Indústria química brasileira sofre com impactos do tarifaço; Abiquim repercute

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Em entrevista ao Real Time, Éder da Silva, gerente da Abiquim, alerta para o impacto do tarifaço: apenas 5 dos 50 produtos químicos mais exportados foram isentos. Pedidos já foram cancelados e há risco para empregos e investimentos.

Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://timesbrasil.com.br/guerra-comercial/

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00:00O tarifácio dos Estados Unidos impõe desafios também à indústria química brasileira.

00:05O alerta é da Abkin, a associação brasileira que representa o setor.

00:09Eu vou conversar agora com o Eder da Silva, que é gerente de comércio exterior da Abkin.

00:14Bom dia para você, Eder. Seja bem-vindo ao Real Time.

00:17Bom dia, Marcelo. Obrigado pelo convite. É um prazer falar com você e com todos os telespectadores do Real Time.

00:23Eu queria que você desse um panorama para a gente, Eder, de como que ficou a tarifação no caso da indústria química em geral.

00:30Imagino que alguns produtos estão isentos e outros estão aí enfrentando 50%. É isso mesmo?

00:36Perfeito, Marcelo. Continuamos bastante impactados com a medida anunciada na semana passada pela Casa Branca.

00:43Hoje, inclusive, houve uma regulamentação por meio de um ato da Customs and Border Protection,

00:49equivalente à Receita Federal do Brasil, que nós estamos digerindo para, inclusive,

00:53orientar os associados sobre os termos operacionais da medida.

00:56Mas, como você mesmo trouxe há pouco, sim, há isenções.

01:01Desde a semana passada, estamos falando de mais de 70 produtos químicos que não estão cobertos pela medida.

01:07Mas o universo tarifário exportado do Brasil para os Estados Unidos é muito grande.

01:12Estamos falando de mais de quase mil códigos da nomenclatura comum do Mercosul, da NCM,

01:17de produtos brasileiros que acessam o mercado norte-americano e que continuarão impactados.

01:23Quando a gente fala de indústria química, a gente está colocando petróleo também no meio?

01:26Os derivados do petróleo, na verdade, Marcelo, porque estamos falando aqui de produtos químicos de uso industrial,

01:36aqueles que vão alimentar cadeias de transformação e agregação de valor a substâncias químicas

01:41em produtos de uso diário das várias cadeias de valor, como na área de couros,

01:47na área de produtos de borracha, obras plásticas, enfim, todos os bens da cadeia de transformação

01:54que terão valor agregado no país e exportados aos Estados Unidos, como artigos de prateleira,

02:00mas nós, como eu dizia há pouco, também estamos muito impactados com os produtos químicos

02:05e uso industrial em si nesse acesso ao mercado norte-americano.

02:08Um dado importante é que um setor como o químico brasileiro que exporta para o mundo,

02:13para todos os mercados, algo em torno de 15 bilhões de dólares ano,

02:17especificamente nos Estados Unidos, encontra algo como 2,5 bilhões anuais

02:23em um parceiro comercial de destaque.

02:26Você tem de cabeça que tipo de produto químico a gente mais exporta para os Estados Unidos?

02:32São dos mais variados, Marcelo, porque quando falamos aqui da cobertura de produtos químicos,

02:38estamos falando de produtos inorgânicos, produtos orgânicos, resinas termoplásticas, elastômeros,

02:44enfim, são substâncias químicas que alimentam o suprimento de várias cadeias de transformação.

02:50Mas o que eu posso te dizer é que dos 50 produtos mais exportados pelo Brasil aos Estados Unidos,

02:57apenas 5 estão isentos dessa tarifação anunciada pela Casa Branca na semana passada.

03:03Os 50 mais exportados somam praticamente 2 bilhões daqueles 2,5 bilhões de dólares

03:10que eu mencionei de todo o universo setorial da química exportada aos Estados Unidos.

03:15Eu queria entender um pouco, Éder, qual vai ser o impacto para as indústrias que estão no Brasil

03:18fazendo essa exportação para os Estados Unidos.

03:21São produtos fáceis de redirecionar para outros mercados?

03:24E também, assim, tem empresa, por exemplo, que exporta especificamente para os Estados Unidos

03:29e que tem o risco até de fechar as portas?

03:32Marcelo, nós temos uma relação histórica com os Estados Unidos em termos de comércio e investimentos.

03:37Muitas empresas de capital norte-americana estão instaladas no Brasil há algumas dezenas de anos

03:44e vice-versa.

03:45Algumas empresas brasileiras se internacionalizaram e possuem ativos produtivos

03:49e um grande fluxo de comércio com os Estados Unidos.

03:52Então, sem dúvida, os impactos diretos são muito expressivos.

03:56Já temos notícias de muitos associados com pedidos cancelados por clientes norte-americanos

04:02aguardando a regulamentação da medida da quarta-feira em diante

04:04e talvez, inclusive, mais preocupantes em um curtíssimo prazo

04:09são aqueles pedidos de vendas dentro do próprio mercado brasileiro

04:14de produtos químicos que seriam adquiridos por clientes da química

04:18nessas cadeias de transformação em que temos alto valor, alto conteúdo químico embarcado

04:23e que seria, então, processado em território nacional

04:27e esse produto de prateleira, o produto intermediário vendido aos Estados Unidos

04:32sobretudo aí nas cadeias de móveis, de produtos de borracha, de artefatos plásticos

04:39é grande preocupação, Marcelo.

04:42E, naturalmente, é por isso que nós entendemos que há espaço negociador

04:46para mais exclusões setoriais daqui até quarta-feira

04:50e esse é o nosso grande pedido às autoridades comerciais e diplomáticas brasileiras nesse momento.

04:57Eu queria que você explicasse para a gente qual o tamanho da indústria química no Brasil

05:01quantos empregos ela gera, qual o impacto que isso tem para a nossa economia.

05:06Marcelo, é um setor que fatura, anualmente, algo em torno de 180, 200 bilhões de dólares a ano

05:14com uma fabricação que gera muitos empregos diretos e indiretos

05:20na ordem de mais de 1 milhão, 1 milhão e 200 mil empregos em todo o país

05:24e que, além de, talvez, o próprio número de trabalhadores do setor,

05:28a massa salarial é das maiores de toda a indústria de transformação

05:33porque são empregados, então, no setor engenheiro,

05:37são colocados também no parque industrial

05:40várias classes de trabalhadores com alta capacitação técnica

05:45e que, com isso, demandam também de uma massa salarial equivalente.

05:49Então, sem dúvida, é de grande interesse estratégico para o Brasil

05:54que o setor químico não esteja tão impactado

05:57nessas operações de exportação aos Estados Unidos

06:00ou serem tarifadas a partir de quarta-feira.

06:02É uma indústria que está espalhada em muitos estados,

06:05mas, por exemplo, no Rio de Janeiro, em São Paulo,

06:07acredito que em Minas também, tem uma grande concentração.

06:10Perfeito, Marcelo.

06:12Sobretudo nos polos industriais da química

06:15que se concentram no Rio Grande do Sul,

06:19em São Paulo, na Bahia, Camassari,

06:22em Triunfo, no Rio Grande do Sul,

06:25em Mauá, Capuá, aqui em São Paulo,

06:27de onde falo, em Camassari, na Bahia,

06:29e também o polo petroquímico do Rio de Janeiro.

06:32Então, temos aí quatro grandes polos

06:34que concentram, sem dúvida,

06:36a maioria das exportações desses bens

06:39que serão tarifados a partir de quarta-feira.

06:42Você acha que empregos estão em jogo nesses lugares?

06:44Ou talvez, nesse primeiro momento,

06:47vai ter uma estabilidade aí no emprego?

06:50Marcelo, no médio prazo, sem dúvida,

06:52a depender das decorrências da aplicação da medida,

06:57isso pode acontecer.

06:58Mas, talvez, no curtíssimo prazo,

07:02a maior preocupação seja exatamente

07:04a inclusão de novos produtos

07:06naquela lista de isenções,

07:07para que não haja um desdobramento mais grave

07:11para a indústria química brasileira,

07:13que chegue a esse ponto de haver pressão de demissões

07:17ou de paradas de produção,

07:18que não estão mapeadas até aqui no setor.

07:20Mas, em alguns clientes da química,

07:22aí sim já temos notícias, infelizmente,

07:24de paralisações de fabricação,

07:27de férias antecipadas,

07:29sobretudo ali na área de imóveis,

07:31e que preocupa bastante o setor químico.

07:34Você acredita que essa incerteza toda

07:36que a gente está vivendo

07:37pode atrapalhar investimentos

07:38para o crescimento da nossa indústria química?

07:42Marcelo, os Estados Unidos, como eu disse,

07:44são um dos principais investidores

07:47na indústria química brasileira, historicamente.

07:49Então, sem dúvida,

07:51tudo que é colocado nesse curto prazo

07:55como um dificultador para a alavancagem competitiva brasileira

07:59no próprio mercado interno

08:00e no acesso aos seus principais mercados de destino

08:03coloca pressão na agenda de reinvestimentos.

08:06Mas, com certeza, do lado da indústria química,

08:11no mercado interno,

08:12as ações de maior competitividade

08:17na área do gás natural,

08:18que é matéria-prima estratégica para o setor,

08:21podem, ao contrário,

08:23alavancar uma agenda de reinvestimentos setoriais

08:26e também a agenda de descarbonização,

08:29trazer investimentos importantes para o país,

08:31dentro, inclusive, das políticas federais

08:33do Nova Indústria Brasil, do Plano Clima,

08:36entre outras que estão sendo,

08:38exatamente nesse momento,

08:39desenvolvidas pela administração federal brasileira.

08:43Éder da Silva,

08:43gerente de comércio exterior da Abekin,

08:45muito obrigado pela sua participação

08:47hoje aqui no Real Time.

08:48Bom dia.

08:48Obrigado, Marcelo.

08:50Um bom dia a você e a todos os telespectadores do Real Time.

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