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A sócia da Vallya Participações, Larissa Wachholz, analisou o impacto da tarifa de 50% imposta por Donald Trump aos produtos brasileiros. Ela destacou o peso para setores como aço, etanol e produtos industriais e alertou para o risco de suspensão de investimentos diante da instabilidade cambial e política.

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Transcrição
00:00Trouxemos há pouco aqui a informação de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,
00:04anunciou a imposição de uma tarifa de importação de 50% sobre produtos brasileiros,
00:11começando no dia 1º de agosto.
00:14Trump enviou uma carta ao governo brasileiro, especificamente ao presidente Lula,
00:19carta essa que ele publicou na sua rede social, a Truth Social,
00:23e nesse texto ele cita nominalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro
00:27e praticamente coloca o ex-presidente como a principal razão para a aplicação dessa tarifa de 50%,
00:35além também, outro ponto que ele cita na carta, as barreiras tarifárias e não tarifárias
00:40que o Brasil impõe a produtos que nós compramos dos Estados Unidos.
00:46Enquanto o Brasil segue então agora observando e estudando o que fazer com essa carta,
00:52que reação adotar, eu vou conversar aqui com mais uma especialista para a gente tratar desse assunto.
01:00A gente quer entender que caminho nos espera à frente, para onde é que podemos chegar a partir desse anúncio.
01:07Eu vou falar então com a Larissa Varrholtz, sócia da Valia Participações.
01:12Larissa, boa tarde para você. Muito obrigado pela gentileza aqui da sua participação.
01:16Larissa, antes de mais nada, eu queria saber qual avaliação você faz sobre uma tarifa,
01:21sobre um imposto de importação de 50% para produtos brasileiros entrarem nos Estados Unidos.
01:28De fato, é uma sinalização muito difícil para o Brasil.
01:32O Brasil tem com os Estados Unidos uma relação comercial em que os Estados Unidos têm o superávit,
01:39então o Brasil está em déficit nessa relação, é uma situação em que os Estados Unidos têm uma posição superávitária
01:46e, portanto, é realmente muito difícil de entender o porquê desses valores tão altos em cima do Brasil.
01:56O Brasil está justamente numa situação que é favorável aos Estados Unidos.
02:01Para a gente é um impacto realmente significativo, principalmente tendo em vista que os Estados Unidos
02:08são um mercado comprador de produtos de maior valor agregado do Brasil.
02:13Então, é um mercado que absorve produtos que, para a gente, é muito interessante exportar,
02:20porque nos ajuda a criar de forma mais expressiva do que, se a gente comparar com commodities de menor valor agregado,
02:29nos ajuda a criar renda e geração de empregos industriais aqui no Brasil.
02:34Então, realmente, é um choque bastante impactante que a gente vai precisar digerir com bastante cautela ao longo das próximas semanas.
02:4350% na prática podem representar um embargo comercial, Larissa?
02:48É difícil de dizer se isso vai poder representar um embargo efetivamente,
02:55porque a gente tem visto números muito altos sendo disparados contra diferentes países,
03:04inclusive países aliados dos Estados Unidos, aliados tradicionais dos Estados Unidos.
03:09Então, é um pouco difícil de dizer se, nesse âmbito, vai realmente parecer, na prática, um embargo ou não.
03:19A gente está vendo, por exemplo, uma situação de pressão grande em relação a Japão e Coreia do Sul.
03:26Então, eu acho que, na prática, vai depender um pouco de como é que vão ficar essas negociações com outros países.
03:32Mas, de qualquer forma, é uma sinalização realmente bastante preocupante para a gente,
03:38em que eu imagino que o governo brasileiro vai buscar manter ali algum canal de diálogo,
03:46se isso for possível, no sentido de sensibilizar as autoridades americanas,
03:51dado o perfil das compras que o Brasil faz dos Estados Unidos frente àquilo que ele vende.
03:59Sem mencionar, claro, ainda os investimentos de multinacionais brasileiras nos Estados Unidos.
04:06O Brasil não tem uma grande quantidade de multinacionais,
04:12claro, frente, comparativamente à maior economia do mundo, como é os Estados Unidos.
04:17Entretanto, nós temos um bom número de multinacionais brasileiras investindo nos Estados Unidos,
04:23inclusive em setores industriais.
04:25Então, eu acho que todos esses elementos serão trazidos a essa mesa de negociação
04:31para tentar lidar com uma tarifa tão alta quanto essa.
04:35Agora, pelo que a gente viu até do teor da carta, Larissa,
04:38a questão aí já não é mais só comercial, né?
04:40Ela entrou de uma forma muito ostensiva, muito clara ali no campo político ideológico, né?
04:46Eu não sei se só argumentos comerciais vão funcionar sobre a mesa nesse momento.
04:50O que é que te parece?
04:51Você tem razão, a carta deixa isso bastante em evidência e com esse elemento realmente é bastante difícil
05:00de estabelecer uma comunicação baseada nos dados do comércio, né?
05:07Mas eu acho que a grande questão é também como é que a própria economia americana,
05:13os players, né, dentro dos Estados Unidos, as empresas americanas, os consumidores,
05:19como é que eles também vão reagir a essas tarifas?
05:23Porque é preciso pensar que, no final das contas, né,
05:28o consumidor americano e as empresas americanas, eles também serão em grande parte,
05:34e muito provavelmente na maior parte, aqueles que estarão pagando o custo dessas tarifas, né?
05:41E quando a gente pensa nas exportações de produtos brasileiros para os Estados Unidos,
05:46muitos desses produtos, eles são importados pela indústria americana
05:52para ainda um processamento adicional que depois vai permitir a criação de um produto final
05:59e esse sim será vendido, seja no mercado americano, seja ainda exportado.
06:03O Brasil tem, portanto, um papel em algumas indústrias ali de enviar um bem intermediário
06:10para os Estados Unidos e isso vai ter um impacto no produto final a ser produzido nos Estados Unidos.
06:18Então, eu acho que um elemento importante, apesar do teor da carta,
06:22ele não se basear em questões comerciais efetivamente, como você mencionou,
06:27mas eu acho que vai depender muito da reação que o segmento vai ter nos Estados Unidos, né,
06:32os consumidores e as indústrias americanas quando efetivamente forem submetidos a essas taxas.
06:39E aí, claro, eu não estou me referindo só em relação ao Brasil, né,
06:43mas de forma geral isso vai trazer um impacto grande inflacionário, né,
06:47de tendência inflacionária forte à sociedade americana.
06:51Então, eu acho que a gente pensar os próximos passos disso também vai estar bastante relacionado
06:56e como esses entes vão reagir e vão se comportar em relação às tarifas.
07:03Na economia real, quais seriam os setores brasileiros que mais poderiam sofrer com esses 50% para entrar nos Estados Unidos?
07:12Olha, o ácido brasileiro que já estava submetido a tarifas importantes, né, maiores do que a tarifa base,
07:20provavelmente outros produtos como minério de ferro, o etanol brasileiro,
07:29que aí já é uma disputa que também já envolve outras questões,
07:32na medida em que os Estados Unidos também são produtores de etanol
07:36e os produtos de maior valor agregado que a gente poderia exportar para os Estados Unidos.
07:42produtos de consumo, né, não só produtos que sejam bens industriais intermediários,
07:48mas também produtos que vão direto ao consumidor final.
07:51Então, produtos como roupas, falsados, cosméticos e produtos que falem direto ao consumidor norte-americano.
08:02Em todos esses aspectos, de fato, a gente pode ver um incremento de preço desses produtos no mercado americano,
08:12pensando que as empresas importadoras nem sempre vão conseguir absorver a totalidade desse custo tarifário, né.
08:20Mas eu acho que do ponto de vista da indústria, o aço e no setor agroindustrial, o etanol,
08:28além de algumas outras commodities agrícolas ou produtos com algum grau de processamento mais na agroindústria, né,
08:35tipo de laranja, que também é um produto que Estados Unidos e Brasil, de certa forma, competem,
08:41frutas e outros produtos com um pouco mais de agregação de valor, mas ainda na área do agro,
08:47são potencialmente, serão potencialmente afetados por essas tarifas.
08:53Larissa, o Brasil, assim como outros países, já vinha reforçando a sua prospecção por outros parceiros comerciais
09:01fora os Estados Unidos, por conta desse tarifaço, basicamente desde a posse de Donald Trump,
09:07já prometendo essa política comercial.
09:10Quando vem essa segunda onda agora do tarifaço, é hora de reforçar esse movimento?
09:15É hora de buscar outros parceiros e cada vez tentar depender menos dos Estados Unidos comercialmente?
09:20Certamente, né, a estratégia de diversificação, ela é válida sempre, né, a gente,
09:29uma economia como a brasileira, que não é uma das maiores economias do mundo, né,
09:33que tem ambições de desenvolvimento, que tem todas as complexidades aqui da economia brasileira,
09:39que nós brasileiros conhecemos no dia a dia, precisa ter um esforço contínuo de diversificação, né,
09:46E isso é difícil, principalmente quando a gente se depara, às vezes também, com uma tentativa até de proteção do nosso mercado interno, né,
09:54apesar do Brasil ter ali uma posição exportadora importante, a gente ainda é um mercado bastante fechado e também bastante protecionista em diversas áreas.
10:04Então, isso provavelmente dará um ímpeto à discussão de novos acordos, assim espero, né,
10:10seria uma medida importante para que a gente, de fato, alcançasse um grau maior de diversificação.
10:15E talvez, inclusive, reunindo ali, até dentro dos diferentes setores no Brasil e das diferentes camadas políticas,
10:25um certo consenso em relação a uma pauta de maior abertura comercial e negociação de novos acordos, né,
10:32a gente teria condições de dar mais velocidade à aprovação de acordos comerciais,
10:38alguns já em negociação, outros que já foram negociados, mas não foram ainda ratificados no parlamento,
10:44outros que poderiam ser iniciados.
10:46Então, talvez uma situação como essa acabe servindo a trazer os setores,
10:53a alcançar um consenso um pouco mais consistente em relação à importância
11:00de termos uma abertura continuada da nossa economia.
11:04Larissa, o dólar nesse pós-mercado já está passando de R$ 5,60 e é inevitável a gente se lembrar
11:12do que aconteceu no fim do ano passado, quando, por razões domésticas,
11:16pelo aumento das preocupações fiscais, o dólar chegou perto de R$ 6,30.
11:21Eu sei que é difícil falar em para onde vai o dólar, até onde vai o dólar,
11:25mas a gente pode estar vivendo um momento que nos traga esse risco novamente?
11:31Olha, realmente é difícil dizer nesse momento, eu não me arriscaria, assim,
11:36a gente está a horas de gerir, minutos, na verdade, de gerir uma informação como essa,
11:42essa aplicação de tarifas aqui sobre os produtos brasileiros.
11:45Então, nesse momento, eu acho que a gente precisa de um grau de reflexão
11:49e também de um certo tempo aqui de deixar os negociadores trabalharem
11:55para a gente ver em que patamar as coisas vão ficar e qual o tamanho do impacto na economia brasileira.
12:00Mas, nesse momento, a gente tem, a princípio, uma certa bagunçada nos indicadores aí,
12:07quer dizer, a gente volta a ter o dólar a curtíssimo prazo, pelo menos,
12:11com uma pressão para cima, consequentemente, o rumo da Selic,
12:16a gente vai ter que observar para ver o que vai acontecer, juros futuros também mudando.
12:22O mercado está muito instável, né?
12:24Assim, uma informação como essa bagunça todos os indicadores, né?
12:29E, principalmente, o principal dano, muito provavelmente, é a suspensão dos investimentos, né?
12:36De parar tudo e falar, não, peraí, vamos analisar o que a gente vai fazer,
12:39vamos deixar as coisas se acalmarem primeiro.
12:42Então, isso atrasa decisões de investimento,
12:45isso atrasa tomada de decisão de pessoas que não gostam de instabilidade,
12:51de pessoas que precisam trabalhar em um cenário estável.
12:54Então, de fato, todos os indicadores, nesse momento, tendem a oscilar bastante,
12:59mas a gente sabe também que a gente tem visto, ao longo desses últimos meses, né?
13:05A gente tem aprendido que as coisas também têm mudado muito rapidamente, né?
13:10Então, o que é dito num dia, às vezes, é modificado alguns dias ou semanas depois.
13:17Então, nesse momento, é difícil fazer qualquer previsão,
13:20porque a gente está lidando com uma tomada de decisão bastante instável e imprevisível.
13:27Uma reação do governo mais forte nesse momento poderia dificultar o avanço das conversas?
13:34Ou você acha que o governo precisa marcar posição no sentido de defender a sua soberania,
13:40de defender o papel que o judiciário brasileiro está desempenhando, por exemplo,
13:44na investigação de vários casos que acabam envolvendo tanto o ex-presidente Jair Bolsonaro,
13:50quanto o ex-componente do seu governo e outros apoiadores?
13:53O Brasil tem uma tradição diplomática muito importante, né?
13:59E eu acho que essa tradição diplomática, ela se mostra muito valorosa em momentos como esse.
14:05O Brasil não é, tradicionalmente, aquele que reage de forma abrupta,
14:12mas reage de forma calculada, de forma consistente, coerente.
14:19E é isso que eu acho que, eu espero, né? Que seja a nossa linha de ação.
14:24Se tem uma área em que o Brasil, de fato, tem uma classe, digamos assim, bastante preparada,
14:32é essa, né? Da diplomacia.
14:34Então, a gente já viveu momentos difíceis antes,
14:37e eu acho que a gente vai conseguir encarar também esse novo cenário.
14:42E um cenário que tem particularidades aqui no caso brasileiro,
14:47o teor da carta mostra isso, mas é um cenário que está se apresentando
14:51para diversos países no mundo, para todos os países no mundo, né?
14:54A gente está vendo países muito menores do que o Brasil
14:59e que tem uma relação ainda muito menor com os Estados Unidos,
15:03uma relação comercial pequena com os Estados Unidos,
15:06recebendo tarifas de 40%, né?
15:09Então, eu acho que a gente vai, espero, né?
15:13Utilizar do melhor da nossa tradição diplomática
15:16para conseguir estabelecer canais de diálogo.
15:19É claro que sempre se fazendo respeitar.
15:22O Brasil é um país soberano, o Brasil tem todos os motivos, né?
15:28Para apresentar a sua versão dos fatos,
15:31mas fazendo isso com bastante calma e bastante cautela.
15:34Larissa, você citou a carta que Donald Trump enviou ao governo brasileiro,
15:39ao presidente Lula.
15:41Essa carta, ela menciona, portanto, a gente está vendo aí novamente ela na tela.
15:45A gente poderia separar essa carta em dois momentos, né?
15:48Ela fala do tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro,
15:52aliás, é o primeiro assunto de que a carta trata.
15:54O nome de Bolsonaro está logo na primeira linha.
15:57Diz que ele está sendo vítima de uma caça às bruxas,
15:59enfim, faz todo o discurso político ali.
16:02E depois, a carta menciona as barreiras tarifárias e não tarifárias
16:07que o Brasil impõe, né?
16:10Do ponto de vista comercial, aos Estados Unidos,
16:12assim como impõe a outros países também.
16:15A gente pode situar que esse é um ponto que, de fato,
16:19o Brasil precisa trabalhar, né?
16:21Quer dizer, qualquer especialista aponta que a economia brasileira é fechada
16:24e que o leque de barreiras comerciais que o país impõe,
16:29sejam tarifárias, sejam não tarifárias, é um leque amplo, não é isso?
16:31De fato, o Brasil é uma economia que, para o seu tamanho e para a sua ambição de globalização,
16:40é uma economia fechada.
16:42Então, tem bastante espaço para a gente trabalhar esse tema das barreiras tarifárias e não tarifárias.
16:48E é um mercado que tende a proteger bastante a sua indústria doméstica, né?
16:55Mas uma indústria doméstica que, também, em alguns setores,
16:59ela conta com muitas marcas internacionais,
17:04com multinacionais que operam a partir do Brasil,
17:07mas que são empresas americanas e europeias.
17:10Então, eu acho que esse ponto também poderá ser levado em consideração
17:14nas negociações que se seguirão.
17:18Mas, sim, o Brasil tem espaço para flexibilizar esse cenário.
17:24E, como eu dizia anteriormente,
17:25talvez essa situação crie um contexto político,
17:29um momento político em que a gente consiga um pouco mais de consenso entre as partes
17:33em relação a essa flexibilização das importações.
17:39Porque esse é um tema bastante delicado aqui no Brasil, né?
17:42A indústria brasileira, ela costuma reagir de uma forma bastante forte, né?
17:48A cada vez que se fala em uma abertura comercial mais ampla.
17:53Então, eu acho que, talvez, a gente consiga,
17:57a partir de uma situação de crise como essa que se apresenta,
18:01conseguir alinhar algumas das nossas estratégias
18:05e buscar esses consensos que são absolutamente necessários
18:09para que uma decisão de estratégia de comércio exterior
18:13seja, de fato, implementada, né?
18:15Se não houver um consenso interno em relação,
18:19ou mínimo, né, de apoio dos diferentes setores da economia
18:23para que uma estratégia de maior abertura comercial se coloque,
18:27dificilmente a gente consegue seguir adiante.
18:30Então, quem sabe esse momento de crise vai nos permitir
18:33uma reflexão honesta sobre esse assunto aqui também no Brasil.
18:37Mas aí, a gente precisa pensar que isso não é uma decisão governamental.
18:42Isso é uma decisão da sociedade brasileira, do empresariado.
18:47Isso, na verdade, é uma circunstância que o governo pode até ter ali
18:53a sua política, uma visão mais voltada a uma maior abertura
18:57ou menor abertura, mas isso depende muito de conversas com o setor produtivo.
19:04Então, eu acho que aí a questão fundamental é a posição do setor produtivo
19:11em relação a esse assunto.
19:12Pois é, a gente teve um exemplo que a gente pode apresentar aqui como paralelo,
19:17que aconteceu exatamente nesse governo também,
19:19que foi a discussão sobre a desoneração da folha de pagamento, né,
19:23para 17 setores da economia.
19:25O governo tentou acabar com aquela desoneração
19:27e aquilo não foi adiante com a reação do Congresso,
19:30com todos os lobbies dos setores beneficiados agindo,
19:33e aquilo não foi para frente.
19:34Dá para traçar um paralelo com esse momento na sua leitura, Larissa?
19:38Quer dizer, o governo pode tentar fazer,
19:41mas se a sociedade não entender, não tiver comprometido
19:43e cada um, cada setor quiser defender o seu lobby,
19:47isso acaba não indo para frente e a gente não evolui no macro, né?
19:52Eu acho que dá para traçar paralelos com vários episódios
19:56da história econômica brasileira,
19:58e essa é uma questão muito importante, quer dizer,
20:00é muito difícil a gente conseguir seguir adiante
20:03com a negociação de acordos comerciais,
20:05porque há sempre setores que serão prejudicados por esses acordos, né?
20:10Mas é preciso que a gente tenha uma visão mais ampla
20:13de desenvolvimento econômico.
20:15Qual é a nossa estratégia de desenvolvimento econômico?
20:18Se ela envolve uma atuação importante no mercado internacional,
20:22ela vai precisar prescindir também de maior abertura econômica.
20:26Então, é nessa questão da visão de desenvolvimento,
20:30de uma estratégia de desenvolvimento econômico comercial,
20:34que a gente precisa reunir o setor produtivo
20:38em busca de alguns consensos, né?
20:41Provavelmente a gente não vai conseguir ter um consenso absoluto,
20:44mas se pelo menos a gente conseguisse
20:46algumas diretrizes ali em comum,
20:51em que houvesse o mínimo de concordância,
20:53a gente seríamos capazes de implementar
20:56uma estratégia real de comércio exterior, né?
20:59Caso contrário, é isso.
21:00A gente sempre vai ter setores que serão mais beneficiados
21:04ou prejudicados por determinadas ações.
21:07Mas o Brasil é um país com inúmeros problemas, né?
21:11Com inúmeras questões de desenvolvimento,
21:15de desigualdades em diferentes regiões do país
21:17em relação ao desenvolvimento.
21:18Então, é preciso que a gente tenha uma visão mais ampla
21:22de onde nós queremos chegar
21:24para que, de fato, essas grandes decisões sejam tomadas.
21:27Porque é uma decisão extremamente complexa
21:30e que vai certamente encontrar inúmeras restrições
21:37e será barrada em diferentes fóruns.
21:41Então, a questão é, será que essa crise pode nos fazer
21:44reunir diferentes agentes do setor produtivo
21:48em prol de uma pauta de abertura comercial efetivamente?
21:52Talvez sim.
21:53Talvez seja um caminho possível.
21:55E entre os setores que têm um grau de proteção importante
21:59aqui no Brasil, tal etanol.
22:01Me lembro de etanol, que inclusive você citou há pouco.
22:04E os Estados Unidos, eles já reclamaram,
22:07aliás, eles vêm reclamando de forma expressa
22:10em relação ao etanol brasileiro
22:12por toda a proteção tarifária, inclusive, que tem.
22:15Uma proteção que aumentou no período de alguns anos.
22:19Quer dizer, a gente está falando aí de um setor
22:21que é um exemplo dessa discussão.
22:23Existe uma proteção, os Estados Unidos questionam.
22:26Eles, como também grandes produtores de etanol,
22:29querem abrir mercado, não conseguem
22:30porque encontram essa barreira tarifária imposta pelo Brasil.
22:34e aí a negociação não avança.
22:37É um momento como esse?
22:38É hora de rever, inclusive, essa proteção ao nosso etanol, Larissa?
22:43Eu acho que é o momento de rever essa nossa estratégia como um todo.
22:48O etanol é um exemplo, mas nesse caso,
22:51Estados Unidos e Brasil acabam tendo essa produção
22:57desse mesmo produto em larga escala.
23:00Em alguns momentos, inclusive, a gente precisou importar também
23:03a etanol dos Estados Unidos.
23:05Então, as coisas vão oscilando um pouco ao longo do tempo.
23:10Mas eu acho que sim, que é um exemplo, mas não é o único.
23:13Dependendo do mercado que a gente fale sobre abertura,
23:17a gente tem uma posição em que os setores vão se posicionando
23:20de forma diferente.
23:21Então, se falar de uma abertura com os Estados Unidos,
23:23Então, é favorável para a indústria,
23:26mas outros setores poderão perder com isso.
23:30O etanol é um exemplo.
23:31Então, a agroindústria, em algumas situações, poderá perder.
23:35Se a gente falar de uma abertura comercial com a China, por exemplo,
23:38o setor do agronegócio é a favor.
23:41O setor industrial é contrário.
23:43Então, em cada circunstância, com cada parceiro comercial,
23:47a gente tem um posicionamento diferente.
23:49A gente tem em curso a negociação do acordo Mercosul-União Europeia,
23:54que também encontra as suas restrições na União Europeia,
23:58em alguns países da União Europeia,
23:59pela mesma razão que a gente tem aqui as nossas restrições aqui no Brasil.
24:05Então, os setores lá também são contrários.
24:07Então, é preciso pensar aqui de uma forma mais ampla,
24:10em termos de estratégia, para que lado nós vamos.
24:13Mas uma circunstância como essa, em que a tarifa é tão alta,
24:16eu acho que ela nos obriga a sentarmos para conversar sobre isso,
24:22sobre que papel, de fato, a gente quer ter na internacionalização,
24:27no mercado internacional como um todo.
24:31Larissa Varrholtz, sócia da Vale a Participações.
24:35Larissa, muito obrigado por toda a sua análise aqui.
24:38Uma boa semana e vamos seguir acompanhando
24:41qual será o movimento da nossa economia e dos mercados também.
24:44Muito obrigado.
24:45Obrigada a você pelo convite.
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