Tarifaço de Trump pode afetar o valor do café e do suco? Kátia Abreu analisa possíveis cenários

TIMES BRASIL - LICENCIADO EXCLUSIVO CNBC

A comentarista do Times Brasil - Licenciado Exclusivo CNBC Kátia Abreu analisou os impactos do tarifaço de Trump sobre o agro brasileiro. Laranja e café devem ser os mais afetados. Ela também criticou o uso político da medida e defendeu diplomacia ativa e diálogo com empresários.   Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://timesbrasil.com.br/guerra-comercial/   🚨Inscreva-se no canal e ative o sininho para receber todo o nosso conteúdo!   Siga o Times Brasil nas redes sociais: @otimesbrasil   📌 ONDE ASSISTIR AO MAIOR CANAL DE NEGÓCIOS DO MUNDO NO BRASIL:   🔷 Canal 562 ClaroTV+ | Canal 562 Sky | Canal 592 Vivo | Canal 187 Oi | Operadoras regionais   🔷 TV SINAL ABERTO: parabólicas canal 562   🔷 ONLINE: https://timesbrasil.com.br | YouTube   🔷 FAST Channels: Samsung TV Plus, LG Channels, TCL Channels, Pluto TV, Roku, Soul TV, Zapping | Novos Streamings   #CNBCNoBrasil  #JornalismoDeNegócios  #TimesBrasil

Transcript

00:00A gente conversa agora com a Kátia Abreu, que é uma das notáveis do nosso canal,

00:09sobre os reflexos do tarifácio dos Estados Unidos sobre o agronegócio brasileiro.

00:14Bom dia para você, Kátia. Seja bem-vindo ao Real Time.

00:17A gente falou pela última vez na quinta-feira, quando o tarifácio tinha acabado de ser anunciado.

00:21Como é que você viu a repercussão dessa notícia de lá para cá?

00:24Bom dia, Marcelo. Bom dia a todos os nossos telespectadores.

00:30Eu fiz um pequeno levantamento, Marcelo, pesquisando com as empresas e os setores

00:36a respeito de quatro produtos que são mais exportados para os Estados Unidos.

00:43Então, eu pesquisei sobre carne bovina, porque suínos e aves nós não exportamos,

00:49o etanol, o café e a laranja.

00:51E fui vendo o nível de gravidade de cada uma delas.

00:56E começo citando o menor impacto, vamos assim dizer, começando pelo menor impacto, é o etanol.

01:02Nós já exportamos um produto em maior quantidade e hoje estamos exportando cada vez menos.

01:10E uma coisa curiosa, o produto de etanol que nós exportamos para os Estados Unidos,

01:15ele é feito quase que praticamente no porto, misturado à gasolina e exportado imediatamente para o Japão.

01:24Por que todo esse trânsito?

01:26Porque o nosso etanol é 100% limpo e o dos Estados Unidos nem tanto.

01:31Então, esse produto que se chama, na verdade, ETBE, é tirado do etanol, misturado e mandado para o Japão.

01:42Então, o impacto, ele é pequeno, porque exportamos 200 milhões de litros e já foram 800 milhões de litros.

01:50Então, nós poderemos exportar, quem sabe, diretamente para o Japão, já com essa mistura.

01:56Não vejo grandes dificuldades.

01:59Depois do etanol, vem os bovinos, carne bovina.

02:03Nós exportamos, é o segundo país para nós, Marcelo.

02:07Primeiro é a China, é o nosso grande consumidor de carne bovina.

02:11E o segundo, os Estados Unidos.

02:13Isso quer dizer que de 20% a 30% da carne produzida no Brasil vai para os americanos.

02:20Então, para lá, não é um impacto tão grande.

02:23Talvez represente no mercado americano 5%.

02:27É uma menos de 5%.

02:29É uma cota pequena, mas que com essa tarifa do Trump, deve subir por quilo 5,50, de 5,50 dólares para 8,50.

02:40Então, é uma subida muito grande.

02:42E nós já estávamos tarifados com aqueles 10%.

02:46Quer dizer, eram 26% no passado, o Trump no começo do ano colocou 10% e agora quer colocar 50% dentro da cota.

02:55É uma cota mínima, irrisória, para distribuir com vários países.

03:00Não é igual a cota que ele dá, que os Estados Unidos dá para a Austrália, que são milhares de toneladas de carne.

03:07Então, é uma cota irrisória e que deverá prejudicar o setor, sim, porque significa 15% a 20% das nossas exportações.

03:19Não sei se fui clara até aqui.

03:22Agora, vamos para os dois produtos onde, de fato, nós teremos um grande impacto,

03:28que é o café, onde nós, 33% do café consumido pelos americanos é brasileiro.

03:37Então, terá um impacto aqui no Brasil, mas um grande impacto para quem toma e gosta do cafezinho brasileiro,

03:44como os americanos gostam.

03:46E não existe café no mercado.

03:48Nós estamos vivendo uma crise de café no mercado,

03:51porque tivemos crises de clima no Vietnã e em outros países e a produção de café caiu.

03:59Ela está prometendo para o ano que vem, para o ano seguinte,

04:02mas nós estamos, sim, vivendo uma crise.

04:05Então, uma redução de 33% na compra do café é um tanto expressivo,

04:12é muito forte, que impacta o preço para os nossos produtores,

04:16mas mais forte ainda para os consumidores americanos do café.

04:21Inclusive, eles fazem já aquela mistura, que nós próprios já adotamos.

04:26Café americano, por favor, expresso ou café americano.

04:29A gente costuma pedir nas cafeterias, que é aquele cafezinho mais ralo, mais aguado.

04:35Então, isso, de fato, nós vamos, hoje pagamos um imposto de 7%,

04:41pagaremos, então, de 7% mais 50% se for somado essa tarifa nova.

04:49Nós não sabemos se ainda é uma tarifa apenas de 50% ou dos 7% mais 50%.

04:56Nós crescemos muito o café arábica no Brasil

05:00e estamos crescendo também a produção do café robusta.

05:04Então, isso, nós estamos melhorando a nossa performance

05:07e um baque desse não deixa de nos prejudicar.

05:11Agora, a grande questão, a grande interrogação, Marcelo, é a laranja,

05:18é o suco de laranja.

05:19Em primeiro lugar, a Flórida, nos Estados Unidos,

05:22já produziu 10 milhões de toneladas de laranja.

05:28Hoje, produz pouco, em torno de 500 mil toneladas.

05:33Então, houve uma redução drástica na produção de laranja nos Estados Unidos.

05:37Então, eles são muito dependentes de nós.

05:40Só para você ter uma ideia, 50% de todo o suco consumido pelos americanos,

05:4850% vem do Brasil.

05:50Nós representamos 75% de todo o mercado global.

05:54Nós somos os campeões em produção de suco de laranja no mundo inteiro.

05:5934% de toda a laranja produzida no mundo, ela é brasileira.

06:04E do suco, 60% em volume.

06:07E 75% em dólares do comércio.

06:11Isso significa que hoje nós pagamos 415 dólares a tonelada.

06:18Imagine você agora com 50% no aumento dessa tarifa Trump,

06:23tarifa Trump que nós estamos agora chamando.

06:26Então, se hoje o tributo no copo de suco de laranja

06:31significa de 15% a 20% do copo de suco de laranja,

06:36tarifa Trump, nós teremos um copo de suco de laranja

06:40que representará 70% do suco.

06:45Então, desse copo de suco, 70% é a tarifa.

06:48E 30% para remunerar o produtor de laranja,

06:52todo o processo industrial brasileiro,

06:54que é de altíssima tecnologia,

06:57que chega nos Estados Unidos com sabor de muito frescor,

07:01nesse suco que é a exigência dos americanos.

07:05Então, de fato, aí está a nossa grande crise.

07:10Então, o Trump reclamou na carta em duas questões.

07:13Uma foi do desajuste na balança comercial,

07:16que não é verdadeira.

07:18Ele, mais uma vez, está sendo mal orientado.

07:20Nos últimos 17 anos, 15 anos,

07:23essa balança está deficitária para o Brasil

07:26e superavitária para os americanos.

07:29Isso quer dizer que eles vendem muito mais para nós

07:32do que nós vendemos para ele.

07:34Enquanto?

07:36410 bilhões de dólares.

07:38Então, esse primeiro argumento cai por terra

07:40na primeira mesa de negociação.

07:43E o segundo é para parar com a caça às bruxas

07:47com relação ao ex-presidente Bolsonaro.

07:51Ora, Marcelo, os Estados Unidos sempre se primou

07:55no primeiro lugar do degrau da democracia mundial.

07:59Sempre trabalhou e sempre quis ser o exemplo

08:02de democracia, de liberdade de expressão,

08:05de um país livre.

08:06e dá agora uma ré muito expressiva

08:11no que diz respeito à interferência

08:14na democracia de outro país.

08:15Nós estamos agindo, o Supremo Tribunal Federal,

08:18o Congresso Nacional, o Executivo,

08:21tratando toda essa questão com relação a Bolsonaro,

08:24como foi tratado Dilma Rousseff,

08:26como foi tratado Collor lá atrás,

08:29como foi tratado Lula, que foi preso quase dois anos.

08:33Por que com ele teria que ser diferente?

08:35Nós teríamos um erro histórico com ex-presidentes

08:39que também sofreram com uma legislação brasileira,

08:44depois Collor foi inocentado,

08:46Dilma foi inocentado,

08:48Lula foi liberado pela justiça brasileira,

08:51e Bolsonaro vai ter que passar por esse mesmo processo.

08:54Então, antes de convencer Lula de qualquer coisa

08:58ou o Congresso Nacional,

08:59o presidente Trump tem que lembrar

09:00que aqui no Brasil existe a Suprema Corte brasileira,

09:04como existe a Suprema Corte americana,

09:06que já deu algumas decisões contra ele próprio por lá,

09:09e ele teve que obedecer.

09:11Então, hoje, essa é a nossa contribuição,

09:14demonstrando que estamos sempre,

09:15como diz o presidente Lula,

09:17abertos na negociação.

09:19E eu achei muito interessante o presidente Lula

09:21abrir um grupo de trabalho

09:23colocando os empresários prejudicados na mesa,

09:26porque nós precisamos de ouvi-los.

09:29Sabe por quê, Marcelo?

09:30Porque eles conhecem mais do que nós

09:32outras alternativas de mercado,

09:34porque eles estão na lida todos os dias.

09:36Então, eles sabem algumas brechas,

09:39alguns locais específicos,

09:41que o presidente pode usar

09:42da sua prerrogativa de amizade,

09:45de interlocução na diplomacia,

09:48para encontrar outros nichos de mercado

09:50que possam minimizar,

09:52e não ficar de braços cruzados,

09:53apenas esperando a boa vontade

09:55do presidente americano.

09:57Então, mãos à obra e vamos trabalhar.

10:00Kátia, eu tenho ouvido alguns entrevistados aqui,

10:03ligados a setores produtivos,

10:05criticando a diplomacia do Brasil,

10:06com o seguinte argumento,

10:08a coisa só chegou onde chegou

10:09porque a diplomacia não funcionou.

10:12Eu queria saber a sua percepção sobre isso.

10:14A gente estava negociando de maneira hábil até agora?

10:19Na verdade, no que diz respeito

10:21a diplomacia propriamente dita,

10:24eu disse como primeiro ponto, Marcelo,

10:27que não há nenhum retoque a fazer,

10:30porque nós somos deficitários.

10:32Então, talvez a diplomacia tenha sido,

10:35não tenha agido com muita competência

10:38em melhorar a nossa balança comercial

10:40e fazer com que a gente vendesse mais para os americanos.

10:43Mas, ao contrário,

10:44a nossa diplomacia, se tiver falhado,

10:47falhou em favor dos americanos,

10:48que continua vendendo muito mais para nós.

10:51Agora, com relação a uma questão interna,

10:54que é um processo contra um golpe,

10:57uma tentativa de golpe que foi dada no Brasil

11:01pós as eleições,

11:03você vê que o mundo inteiro está condenando

11:05essa atitude do Trump.

11:06Nós tivemos manifestações,

11:08inclusive de americanos,

11:09do Prêmio Nobel de Economia de 2008,

11:12que, inclusive, chegou a indicar,

11:16até mesmo, uma necessidade de impeachment

11:19do presidente Trump por interferir na justiça brasileira,

11:23em questões internas,

11:25usando questões comerciais.

11:28Então, eu não vejo que a nossa diplomacia

11:30tenha ferido ou molestado,

11:33de alguma forma, a diplomacia americana.

11:36Muito ao contrário.

11:37Nós estamos, repito, deficitários.

11:40Aliás, nós vamos recutucar a nossa diplomacia

11:42para melhorar a nossa balança comercial

11:44e nós podermos vender um pouco mais

11:46para os americanos

11:48e equilibrar mais essa balança deficitária

11:50nos últimos 15, 17 anos.

11:53Cátia Abreu, notável do nosso canal,

11:55foi um prazer falar contigo mais uma vez.

11:57Boa tarde.

11:58Boa tarde, Marcelo.

11:59Muito obrigada mais uma vez.

12:01Boa tarde.

12:02Boa tarde.

12:03Boa tarde.

12:04Boa tarde.

12:05Boa tarde.

12:06Boa tarde.

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12:28Boa tarde.

12:29Boa tarde.

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