Ricardo Hammound, professor de economia do Ibmec-SP, analisou a instabilidade em Wall Street e os riscos dos cortes de impostos nos EUA. Com déficit crescente e juros altos, a economia americana acende um alerta global sobre confiança, inflação e dólar.
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00:00Depois do tombo de ontem, Wall Street encerrou o dia de hoje até mais estável, mas sem uma direção concreta.
00:08Vamos ver as informações que chegam pelo site da CNBC dos Estados Unidos.
00:13O SP500 fecha com pouca alteração nesta quinta-feira com investidores preocupados com os altos rendimentos e afetando isso a economia.
00:23O SP500 perdeu 0,04%, o Dow Jones caiu bem mais forte, 1,35% e o Nasdaq perdeu força moderadamente, uma queda de 0,28%.
00:37Os investidores lidam com o medo do aumento das taxas de juros com a crescente preocupação com o déficit americano.
00:46E justamente para a gente continuar nessa pauta, eu converso com o Ricardo Ramud, que é professor de economia do IBMEC da capital paulista, São Paulo.
00:57Obrigado, professor Ricardo, por conversar aqui conosco.
01:01Bom, é um quebra-cabeça que tem aí pelo menos dois eixos muito claros.
01:06Americanos vão pagar menos impostos.
01:09Isso, seja pessoa física, seja pessoa jurídica, adora ouvir.
01:15A justificativa do Donald Trump, ainda na campanha que ele reforçou depois que ele venceu e tomou posse, é que com menos impostos, por exemplo, as marcas, as empresas, as linhas de produção, podem crescer, produzir mais e contratar mais pessoas.
01:29No papel, tudo fecha.
01:31Por outro lado, entrar menos dinheiro no cofre público gera um déficit maior, que dos Estados Unidos não é pequeno, só tende a aumentar e ao longo de décadas pode chegar a um ponto impagável.
01:46Então, a gente tem polos opostos de um mesmo eixo.
01:49Como é que chegar num denominador comum, que é os americanos pagando menos impostos, mas não arranhando os riscos de uma economia saudável, principalmente do tamanho dos Estados Unidos?
02:03Perdão por essa longa introdução, professor Ricardo, e boa noite mais uma vez.
02:07Boa noite, boa noite a todos.
02:09Essa é uma questão muito importante, que não é apenas os Estados Unidos, mas o mundo inteiro está vivendo.
02:15O mundo inteiro está com um tívida grande em relação ao PIB.
02:19A gente viu depois da pandemia, os governos aumentaram os gastos, fizeram corte de impostos, tentando estimular a economia para a retomada.
02:29O que a gente viu foi uma grande inflação como resultado.
02:32E como você bem falou, sempre temos horizontes e vetores indo para distintas direções.
02:41Então, eu gosto muito de olhar mais o horizonte de tempo.
02:44Então, um corte de impostos pode ser favorável no curto prazo, mas no médio e longo prazo pode ser terrível.
02:53Ainda mais numa economia como a americana, que ainda está aquecida, que já está com uma inflação alta para padrões americanos,
03:02com uma taxa de juros bastante elevada também para padrões americanos.
03:06E vamos lembrar que na semana passada, as três agências de risco, pela primeira vez na história, as três agências de risco reduziram a nota dos Estados Unidos.
03:20Então, os Estados Unidos, que historicamente sempre foi AAA, o que significa isso?
03:24Ele era o porto seguro dos investimentos.
03:27As três agências agora não consideram mais os Estados Unidos um porto seguro, com uma preocupação enorme com a dívida americana,
03:35que atingiu níveis muito altos.
03:38Níveis que só foram atingidos depois, pós-guerra.
03:43Então, eu vejo com bastante preocupação, não apenas para os americanos, mas para o mundo inteiro isso.
03:50É muito ruim esse corte de gastos, corte de impostos, perdão, o corte de gastos seria desejável.
03:57Mas, na verdade, teve um corte de gastos muito pequeno e o que ele fez foi tentar colocar mais combustível
04:04numa economia que já está aquecida com uma inflação alta, num momento de grande incerteza.
04:10Isso muito provavelmente não vai dar certo.
04:14Você vai haver um aumento de inflação, você vai ter um enfraquecimento do dólar e uma piora muito grande
04:22na percepção de risco das pessoas para com a economia americana.
04:29Pessoal, Ricardo, agora a gente ainda está esperando algo mais sólido, vindo depois desses primeiros meses de governo Trump.
04:37A gente teve um tarifaço aí que deixou todo mundo atento, para não dizer de cabelo em pé.
04:42Depois ele foi reduzindo as tarifas, foi tirando algumas provocações.
04:47Então, aqueles mega tarifaços agora estão bem menores.
04:51Mas já houve uma sensibilidade de uma pequena alteração na inflação.
04:56O que me chamou hoje, até um tema que nós vamos tratar mais para frente aqui no jornal,
05:00é a compra de casas recém-construídas, que é um termômetro importante da economia americana.
05:06A economia americana ficou abaixo do esperado, ficou abaixo da média histórica para essa época do ano.
05:12Já é um indicador de que o consumidor americano está receoso, com medo de taxas de juros mais altas,
05:19porque a hipoteca é por 10, 20, 30 anos.
05:22Então, as taxas de juros pesam.
05:24E, principalmente, tem um dado ali de confiança, confiabilidade na economia.
05:29Como é que é a sua análise, professor Ricardo, para a gente encerrar a nossa conversa aqui,
05:33nesse sentido da percepção do consumidor, do americano médio?
05:39Excelente ponto.
05:40Na verdade, como você falou muito bem, por que a compra de imóveis é um bom indicador?
05:47Porque é algo que vai durar.
05:49Essa dívida, ela vai ter, não é agora, não é igual comprar um carro, comprar uma geladeira,
05:54comprar algum bem de consumo durável.
05:56Mas é uma coisa, é uma dívida que vai durar 30 anos.
06:00Então, se a economia piora, se você perde emprego, se a situação se deteriora rapidamente,
06:06você fica com uma dívida difícil de ser paga.
06:09E você acaba tendo um prejuízo enorme.
06:13Às vezes, o valor da casa, porque lembra que toda vez que a taxa de juros futura sobe,
06:19o valor dos ativos, ele cai.
06:21O valor dos ativos.
06:22Então, o preço dos imóveis pode cair.
06:25A gente pode achar uma situação que a economia americana comece a enfraquecer muito.
06:33Então, os preços dos ativos, tanto ativos mobiliários, ações, o valor das empresas,
06:40como o valor dos imóveis, ele pode chegar a cair, sim.
06:44Se a gente entrar numa espiral inflacionária, com aumento de risco, com aumento da inflação
06:48e aumento de juros.
06:49Esse é um risco.
06:49E para o americano médio, ele pode não sentir...
06:53Primeiro que o americano médio é um pouco diferente do brasileiro.
06:57Ele tem a maior parte da riqueza dele.
06:59Então, o brasileiro, a maior parte da riqueza está em imóveis.
07:04Lá nos Estados Unidos, a grande parcela, grande parte dos americanos tem um valor direto ou indireto
07:10no mercado acionário, no mercado de equities, ou seja, as pessoas têm os seus fundos de pensão
07:17e os fundos de pensão lá, uma grande parte desses fundos está alocado em ativos, em ações.
07:24Então, se a taxa de juros sobe muito, você pode perceber uma queda ainda maior no mercado acionário americano
07:31e isso pode enfraquecer o poder de compra do americano médio.
07:36Então, se eu fosse o americano médio, eu estaria bastante preocupado.
07:40Mas não só isso.
07:41Como eu falei, uma piora na economia americana, o enfraquecimento do dólar é uma péssima notícia
07:47para o mundo inteiro.
07:49Eu diria que...
07:50Porque a gente perde esse porto seguro e não temos ainda um outro porto seguro, não temos
07:55um dólar.
07:56O dólar está enfraquecendo, só que ainda a gente não tem um substituto para ele.
08:00Então, é ruim para os americanos e ruim para o resto do mundo também.
08:06São só quatro, menos de cinco meses do governo Trump.
08:09A gente ainda vai ter que esperar mais tempo para ver outras reações e outras medidas do
08:14governo federal.
08:15Mas desde já, professor Ricardo, tenho certeza que nós vamos nos falar outras vezes, mas
08:19de antemão já agradeço por essa e por próximas conversas.
08:24Professor Ricardo Ramundo, professor de Economia do IBMEC de São Paulo, mais uma vez a gente
08:29agradece publicamente aqui os conhecimentos compartilhados.
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