A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre móveis brasileiros já está causando prejuízos à indústria moveleira nacional. A Temasa, uma das principais exportadoras de Santa Catarina, suspendeu os embarques para o mercado norte-americano e paralisou parte da produção.
Em entrevista ao Times Brasil – Licenciado Exclusivo CNBC nesta quarta-feira (13), o diretor-geral da empresa, Leonir Tesser, o impacto é significativo, já que o país responde por 27% de toda a exportação do setor. “Nós, com uma produção ao redor de 50% para esse mercado, não poderíamos ficar de fora desses impactos”, disse.
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00:00A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos já afeta bastante a indústria moveleira do Brasil.
00:07A Temasa, que é uma das principais exportadoras de Santa Catarina,
00:10suspendeu os embarques para o mercado americano e paralisou parte da produção.
00:15Sobre os impactos imediatos e os riscos para a cadeia produtiva,
00:19eu converso agora com o Leonir Tesser, que é diretor-geral da Temasa.
00:23Bom dia para você, Leonir. Seja muito bem-vindo ao Real Time.
00:26Bom dia, bom dia a todos vocês. É um privilégio poder compartilhar com vocês algumas informações importantes a respeito do segmento, do setor.
00:35Eu queria que você começasse, então, falando para a gente como é que está a situação da Temasa no meio dessa crise.
00:40Qual é o raio-x que você faz?
00:42Bom, na verdade, a exportação de imóveis do Brasil como um todo para o mercado americano
00:48representa 27% de toda a cadeia produtiva.
00:51Isso é impactante. E nós, com uma produção ao redor de 50% para esse mercado, não poderíamos ficar de fora desses impactos.
01:00O que a gente tem percebido hoje são clientes já segurando embarques, clientes já preocupados com novos desenvolvimentos.
01:09E a gente também é uma preocupação muito grande, porque, afinal de contas, o mercado foi conquistado com anos e anos de preparação,
01:15investimento, tecnologia, compliance, uma cadeia totalmente sustentável.
01:21Então, isso afeta e preocupa, preocupa-se em todo o setor.
01:25Eu queria que você explicasse para a gente que nicho do mercado americano que você atende.
01:31Nós atendemos o mercado de do-it-yourself, monte você mesmo, faça você mesmo.
01:37A gente vende, basicamente, pequenos móveis que são desmontados, o cliente leva para casa e monta esse produto.
01:44Muitas vezes até como hobby.
01:46E os nossos produtos, basicamente, eles são vendidos dentro daquilo que o mercado chama de preço mágico.
01:53Por isso são pequenas peças, né?
01:55R$ 29,90, R$ 49,90, R$ 59,90.
01:59Então, você veja o tamanho do impacto na ponta que uma tarifa de 50% pode representar para esse nicho de mercado.
02:08E, a curto prazo, você acha que tem concorrente de vocês com capacidade de fornecer o mesmo tipo de material com uma condição mais vantajosa?
02:18Dada a condição das tarifas, hoje a gente ficou extremamente vulnerável.
02:24Principalmente com o leste europeu, onde a tarifa é 15%, ou mesmo países asiáticos, como o Vietnã, que a tarifa hoje é 20%.
02:34Então, a diferença entre o que nós estamos, a tarifa brasileira e a tarifa para esses países que já fizeram acordo,
02:42ela é muito expressiva e é muito difícil você buscar competitividade com essa distorção, com essa disparidade.
02:49Exatamente.
02:50Agora, a estratégia comercial de vocês, eu queria entender como é que é.
02:53Vocês pensam nesse momento em, de repente, abaixar o lucro para o mínimo possível, só para não perder o mercado, enquanto a situação não se resolve?
03:01Ou você acha que isso nem faz muita diferença e não vale nem a pena fazer isso?
03:05Não, a gente tem que se preocupar, se preocupar bastante com isso, porque a gente tem que...
03:10Não é fácil para você conquistar cliente e nem é muito fácil para você colocar o teu produto naquele espaço lá dentro da loja.
03:17Então, a gente tem que tomar muito cuidado, primeiro, para não perder o cliente e, segundo, para não perder o espaço dentro da loja.
03:23Quais são as alternativas que não tem, que a gente tem?
03:26A gente tem que construir isso junto com o cliente, tem que construir com medidas internas que você vai ter que encontrar alternativas para fazer
03:36e, talvez, envolver até toda outra cadeia, cadeia de fornecedores, cadeia de emprestadores de serviços.
03:41Mas, nesse momento, o importante, de fato, é assim, não pode deixar essa cadeia quebrar e a gente tem que ter uma preocupação muito grande
03:50para não perder, para não deixar o cliente substituir você por outro produto, por outro fornecedor.
03:56É, isso é muito estratégico, né?
03:58Agora, a sua expectativa é que essa parte que vocês exportam, pelo menos uma parte, vocês consigam manter de mercado lá?
04:07Olha, a partir do princípio que o cliente postergou os embarques, a gente está se remanejando aí, né, para evitar maiores dificuldades.
04:15A gente vai se esforçar muito para não demitir pessoas, porque é um time que vem preparado há muitos anos.
04:23A gente tem máquina, equipamento de ponta, altos investimentos, equipamento de alta tecnologia,
04:30todo um time preparado para isso.
04:32Então, é muito difícil a gente ir para esse caminho.
04:37Nós vamos se esforçar muito para não precisar fazer isso.
04:39Vamos dizer, se essa medida tiver que ser tomada, ela vai ser muito extrema.
04:42Como os clientes postergaram o embarque, então existe ainda uma esperança, uma expectativa de que as coisas se acomodem.
04:49E a gente também acredita muito aí na capacidade do governo, na diplomacia brasileira,
04:54para que a gente possa encontrar uma solução junto.
04:57Porque, como eu falei, é uma cadeia que foi construída ao longo de muitas décadas, de muitos anos.
05:02É uma cadeia extremamente sustentável.
05:04Veja você, a gente e grande parte dos produtores de móveis de madeira maciça de pinos para os Estados Unidos,
05:13trabalham com madeira renovável, madeira renovável.
05:16Grande parte do segmento tem florestas próprias.
05:20Então, você veja, ao longo de muitos anos, o empreendedor foi corajoso de literalmente enterrar o dinheiro,
05:28quando ele plantou uma muda de pinos, enterrar o dinheiro e esperar 20 anos para colher essa árvore
05:34e depois transformar ela, serrar, secar, transformar.
05:42Então...
05:42Pois não, Leonir?
05:45Opa, desculpa aí, caiu o sinal.
05:48Então, veja bem você.
05:49Toda essa cadeia não pode se perder.
05:52E muito menos esse histórico que foi construído ao longo de todos esses anos.
05:57É importante a gente manter.
05:59Por isso que nós acreditamos que as coisas vão ser resolvidas através do diálogo.
06:05Também é o entendimento dos nossos clientes.
06:07Eles acreditam que a gente possa buscar alternativa e, no final, mitigar ou minimizar essas dificuldades
06:16ou esses impactos.
06:18Ô, Leonir, daqui a pouco o governo vai anunciar o pacote de ajuda para as empresas como a sua.
06:24A gente vai transmitir ao vivo, inclusive, aqui no nosso canal.
06:26Eu queria saber, assim, se tem alguma medida do governo que podia te dar um fôlego maior aí
06:30para você conseguir enfrentar esse momento até que a situação se resolva.
06:35É, o que acontece é assim, a gente também está esperançoso com esse anúncio
06:39porque o importante é a gente ter medidas paliativas que possam mitigar,
06:44que possam dar fôlego para a empresa, para as empresas, né?
06:49Até que a gente consiga ter mais uma visão mais clara do que, de fato, vai acontecer.
06:54Então, as medidas, todas elas são importantes.
06:56A gente tem ouvido aí, através da mídia, que elas vão, de fato, ajudar mesmo.
07:01Mas temos que aguardar para ter certeza e quando isso vai poder estar disponível, né?
07:07Mas elas são extremamente importantes.
07:09Mas tem alguma específica que, para vocês, faria diferença agora?
07:12Vou dar um exemplo.
07:13Se o governo decidisse adiar o pagamento de impostos de vocês,
07:16isso é uma coisa que ajudaria nesse momento?
07:19Toda e qualquer medida que, nesse momento, preserve o caixa da empresa,
07:24seja o adiamento no pagamento de tributos, seja linhas novas de financiamento,
07:30ou seja, incentivos fiscais que ajudem a empresa a reforçar o caixa,
07:35que é, de fato, o que a gente está precisando agora,
07:38são medidas extremamente importantes e extremamente bem-vindas.
07:42Pensando no longo prazo, obviamente que você não quer perder o mercado americano.
07:46Eu, no seu lugar, também não ia querer perder, mas caso tenha que pensar em alternativas,
07:52esse tipo de produto que vocês vendem para lá, você acha que teria mercado aqui no Brasil?
07:57Olha, eu vou dizer para você assim, a gente exporta desde 93.
08:02São 32 anos só trabalhando com exportação.
08:04As características dos produtos para o mercado nacional são totalmente diferentes.
08:10São totalmente diferentes.
08:11Então, você teria que prospectar e, de uma certa forma, trilhar um caminho para abrir oportunidades.
08:19Nesse primeiro momento, eu diria para você assim, por a gente não ter uma série histórica,
08:23eu não acredito que seria algo que a gente conseguisse fazer no médio prazo.
08:28Acho muito difícil.
08:29Mesmo buscar outros mercados, outras alternativas, apesar de a gente já exportar volumes importantes para a Europa,
08:37os mercados, de uma certa forma, eles estão mais ou menos consolidados.
08:41Então, para você entrar no mercado novo, você teria que tomar espaço de alguém,
08:45o que não é uma tarefa muito fácil.
08:47Mas a empresa precisa ser dinâmica, ela precisa se reinventar.
08:52Isso é uma característica que ela tem mais ao longo desses 35 anos de história nossa.
08:57A gente sempre aprendeu a se reinventar e a gente acredita nessa possibilidade também.
09:02Porque, afinal de contas, tem todo um histórico e é o que a gente sabe fazer e sabe fazer de melhor.
09:08Leonir, só para a gente te localizar melhor, você está em que lugar de Santa Catarina?
09:12Eu estou no meio oeste de Santa Catarina, caçador no meio oeste de Santa Catarina.
09:18Muito bacana.
09:18Leonir Tessier, diretor-geral da Temasa, muito obrigado pela sua participação hoje aqui no Real Time.
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