Em entrevista ao Real Time, André Perfeito, economista-chefe e sócio da APCE, comentou sobre desemprego recorde, rendimento real, dólar a R$ 5,31 e o efeito das tarifas americanas, além do acordo Mercosul-EFTA e os impactos do comércio internacional.
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00:00E agora a gente conversa com o André Perfeito, que é economista-chefe e sócio da PCE.
00:05Bom dia para você, André. Seja bem-vindo.
00:07Bom dia, Marcelo. Prazer estar aqui.
00:10Vamos já começar com esse dado aí que o Rodrigo Loureiro trouxe, né?
00:13Faz sentido você pedir para as empresas ou defender que as empresas não apresentem resultados trimestrais a partir de agora nos Estados Unidos?
00:21Não faz sentido algum, né?
00:23É mais um lance do Trump que a gente fica impressionado, que é com o nível de criatividade financeira do presidente norte-americano.
00:30Não tem nem como contra-argumentar isso no sentido de que o mercado de capitais, a gente...
00:35O mercado de capitais, a gente ganha dinheiro diminuindo a simetria de informação entre tomador e doador de dinheiro.
00:41Então, qualquer coisa que aumente essa simetria, isso daí gera mais custo, né?
00:46Ou, dizendo de forma mais de mercado, o spread aumenta.
00:50Isso daí não faz sentido, na minha opinião, alguma, uma notícia lamentável, junto com todas as outras atitudes do Trump, por exemplo, contra o Banco Central norte-americano.
01:01A gente tem uma situação que a gente precisa trazer mais clareza para a administração econômica da principal economia do mundo,
01:09que é, obviamente, o piso de todas as outras...
01:13O piso no sentido do risco, né?
01:14De todos os outros.
01:15Se o piso, o risco sobe, isso daí gera ruídos difusos em todo o tecido econômico mundial.
01:23Agora, falando um pouco sobre o desemprego, que hoje foi divulgado pelo IBGE, e é o menor da série histórica.
01:28Esse número te pegou de surpresa, André?
01:31Não.
01:32Em alguma medida já era esperado, ainda alguma melhora, né?
01:35Talvez, o topo das expectativas esperava algum tipo de piora na margem, mas não era também tão significativo.
01:45O que me impressiona muito é o nível de rendimento.
01:49Se você pega os dados aqui, pegando os números que acabaram de ser divulgados,
01:53o rendimento médio real habitual, ou seja, quantas pessoas estão recebendo em termos reais,
01:57ou seja, descontado a inflação, a evolução, está em 3.484, subiu 1,3% de um trimestre encerrado em julho
02:07quanto o trimestre anterior.
02:09Isso daí é espetacular.
02:12E mais do que isso, a massa, o que é a massa de rendimento real?
02:15Pega todos esses rendimentos individuais e multiplica pela quantidade de pessoas trabalhando.
02:21Chegou no valor recorde também, 352,3 bilhões, uma alta de 2,5% na margem.
02:28Aí que está a questão, né?
02:30A notícia ruim é que está bom, né?
02:32Ou seja, quanto mais o mercado de trabalho continua acelerado,
02:35mais limitada fica a possibilidade de corte de juros pelo Banco Central Brasileiro.
02:40Pelo menos, mas é uma boa notícia.
02:41A gente não pode também achar que não é bom isso.
02:45A gente tem como saber, por exemplo, se esse nível de emprego aumentou junto com a produtividade?
02:51Porque uma coisa é você produzir mais, o que deixaria a inflação menos pressionada.
02:55Outra coisa é você ter só mais demanda ali sem ter mais produtividade.
03:00É, o que a gente está vendo no mercado de trabalho, esse nível de aquecimento,
03:04está se traduzindo num aumento de salário.
03:06Logo, você tem uma demanda pelo fator trabalho mais forte.
03:09Em tese, isso pode gerar um aumento de produtividade lá na frente,
03:13dado que a economia estaria mais pujante.
03:16Mas a gente vê dados recentes de atividade,
03:18foi divulgado o IBCBR agora,
03:20é ele ter apresentado queda.
03:23Então, você tem esse jogo que não está gerando necessariamente mais produtividade.
03:28Mas mais produtividade é mais investimento.
03:31E mais investimento com uma Selic de 15%,
03:34o empresário brasileiro tem que ser uma espécie de herói.
03:37A gente tem que fazer uma estátua para o empresário brasileiro.
03:40Já é assim, né?
03:41Já é assim.
03:42Agora, esse que é o ponto.
03:43A gente vai ter mais investimento com uma taxa tão elevada?
03:48Não é o caso agora.
03:50Mas, enfim, o Banco Central vai continuar perseguindo a meta de inflação
03:54e, para isso, ele precisa primeiro que veja o relatório Focus,
03:58revisar para baixo o IPCA.
04:01Agora, vamos mudar de assunto, falar sobre exportações,
04:04porque o Mercosul vai assinar hoje no Rio de Janeiro esse acordo com o EFTA.
04:07São quatro países europeus, dois bem pequenininhos.
04:10Elistenstein e Islândia, juntos, eles têm 400 e poucos mil habitantes.
04:15Mas tem aí Suíça e Noruega, que têm um trilhão e meio de PIB,
04:19que têm 15 milhões de habitantes.
04:21Você acha que isso deve ser uma notícia que pode, digamos assim,
04:27ajudar o Brasil a redirecionar exportações com mais valor agregado
04:31que estavam indo para os Estados Unidos, por exemplo?
04:34Nada como uma crise para as pessoas se mexerem.
04:36Eu acho que isso daí faz parte desse processo da diversificação.
04:40É natural e bem-vindo.
04:42A gente tem também o acordo nosso, do Mercosul, com a União Europeia,
04:45que tem que se adensar mais.
04:47Tudo isso daí faz parte de um jogo maior.
04:51Agora, em relação ao comércio internacional,
04:53eu achei muito curioso que, sim,
04:55nossas exportações para os Estados Unidos diminuíram,
04:59nos dados recentes, de agosto, que a gente tem visto,
05:03que a gente viu.
05:03Mas o saldo total, as exportações, continuam indo bem.
05:08Então, o difícil de mapear desse tarifácio do Trump
05:14é porque, como foi contra todos ao mesmo tempo,
05:17tenta imaginar que é uma matriz.
05:19Essa matriz está tentando se ajustar em todas as pontas simultaneamente.
05:22Então, a gente exportando mais para a Noruega, por exemplo,
05:25a Noruega deixou de exportar para os Estados Unidos.
05:28Para onde vai isso também?
05:29Então, saber onde essa matriz vai se estabilizar,
05:34ainda crescendo pouco, é verdade,
05:36mas estabilizar é muito difícil saber.
05:39Mas, por hora, o Brasil está indo até que bem
05:42dentro desse novo ajuste do comércio internacional.
05:46Qual o tamanho do seu medo em relação à promessa americana
05:49de mais retaliação na semana que vem?
05:52O temor é que elas façam realmente,
05:55causem algum dano mais sério na nossa economia?
05:58Ou vai ser mais, digamos assim, um rugido do leão para colocar medo?
06:04É, bem, a tarifa que foi feita,
06:07adicional de 40% sobre os 10% que já tinha desde o início,
06:11a gente viu que teve uma taxa de desconto de 50% dos produtos.
06:16Foi isente 50%, mais ou menos, do volume total.
06:19Eu acredito que o governo norte-americano não vai fazer nada contra o Brasil
06:26até fechar o acordo com a China.
06:28Seria muito temerário, da ótica deles, os americanos,
06:32fazer qualquer coisa maior com a gente
06:34e ter que recuar dependendo do acordo com a China.
06:38Só que isso daí pode gerar alguns problemas para a gente.
06:40A gente tem visto, por exemplo,
06:41que os chineses pararam de importar soja dos Estados Unidos.
06:45Isso tem gerado um drama gigantesco dentro da economia norte-americana.
06:49Será que os chineses vão leiloar a gente
06:52para conseguir um acordo com os americanos?
06:55Eu não sei.
06:56Por isso que eu acho que eles vão ter que esperar
06:58o acordo com a China se concretizar para decidir alguma coisa.
07:02Só que vai haver alguma medida, eu acho,
07:05para dar conta desse posicionamento político.
07:09Porque a tarifa que o Brasil está sofrendo,
07:10francamente, é uma questão só política.
07:12Não é uma questão econômica mesmo.
07:15Não tem como a gente falar isso.
07:17E, politicamente, o ex-presidente Bolsonaro está condenado.
07:21Então, isso daí vai ter que ensejar do lado do Trump,
07:24se ele quiser manter...
07:25É que o Trump também, só para colocar uma coisa rápida,
07:28eu acho que ele está apoiando o Bolsonaro de forma utilitária.
07:32Se ele achar que já atingiu os objetivos dele,
07:34ele deve abrir mão.
07:36Mas eu acho que ele vai insistir mais um pouco,
07:38mas não tanto economicamente.
07:40Mas, de novo, isso daí está calçado nessa perspectiva
07:43que a China e os Estados Unidos têm que fechar um acordo
07:46antes dele tentar ir para cima do Brasil mais uma vez.
07:49E para a gente encerrar, André, dólar 5,31.
07:52Tem gente que acha que se o dólar bater 5,30,
07:54ele pode cair ainda mais, chegar ali perto dos 5,20,
07:58disparar a ordem de venda.
08:00Como é que você está vendo essa trajetória?
08:02Pelo jeito, o Fed vai entregar, de fato, um corte de juros
08:05que vai aumentar a diferença para a nossa taxa
08:07e, em tese, atrair mais dólar para cá.
08:10A gente tem que lembrar o seguinte,
08:11não é o real que está forte, é o dólar que está fraco.
08:13Isso daí tem algumas consequências.
08:15O movimento é mais global.
08:18No caso do Brasil, esse patamar de 5,30,
08:21é um pouco mais de 5,30, na verdade,
08:24ele é perigoso em termos gráficos.
08:27Eu não sou um analista gráfico, nem técnico,
08:29nem uso muito isso,
08:30mas eu sei que o mercado acaba observando muito
08:32esses pontos de suporte.
08:35E, de fato, se romper isso,
08:38o próximo suporte é no 5,20 mesmo.
08:40Tem grande banco falando em 5,10 até o final do ano.
08:43Então, sim, você tem essa questão
08:45que está movimentando o mercado.
08:48E eu acho que pode ser testado esse suporte, sim.
08:50Já essa semana, no começo da semana que vem,
08:52acho que pode acontecer.
08:53André Perfeito, economista-chefe e sócio da PCE,
08:57sempre um prazer falar contigo aqui no Real Time.
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