:00É justamente isso, o que acontece, em certo momento da história do Brasil, não sei a opinião do senhor,
00:11o Brasil foi um dos países que mais cresceu no mundo ocidental, entre 1930 e 1980, 50 anos portanto.
00:17Em certo momento perdemos o passo, nos anos 80.
00:21O que aconteceu conosco?
00:22O que aconteceu é o seguinte, até meados do século XX, nós tínhamos apenas ciclos extrativistas,
00:33o pau-brasil, o ouro, o diamante, a borracha e assim por diante.
00:38Em meados do século XX tivemos o nosso primeiro e único projeto produtivista,
00:45que foi aquilo que, da perspectiva de hoje, nós podemos chamar a indústria convencional,
00:55que exerceu o papel de substituir importações no Brasil.
01:01Esse foi o nosso único projeto produtivista.
01:04Esse projeto foi responsável por um crescimento rápido do país.
01:10O Brasil chegou a ser o país que mais crescia no mundo todo.
01:16Há 80 anos passados, o nosso PIB era maior do que o PIB da China.
01:22Agora é uma porção ínfima do PIB da China.
01:27O Brasil foi um dos países que mais rapidamente se desindustrializaram,
01:32a desindustrialização, a dissolução desse paradigma produtivo de indústria convencional.
01:41É um fenômeno mundial, não é restrito ao Brasil,
01:45mas entre nós ocorreu de forma mais rápida e radical.
01:53Hoje a indústria convencional, essa que às vezes chamamos de fordista,
01:58por alusão à linha de montagem de Henry Ford,
02:03sobrevive apenas como vestígio de uma vanguarda exaurida,
02:08ou como satélite da nova vanguarda que há no mundo.
02:13A nova vanguarda é aquilo que chamamos a economia do conhecimento.
02:18Desça em tecnologia, baseada em ciência,
02:22e vocacionada a um experimentalismo produtivo permanente.
02:27Essa nova vanguarda da economia do conhecimento
02:33não está adstrita à manufatura avançada.
02:37Não é só o Vale do Silício, por exemplo.
02:41Ela é multissetorial, mas em todos os setores
02:45ela existe apenas como conjunto de franjas excludentes,
02:50que excluem a vasta maioria dos trabalhadores e das empresas.
02:55E nós?
02:57Nós, nesse período em que surgia uma nova vanguarda
03:01e desaparecia a vanguarda anterior,
03:05nós nos refugiamos, como sempre fizemos no passado,
03:11na riqueza fácil da natureza,
03:14em vez de procurar a riqueza difícil da inteligência.
03:17Quem quiser saber o que é o Brasil de hoje,
03:22basta ver o perfil do nosso comércio com a China.
03:26Nós embarcamos no navio,
03:29soja não transformada e minério de ferro não transformado,
03:34mandamos esse navio para a China,
03:37e o mesmo navio nos traz de volta
03:39todos os produtos do intelecto humano.
03:43Um negócio ruinoso para o país.
03:45Esse é o retrato de onde estamos.
03:50Então, nós caímos,
03:53há uma queda,
03:55e a nossa riqueza em recursos naturais
03:58esconde a nossa queda,
04:01esconde de nós mesmos,
04:04disfarça a nossa decadência.
04:07O Brasil é um dos países mais desiguais
04:10na história da humanidade,
04:12mas nosso problema maior
04:13não é a desigualdade.
04:16O nosso problema maior é a mediocridade.
04:20E nós só superaremos a desigualdade
04:24em meio a uma onda
04:26para vencer a mediocridade.
04:29E esse caminho,
04:31como é que nós podemos chegar lá, professor?
04:33Eu creio que esse caminho,
04:35claro que tem passos.
04:37E eu vou citar alguns rapidamente,
04:40depois podemos ou não conversar sobre eles.
04:43Então, primeiro,
04:45é começar a construir um modelo econômico
04:48que assegure a primazia dos interesses
04:52do trabalho e da produção
04:55sobre os interesses do financismo.
04:59O Brasil está na mão
05:00de um cartel bancário impiedoso.
05:05Basta ver um fato elementar
05:07que no Brasil
05:08o juro real é muito superior
05:13à taxa média de retorno aos negócios.
05:17Aí não pode haver nenhum capitalismo fecundo.
05:20E a única maneira de resolver isso
05:26é radicalizar a concorrência
05:28no setor bancário.
05:31A melhor maneira de radicalizá-la,
05:33a meu ver,
05:35é revogar a lei de usura
05:36e permitir que milhões de brasileiros
05:40e não só dois ou três bancos estrangeiros
05:43concorram com o nosso oligopólio bancário
05:47e quebrem a espinha dorsal
05:51do cartel bancário.
05:53Isso é preliminar.
05:55Agora, segundo,
05:56nós precisamos começar a organizar no Brasil
05:59o que eu chamaria
06:00o capitalismo popular.
06:03Como explicar que o Brasil
06:05foi governado recentemente
06:08por um partido
06:10que se intitulou de direita?
06:12E esse partido não fez
06:14o que obviamente teria que fazer
06:17qualquer direita
06:19num país como o Brasil
06:21que é organizar o capitalismo popular.
06:24O que é o capitalismo popular?
06:26É o capitalismo
06:27no benefício, no interesse
06:29de dois agentes econômicos.
06:33De um lado,
06:33as pequenas e médias empresas
06:35retrógradas
06:37da nossa vasta periferia econômica
06:41e, de outro lado,
06:44os informais e precarizados.
06:48Milhões de brasileiros hoje
06:50sem vínculo estável
06:51com qualquer grande empresa
06:53que trabalham por conta própria.
06:58Se juntarmos os informais
07:01com os precarizados,
07:02é a maioria do povo brasileiro.
07:04que esperança pudemos ser nós
07:07se o nosso povo
07:09é uma horda amorfa
07:11de trabalhadores
07:13que trabalham
07:14nas sombras da ilegalidade
07:17sem qualquer esperança
07:19de alcançar
07:21uma dinâmica
07:22de produtividade crescente.
07:25Esse é o primeiro passo,
07:26a economia do capitalismo popular.
07:31Ocorre que o Brasil
07:33é um dos únicos estados,
07:36um dos únicos países
07:37no mundo
07:38onde o Estado
07:39conta
07:40com muitos
07:41dos instrumentos
07:42que seriam
07:43necessários
07:45para organizar
07:47o capitalismo popular.
07:49Eles são herança
07:50do corporatismo
07:51varguista
07:52que foi
07:54a base
07:55institucional
07:56daquele paradigma
07:58produtivo anterior
07:59que eu chamo
08:01do ser convencional.
08:02E qual é esse legado?
08:04São, por exemplo,
08:06a Embrapa,
08:07o SEBRAE,
08:08o SENAI,
08:09o SENAC,
08:10os bancos públicos
08:11de desenvolvimento.
08:13Um dos únicos
08:14outros países
08:15com um conjunto
08:17institucional
08:18tão poderoso,
08:20com potencial
08:21tão grande,
08:21é a Alemanha.
08:22Muitos desses instrumentos
08:26estão corrompidos,
08:28carcomidos,
08:29degenerados,
08:30justamente
08:31por não estarem
08:32mobilizados
08:34a favor
08:35de um projeto
08:36produtivista
08:37como esse
08:38do capitalismo
08:39popular.
08:40Esse é o segundo
08:41passo.
08:42O terceiro passo
08:44seria, então,
08:45começar
08:46a fazer
08:47a travessia
08:48do capitalismo
08:50popular
08:51para uma
08:53economia
08:53do conhecimento
08:54para muitos.
08:56O que existe
08:56no mundo
08:57é uma
08:59economia
09:00do conhecimento
09:01para poucos,
09:02uma economia
09:03do conhecimento
09:04excludente.
09:05Nós teríamos
09:07que reorganizar,
09:09redirecionar
09:11a nova
09:11vanguarda
09:12produtiva
09:13do mundo
09:13para essa
09:15economia
09:16do conhecimento
09:16excludente.
09:17Inclusive,
09:18reinventando
09:19as altas
09:20tecnologias
09:21por exemplo,
09:23dando
09:24preferência
09:25a tecnologias
09:26que possam
09:27ser
09:28aproveitadas
09:30pelos
09:31dois
09:32agentes
09:32econômicos
09:33que eu citei,
09:34as pequenas
09:35e médias
09:35empresas
09:36retrógradas
09:37e a massa
09:38de autônomos
09:39precários
09:40ou informais.
09:42Segundo,
09:43dando
09:43preferência
09:44a tecnologias
09:46que empoderem
09:47o trabalhador
09:49em vez
09:50de tecnologias
09:50que simplesmente
09:51substituam
09:53o trabalhador.
09:54E por fim,
09:56abraçando
09:57o meixo
09:58de evolução
09:59tecnológica
10:00que não imagine
10:02que o objetivo
10:04derradeiro
10:05é chamada
10:06inteligência artificial
10:08geral,
10:09um simulacro,
10:10um substituto
10:11do intelecto humano.
10:12O objetivo
10:14é construir
10:16a máquina
10:16que possa
10:17ser parceira
10:19do homem
10:20com a imaginação.
10:22Então,
10:22tudo o que nós
10:24aprendemos
10:24a repetir,
10:26nós podemos
10:27expressar
10:27em um algoritmo
10:28e em uma fórmula
10:30e em seguida
10:31encarnamos
10:32a fórmula
10:33num aparelho
10:35mecânico.
10:36O sentido
10:37da máquina
10:38é fazer
10:38para nós
10:39aquilo que já
10:41aprendemos
10:41a repetir
10:42para que nós
10:44possamos
10:44reservar
10:45o tempo
10:46que é o nosso
10:47recurso supremo
10:48para o ainda
10:49não repetível
10:50e começar
10:52assim
10:52a suerguer
10:53o Brasil,
10:55a resgatar
10:56a genialidade
10:57suprimida
10:58do povo brasileiro.
11:00É isso que eu quero
11:01para o meu país.
11:02Eu quero um projeto
11:03produtivista
11:04que em vez
11:05de apostar
11:07no divórcio
11:08entre
11:09a inteligência
11:10e a natureza,
11:11aposte
11:13no casamento
11:14da inteligência
11:15com a natureza.
11:18É claro
11:18que esse projeto
11:19para prosperar,
11:22para ganhar
11:22fóruns
11:23de realidade,
11:24tem que ser
11:25traduzido
11:26em estratégias
11:27para cada
11:28uma das
11:28grandes regiões
11:29do país.
11:31Se não,
11:31é só sonho.
11:32E permita
11:33que eu dei
11:34dois exemplos.
11:35então,
11:36tome,
11:37por exemplo,
11:38o Centro-Oeste,
11:40o que chamávamos
11:41o Centro-Oeste
11:42e hoje,
11:43inclusive,
11:43por sugestão minha,
11:45chamamos
11:46o Brasil Central.
11:48Nos grandes
11:49celeiros
11:50agrícolas
11:51do mundo,
11:52que é
11:53o estado
11:54do Mato Grosso,
11:55quase toda
11:56atividade
11:57produtiva
11:58ocorre
11:59em 15%
12:00de seu
12:01território.
12:02E o que é o resto?
12:04O resto,
12:04que não é
12:05floresta
12:05remanescente,
12:07é pastagem
12:08degradada.
12:09Atividade
12:10econômica
12:11territorialmente
12:12predominante
12:14é a pecuária
12:15extensiva.
12:16Pouco boi
12:17por hectare.
12:20E com
12:20degradação
12:21cumulativa
12:22da terra.
12:24A ciência
12:25da recuperação
12:27de pastagem
12:27está dominada.
12:29O custo
12:30é relativamente
12:31baixo.
12:33Qual seria
12:34um grande
12:34projeto nacional?
12:36Que nem sequer
12:37é discutido
12:37no Brasil.
12:38Seria
12:39começar
12:40a recuperar
12:41as pastagens
12:42degradadas.
12:44A pecuária
12:44extensiva
12:45é a atividade
12:46produtiva
12:47predominante,
12:49não só
12:49no Brasil Central,
12:50mas em todo o país.
12:52E usar
12:53as pastagens
12:54recuperadas
12:55como palco
12:56físico
12:57de um novo
12:58paradigma
12:59agropecuário
13:00com a
13:01intensificação
13:03da pecuária,
13:06diversificação
13:10de labores
13:10perenes
13:11para não
13:12ficarmos
13:13só na mão
13:14da monocultura
13:14da soja
13:15e sobretudo
13:17industrialização
13:19progressiva
13:20dos produtos
13:21agropecuários.
13:23O que é isto?
13:24É economia
13:25do conhecimento
13:25conhecimento
13:26no próprio
13:26setor agrícola.
13:28Agora eu vou dar
13:29um segundo exemplo.
13:30Amazônia.
13:31Na Amazônia
13:32falamos
13:33em desenvolvimento
13:35sustentável.
13:36O que é o desenvolvimento
13:38sustentável?
13:39Se não for
13:40apenas um
13:42extrativismo
13:43artesanal,
13:46sem escala,
13:48sem tecnologia,
13:49sem ciência
13:50e portanto
13:52sem futuro,
13:53só pode ser
13:54uma variante
13:55da economia
13:56do conhecimento.
13:57Não há nada
13:58no meio.
13:59Ou é muito
13:59primitivo,
14:01como o que propõe
14:01Marina Silva,
14:03ou é muito
14:04avançado,
14:05com a ajuda
14:06de toda a ciência
14:07mundial.
14:08É claro que
14:09a base
14:09disso,
14:11o que possibilita
14:12é acabar
14:13com o caos
14:14fundiário
14:15na Amazônia.
14:16Um caos.
14:16Ninguém sabe
14:17quem tem o quê.
14:19Como ter
14:19atividade
14:20sustentável
14:22de produção
14:23se a
14:25pilhagem
14:26é mais
14:27atraente
14:28do que a produção
14:29ou a
14:30preservação?
14:32Sim.
14:32Temos que
14:32organizar os vínculos
14:34entre o
14:34complexo verde
14:35e o
14:37complexo
14:38industrial
14:38urbano
14:39para que a
14:40floresta
14:41em pé
14:41valha mais
14:43do que a
14:43floresta
14:43derrubada.
14:45Aí a economia
14:46do conhecimento
14:46na selva,
14:47na Amazônia.
14:48Em cada
14:49região,
14:50essa ideia
14:51de irmos
14:52do capitalismo
14:53popular
14:53para a economia
14:55do conhecimento
14:56toma
14:57feições
14:57diferentes.
14:58Aí eu estou
14:59tentando em poucos
15:00minutos
15:00ilustrar
15:02o caráter
15:03geral
15:04da minha proposta
15:05para os brasileiros.
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