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Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, analisa a redução inesperada do déficit comercial dos EUA em junho e os efeitos do tarifaço americano, que entra em vigor nesta quarta (06). A aversão ao risco e a desaceleração da economia norte-americana impactam empresas e a cadeia produtiva global, além dos desafios para o Brasil enfrentar tarifas de 50%. Vinicius Torres Freire também participa da discussão.

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Transcrição
00:00O saldo da balança comercial dos Estados Unidos veio melhor do que o mercado esperava.
00:06O déficit encolheu em junho num recuo puxado pela queda nas importações na vigência do tarifácio.
00:12Os números saem justamente no momento em que o Brasil tenta entender e mitigar os impactos da nova tarifa imposta por Trump.
00:20Começa a valer amanhã.
00:21Quem ajuda a gente a entender esse cenário é a Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.
00:27Vinícius Torres Freire nem saiu porque ele vai participar também dessa entrevista aqui comigo.
00:32Carla, boa tarde para você. Obrigado pela gentileza aqui da sua participação num dia tão importante, véspera do aumento do tarifácio.
00:39Notícia aí sobre diminuição do déficit comercial nos Estados Unidos.
00:43Carla, dá para cravar que essa redução no déficit aconteceu por causa do tarifácio?
00:50Boa tarde, Vinícius. Boa tarde, Fábio. É um prazer imenso estar aqui.
00:53Bom, sobre o tarifácio dos Estados Unidos, acredito que houve um movimento muito importante ao longo do primeiro semestre.
01:00O primeiro movimento foi que as empresas anteciparam as suas encomendas, anteciparam as suas compras justamente para fugir desse tarifácio.
01:07Então, houve uma certa... esse movimento foi inflado, né?
01:11Houve uma importação muito grande desses produtos.
01:14No segundo momento, prevaleceu a aversão ao risco, que é justamente isso que nós estamos vendo agora.
01:20Então, essa aversão a risco mais latente faz com que as empresas coloquem o pé no freio em relação às suas compras futuras.
01:28Isso é refletido, sim, no saldo da balança comercial.
01:32Portanto, esses são os primeiros efeitos mais claros dessa política tarifária,
01:38que refletem esse nível de incerteza absolutamente elevado, que ganhou uma projeção muito grande nos últimos dias.
01:45Então, Carla, quer dizer, é o seguinte, a avaliação de muita gente, também na minha, modesta minha,
01:52é que os dados ainda do primeiro semestre estão poluídos.
01:56Teve atitudes violentas, extremas, dos importadores, de consumidores, de antecipação de compra,
02:02e agora tem uma moderação por incerteza, e ainda pode ter, quem sabe, a gente não sabe qual o tamanho do ritmo da economia americana,
02:10pode ter até uma desaceleração de compra devido à diminuição da atividade.
02:13Então, assim, resumo da ópera, esses seis primeiros meses, pelo menos em relação ao comércio de bens,
02:20a gente ainda não pode ter certeza de tendência, é isso?
02:23Exatamente. Acho que é um universo muito pequeno de dados disponíveis para precisar.
02:29Até porque houve uma alteração tão grande sobre essas tarifas, anúncios que depois foram adiados e modificados em termos de tarifa,
02:36que sequer se sabe ao certo qual é a magnitude dessas taxas que incidem sobre esses produtos.
02:41Então, todo esse cenário absolutamente nebuloso, ele promoveu esse movimento que nós acabamos de mencionar,
02:48de antecipação das compras, mas a partir de agora, eu acho que prevalece essa incerteza maior,
02:55com base justamente nos custos mais elevados e numa demanda interna do próprio país norte-americano,
03:01que arrefece ao longo do tempo. Então, essa relação entre demanda arrefecendo, custos mais elevados para a produção,
03:10acaba gerando esse contexto em que os dados que nós colheremos a partir de agora,
03:15tendem a ser menos positivos do que esses que nós vimos até aqui.
03:18O Carla, os Estados Unidos são um país essencialmente importador, poucos são os países com quem os americanos têm superávit.
03:27Aliás, o Brasil é um desses poucos e está sofrendo esse 50% de tarifa.
03:32Agora, essa redução nas compras dos Estados Unidos, ela pode, em algum momento, ao longo dessa nova jornada tarifária,
03:40começar a comprometer o funcionamento de alguns setores que dependem de insumos e componentes importados?
03:45Acredito que sim, é uma tarifa realmente muito elevada.
03:51Então, é natural que você tenha esses processos de descontinuidade ao longo do processo produtivo.
03:56Se isso vir a acontecer efetivamente, é possível que nós vejamos certos produtos não sendo entregues,
04:03aumentando o tempo de entrega desses produtos, os insumos demorando mais a chegar,
04:09uma descontinuidade na cadeia produtiva que impacta justamente na inflação.
04:13Então, esses choques que têm origem não na demanda propriamente dita e no nível de atividade global,
04:21mas em processos de continuidade e descontinuidade das cadeias produtivas,
04:25eles geram esses efeitos sim e podem ter o reajuste via preços no curtíssimo prazo,
04:31o que é algo que o Fed está muito de olho por lá.
04:34Carla, o Goldman Sachs publicou uma espécie estimativa do efeito até agora das tarifas
04:39e ainda não pegou a nova rodada.
04:41Diz o seguinte, que 80% do aumento de tarifas está sendo bancado pelos americanos.
04:4820% é desconto da oferta do vendedor.
04:52E que desses 80 pontos, 60 pontos estão ficando nas empresas.
04:56Inclusive, as empresas estão ficando com prejuízo, diminuindo a margem de lucro delas.
05:01Inclusive, tem empresas como Ford, Nike e outras dizendo,
05:05olha, a gente está tendo prejuízo quase na casa de bilhão, a gente está entubando quase um bilhão.
05:10Você acha que as empresas vão ficar nessa retranca para não perder mercado,
05:15vão esperar bastante tempo antes de aumentar preço?
05:18Ou, daqui a pouco, tendo definido o conjunto de tarifas básicas,
05:22elas vão começar a botar esses preços para o consumidor, vão repassar esse custo?
05:26Isso depende muito do nível de demanda.
05:30A gente sabe que o preço é um ajuste.
05:33Então, ele é um ajuste entre o que acontece do lado da oferta
05:36e um ajuste entre o que acontece do lado da demanda.
05:39Se os preços de entrada, o preço dos insumos acabam encarecendo,
05:44que é isso que nós estamos vendo nesse momento,
05:47e do outro lado você encontra o mercado consumidor que absorve esses produtos,
05:52mesmo com esse reajuste, esse processo acaba sendo mais fluido.
05:55Esse repasse nos preços acaba sendo mais fluido.
05:58Ocorre que nos Estados Unidos, nesse momento, você tem um nível de atividade que é ainda elevado,
06:02mas é visto, sim, paulatinamente um desaquecimento dessa demanda.
06:07Então, é natural que diante de um contexto onde as empresas vejam seus custos aumentando de um lado
06:12e uma dificuldade maior para inserir esses produtos no mercado de trabalho,
06:16elas freem esse processo de aquisição desses insumos.
06:20E isso é feito de uma forma também descontinuada.
06:23Então, você tem uma tentativa de repasse desses preços,
06:27os produtos não sendo vendidos, não sendo negociados junto ao consumidor final,
06:32e, portanto, o ajuste acontece via preços,
06:35com parcialmente as empresas ficando com esse prejuízo,
06:38parcialmente os próprios consumidores absorvendo parte deles via inflação,
06:42e parcialmente quem faz parte de todo esse processo produtivo
06:46e todos os estágios de processamento desses itens,
06:50que também acabam não vendo a vazão de toda a cadeia produtiva
06:55e tem seus reajustes promovidos a posteriori, principalmente pela via dos custos.
07:02Carla, esse resultado do déficit, da balança comercial americana,
07:08essa redução do déficit, acaba reforçando o discurso de Donald Trump
07:12que trata as relações comerciais de uma forma simplista,
07:16como se déficit sempre fosse ruim.
07:19E isso nos leva à necessidade de colocar aqui essa pergunta básica, fundamental.
07:25Déficit comercial é algo ruim?
07:27Não necessariamente, depende muito da inserção desse país na cadeia produtiva global.
07:33E hoje a cadeia produtiva global não engloba só produtos,
07:36ela engloba serviços também.
07:38A relação ampla, econômica, que você tem com os diversos países,
07:42ela diz muito mais sobre a grandeza desse país
07:46e sobre as relações que ele estabelece
07:48do que essa pequena esfera, que é a esfera comercial.
07:51Vale lembrar que os países que têm esse caráter mais desenvolvido,
07:55eles são grandes prestadores de serviços para o resto do mundo.
07:58Então a balança comercial acaba sendo uma fração muito pequena
08:01dentro desse universo de itens que pode ser negociado.
08:05Válido para serviços, válido também para a esfera produtiva.
08:09Além disso, um ponto adicional é que o mercado financeiro dos Estados Unidos
08:13é o maior do mundo.
08:14Ele absorve muitos recursos.
08:17E esses recursos voltam para a esfera produtiva
08:19por conta dessa capacidade que ele tem de concentrar toda essa liquidez global.
08:27Quando você tem um processo que promove uma inflação mais elevada,
08:34você estanca essa via de financiamento.
08:38Porque ao invés de esses recursos migrarem para a esfera produtiva,
08:42com as empresas e as pessoas comprando ações,
08:44elas vão migrar para os títulos públicos,
08:46que têm uma característica um pouco mais segura por estrutura propriamente dita.
08:52Então esse processo acaba sendo nocivo sobre duas faces distintas.
08:58A primeira é que no curto prazo você tem o desaquecimento da atividade propriamente dita.
09:03E a segunda é o encarecimento dos insumos para as próprias empresas.
09:07Então hoje, com a situação econômica que nós temos
09:10e com o nível de desenvolvimento da economia capitalista,
09:14olhar para a relação dos países econômica apenas sobre o prisma da balança comercial
09:19é muito errado, especialmente quando se trata de países desenvolvidos,
09:23como é o caso dos Estados Unidos.
09:25Carla, apesar de os dados econômicos do primeiro semestre serem muito poluídos,
09:32os do PIB, até os de balança comercial,
09:35até os do emprego que tiveram revisões grandes para piorar,
09:39e até os de inflação estarem sendo prejudicados pela incerteza
09:44do que vai ser feito com repasse de custos ou não,
09:47você hoje diria, se tivesse que tomar uma atitude, quase sim ou não,
09:51que a economia americana está desacelerando,
09:53que no primeiro semestre ela teve um ritmo de crescimento
09:55que foi a metade do semestre anterior.
09:58Você diria que isso é só um balanço por causa de incerteza
10:01ou tem fatores mais estruturais de desaceleração?
10:05Acho que ela está desacelerando sim.
10:07Em termos conjunturais, isso é visto através do consumo das famílias,
10:13da propensão à poupança e ao consumo propriamente dito,
10:17do arrefecimento do mercado de trabalho,
10:20que você tem uma quantidade menor de vagas ofertadas
10:22e uma quantidade menor de pessoas buscando essas novas vagas.
10:26Então, existem vários elementos pulverizados em toda a esfera do nível da atividade,
10:31seja olhando a partir da ótica do emprego, seja olhando para os setores produtivos mesmo,
10:37a partir da ótica da indústria, dos serviços, do comércio,
10:41que mostram esse arrefecimento mais latente do nível da atividade conjunturamente falando.
10:46Essas políticas que estão sendo implementadas agora, elas têm um impacto que é estrutural.
10:51Então, ele reverbera ao longo do tempo e pode mudar, sim, o potencial de crescimento dos Estados Unidos,
10:58pode mudar a forma como as pessoas produzem e alocam seus recursos.
11:02A gente fala de duas coisas distintas aqui, mas é sim possível afirmar no curto prazo
11:08que existe essa moderação do nível da atividade, essa moderação do crescimento,
11:13apesar de toda essa oscilação que nós vimos no primeiro semestre.
11:17Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.
11:20Muito obrigado, Carla, pela gentileza da análise.
11:23Uma boa tarde para você.
11:25Muito obrigada e até a próxima.
11:26Tchau, tchau.
11:26Obrigado, tchau, tchau.
11:27Obrigado, Vinícius, também pela participação.
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