Alexandre Uehara, coordenador do curso de relações internacionais na ESPM, explica como a política imprevisível de tarifas e cortes de gastos de Trump gera riscos para investidores, fragiliza alianças e desafia a hegemonia americana frente a China, Índia e o Brics.
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00:00A vitória de Trump hoje na Suprema Corte reforça a política do republicano no corte de gastos públicos.
00:07No entanto, as constantes mudanças nas regras tarifárias nos Estados Unidos desincentivam a expansão de negócios.
00:15O quanto a incerteza pode afetar o chamado capital político de Donald Trump?
00:20É sobre isso que eu converso agora com o professor Alexandre Herrara, que é coordenador do curso de Relações Internacionais da ESPM.
00:28O professor Herrara é sempre um prazer recebê-lo, até porque o senhor conhece muito bem essas relações internacionais a partir dos Estados Unidos.
00:36E aí torna o senhor essa pergunta que eu fiz pública aqui.
00:40Quanto isso pode afetar o capital político de Donald Trump, sendo ele o responsável por uma atmosfera de incerteza?
00:48Trazendo um pouco para o Brasil, fazendo uma comparação bem grosseira, nós não estamos falando das mesmas grandezas.
00:54Aqui se fala do risco Brasil porque existe uma insegurança política, uma insegurança jurídica, que às vezes afasta investidores.
01:03Nos Estados Unidos, isso não é uma impressão, isso é público notório.
01:06O Donald Trump falou de tarifas, apresentou, suspendeu por 90 dias.
01:11Quando voltou, os valores eram outros.
01:12Ontem ele passou outros valores, disse que até amanhã outros países vão ser também apresentados as suas tarifas.
01:21A China está em suspensão de 90 dias de tarifaço.
01:24Já mudou a tarifa para a China, que é o principal parceiro comercial dos Estados Unidos, várias vezes.
01:30Isso cria, no mínimo, uma grande atmosfera de incerteza.
01:35Daqui a pouco a gente fala das questões econômicas.
01:37Mas de capital político, o quanto isso arranha a reputação dele?
01:41Boa noite mais uma vez.
01:44Boa noite, Tavali.
01:45Boa noite aos telespectadores.
01:47É um prazer falar novamente com vocês.
01:49De fato, esse acho que é um ponto importantíssimo para a gente avaliar,
01:53porque além dos custos econômicos, o custo político é muito importante neste momento.
01:57Tanto no âmbito interno quanto no âmbito externo.
02:00No âmbito interno, a gente percebe que essas idas e vindas têm criado bastante preocupação nos Estados Unidos.
02:07Em particular, com a democracia, durante muito tempo, a democracia nos Estados Unidos foi um modelo a ser seguido,
02:13muitas vezes admirado por vários países, mas diante das incertezas que foram criadas.
02:18E até agora, como você mesmo anunciou, tivemos a reportagem das vitórias pessoais, vamos dizer assim,
02:26do presidente Trump em algumas situações,
02:29e isso tem colocado em risco, em xeque, o próprio direito norte-americano.
02:34Como que as leis vão seguir lá.
02:36Isso estava criando muitas incertezas e as empresas também ficam com um pé atrás, vamos dizer assim,
02:43para investir nos Estados Unidos.
02:44E no âmbito internacional, também há um peso muito grande dessas incertezas criadas pelas políticas do governo Trump,
02:52porque ninguém tem muita confiança de ter os Estados Unidos confiador de, seja lá qual for o âmbito,
02:59seja nas organizações multilaterais, seja também nas regras de comércio, de investimentos econômicos internacionais.
03:05E isso tem pesado, aí já entrando um pouco na área econômica, na própria desvalorização do dólar nos últimos meses.
03:13Professor Herrara, eu vou pedir um instantinho de licença aqui da nossa conversa,
03:18a gente já volta a emendar esse assunto, porque tem uma notícia aqui de último momento,
03:23os ministros Fernando Haddad, da Fazenda, e de Relações Institucionais, a Gleis Hoffman,
03:30estão reunidos neste momento com os presidentes da Câmara, o Gumota, e do Senado, Davi Alcolumbre.
03:38O encontro começou às 8 horas da noite na residência oficial do presidente da Câmara
03:43e busca um acordo sobre o EOF.
03:46É claro que a gente está de olho aí, daqui a pouco a gente volta com mais informações.
03:52E eu vou emendar de novo aqui a conversa com o professor Alexandre,
03:56perdão professor, por esse parênteses, que era uma notícia de último instante importante aqui,
04:03justamente porque vai tratar de EOF.
04:06Agora, a gente pode fazer as nossas apostas, voltando a falar aí do capital político do presidente Donald Trump,
04:12porque ele chegou de novo no segundo mandato, professor Herrera, como ele chega no primeiro, em 2017.
04:19Maioria na Câmara, maioria no Senado e mais da metade dos 50 estados americanos sendo governados por republicanos.
04:26Quer dizer, a predominância do partido completa nos Estados Unidos.
04:32Ele está vendo isso de novo.
04:33Só que nas primeiras mid-term elections,
04:36quando houve a primeira metade do primeiro mandato do Trump,
04:41ele perdeu força no Congresso.
04:44Diante dessa baixa avaliação que ele tem,
04:48dessas questões em que essa política orçamentária dele vai cortar benefícios,
04:55principalmente para os mais pobres.
04:57E olhando para a classe empresarial, empreendedor,
05:01os grandes industriais,
05:02que tiveram muitas vantagens nesse novo orçamento,
05:05porém, tem essa grande atmosfera de incerteza,
05:09isso pode pesar contra o partido republicano e indiretamente contra o presidente Trump
05:14em novembro do ano que vem, quando haverá eleições legislativas nos Estados Unidos?
05:21Sim, expectativas de que esses resultados que estão começando a chegar,
05:27neste momento a inflação nos Estados Unidos ainda não foi tão pesada,
05:30o desemprego ainda também não está tão pesado,
05:32mas de fato há uma preocupação, inclusive, dos próprios republicanos
05:35sobre os resultados dessas medidas que estão sendo tomadas.
05:39No curto prazo, neste primeiro semestre,
05:41a gente observou que não houve impactos tão significativos sobre a economia ainda,
05:46mas a gente tinha uma preocupação grande, sim.
05:48E mesmo em relação a um dado que é positivo em alguns momentos,
05:54que é a desvalorização do dólar,
05:56porque aí quando se pensa em termos de comércio internacional,
05:59a desvalorização do dólar pode levar a um aumento das exportações,
06:03porque o produto americano fica mais barato,
06:05este é um dos efeitos.
06:07Então, no curto prazo, isso pode ter sido positivo,
06:09mas diria que no médio e longo prazo,
06:12a gente não sabe exatamente qual vai ser a consequência disso.
06:15E só para chamar um dado que eu acho interessante,
06:18a China, que é a principal preocupação do presidente Donald Trump
06:23e que ele quer conter,
06:25já há algum tempo tem adotado uma nova política de crescimento econômico,
06:30não mais apenas com as exportações,
06:32mas também com uma internacionalização das suas indústrias.
06:35E para citar um caso aqui,
06:37é o próprio caso da IBM, na parte de notebooks,
06:41que a China comprou, a Lenovo comprou,
06:44a empresa chinesa comprou já no começo desse século,
06:47e nos últimos anos, outras empresas americanas foram compradas.
06:51Então, se no momento as exportações norte-americanas ficam mais baratas,
06:56e isso favorece as exportações,
06:58também isso faz com que as próprias empresas americanas fiquem mais baratas.
07:02E isso pode levar a um efeito reverso,
07:04ele quer trazer empresas para os Estados Unidos,
07:06mas pode fazer com que os Estados Unidos
07:07tenham processo de desnacionalização das suas indústrias,
07:10porque elas vão ficar mais baratas e as empresas chinesas
07:13vão poder comprar as empresas americanas.
07:15Já aconteceu com a Motorola, aconteceu com a GE,
07:18aconteceu com a IBM, como eu mencionei.
07:20Então, tem um efeito aí que pode ser também negativo
07:23para o ano que vem, no discurso do presidente Trump.
07:27Agora, professor Herrera, é claríssimo, e já não é de hoje,
07:31já é público e notório, já está no inconsciente coletivo de todos nós,
07:35que a grande, por chamar de luta hegemônica no século XXI,
07:40saem os soviéticos russos do cenário,
07:43como havia na segunda metade do século XX,
07:46pós-segunda guerra mundial, entram os chineses.
07:48Então, esse duelo de gigantes no século XXI
07:51é muito claro, os Estados Unidos contra a China.
07:54Na participação de um crescimento global,
07:56a gente vê que os Estados Unidos ainda continuam participando,
07:59mas num passo mais lento em comparação com as pernadas
08:04que estão dando os chineses, depois os indianos,
08:08o sudeste asiático, que está sob zona de influência da China,
08:13o BRICS já é maior que o G7 em alguns aspectos,
08:17temos uma grande massa consumidora com outro padrão de consumo,
08:22que são os chineses, que são os indianos, que é o sudeste asiático,
08:25que a gente não tinha na segunda metade do século XX,
08:29onde os americanos se tornaram soberanos.
08:32Estou criando toda essa atmosfera para chegar na pergunta que é a seguinte,
08:36não tem vácuo de poder.
08:38Quando a gente estuda relações internacionais,
08:40a gente vê isso muito claramente.
08:42Além da China, quais são os outros grandes ameaçadores,
08:47não sei se derrubar a hegemonia dos Estados Unidos,
08:50mas levar a uma menor importância dos Estados Unidos,
08:53a um encolhimento de alguma coisa que seja a reputação americana global,
08:58como nós vimos depois do pós-guerra.
09:01Além da China, quem são os outros grandes players?
09:03Claro, a China está liderando esse movimento,
09:05mas a gente pode colocar aí a Índia de novo,
09:08a gente estava falando com o professor indiano agora há pouco,
09:11e ele deu números claros,
09:12mas para onde que a gente pode olhar também
09:14para essa, entre aspas, ameaça da reputação soberania americana
09:19no século XXI, professor?
09:23Perfeito.
09:25Exatamente isso.
09:26O vácuo de poder nas relações internacionais da política não existe.
09:30Os Estados Unidos, de fato, vem perdendo poder
09:32já desde o final da Segunda Guerra Mundial,
09:34quando os Estados Unidos eram, de fato, a grande potência hegemônica.
09:38Até quando acabou a Guerra Fria,
09:39se dizia que havia aí uma unipolaridade,
09:42porque os Estados Unidos eram a grande superpotência,
09:44até porque a União Soviética e depois a Rússia
09:47perdia-se uma capacidade de fazer uma rivalidade contra os Estados Unidos,
09:51e passava-se a falar de um mundo multipolar,
09:53com vários outros atores importantes
09:55que poderiam compartilhar essa dominância do mundo.
10:02E já fazendo um salto para que nós tivemos as reuniões do BRICS agora,
10:05eu creio que a própria reação do presidente Trump
10:08no imediato evento do BRICS, quando teve a declaração,
10:13mostra um pouco a preocupação dele, enquanto Estados Unidos,
10:16com essa multipolaridade, enquanto ele está buscando manter
10:19a posição norte-americana mais forte.
10:22E como que isso funciona?
10:24Quer dizer, ao ele fazer uma declaração de que aumentaria as tarifas
10:27contra os outros países, membros do BRICS,
10:29ou que se aliassem com os BRICS,
10:31ele tenta, nesse sentido, evitar que haja uma polarização,
10:35que haja um fortalecimento de blocos,
10:37e aí ele tenta fazer as negociações bilaterais,
10:39seja com a Índia, seja com a Rússia, com a China, com o Brasil,
10:43e aí, dessa maneira, ele consegue tentar manter uma posição dos Estados Unidos
10:46mais forte, dado que, quando ele negocia bilateralmente,
10:50os Estados Unidos é, de fato, muito maior que os outros países,
10:52inclusive em relação à China.
10:54Então, a gente percebe que há uma preocupação, sim, dos Estados Unidos
10:56de manter a sua posição, não só em relação à China,
10:59mas também tentando evitar que outros países se organizem em grupos,
11:04e isso acabe rivalizando ou criando uma força
11:06que os Estados Unidos aí vai ter mais dificuldade de negociar.
11:09Essa é a conversa que eu tive com o professor Alexandre Uerrara,
11:14coordenador do curso de Relações Internacionais da ESPM em São Paulo.
11:19Professor Uerrara, sempre bem-vindo aqui.
11:21Muito obrigado mais uma vez, até a próxima oportunidade.
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