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  • 12/07/2025
No Só Vale a Verdade, Marco Antonio Villa recebe o sociólogo e cientista político, Bolívar Lamounier, para uma análise contundente do terceiro mandato de Lula. Lamounier aponta aumento da violência, crítica setores da economia e produção, e os interesses políticos dos partidos.

Ele afirma que o país vive anos de regressão do país pela falta de educação da população mais simples, a alienação da classe média e a estagnação da classe mais rica.

Confira o programa na íntegra em: https://youtube.com/live/BI7i69yxs-o

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Transcrição
00:00Eu pergunto ao senhor, professor, eu acompanho toda a sua produção acadêmica, leio isso de há muito,
00:06desde quando, antes de eu fazer a história, eu fiz a economia, depois deixei, no último ano fui fazer a história,
00:11fiquei só com a história e li muito, grandes partes da sua produção acadêmica e acompanho todo o seu debate
00:18através dos meios de comunicação, os jornais. O que o senhor acha desse momento que nós estamos vivendo,
00:23desse momento do governo Lula 13, esse primeiro semestre que já se fundou, já passamos, já entramos na parte final já do governo,
00:33é possível afirmar que esse é um dos momentos mais difíceis da República Brasileira,
00:39ao menos a partir da promulgação da carta de 5 de outubro de 88, e eu falo mais difícil em termos políticos?
00:45Eu quero ouvi-lo, primeiro, agradeço o convite, eu acho, eu seria um pouco mais duro,
00:54para mim o Brasil está afundando, não enxerga quem não quer ver,
00:58há uma desordem generalizada na política, na sociedade, por toda parte,
01:05então, eu chego a ter a impressão que nós perdemos um pouco da nossa identidade como país,
01:17a questão da violência que se alastrou, não é?
01:26Em 1970, mais ou menos, eu morava no Rio de Janeiro, e tinha lá uma namorada,
01:33e nós íamos à sessão das 10, no cinema, no cinema, esqueci o nome do cinema,
01:43era logo ali, um cinema velho, desconfortável, que passava aqueles filmes chatíssimos,
01:50no velho Wagner, e à meia-noite nós saímos, comíamos uma pizza na esquina,
01:58e caminhávamos, lentamente, tranquilamente, por Copacabana, até onde nós morávamos, a pé,
02:08até ali, eu não me lembro de nenhum problema de violência no Brasil,
02:13na escala atual, é inacreditável.
02:17Então, você veja, isso é um exemplo, mas eu pude dar um exemplo em qualquer lugar,
02:22eu podia falar dos poderes, eu podia falar dos juízes,
02:26não tem nenhum setor, até onde eu possa ver, talvez pequenos setores,
02:32que se comportam como gente, como cidadão, como brasileiro,
02:37como gente que se leva a sério, parece que todo mundo resolveu deixar cair mesmo.
02:42Você veja bem, nós sempre ouvimos, nós que estudamos ciências humanas,
02:50nós sempre ouvimos que é impossível uma democracia funcionar sem bons partidos políticos.
02:58Eu tenho dito e repetido que o Brasil nunca teve e não tem,
03:03e não sei se vai ter bons partidos políticos.
03:06O que nós temos é uma coisa chamada centrão,
03:10que é uma grande ameba, uma mistura, uma maçaroca,
03:15que fica ali, evidentemente, com a exclusiva intenção de assaltar o erário.
03:23Vamos pedir perdão às exceções de praxe.
03:28Não estou dizendo que todo mundo lá é desonesto.
03:32Mas que a maioria se elege para arranjar um pedaço do erário,
03:39isso eu não tenho dúvida.
03:41É evidentemente assim.
03:43E tem sido assim.
03:44E como é que você vai organizar este país?
03:48Como é que você vai recuperar a vontade de crescer, de se educar,
03:52de ser um país, não uma potência, mas um país razoável?
03:56Como é que você vai fazer isso sem lideranças e sem organizações sérias?
04:04Eu acho que não é possível.
04:06Então, a minha tese, respondendo a sua pergunta,
04:10é que nós estamos estagnados e, quiçá, retrogredindo.
04:17Na vida cotidiana, as pessoas raramente se lembram
04:23de que certos países retrogradiram seriamente.
04:30O exemplo da Argentina quase nunca é lembrado.
04:33A Argentina foi um dos países mais ricos do mundo.
04:36Chegou a ter uma renda per capita mais alta do que a da Alemanha.
04:40E regrediu a ponto de ser o que é hoje.
04:44Quer dizer, somos nós um pouco mais desorganizado.
04:49Talvez, por ser um país menor, ele vive desorganizado e tal.
04:56Com recursos naturais inacreditáveis.
04:59Tanto na agricultura, na pecuária, no petróleo.
05:03Recursos na energia elétrica.
05:06Recursos naturais inacreditáveis.
05:08E não se arruma, não se arruma.
05:12Quer dizer, então, há países que retrogridem de maneira abrupta, violenta.
05:19E fica inviável.
05:21A Argentina é um país quase inviável.
05:24Nós estamos chegando lá.
05:26E as pessoas não se dão conta disso.
05:29E por quê?
05:30Por que chegamos a essa situação, professor?
05:33Nós não éramos assim há algumas décadas atrás.
05:38O que aconteceu?
05:39Em que momento nós perdemos o bom caminho?
05:41Tá bom.
05:41Eu citaria duas razões.
05:45Uma, eu sou obrigado a personalizar um pouco, contra a minha vontade.
05:49A outra, não é questão de personalizar, não.
05:52O Lula pegou o Brasil arrumado.
05:55Depois do Fernando Henrique,
05:57uma inflação que caminhava para a hiperinflação,
06:00tinha sido domada.
06:01Uma equipe brilhante tinha arrumado o governo.
06:06Mas o Lula começou a chamar aqui de herança maldita.
06:10Ele teve um breve período de sucesso,
06:12que foi quando a China comprava qualquer coisa
06:16que nós quiséssemos vender para ela.
06:19Mas depois, não.
06:21Ele chegou ao disparate.
06:23O Lula, que me desculpe, não é falta de respeito,
06:26mas é um assunto público, né?
06:28Ele chegou ao disparate de colocar a senhora Dilma lá na cadeira,
06:34guardando o lugar para ele voltar quatro anos depois.
06:38Ela descumpriu o trato, ficou mais um pouco.
06:42Aí nós afundamos para valer, né?
06:44O produto doméstico brasileiro regrediu 10% naquele período
06:51e uma crise política que aí se instalou.
06:54Então, eu acho que isso aí não é qualquer país que aguenta uma crise desse tamanho, não.
06:59É uma coisa séria mesmo.
07:01Agora, há uma razão muito mais importante,
07:04que é a seguinte.
07:07Nós não vamos sair do lugar e engrenar no rumo do desenvolvimento
07:15enquanto nós não fizermos a ascensão social
07:21e principalmente educacional de uma poção enorme da população.
07:26Nós podemos afirmar, sem medo de errar,
07:31que pelo menos 30% dos mais pobres comem lixo, né?
07:36Vivem de comer lixo.
07:37Eles não têm o que comer.
07:38Eles são analfabetos e não têm alimentação adequada.
07:43E morrem cedo.
07:45Daí para cima, você tem o que se chama classe média.
07:48A classe média baixa é baixa.
07:52É também pouco escolarizada, não contribui, não participa.
07:58Então, aí nós estamos falando de mais uns 30% ou 40%.
08:01Depois, nós temos a classe média alta.
08:05Essa é que me provoca uma certa antipatia, uma certa ira.
08:10Ela, se participasse mais da vida pública,
08:15se levasse as coisas a sério,
08:17se buscassem informações sobre o que acontece,
08:23se participasse, se interviesse,
08:26já era um grande salto, né?
08:28Mas aí tem uns 30% ou 40% da população
08:30que apenas quer um emprego estável,
08:35receber no fim do mês o salário,
08:37bater o ponto às seis da tarde e correr para casa para ver a novela.
08:42Essa é a verdade.
08:43A nossa classe média, comparando...
08:47Olha, eu fui muitas vezes à África do Sul,
08:50mesmo no tempo da segregação brava,
08:54é gente muito mais séria do que nós,
08:56do ponto de vista político, entende?
08:58E do ponto de vista social, não,
09:02porque 100 anos de segregação
09:04não há como crescer do ponto de vista econômico.
09:08Mas eu acho que do ponto de vista político
09:10é gente muito mais séria do que nós.
09:12Então, nós tínhamos desculpa até interrompê-lo, professor.
09:15De um lado, o senhor fala,
09:17aponta a questão da ascensão do Lula em 2003,
09:20vence a eleição em 2002,
09:22assume a primeira de janeiro de 2003,
09:25imputa aos oito anos do governo Fernando Henrique,
09:28que o senhor expôs,
09:29que coordenou a estrutura,
09:31o Brasil venceu,
09:32nós tínhamos uma inflação nova,
09:33lembrar quem nos acompanha,
09:35os mais jovens,
09:36de quatro dígitos.
09:37Chegamos a 2.500% de inflação.
09:39entrego o governo,
09:41a inflação estava em um dígito, né?
09:43E aí, o senhor fala,
09:44olha, a gestão Lula 1, Lula 2,
09:47e depois a eleição em 2010 da Dilma,
09:49seria um dos fatores que o Brasil perdeu o bom caminho.
09:52O segundo,
09:53a segunda razão, o senhor falou,
09:55não vou nominar a segunda razão,
09:57é mais uma questão,
09:58creio que estrutural.
09:59Seria essa questão de o descompromisso
10:03de frações das classes médias
10:05e da, vamos chamar,
10:06numa linguagem mais vulgar,
10:08da classe alta,
10:08dos mais poderosos e tal,
10:10o descompromisso que eles têm com a coisa pública?
10:12O descompromisso e também a quantidade, né?
10:16Porque a nossa desigualdade é a maior do mundo.
10:19Então, você fala assim,
10:21os 30% inferiores
10:24praticamente não fazem parte do país,
10:27são tão pobres,
10:29tão desprovidos de educação,
10:34não sabem o que vão comer amanhã de manhã.
10:38Quer dizer,
10:38é difícil um país que tem 30% nessa situação
10:42se manter íntegro, não é?
10:44E sustentar o crescimento.
10:46Nós temos,
10:47e eu acho que há caminhos para isso,
10:49não é impossível,
10:50fazer uma mobilidade social ascendente
10:54num prazo mais rápido possível.
10:57aí, dentro desse processo,
11:00fazer com que essas pessoas
11:02tivessem mais compromisso com a sociedade
11:04e também cobrassem mais
11:07o que lhes é devido, né?
11:09Porque eles também pagam impostos, né?
11:12Então, aí tem um longo caminho,
11:16um assunto imenso
11:18que os cientistas sociais discutem,
11:21mas não são muito ouvidos.
11:24O que nós chamaríamos de elite econômica no Brasil
11:27é uma coisa que, eu diria, misteriosa.
11:32Sabe, os três ou quatro pessoas mais ricas do Brasil
11:37detêm quase metade da renda e da riqueza.
11:42E se lixando, né?
11:45Andando por aí.
11:47O nosso empresariado é triste, né?
11:50Os pequenos, que mal conseguem deixar,
11:54manter a porta aberta em sua lojinha,
11:57são heróis.
11:58Agora, os grandes empresários
12:00fazem quase nada pelo Brasil.
12:02Então, eu acho que nós temos que fazer uma...
12:05Nós temos que sacudir um pouco o país, sabe?
12:08Dessa jeito é impossível.
12:10Até aqui, o leitor...
12:12Perdão o ouvinte,
12:14que é também um leitor,
12:15certamente deve estar pensando
12:17que eu estou falando só das capitais.
12:20Não.
12:20O Brasil, se você anda por aí,
12:23é um lugar maravilhoso.
12:25Tem pequenas cidades confortáveis,
12:28maravilhosas,
12:28mas lá não tem um centro cultural,
12:32raramente tem um pequeno espaço
12:36para os meninos ouvirem música
12:39ou aprender a tocar alguma coisa na infância.
12:42Existem, mas são uma minoria.
12:45O Brasil tem 5.700 municípios,
12:48poucos oferecem à população pobre ou média
12:54o que deveria ser oferecido a curto prazo, certo?
13:00O sujeito, quando se elege prefeito,
13:03já tinha que ter isso na cabeça.
13:05Eu vou aumentar o nível de vida,
13:08a qualidade de vida dessa gente
13:11e, com isso, eu vou melhorar
13:12a qualidade de vida da cidade,
13:14o valor da cidade.
13:15E essa mania de sair todo mundo do interior
13:18e ir para Copacabana, para São Paulo,
13:21diminuiria também.
13:24Porque até quando São Paulo vai crescer
13:25dessa maneira, recebendo gente do Brasil interior?
13:29É, obviamente, impossível.
13:31Este ano foram construídos em São Paulo
13:33121 prédios altos.
13:37Não cabe, né?
13:39Tem uma hora que não tem jeito.
13:41Nós temos que repensar o país
13:42geograficamente,
13:45socialmente
13:45e, obviamente,
13:47politicamente.

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