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O economista Lívio Ribeiro, da FGV/Ibre e BRCG Consultoria, analisou os impactos das tarifas de 50% impostas pelos EUA. Segundo ele, a medida é mais política do que econômica e afeta setores industriais com produtos manufaturados. A diversificação de parceiros comerciais é urgente para o Brasil.

Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://tinyurl.com/guerra-tarifaria-trump

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00:00Voltamos com Agora e continuamos a repercutir os efeitos da tarifa de 50% imposta pelo presidente norte-americano Donald Trump ao Brasil.
00:09Para discutir o impacto no comércio exterior, agora é o converso com Lívio Ribeiro, pesquisador do FGV Ibre e sócio da BRCG Consultoria.
00:20Oi Lívio, muito bom dia para você, tudo bem?
00:23Bom dia, tudo bem, bom dia a todos que nos ouvem hoje.
00:26Rodrigo Loureiro também está aqui, vai participar aqui da nossa conversa.
00:30Lívio, a gente viu que cada vez mais importante o Brasil fechar os acordos comerciais com outros países, né?
00:41Os BRICs estão ganhando cada vez mais força, o presidente Lula, que recentemente assumiu a liderança do Mercosul,
00:48disse que não sairá do Mercosul, do comando do Mercosul, sem fechar o acordo comercial com a União Europeia.
00:55Agora, então, diante das tarifas de Trump, cada vez mais é importante o Brasil ficar mais independente dos Estados Unidos, né?
01:03Bom, vamos lá, assim, a gente tem sempre que pensar que não é muito bom a gente estar concentrado num determinado país
01:11por uma questão de risco-retorno, né?
01:14Não é um problema per si você ter uma concentração de pauta.
01:18Nossa pauta, inclusive, é mais concentrada na China, bem mais concentrada na China e na União Europeia,
01:23se você considerar o bloco como um todo, do que nos Estados Unidos.
01:27No entanto, se você tem um choque específico nesse país, e esse é um ótimo exemplo que aconteceu ontem,
01:34você acaba sofrendo e, portanto, ter mais países, ter mais diversificação de destinos
01:40é algo desejável em termos de gestão de risco.
01:44Agora, sempre é bom buscar novos parceiros comerciais, tá?
01:50Isso independe do que ocorreu ontem.
01:52O que me preocupa, em específico, nessa questão da taxação americana
01:57é que a nossa pauta para os Estados Unidos, principalmente a gente pensando aqui
02:00na pauta de exportações brasileiras para os Estados Unidos,
02:04ela é muito diferente da pauta média que nós temos na nossa balança comercial.
02:09Por quê?
02:10Porque a gente tem uma concentração muito maior, no caso americano, de bens manufaturados.
02:16Não necessariamente são bens manufaturados de elevadíssimo valor adicionado, tá?
02:21A gente tem tanto aviões como suco de laranja congelado ou carne congelada.
02:27São duas coisas absolutamente distintas em termos de agregação de valor,
02:31mas são bens manufaturados.
02:34Como nós temos essa particularidade com a pauta para os Estados Unidos,
02:40me parece que é um pouco difícil, pelo menos no curto prazo,
02:43que nós consigamos desviar esse comércio para outros parceiros.
02:47Eu tenho dificuldade, por exemplo, de ver no curto prazo uma China ou uma Europa
02:52ou uma Argentina absorvendo diversos dos produtos que são enviados para os Estados Unidos
02:58e que sofrerão a taxação.
03:00Então, a gente tem uma questão dessa vez que é um pouco mais complicada,
03:05não só pelas características desse comércio bilateral,
03:08e vamos colocar as coisas de maneira clara, né?
03:11A taxação, ela é política, ela não é uma taxação econômica, né?
03:15Os Estados Unidos possuem superávit com o Brasil pequenininho, mas não tem déficit.
03:20É muito diferente da discussão que a gente teve com Estados Unidos-China
03:24ou Estados Unidos-União Europeia.
03:26E a própria abertura da carta do presidente Trump não é uma abertura econômica.
03:31Ela cita o ex-presidente Bolsonaro, ela cita o STF,
03:35ela cita uma visão particular de liberdade de expressão.
03:38A natureza desse choque não é comercial, não é econômica, as suas implicações são.
03:44Então, como é que a gente lida com isso?
03:46É bem mais complicado do que parece, em princípio.
03:50Olívio, vou até aproveitar esse gancho dessa sua última resposta.
03:54A abertura da carta realmente é política, né?
03:57A primeira frase cita o ex-presidente Jair Bolsonaro.
04:00Mas o final da carta tem um teor mais econômico.
04:03O presidente Donald Trump, ele até fala que se o Brasil revisasse alguma das suas políticas tarifárias,
04:10os Estados Unidos, talvez, ele deixa ali bem claro que é um talvez, não é garantido,
04:15talvez revisasse também essa tarifa de 50%.
04:18E aí a minha pergunta é, que políticas que o Brasil poderia revisar em termos econômicos
04:25para tentar colocar um pouco de panos quentes nessa situação com os Estados Unidos?
04:30Vamos deixar o lado político de lado por enquanto.
04:32Então, a gente tem algumas tarifas efetivas que são cobradas de produtos americanos,
04:39que claramente são maiores no caso brasileiro, cobrando de produtos americanos,
04:43do que no caso americano, cobrando de produtos brasileiros.
04:46Então, existe algum espaço para negociação quando você pensa principalmente em certos setores.
04:51etanol, aço, acabados de aço, produtos intermediários na cadeia de produção de mineral metálico,
05:02eventualmente alguma coisa em combustíveis.
05:05Mas, de maneira geral, é um comércio, como eu disse antes,
05:08que tem uma característica muito diferente até da nossa pauta para outros grandes parceiros,
05:14como China ou União Europeia.
05:16A União Europeia é um pouco mais parecida com a China, é absolutamente diferente.
05:19São claramente dois Brasis que operam em comércio, um com a China e outro com os Estados Unidos.
05:26Então, sim, existem concessões que a gente pode discutir,
05:29acordos que a gente pode firmar, setores que podem ter uma taxação mais igualitária
05:36de lá para cá e daqui para lá?
05:38Pode.
05:38Isso muda a discussão de maneira ampla?
05:42Na minha opinião, não.
05:43Então, eu confesso que eu estou um pouco, acho que não só eu,
05:46a imensa maioria dos analistas está um pouquinho perdida nesse processo,
05:50porque quando você faz uma discussão que está centrada em questões econômicas, comerciais,
05:56a gente sabe o princípio, o meio e o fim do debate.
05:59Só que quando você começa a misturar outras questões,
06:02é difícil ponderar o que vai ser mais importante e o que vai ser uma moeda de troca.
06:08Então, de novo, tem espaço econômico para fazer alguma coisa?
06:11Tem, mas esse espaço me parece limitado.
06:13É, até porque, né, Lívio, para você resolver um problema,
06:16você precisa entender qual é o motivo que desencadeou esse problema.
06:21Se você não tem, por exemplo, um déficit comercial,
06:24você não tem nem como chegar para sentar a mesa de negociação para fazer alguma proposta, né?
06:28Porque não é a questão econômica, me parece um pano de fundo
06:32para essa disputa comercial dos Estados Unidos e Brasil.
06:35Agora, Lívio, o presidente Lula disse que vai reagir ou vai aplicar
06:40a reciprocidade em relação às tarifas.
06:43A gente viu que a China fez isso também e aí os Estados Unidos dobravam a aposta.
06:49A China retalhava, os Estados Unidos cacifava ainda mais.
06:53Existe o temor disso acontecer entre Brasil e Estados Unidos também?
06:57O Brasil retalhar, os Estados Unidos dobrarem aí as tarifas
07:01e isso escalando cada vez mais?
07:03Sim, eu acho que é um risco objetivo, né?
07:07Lembrando, né, a lei de reciprocidade econômica, ela é recente,
07:10ela nunca foi colocada em prática, né?
07:12Ela foi promulgada, salvo engano, em abril desse ano, tá?
07:16Então, a gente tem que ver na prática como ela funciona.
07:20Ela tem alguns níveis de atuação.
07:22Você tem a discussão de taxar de volta na mesma proporção,
07:26que é uma discussão eminentemente comercial.
07:27Você tem a discussão de mudar regras de eventuais acordos bilaterais.
07:33Você pode ter questões em setores, mas no agregado não parece ser o caso.
07:38E você tem uma outra discussão, que é mudar fluxo de pagamento de royalties
07:43e, eventualmente, de dar retorno a investimentos americanos do Brasil.
07:48E isso leva a discussão para um nível muito maior.
07:51Me parece que, na verdade, você implementa, deve ser assim,
07:54você implementa a lei de reciprocidade começando pela questão comercial.
07:59Como eu disse no início, o saldo comercial, ele não é muito grande, né?
08:04É uma coisa que oscila em torno do zero.
08:06Então, em termos agregados, isso gera problemas que são razoavelmente limitados,
08:13não setoriais, tá?
08:15Isso é importante a gente fazer uma distinção.
08:16Então, certos setores sofrerão muito, principalmente se você tiver um contínuo de elevação de tarifa
08:23e uma aceleração descontrolada.
08:26A gente pode citar não somente os setores que estão ligados à cadeia de metal mecânico
08:31nos Estados Unidos e no Brasil, mas calçados, suco de laranja, eventualmente aviões,
08:37que são produtos...
08:38Petróleo cru, são todos produtos que têm alguma participação em pauta relevante das compras americanas.
08:44Agora, a gente vai ter que entender, gente, é um mundo novo, com um instrumental novo
08:50e o caso brasileiro é muito diferente das outras taxações que foram estabelecidas.
08:56Não só porque a balança é irrelevante, vamos colocar dessa forma,
09:01então não é uma questão econômica, todas as outras não são assim,
09:04e o que tem, de fato, o final da carta é padrão, mas o início é absolutamente não padrão.
09:12E a ordem importa, né?
09:13Se você quisesse dar destaque para a questão econômica, ela começava outra questão, ela não terminava.
09:19Então, aqui a gente tem algo que, de fato, saiu um pouco da casinha, vamos colocar desse jeito.
09:25Olívio, quando começou essa guerra comercial entre Estados Unidos e China,
09:30a gente viu as bolsas americanas sofrerem bastante, né?
09:33O S&P chegou a cair para baixo dos 5 mil pontos e, naquela época, se falava até em recessão nos Estados Unidos
09:39se essa guerra comercial, ela prevalecesse.
09:42Depois, com as negociações, os índices começaram a operar para cima, parece que a situação ficou melhor,
09:50mas o sentimento era de que a China poderia machucar muito os Estados Unidos se essa guerra comercial continuasse.
09:57Com o Brasil, o Brasil não é tão grande como a China para o comércio internacional com os Estados Unidos,
10:01mas qual que é o efeito dessa barreira tarifária para a economia americana?
10:06Vamos pensar no pior cenário possível.
10:08Tarifas recíprocas de Brasil para os Estados Unidos.
10:12O quanto que isso machucaria também a economia dos Estados Unidos?
10:16Ou o Brasil ainda passa ali muito pouco para os Estados Unidos?
10:20No agregado, o efeito é pequeno, mas em determinados setores pode não ser café, eventualmente petróleo, aviação,
10:31a parte de metal mecânico ligado a toda a estrutura de cadeia de produção de aço, né?
10:35Seja o aço como um bem intermediário, seja o aço como um bem final, seja o aço como insumo para outros pedaços da cadeia metal mecânica.
10:44Então, esses segmentos a gente pode ter um problema.
10:48Etanol também é uma questão importante no caso americano.
10:50Agora, no agregado, não.
10:53É muito diferente.
10:54A China, inclusive, tem uma margem de retaliação muito grande porque os Estados Unidos não podem prescindir das importações feitas de produtos chineses.
11:04E todo esse processo da negociação entre os dois países tão complicado é, na verdade, o reconhecimento de que ambos os lados precisam um do outro.
11:14E, para a surpresa de muitos, os Estados Unidos precisam mais da China do que as pessoas imaginavam.
11:19No caso brasileiro, não é igual.
11:22Então, de novo, a gente vai ter que fazer uma discussão muito mais micro, muito mais setorial do que uma discussão no agregado.
11:29Isso vale também para o Brasil, tá, gente?
11:31Assim, quando a gente tem discussão Estados Unidos-China, você tem medo de uma desaceleração econômica nos Estados Unidos e na China.
11:37No caso brasileiro, o efeito sobre o PIB americano, sinceramente, é muito perto de zero.
11:42E o efeito sobre o PIB brasileiro no agregado também não é muito grande.
11:47A gente tem efeito na indústria, em determinados segmentos da indústria.
11:53E aí, de novo, a questão setorial importa.
11:56Mas o Brasil é uma economia relativamente fechada.
11:59E se você considera a pauta, utilizando a União Europeia como um bloco só, que eu acho mais adequado do que quebrar os países,
12:06os Estados Unidos são o terceiro parceiro com uma contribuição que veio caindo ao longo do tempo.
12:11Então, de novo, já tem muitas contas sendo feitas de impactos de 0,2, 0,3, 0,4 no PIB brasileiro.
12:18Sobre o canal comercial, nesse canal específico, eu, sinceramente, acho que esses números são muito grandes.
12:25A discussão, na verdade, me parece ser outra.
12:26Será que o Brasil ganhou um selo de estar na turma, nos antes, na turma contrária aos interesses americanos?
12:34E aí, você começa a ter reverberações na taxa de câmbio, na percepção de risco, na incerteza, na volatilidade, nos fluxos financeiros,
12:45que fogem muito da discussão comercial.
12:47É para aí que eu acho que a gente tem que olhar e, evidentemente, a gente não consegue olhar isso em 24 horas.
12:52É um processo que a gente vai ter que acompanhar de perto daqui em diante.
12:56Lívio Ribeiro, queria muito agradecer a sua participação aqui no Agora.
13:00Obrigado pela sua presença.
13:02Uma ótima quinta-feira para você. Um abraço.
13:05Para todos nós e sempre um prazer estar com vocês.
13:07Obrigado.
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