Pular para o playerIr para o conteúdo principal
As tarifas de 50% dos Estados Unidos contra produtos brasileiros já estão em vigor. Para entender os impactos no comércio internacional e o potencial rearranjo geopolítico entre países afetados, Carlos Braga, ex-diretor do Banco Mundial e professor da Fundação Dom Cabral, destaca como as sobretaxas impostas por Donald Trump atingem em cheio pequenas empresas americanas, que compõem mais de 99% dos CNPJs no país e podem gerar pressão inflacionária nos EUA.

Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://timesbrasil.com.br/guerra-comercial/

🚨Inscreva-se no canal e ative o sininho para receber todo o nosso conteúdo!

Siga o Times Brasil - Licenciado Exclusivo CNBC nas redes sociais: @otimesbrasil

📌 ONDE ASSISTIR AO MAIOR CANAL DE NEGÓCIOS DO MUNDO NO BRASIL:

🔷 Canal 562 ClaroTV+ | Canal 562 Sky | Canal 592 Vivo | Canal 187 Oi | Operadoras regionais

🔷 TV SINAL ABERTO: parabólicas canal 562

🔷 ONLINE: https://timesbrasil.com.br | YouTube

🔷 FAST Channels: Samsung TV Plus, LG Channels, TCL Channels, Pluto TV, Roku, Soul TV, Zapping | Novos Streamings

#CNBCNoBrasil
#JornalismoDeNegócios
#TimesBrasil

Categoria

🗞
Notícias
Transcrição
00:00E como já falamos no começo dessa edição do Conexão, o tarifaço dos Estados Unidos entrou em vigor para o Brasil nessa quarta-feira.
00:09E sobre este assunto eu converso com o professor Carlos Braga, ex-diretor do Banco Mundial e professor de Economia da Fundação Dom Cabral.
00:20Professor Carlos Braga, eu faço uma aposta com o senhor de que eu não vou errar o seu nome.
00:26Nós já nos falamos umas 100 vezes e sempre eu dou uma titubeada, começo a chamar o senhor de Cabral por causa da fundação onde o senhor leciona.
00:37Mas dessa vez eu vou superar.
00:39Existe uma banca de apostas na redação que está cronometrando quanto tempo eu vou levar para cometer esse erro.
00:46Mas eu vou derrubá-los.
00:48Agora eu vou emendar.
00:50Eu aprecio, se bem que o marketing para a Fundação Dom Cabral é ótimo.
00:56Agora eu vou emendar com a pergunta.
00:58É claro que nós estamos falando exaustivamente sobre o começo do tarifaço do Brasil e Estados Unidos.
01:06Mas eu queria aproveitar a sua expertise como um economista, alguém que sabe ler tanto o macro quanto o micro,
01:14para fazer um recorte que eu acho que está pouca gente falando.
01:17Mais de 99%, é impressionante esse número, parece estar errado, mas acreditem que está correto.
01:2199%, até mais do que esse valor, de CNPJs nos Estados Unidos são de pequenos e médios negócios.
01:29A gente pensa em grandes corporações nos Estados Unidos, mas na verdade a estrutura da economia americana são os chamados small business.
01:37Uma cafeteria no interior de um estado como o Alabama, que depende do café brasileiro, que ficou bastante mais caro.
01:44Do suco de laranja, tudo bem, o suco de laranja tem aí uma exceção, mas outros produtos que vêm aqui e que acabam abastecendo pequenos negócios.
01:53Os grandes conseguem ter um estoque, conseguem negociar um preço melhor com o fornecedor, os pequenos não.
02:00Tem uma expressão popular, professor Braga, que diz o seguinte, que para acabar com o carrapato, você pode matar o cavalo.
02:08O problema é que você perde o cavalo.
02:09O Donald Trump não está matando o cavalo?
02:14Certamente, nós ainda não vimos os impactos desses tarifaços, particularmente com relação ao Brasil e agora à Índia também,
02:26se bem que o anúncio é que a partir do dia 27 de agosto, no caso da Índia, irá também para 50% as tarifas.
02:37Mas certamente no caso brasileiro, se a gente olha, cerca de 51% dos produtos exportados pelo Brasil,
02:48na realidade 59%, estão fora da lista das exceções.
02:54E esses produtos são produtos, alguns deles na mesa do consumidor americano, você mencionou aí o café.
03:03E também são produtos importantes do ponto de vista da indústria americana, máquinas e equipamentos, autopeças.
03:14Então, certamente, nós vamos observar um impacto significativo.
03:19E como você mencionou, as pequenas e médias empresas, o número que você citou, não é muito diferente dos números que a gente observa no mundo todo,
03:29porque as pequenas e médias empresas são, na realidade, a base da força de trabalho na maioria dos países.
03:37Então, é bem verdade que agora nós vamos começar a ver, na medida em que os estoques se esgotam,
03:47nós vamos começar a ver impactos no nível de inflação nos Estados Unidos.
03:54Obviamente, a quantidade do impacto vai depender de cada setor, cada produto,
04:02alguns exportadores vão engolir parte da tarifa, vão diminuir as suas taxas de lucro,
04:10mas não há dúvida que nós vamos observar um aumento das pressões nos preços nos Estados Unidos.
04:19Se isso vai se tornar uma espiral inflacionária ou não, vai depender da política monetária dos Estados Unidos nos próximos meses.
04:29Professor Braga, eu recentemente, recentemente mesmo, semana passada, estava lendo um artigo internacional
04:34e que me chamou a atenção uma expressão que eu não sabia se estava certamente exagerada,
04:38mas eu fiquei com ela na cabeça.
04:40que este tarifaço de Donald Trump vai formar, vai forçar um reagrupamento econômico dos países.
04:48Até aí faz sentido, mas que em não muito longo prazo, o Donald Trump estaria levando
04:55a uma espécie de nova ordem mundial em aproximações de outros países,
05:03que já tinham uma sinalização de uma certa amizade, mas que agora aceleraria esse processo.
05:09Não sei se é um pouco exagerado achar que o Trump, nesse mandato, ele só tem um mandato teoricamente,
05:16então ele fica mais três anos e meio no poder, se ele vai levar a uma espécie de uma releitura da ordem mundial.
05:22Mas o fato é que, desenhei nesse mapa aqui, os países que têm a maior sobretaxação, pelo menos por enquanto.
05:29Canadá, Brasil, nós, Índia, agora empatados com o Brasil, Suíça, Iraque, que do player aqui é o menor, e China.
05:37O senhor consegue enxergar um agrupamento, uma aproximação desses países?
05:43Tudo bem que Brasil, China e Índia estão no BRICS, mas Canadá, União Europeia, a Suíça, que está fora da União Europeia,
05:51mas serve de muitos serviços para os Estados Unidos.
05:55Pode haver realmente esse reagrupamento?
05:57Ou as relações comerciais entre os países, que foram moldadas ao longo de décadas,
06:03principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, não conseguem ser assim reajustadas no estalar de dedos?
06:10Bem, do ponto de vista de governança do sistema multilateral de comércio,
06:18a administração Trump, o presidente Trump, basicamente está torpedeando o sistema
06:25que os Estados Unidos foi o principal arquiteto no pós-Segunda Guerra,
06:30seja com a criação do General Agreement on Tariffs and Trade,
06:36que é um dos pilares do que mais tarde seria a criação da Organização Mundial de Comércio,
06:43para comércio de bens, o caso do GAT,
06:46e mais tarde também, comércio de serviços, com o General Agreement on Trade and Service,
06:52e o Trade Related Intellectual Property Rights Agreement,
06:56tratando dos aspectos de propriedade intelectual para o comércio internacional.
07:02E todos esses acordos foram, vamos dizer, capitaneados, de certa forma, pelos Estados Unidos.
07:10Eu, entre 2003 e 2006, eu era o Senior Advisor do Banco Mundial,
07:18baseado em Genebra, e acompanhei de perto várias dessas negociações.
07:23O que está acontecendo nesse momento, e diga-se de passagem,
07:27o Brasil acabou de iniciar uma consulta na Organização Mundial de Comércio
07:33contra o tarifato dos Estados Unidos,
07:36porque ele é totalmente contrário às regras da OMC,
07:42que se baseia num princípio de não discriminação.
07:46O que se chama, a base da OMC é a regra da nação mais favorecida.
07:55Quer dizer, aqueles países que são membros da OMC,
07:58como os Estados Unidos, como o Brasil,
08:01teoricamente devem oferecer a melhor tarifa possível,
08:06aos outros membros.
08:08Qual a melhor tarifa possível?
08:10Aquelas que foram negociadas no contexto das negociações multilaterais.
08:16Claro que você tem exceções para acordos como Mercosul,
08:21tratamentos preferenciais.
08:23Mas o que os Estados Unidos estão fazendo é simplesmente
08:26torpedear toda a estrutura de governança multilateral de comércio.
08:33O que vai vir substituir isso é uma grande incógnita nesse momento.
08:41Agora, com relação aos BRICS,
08:44isso cria incentivos, sem dúvida nenhuma,
08:47para uma procura de uma maior coesão entre esses países.
08:52Que, no caso do Brasil, a nossa relação com a China
08:56já é, de longe, a relação comercial mais importante.
09:00A relação de investimento ainda,
09:04os Estados Unidos e Europa são mais importantes para o Brasil,
09:08mas a China vem aumentando a sua participação.
09:12E agora, com a situação da Índia,
09:15a Índia está entrando aí nesse excelso grupo dos 50%
09:19e, certamente, também vai ter uma influência
09:25em como a Índia se relaciona com os Estados Unidos.
09:29Professor Braga, o senhor, como sempre, muito gentilmente nos atende
09:34e eu imagino que a nossa próxima conversa seja muito em breve,
09:38eu vou deixar até uma provocação.
09:40Porque os dois gigantes do BRICS, a Índia e a China,
09:46são vizinhos, mas tem umas rusgas históricas,
09:50entraram em guerra.
09:51Então, ironicamente ou curiosamente,
09:56a relação comercial entre eles, China e Índia,
09:59é pequena com relação ao tamanho potencial.
10:03E agora a gente está vendo, no século XXI,
10:05desenvolvimento tecnológico,
10:07a exemplo do carro elétrico, da inteligência artificial,
10:09dos semicondutores.
10:11Talvez os Estados Unidos estejam empurrando
10:14ou acelerando essa junção de dois gigantes.
10:18Eu lembro dos meus estudos de relações internacionais
10:21que diziam,
10:22olhem quando a Rússia começar a se abrigar junto com a China.
10:28Talvez estejamos vendo aí mais uma outra união,
10:33braços dados de gigantes.
10:35Vou deixar no ar para manter o senhor sempre conectado conosco.
10:40E depois desse ensejo,
10:42agradeço a conversa que eu tive com o Carlos Braga,
10:45ex-diretor do Banco Mundial, como ele mesmo lembrou aqui,
10:48e professor de Economia da Fundação Dom Cabral,
10:53com quem eu conversei por 10 minutos
10:55e não inverti a ordem dos fatores.
10:59Professor, muito obrigado.
11:00Até a próxima.
Seja a primeira pessoa a comentar
Adicionar seu comentário

Recomendado