O setor de máquinas e equipamentos projeta perdas de até 16 mil empregos devido ao tarifaço de 50% imposto pelos EUA, com São Paulo sendo o mais afetado. José Velloso, presidente da Abimaq, explica os desafios para diversificação de mercados e como linhas de crédito de R$ 12 bilhões podem impulsionar a indústria 4.0.
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00:00A indústria brasileira de máquinas e equipamentos projeta um forte impacto com as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos.
00:08Segundo a Abimac, a associação que representa o setor, até 16 mil postos de trabalho podem ser perdidos.
00:15O estado mais afetado deve ser São Paulo, onde o corte pode chegar a 11 mil vagas.
00:21Também há risco de perdas significativas no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
00:26Apesar do impacto concentrado no Sudeste e no Sul, estados do Norte e Nordeste também sentem a pressão.
00:34Sobre esse assunto, eu converso agora com o José Veloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, a Abimac.
00:43Veloso, boa tarde. Obrigado pela gentileza aqui da sua entrevista.
00:46Ô Veloso, que tipos de máquinas o Brasil mais exporta para os Estados Unidos e em que elas diferem daquelas que a gente manda para outros mercados?
00:56Olha, o Brasil, como você falou, Fábio, primeiro agradeço aqui o convite, o setor de máquinas e equipamentos foi o mais afetado.
01:06Dentro daquele tarifaço, dos produtos que ficaram com 50% de importação lá nos Estados Unidos,
01:1420% deles são de máquinas e equipamentos.
01:17No ano passado, nós exportamos nos Estados Unidos 3,6 bilhões de dólares e o tarifaço hoje engloba mais ou menos 18 bilhões de dólares de exportações brasileiras.
01:29As máquinas que nós mais exportamos são máquinas rodoviárias ou também chamadas de máquinas da linha amarela.
01:35São aquelas máquinas que vocês veem nas ruas quando estamos pavimentando uma estrada, uma rua, construindo um estádio de futebol, enfim, são aquelas máquinas amarelas.
01:46O segundo são componentes de máquinas.
01:49Então, motores elétricos, geradores, um componente que vai dentro de uma máquina lá nos Estados Unidos, etc.
01:56Por isso, existe uma grande complementação.
02:01Se eu estou vendendo uma máquina, um pedaço de uma máquina que vai ser incorporado lá nos Estados Unidos,
02:07esse produto que eu estou vendendo está dentro de um projeto de um cliente meu e obedecendo normas técnicas e as condições de quem está comprando.
02:18Então, por isso, Fábio, a dificuldade de nós desviarmos essas exportações para outros mercados.
02:24Porque uma máquina, um produto de alta e alta média tecnologia, ele está adaptado para uma norma técnica e um projeto do cliente, no caso, um cliente americano.
02:35Como as normas americanas são diferentes das normas de outros países e outros continentes,
02:41eu tenho uma dificuldade muito grande de desviar, no curto prazo, essa exportação para outro mercado.
02:47E aí, olhando pelo outro lado a questão, Veloso, de onde os Estados Unidos comprariam essa máquina que deixariam de adquirir do Brasil?
02:55Quem é que estaria preparado no padrão, com conhecimento, tecnologia, know-how, para fornecer isso a curtíssimo prazo para eles?
03:04Olha, o principal concorrente nosso é o próprio Estados Unidos, né?
03:08Os Estados Unidos, ele fabrica máquinas, tanto que a nossa balança comercial de máquinas e equipamentos é negativa em 1,1 bilhão de dólares.
03:16Nós importamos 4,7, exportamos 3,6.
03:20Então, o principal concorrente são os próprios norte-americanos.
03:23E o México, né? O México é um país que está muito integrado nas cadeias produtivas dos Estados Unidos.
03:30Ele está ali do lado, né?
03:31Começaram um processo muito forte de industrialização através de maquilas, ou seja, montar produtos para vender nos Estados Unidos.
03:41Temos um concorrente também que é o Canadá, que também faz parte de um grande acordo que existe lá,
03:47e o SMCA, que é México, Canadá e Estados Unidos.
03:51E também temos concorrentes na Europa, por exemplo, o Reino Unido, né?
03:55O Reino Unido utiliza normas muito parecidas com os Estados Unidos.
04:00Por exemplo, enquanto que o resto da Europa trabalha com métrico, né?
04:04A distância medida em metros, lá na Inglaterra, o peso, o comprimento, as principais medidas são parecidas com os Estados Unidos.
04:15Não são normas exatamente idênticas, mas muito parecidas.
04:18Então, eu colocaria, Fábio, México, Canadá e Reino Unido como os nossos maiores concorrentes.
04:23Veloso, você deixou muito claro aí como buscar novos mercados para máquinas é algo completamente diferente de se buscar novos mercados para commodities, por exemplo.
04:33Eu queria te pedir para nos dar uma ideia de viabilidade e horizonte de tempo para conseguir isso, né?
04:40Quer dizer, prospectar um novo cliente, ajustar o produto ao projeto, a toda padronização que aquele país exige.
04:47Quão viável é isso e quanto tempo leva para se conseguir um novo mercado nesse setor?
04:52Eu diria que a parte técnica, que é especificação técnica, eu atender tecnicamente o que o meu cliente quer, leva, dependendo, lógico, da especificidade do produto,
05:04mas eu diria seis meses, oito meses, dez meses até um ano, dependendo da complexidade.
05:11Então, tem outra barreira que eu preciso ter assistência técnica, eu tenho que ter pontos de distribuição, eu tenho que ser conhecido e confiável para o cliente,
05:22porque se o meu cliente não me conhece, eu tenho que me tornar conhecido e ele tem que passar a confiar na minha fábrica, na minha equipe,
05:31sem falar de estoque de matéria-prima, desculpa, estoque de produto acabado e distribuição.
05:39Então, tudo isso leva bastante tempo. Eu diria que um prazo razoável é de dez meses a um ano.
05:46E isso fora o investimento que tem que ser feito também, né?
05:50Lógico, tudo tem investimento. Eu tenho que investir na minha fábrica aqui no Brasil, para me adaptar ao mercado de lá,
05:57adaptar o produto ao produto de lá e também investir em pontos de distribuição, né?
06:03E o estoque, quer dizer, é todo um material que eu vou produzir e que eu não vou vender,
06:09eu vou colocar num estoque para atender meu cliente se ele precisar de uma peça.
06:14Imagina só, você aqui, eu gosto de sempre dar exemplos, né?
06:17Imagina que você compra um carro importado aqui no Brasil, aí você dá um arranhão no para-choque
06:21e vai levar seis meses até embarcar um para-choque da Europa para o Brasil.
06:26Você não vai comprar esse carro de novo, né?
06:29Agora, uma máquina, ela não pode ficar parada nem horas, né?
06:33Nem um dia, porque uma máquina parada é produção que você está perdendo, né?
06:38Então, tem toda uma logística. Tudo isso envolve investimentos.
06:43E, Veloso, o setor está fazendo esse movimento, por mais custoso e demorado que seja,
06:49está fazendo esse movimento em direção a novos mercados?
06:53Ou, ao mesmo tempo, ele está apertando os cintos aqui para sobreviver internamente?
06:57Como é que esses dois caminhos estão se conciliando nesse momento desafiador e incerto que a gente está vivendo?
07:04É, tem o... Primeiro, o governo vem anunciando, né?
07:08Na sexta-feira... Na outra semana anunciou uma medida provisória,
07:12na sexta-feira anunciou um pacote de medidas financeiras, de financiamento.
07:17Hoje, anunciou mais um terceiro pacote.
07:21Tudo isso é muito importante, as empresas estão esperando isso.
07:24Precisa se concorrer, principalmente capital de giro, para atravessar a tempestade.
07:29Mas essas medidas são todas paliativas e para atravessar o problema.
07:35Depois, existe a questão da negociação diplomática, né?
07:38O país está negociando com os Estados Unidos,
07:41tentando melhorar essa condição desse pacote, desse tarifácio,
07:44para ver se a gente continua exportando para os Estados Unidos.
07:48E ainda depois tem essa questão, de eu substituir o meu produto por outro produto.
07:52Por exemplo, essa semana, o vice-presidente Alckmin está indo ao México.
07:58Nós, da Avimac, estamos integrando essa comitiva que vai ao México.
08:04E também participamos de várias ações da Apex,
08:09que é a Agência de Promoção de Exportação do Brasil.
08:12Nós temos um grande convênio dentro da Avimac com a Apex
08:14e procurando sempre abrir novos mercados.
08:17Então, essas iniciativas existem, mas elas, como eu falei, elas demoram tempo.
08:23Então, no curto prazo, agora, é essa boia de salvação do plano econômico.
08:28E no médio e longo prazo é procurar substituir.
08:32Porque o que vai acontecer, Fábio, eu deixo de vender nos Estados Unidos,
08:36eu vou abrir um buraco na minha fábrica, na minha produção.
08:38Isso eu vou tentar preencher com exportação para novos mercados.
08:44Mas, de novo, isso vai demorar tempo.
08:47Você citou aí, há pouco, o México como um dos concorrentes
08:52no fornecimento de máquinas e equipamentos para os Estados Unidos.
08:55O que dá para esperar para o setor de máquinas e equipamentos
08:58se conseguir nessa viagem ao México que começa amanhã, Veloso?
09:02Olha, o Brasil, para você ter uma ideia, Fábio,
09:08o principal destino das máquinas do Brasil são os Estados Unidos.
09:12O segundo, com 9% das nossas exportações, é a Argentina.
09:17O terceiro é o México, com 6%.
09:19Então, o México, nós já temos canais abertos com o México.
09:22O México é um país que a gente pode vender lá,
09:26inclusive, componentes de máquinas, que depois venham a comprar uma máquina mexicana
09:31e vai para os Estados Unidos.
09:33Então, esse é um caminho que a gente vai trilhar.
09:37A gente está acompanhando o vice-presidente nessa missão.
09:43E o objetivo é mostrar os nossos produtos e ampliar essa exportação.
09:48Nós já fazemos feiras no México de máquinas e equipamentos.
09:52São algumas feiras que a gente faz durante o ano.
09:55Então, não somos totalmente desconhecidos por lá.
09:59O importante, mas o importante é aprofundar.
10:02Como eu falo, o mercado externo, exportação, não é uma coisa trivial.
10:09É uma coisa que ela é gestada, trabalhada.
10:12É um projeto de médio e longo prazo.
10:14Por isso, a tristeza de tantos setores da economia,
10:18de uma hora para outra, você pega surpresa com esse tarifácio.
10:22Então, você pode pegar vários exemplos de quantos setores foram desenvolvendo produtos
10:28para chegar no ponto que chegamos com os Estados Unidos.
10:31Para, de uma hora para outra, a gente perder.
10:33Esse é um processo importante.
10:35Nós estamos colocando prioridade nisso.
10:37Mas é uma das ações e essa é uma ação de médio e longo prazo.
10:41Você citou há pouco também as medidas de ajuda anunciadas pelo governo.
10:46Agora há pouco foi anunciada.
10:48A gente está, inclusive, dividindo tela com o momento desse anúncio
10:51do vice-presidente Geraldo Alckmin e o presidente do BNDES,
10:54Aloysio Mercadante.
10:56Foi anunciada uma linha de crédito que, na verdade,
10:58essa não tem nada a ver com tarifácio,
11:00mas que tem tudo a ver com o setor de vocês.
11:02São 12 bilhões de reais com juros de 7,5%
11:05para que indústrias brasileiras renovem as suas máquinas,
11:09os seus equipamentos, ou seja, comprem mais das empresas de vocês,
11:13das empresas do setor.
11:14Qual o tamanho disso perto da necessidade?
11:16Enquanto um programa como esse ajuda o setor
11:19no momento como o que a gente está vivendo agora?
11:22Olha, é um programa robusto,
11:24porque nós temos já as linhas de crédito normais do BNDES,
11:28mais uma linha de crédito,
11:30essa que é chamada de Inovação 4.0.
11:34Importante porque também está ligada à Inovação Tecnológica
11:38e à Indústria 4.0.
11:40Quando eles anunciam uma taxa de juros de 7,5% a 8%,
11:45essa é a taxa de juros que vai compor a taxa final.
11:54Ela ainda vai ter o spread bancário.
11:56Então, eu explico.
11:57É uma linha de crédito indireta,
12:00ou seja, o dinheiro sai do BNDES
12:01e vai para um banco comercial.
12:04Vou dar um exemplo aqui do Banco do Brasil.
12:06Então, vai para o Banco do Brasil,
12:07mas qualquer outro banco que tem no Brasil.
12:09E esse banco vai colocar o seu spread,
12:13que pode chegar a 3%, 3,5%, até 4%.
12:17Aí, essa taxa de juros vai a coisa de entre 11% e 12%.
12:23É uma taxa de juros muito boa
12:25quando comparada com o mercado brasileiro,
12:28onde a Selic está a 15%.
12:30Então, ela vem em ótima hora.
12:34É uma ótima notícia que o governo traz,
12:37porque o Brasil está carente de investimento
12:40e, com isso, a nossa produtividade não aumenta,
12:43da economia brasileira.
12:45Por que está carente?
12:46Porque com a Selic a 15%,
12:48as taxas de juros médias hoje no mercado
12:51para se comprar uma máquina estão em torno de 21%, 22%.
12:55Então, se eu trago isso para uma taxa de 11%, 12% já com o spread,
13:01vai abrir mais apetite para investimento.
13:04A taxa de investimento no Brasil está muito baixa,
13:08é 17% do PIB.
13:10Ela tinha que estar em 23%, 24% do PIB.
13:14Nunca tivemos anos consecutivos de uma taxa de investimento tão baixa.
13:18Então, ela vem em ótima hora, é um grande refresco.
13:21E, além disso, além dessa taxa,
13:23ainda tem aquela anunciada na sexta-feira
13:26de R$ 30 bilhões para as empresas afetadas com o tarifácio dos Estados Unidos.
13:32Peloso, só para a gente encerrar,
13:34em relação a esse levantamento de vocês sobre risco de demissões,
13:37podem ser 16 mil demissões,
13:39já tem empresa do setor demitindo?
13:42Sim, eu não tenho como contabilizar isso.
13:47Isso vai vir nos próximos meses nos números do IBGE.
13:51Mas, quando eu pego esses R$ 3,6 bilhões que nós exportamos ano passado para os Estados Unidos
13:58e a gente vai olhar o emprego que isso gerou,
14:02direto na indústria de máquinas são 16 mil empregos.
14:05Os indiretos, nós estamos falando de mais 64 mil empregos.
14:10Então, no total, 80 mil empregos aí no setor de máquinas e na cadeia ajusante.
14:16Então, a nossa cadeia de valor.
14:18Então, nós estamos falando em torno de 80 mil empregos que correm o risco.
14:22Isso se a gente perder 100% das exportações.
14:26Eu diria para você, Fábio, que no curto prazo, nós não vamos perder tudo.
14:30O exportador vai fazer um esforço, o importador faz um esforço
14:34para absorver esse aumento de custo lá nos Estados Unidos do imposto de importação.
14:38No entanto, a médio prazo, ninguém vai aguentar isso.
14:44Quer dizer, se a gente permanecer nessa situação de 50% de tarifa,
14:49no médio e longo prazo, nós vamos perder todas as exportações de máquinas para os Estados Unidos,
14:53porque é um acréscimo muito grande no preço.
14:58Então, a gente aqui está trabalhando em duas vertentes.
15:01uma, diplomaticamente, o ministro Alckmin fazendo um excelente trabalho,
15:06tentando desentupir os canais que estão fechados para tentar renegociar o tarifato.
15:11E, por outro lado, nós estamos também atuando lá nos Estados Unidos,
15:16mostrando para a nossa contraparte, os clientes do nosso setor,
15:20a importância de se manter vivo esse canal entre Brasil e Estados Unidos.
15:26José Veloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, ABIMAC.
15:31Veloso, muito obrigado pelos seus esclarecimentos aqui.
15:34Uma boa semana e sucesso na missão no México.
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