Pular para o playerIr para o conteúdo principal
Leonardo Corrêa, advogado e presidente da Lexum - uma associação de juristas - avalia os limites constitucionais das decisões dos Poderes no Brasil e a importância de os juízes respeitarem o texto da lei.

Baixe o app Panflix: https://www.panflix.com.br/

Inscreva-se no nosso canal:
https://www.youtube.com/c/jovempannews

Siga o canal "Jovem Pan News" no WhatsApp:
https://whatsapp.com/channel/0029VaAxUvrGJP8Fz9QZH93S

Entre no nosso site:
http://jovempan.com.br/

Facebook:
https://www.facebook.com/jovempannews

Siga no Twitter:
https://twitter.com/JovemPanNews

Instagram:
https://www.instagram.com/jovempannews/

TikTok:
https://www.tiktok.com/@jovempannews

Kwai:
https://www.kwai.com/@jovempannews

#JovemPan

Categoria

🗞
Notícias
Transcrição
00:00Esse ativismo judicial, o neoconstitucionalismo, aliás, ele tem coisas absurdas.
00:06Eu me lembro de dois casos aqui.
00:08O primeiro é agora, recentemente a Suprema Corte tratou do marco temporal.
00:13Na Constituição é clara, ele inclusive decide a data.
00:17O marco temporal será aplicado na data de promulgação da Constituição, lá em outubro de 1978.
00:23Mas aí tem uma interpretação que não é bem assim.
00:26Mesmo quando a Constituição é muito específica, ainda tem uma interpretação que é como ela deveria ser, como você me colocou.
00:35E o segundo ponto que ocorreu também há uns anos atrás, que me chamou muita atenção,
00:41era a reeleição do presidente da Câmara no mesmo mandato.
00:44Não pode, está escrito, é terminantemente proibido.
00:47Mas foi seis votos a cinco.
00:49Como é que alguém deu um voto, mas com um termo que é tão claro, tão nítido na Constituição?
00:55Como é que você vê a atitude do Supremo em relação a decisões do Poder Constituinte lá atrás,
01:03quando ela é de uma clareza límpida?
01:06Não tem discussão.
01:08Porque até nisso gera-se polêmica.
01:10É, não deveria gerar.
01:12Eu acho que só o juiz teria, aliás, o dever de se meter na lei se for violação aos direitos fundamentais.
01:20Eu defendo no final do livro que o juiz tem o dever do judicial engagement,
01:26que seria o engajamento judicial quando houver violação aos direitos fundamentais.
01:31Porque eles vêm dos direitos naturais, que antecedem o Estado,
01:34no preâmbulo da Constituição, a Constituição é criada para assegurar direitos.
01:37Então você só assegura aquilo que já existe,
01:40você não assegura o que foi criado, tem que ter alguma coisa anterior.
01:42E para mim são os direitos naturais que estão desde a Constituição do Império.
01:46Então eles estão lá.
01:47Então, nesses casos, o judiciário, no meu modo de ver, tem o dever de atuar.
01:51Agora, tirando esses casos, que não é nenhum dos que você falou,
01:55o juiz tem que aplicar a lei.
01:57E se a lei trouxer um resultado ruim, ótimo.
02:00Porque o povo precisa aprender que o voto que ele dá para o legislativo
02:07é mais importante que o voto para o executivo.
02:10O executivo é que vai fazer as leis.
02:13Então o povo precisa aprender.
02:15A ideia de ter um super-homem que vai salvar toda a população
02:19das decisões ruins dos seus representantes eleitos
02:22é que, para mim, está na base desse encantamento pelo neoconstitucionalismo.
02:31É achar que pode-se salvar a população da própria democracia.
02:35Aliás, engraçado, que é o que se fala hoje.
02:37O que se fala nas decisões é que vamos salvar a democracia da própria democracia.
02:42Porque vamos salvar a democracia do direito dos indivíduos falarem coisas estúpidas.
02:48E coisas estúpidas devem ser ditas.
02:51Porque é o direito de manifestação do indivíduo.
02:55Então, essa ideia de salvar a democracia pervertendo a democracia
03:00não me parece razoável.
03:01Por isso que eu acredito que os juízes têm que respeitar o texto da lei,
03:07têm que fazer o trabalho de procurar o sentido público das palavras
03:11e não podem, na construção, negar o sentido público.
03:16Um outro caso, além dos que você citou, é o da imunidade parlamentar.
03:20O 53 é claro, imunidade é imunidade.
03:23Eu acho até que se eu pegar o Aurélio de 88 e comparar com o Aurélio agora,
03:28a imunidade vai continuar sendo imunidade.
03:31Mas os juízes resolveram ir além do texto.
03:34E isso, para mim, é absolutamente inadequado.
03:37E é inadequado até com o próprio princípio democrático.
03:39Se eles são representantes do povo eleito, estão lá para nos representar,
03:45e se o artigo 1º da Constituição diz que todo poder emana do povo,
03:49o parágrafo único do artigo 1º,
03:51como é que você vai chegar e policiar o discurso dos representantes eleitos?
03:56Aliás, policiar na tribuna, que foi o caso do Marcelo Varraten.
04:02É uma coisa inacreditável num regime democrático republicano.
04:09Agora, Leonardo, como é que a gente sai desta armadilha que nós estamos hoje?
04:16Você citou muito a criação da Federalist Society lá atrás,
04:20que foi uma espécie de reação ao neoconstitucionalismo.
04:24E ali começou... Mas demorou muito tempo até a tese da Federalist Society
04:29começar a ter juízes com esta conscientização
04:34que precisamos voltar a aplicar o texto como ele é
04:37e não como a lei deveria ser na cabeça de cada juiz.
04:40Conta um pouco esse processo, como foi nos Estados Unidos,
04:43e como você espera que a Lexum vai ocupar este mesmo papel relevante,
04:48porque, no fundo, a gente está tratando de mudança de cultura.
04:52E que é quando essa mudança de cultura é desencadeada,
04:55demora muito tempo até isso começar a espelhar os votos
05:00e as atitudes dos juízes na Suprema Corte.
05:03É.
05:04Em 2005, quando eu falei para você,
05:07o neoconstitucionalismo estava aparecendo no Brasil,
05:09mas não estava do jeito que está hoje.
05:12Então, demorou um tempo para eles chegarem aqui.
05:14A gente não pode achar que vai mudar tudo em um curto espaço de tempo.
05:18Você não vai mudar a cultura em um curto espaço de tempo,
05:20como você bem colocou.
05:22A Federalist Society nasce na década de 80 nos Estados Unidos
05:25por estudantes.
05:27É um pouco diferente do como é que a gente fez a Lexum, né?
05:30Mas eram estudantes que estavam incomodados com o fato
05:32que dentro das faculdades de Direito
05:34tinha uma maioria de professores progressistas.
05:37E não tinha espaço para o pensamento conservador ou libertário.
05:41Eles nem colocam...
05:43Eles colocam o liberal clássico junto com o libertário.
05:46Eles não fazem essa distinção.
05:48E eles fizeram um movimento inicial.
05:51Reagan estava eleito presidente.
05:53Então, foi indicado como a turnê de general,
05:56se eu não me engano, o Edward Meese III.
05:59Edward Meese III bota o time inteiro dos meninos da Federalist Society
06:03dentro do Departamento de Justiça.
06:05Aliás, é daí que vem a ideia do public meaning,
06:08do sentido público das palavras,
06:10porque na biografia do Scalia conta-se que ele chegou
06:14dentro do apartamento e falou o seguinte,
06:16olha, para com esse negócio de founding fathers
06:19e do que eles achariam,
06:21porque se não vai chegar a lugar nenhum,
06:23então vamos para o sentido público.
06:25E eles fizeram um trabalho enorme dentro do apartamento.
06:28O Reagan indicou o Scalia para a corte,
06:30que foi um movimento super importante,
06:33que não mudou tudo naquele primeiro momento.
06:35ele entra, o Reagan indica Rehnquist para Chief Justice
06:41e coloca o Scalia no lugar do Rehnquist.
06:45E essa sabatina foi curiosa.
06:47Não sei se você sabe que o Rehnquist passou com uma margem curtíssima.
06:52E o Scalia, que era, na verdade, o grande,
06:54o ponto mais importante de mudança,
06:58passou unânime.
06:59Ele tinha uma cultura enorme,
07:00citou literatura,
07:02Carl Porter na sabatina.
07:06Ele encantou todo o Congresso e passou de forma unânime lá.
07:10Mas ele começou o trabalho.
07:11E ele começou fazendo muitos votos vencidos.
07:14Há livros que são Scalia dissentes,
07:16são todos os votos vencidos dele.
07:19E ele foi, a Federica Soares foi fazendo um trabalho gradativo
07:22de conscientização,
07:24de agrupar essas pessoas.
07:26Nas universidades?
07:27Nas universidades.
07:27Na UPenn, por exemplo, quando eu estive lá,
07:31tinha um capítulo da Federal Society.
07:33Então, eles organizavam eventos.
07:35Eu me encantei porque o primeiro capítulo,
07:36o primeiro evento que eu participei do capítulo da UPenn
07:40era o Lawrence Tribe,
07:42que é um dos grandes professores da Living Constitution, de Harvard,
07:45e o Theodore Olsen,
07:48que foi a Attorney General do Bush.
07:50E um debate maravilhoso,
07:52porque eles trazem sempre alguém de esquerda
07:55para debater com o pessoal mais conservador e libertário,
08:00respeitam as pessoas.
08:02Porque não é pelo fato de que progressistas eventualmente
08:06não nos respeitem nos eventos
08:08que a gente tem que agir da mesma forma.
08:10Então, eles respeitam.
08:11Então, foi esse trabalhinho de formiguinha que eles fizeram
08:15que gerou a mudança na corte.
08:18Eles foram conduzindo a levar juízes
08:20que acreditam no originalismo, basicamente.
08:24Hoje, a corte tem uma maioria de juízes originalistas.
08:28Thomas é originalista,
08:30Amy Corny Barnett é originalista,
08:32Kávara é originalista,
08:33Alita é originalista.
08:35É a maioria da corte hoje.
08:37Uns cinco juízes, pelo menos, são originalistas.
08:39O Roberts não é.
08:40Chief Justice Roberts é um conservador pragmático.
08:45Ele não é um originalista,
08:46mas você tem uma maioria.
08:47Então, a ideia foi moldar a corte gradativamente.
08:51Foi esse o trabalho que a gente fizeram.
08:53Ou seja, a geração começa a ser formada na universidade,
08:57aí vai para os tribunais e finalmente chega a Suprema Corte.
09:00Exato.
09:00E isso começou nos anos 80 com o Reagan, que você está dizendo.
09:03Isso.
09:04Agora, nós estamos...
09:06Quanto tempo demora, né?
09:07É, mas você tem que pensar que eles,
09:11em 80, não tinham Twitter,
09:13não tinham Instagram, não tinham internet.
09:16Não tinha e-mail, não tinha nada.
09:20Então, eles largaram lá atrás
09:22num processo super analógico.
09:24Hoje, a gente tem um processo diferente,
09:27mas eu acho que é um trabalho de 20, 30 anos.
09:30Mas a Alexson pretende seguir esse mesmo caminho
09:33e infiltrar nas universidades?
09:36Ou o movimento da sociedade civil,
09:38de juízes e advogados,
09:42para daí começar a efetivar essa mudança cultural?
09:45Nós não queremos infiltrar,
09:47porque infiltrar é uma palavra boa para os totalitários.
09:51A gente não gosta disso.
09:52A gente gostaria muito é que os estudantes de direito
09:55que estão se sentindo sozinhos na universidade,
09:58por serem libertários ou conservadores,
10:01venham, eventualmente, a nos procurar
10:02e participar dos eventos, participar das discussões,
10:06escrever artigos que vão ser publicados.
10:09Esse, para nós, é o caminho natural para ser feita a mudança.
10:13E tem que ser gradativo.
10:15Mas uma das coisas que a gente tem feito
10:18que é diferente do que a Federação Social fez
10:20é escrever artigos numa linguagem que o povo entenda.
10:24Porque eu acho que, por dentro da academia,
10:28não é tão simples fazer uma mudança.
10:30A gente precisa fazer uma mudança por fora.
10:32A gente precisa mostrar para a sociedade
10:34que o texto é relevante,
10:36que é importante que os juízes
10:37considerem e respeitem a vontade do legislador.
Seja a primeira pessoa a comentar
Adicionar seu comentário

Recomendado