O economista Marcio Sette Fortes, ex-diretor do Brasil no BID, analisa o impacto da possível redução de tarifas pelos Estados Unidos sobre café e frutas. A medida pode aliviar a inflação americana, mas também pressionar preços no Brasil e redefinir negociações comerciais entre os dois países.
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00:00O governo dos Estados Unidos estuda reduzir as tarifas cobradas sobre café e frutas.
00:06A medida beneficiaria diretamente o Brasil, que é um grande exportador desses produtos para os americanos.
00:14Para analisar o assunto, eu converso agora com o economista Márcio Sete Fortes, ex-diretor do Brasil no BID.
00:20Márcio, boa noite. Muito obrigado pela entrevista.
00:24Boa noite. Muito boa noite a todos.
00:26Márcio, ao que tudo indica, o governo americano está, de fato, disposto a ceder parcialmente na questão das tarifas.
00:34Afinal, o preço do café e das frutas aumentou muito por lá em razão do tarifácio, com impactos até na popularidade do presidente Donald Trump.
00:42O que eu queria te ouvir? Do ponto de vista político, é mais fácil Donald Trump recuar em produtos específicos do que da tarifa geral aplicada sobre o Brasil?
00:52Sim, me parece que essa é uma estratégia bastante adequada para os Estados Unidos nesse momento,
01:02uma vez que eles estarão sendo movidos pelos interesses econômicos, como qualquer país é movido pelos seus próprios interesses,
01:11e aí um peso bastante grande da tarifa adicional de 40% imposta sobre a tarifa global de 10%,
01:23gerando um sobrepreço do mercado norte-americano para o consumidor de café, que vem contribuindo para a inflação.
01:31Então, é bastante interessante observar que os Estados Unidos estariam sendo movidos pelo interesse em combater focos de inflação pontual,
01:41como esse do café, de modo que é mais fácil fazer uma seleção por produto do que retirar globalmente a tarifa de 40%.
01:51Agora, na prática, essa redução de tarifas por setores ou por produtos aumentaria a chamada lista de exceções do tarifaço.
02:02Minha pergunta é, se as exceções ficarem maiores do que a própria regra, o governo Donald Trump não será pressionado a, enfim, chegar a um acordo comercial com o Brasil?
02:11O Brasil exporta cerca de 40 bilhões de dólares para os Estados Unidos, sendo que café são apenas 2 bilhões de dólares.
02:22Na realidade, nós temos aí uma lista de exceções de apenas 700 produtos, cerca de 700 produtos.
02:28Então, é uma lista de exceções que aparentemente parece ser grande, mas na realidade é uma lista de exceções pequena,
02:34quando nós pensamos no rol de produtos que nós transacionamos com aquele país.
02:40Então, a lista de exceções ainda se tornar maior do que a regra, eu não vejo uma possibilidade disso.
02:47Nesse caso, eles estariam fazendo, evidentemente, uma eliminação global da tarifa, da sobretaxa de 40%.
02:54Mas o que acontece é que o café brasileiro tem um peso muito grande dentro da economia norte-americana,
03:02no sentido de que o café consumido nos Estados Unidos, cerca de 30% do que eles consomem, é importado do Brasil.
03:10Ou seja, o Brasil é o maior exportador de café para aquele mercado.
03:15E o peso do café brasileiro sobretaxado é grande para a inflação do produto, contribuindo para o índice de inflação generalizado.
03:23O que vai acontecer é que há aí um risco muito grande de que esse café brasileiro dentro do mercado norte-americano
03:32venha pouco a pouco perdendo market share diante dos seus principais concorrentes
03:37que enfrentam tarifas de importação menores para a colocação do produto naquele país.
03:43O chanceler Mauro Vieira conversou hoje com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, lá no Canadá
03:49e cobrou avanços nas negociações comerciais.
03:52Amanhã eles têm um novo encontro, inclusive, em Washington,
03:56até porque desde o encontro entre o presidente Lula e o presidente Donald Trump na Malásia, nada avançou.
04:03Como é que você avalia essa demora dos Estados Unidos em negociar o tarifácio com o Brasil?
04:09O Brasil não está na lista de prioridades da Casa Branca neste momento?
04:13O Brasil, na realidade, não é prioridade negocial para os Estados Unidos neste momento.
04:20A prioridade dos Estados Unidos tem sido sempre a China,
04:24tanto que houve uma velocidade muito maior na resolução dos problemas comerciais com a China
04:30e o Brasil foi delegado para um segundo plano negocial.
04:36Veja que há mais tempo se passando do que com a própria China, o Brasil não é uma prioridade.
04:43E nós temos que procurar entender se, na realidade, nós estamos, de fato, conseguindo avanços na negociação,
04:50nós temos espaço para negociar, mas nós temos apenas uma conversa em aberto
04:56que não está conduzindo a resultados efetivos.
04:59Isso é o que nós temos que avaliar, porque me parece que os norte-americanos
05:04são muito mais movidos pelos seus interesses pontuais internos, como o caso da inflação
05:12que pesa dentro do mercado norte-americano, o caso dos descontentamentos que têm peso político
05:18para o presidente Donald Trump, do que propriamente as demandas brasileiras colocadas na mesa de negociação.
05:26Então, há que se avaliar se essa negociação é, de fato, uma negociação
05:30ou se nós temos apenas uma conversa em curso e, do outro lado, não há vontade de negociar.
05:36Essa é a pergunta que deve ser feita.
05:38Agora, trazendo a conversa um pouco aqui até para o Brasil,
05:41se os Estados Unidos, de fato, reduzirem a tarifa sobre o café e sobre as frutas,
05:47a tendência é que a demanda de exportação aumente, porque vai ter essa facilitação tarifária.
05:53Na sua avaliação, quanto economista até, isso poderia afetar os preços desses produtos internamente aqui no Brasil?
06:01Qual que é a sua expectativa se começarmos a vender ainda mais café para os Estados Unidos?
06:06Pode subir de novo o preço por aqui?
06:10Sim, o preço do café poderia realmente sofrer uma elevação.
06:15Nós já enfrentamos preços altos internamente nos últimos meses,
06:19sendo que nos tempos mais recentes, nos meses mais recentes, de setembro para cá,
06:25nós vimos as exportações brasileiras encolhendo cerca de 50% para o mercado norte-americano,
06:32o que gera um excedente no mercado interno brasileiro.
06:35Esse excedente, evidentemente, contribui para evitar uma alta de preço aqui,
06:40de formas que, se o Brasil retorna ou retoma sua venda no mercado internacional,
06:47haveria ali, naturalmente, uma pressão altista de preços por uma questão de volume negociado internamente
06:56versus o volume negociado externamente.
06:59O que o Brasil tem que pensar é que nós estaríamos voltando aos patamares,
07:03ou, pelo menos, tentando retornar aos patamares anteriores,
07:07antes que nós percamos aquele mercado norte-americano,
07:10a fatia de mercado que nós temos.
07:12Porque, à medida que o tempo vai passando,
07:14os hondurens, os vietnamitas, os colombianos vão se apropriando de fatias de mercado
07:20que o Brasil já domina lá naquele país.
07:23E que o Brasil vai perdendo pouco a pouco, à medida que o tempo passa.
07:26Então, de um lado, não é bom que as negociações demorem
07:30para a gente não perder espaço naquele mercado.
07:32E, por outro, também temos que pensar que,
07:35uma vez que o Brasil retome o seu mercado internacional,
07:38se isso for possível,
07:40temos que considerar aqui a questão de um pouco de pressão altista, sim,
07:45no preço do café no mercado interno.
07:47E observar um elemento adicional
07:49que deveria ter entrado em vigor no final de 2024,
07:53não entrou, deveria ter entrado em vigor no final de 2025,
07:58já foi alterado isso.
07:59E esperamos para 2026 a lei anti-desmatamento da União Europeia
08:04que atinge uma gama de produtos no que diz respeito a desmatamentos
08:09a partir do ano de 2020.
08:11E o café é um desses produtos que poderá ser afetado
08:15na questão da análise da cadeia de fornecimento
08:18versus áreas desmatadas.
08:21Então, nós poderemos ter, ainda um pouco à frente,
08:24um problema com o café, a colocação de produto na União Europeia.
08:27E por que eu cito isso?
08:29Porque, à exceção dos Estados Unidos,
08:31que são o primeiro mercado comprador de café do Brasil,
08:35os outros quatro mercados que se seguem,
08:38o segundo, o terceiro, o quarto e o quinto maiores compradores,
08:41estão na União Europeia.
08:42Portanto, também temos que olhar um pouco avante
08:45para que nós possamos nos prevenir
08:48de um problema que possa estar vindo aí brevemente.
08:51alertas importantes trazidos por Márcio Sete Fortes,
08:56ex-diretor do Brasil no BID,
08:58que é o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
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