Os preços do café arábica subiram mais de 3,5% em Nova York após o anúncio de tarifa de 50% por Donald Trump. Os EUA são o principal destino do café brasileiro, com quase 3 milhões de sacas importadas até maio. Márcio Ferreira, presidente do Cecafé, analisa os impactos e os possíveis caminhos do setor.
Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://timesbrasil.com.br/guerra-comercial/
🚨Inscreva-se no canal e ative o sininho para receber todo o nosso conteúdo!
Siga o Times Brasil nas redes sociais: @otimesbrasil
📌 ONDE ASSISTIR AO MAIOR CANAL DE NEGÓCIOS DO MUNDO NO BRASIL:
🔷 Canal 562 ClaroTV+ | Canal 562 Sky | Canal 592 Vivo | Canal 187 Oi | Operadoras regionais
🔷 TV SINAL ABERTO: parabólicas canal 562
🔷 ONLINE: https://timesbrasil.com.br | YouTube
🔷 FAST Channels: Samsung TV Plus, LG Channels, TCL Channels, Pluto TV, Roku, Soul TV, Zapping | Novos Streamings
00:00Os preços do café arábica negociados em Nova Iorque subiram mais de 3,5% na manhã de hoje em resposta às ameaças de Trump.
00:09Os Estados Unidos lideram o ranking das exportações brasileiras do grão com a importação de quase 3 milhões de sacas até o fim de maio.
00:18Sobre os impactos desse cenário para o setor cafeiro, eu converso com o Márcio Ferreira, presidente do C-Café, Conselho dos Exportadores de Café do Brasil.
00:26Márcio, boa noite. Obrigado pela gentileza da sua entrevista aqui ao vivo.
00:31Antes de mais nada, Márcio, que impacto essa tarifa de 50% tem sobre o mercado de café, tem sobre os produtores de café do Brasil e se já está tendo algum impacto nesse momento?
00:44Fábio, boa noite. Com o anúncio do aumento de tarifa ontem de 50%, nós estamos num momento que está todo mundo tentando digerir exatamente essa palavra.
00:56Os efeitos, como você relatou agora há pouco, a Bolsa, ao contrário do que você esperava, que deveria poder cair, na verdade subiu.
01:05Mas o impacto nós vamos sentir a partir do momento da implementação efetiva, que está prevista para 1º de agosto,
01:13muito embora, no nosso entender, essa implementação não ocorrerá e não ocorrerá nesse nível de 50%.
01:23Isso porque quando você calcula que o café representa 1,2% do PIB dos Estados Unidos e representa somente 0,89% do PIB brasileiro,
01:37o PIB americano é 12 vezes, se não me engano, maior do que o PIB brasileiro.
01:43Quando a gente entende que 220, desculpe, 2 milhões e 200 mil americanos, pessoas, trabalham na indústria, no movimento que o café faz nos Estados Unidos.
01:56Quando a gente entende que 76% dos americanos tomam café diariamente.
02:00E quando a gente entende que o Brasil representa 35% de todo o volume que o Estado Unidos consome,
02:08a gente, obviamente, como setor privado, liderança que somos, secafé, junto com a indústria americana, a NCA,
02:15e com os governos americanos e brasileiros, a que se sentar e buscar um diálogo.
02:21Então, o impacto seria substancial e esse impacto seria sobre a produção, porque essas tarifas, elas pesam sobre o preço líquido que é repassado do produtor,
02:35e também impacta o consumidor americano com custos inflacionários absurdos.
02:40Então, só voltando um pouquinho, os 10% primeiros que foram anunciados, foram anunciados como reciprocidade.
02:47Mas a balança comercial é extremamente favorável aos Estados Unidos.
02:51O Brasil e os Estados Unidos sempre tiveram uma relação muito boa.
02:55E essa é a relação que a gente precisa buscar.
02:58Ao mesmo tempo em que, hoje, esse aumento de 50% tem como foco questões geopolíticas,
03:07tem o BRICS, tem a questão da, vamos falar, desdolarização.
03:14Enfim, tem muita coisa para se colocar na mesa e discutir.
03:18Mas nem o Brasil, nem os Estados Unidos saem ganhando nessa situação que nós estamos hoje.
03:23Pois é, os Estados Unidos dependem, essencialmente, de café importado e são um país que consome muito café.
03:31Basta ver a quantidade de cafeterias que a gente encontra nas grandes cidades americanas, por exemplo.
03:36É do hábito do americano tomar muito café.
03:39Vocês acham que a própria resistência interna, a oposição do setor lá, de todo o comércio de café,
03:45dos consumidores de café, os americanos, enfim, tudo isso, toda essa pressão,
03:50pode ajudar, pelo menos para esse mercado, a amolecer ali o coração do presidente?
03:56Com certeza.
03:58Com certeza.
04:00Nós tivemos agora, no dia 2, 3 e 4 de julho, o décimo, décimo edição do Secafé, do Coffee Dinner Summit,
04:07que está entre os três maiores eventos do trade mundial tratando de café.
04:12Isso foi agora na cidade de Campinas.
04:13Nós tivemos ali mil pessoas e 35 países, inclusive o presidente da indústria americana,
04:20que é o nosso amigo Bill Murray.
04:21O Secafé participa dos fóruns também nos Estados Unidos e na Europa com todas essas lideranças.
04:27E ali naquele fórum a gente discutiu, tanto ali dentro quanto em reuniões privadas,
04:32já a questão da tarifa de 10%.
04:34E a gente entende, exatamente pelo que você colocou, como o café não compete,
04:39porque ele não é produzido pelos Estados Unidos, e ao mesmo tempo é hábito de consumo,
04:45essa liderança que está sempre em Washington, na pessoa do Bill Murray,
04:51ela dialoga no sentido de que as coisas precisam mudar.
04:55Agora, obviamente, setor privado, Brasil, Secafé e a NCA,
05:01junto com os governos de seus países, e numa mesa redonda,
05:05a gente consegue aplacar e, uma vez arrefecidos esse primeiro momento,
05:11a gente consegue chegar num denominador mais próximo.
05:16Agora, se de fato essa tarifa permanecer em vigor,
05:20se ela entrar em vigor, aliás, a partir de 1º de agosto realmente,
05:24os produtores de café do Brasil fariam o quê com a produção que eventualmente
05:28não fosse mais para os Estados Unidos?
05:30Para onde ela iria?
05:32É muito bem colocada essa pergunta, porque nos últimos anos,
05:36a produção mundial, ela tem estado aquém ou muito ajustada com o consumo.
05:43Então, vamos ser pragmáticos.
05:46Se o Brasil perde participação nos Estados Unidos em função de uma tarifa
05:50que não foi reduzida, que foi o que vai nos colocar em condição de incompetividade
05:55em relação a uma outra origem.
05:57E essa outra origem direciona produtos para o mercado americano,
06:03obviamente que, em função da produção mundial ser exatamente muito próxima do consumo,
06:08isso vai abrindo também outras oportunidades para o Brasil em outros destinos.
06:13A gente, inclusive, tem conversado junto com o governo brasileiro
06:17sobre destinos que também tarifam o nosso café, seja o grão ou o solúvel,
06:22e esse momento que a gente está vivendo propicia ao governo
06:25uma aproximação maior a outros países
06:27pela facilidade de diálogo que o Brasil tem com esses outros países,
06:33no sentido de retirar essas tarifas.
06:35Então, eu entendo que existe, inclusive, a oportunidade de nós,
06:40trabalhando com bastante afinco e com diálogo,
06:43não somente recuperarmos participação no mercado americano,
06:49mas aumentarmos a nossa participação nos outros mercados.
06:52Então, o produtor, no final, ele não seria de um todo prejudicado,
06:56não sobraria com o café.
06:58O fato é que tarifas, seja café ou qualquer outro comódio,
07:01têm impacto negativo, inclusive nas bolsas.
07:04A bolsa, hoje, por exemplo, ela subiu um pouco,
07:07mas olha a bolsa de Londres, por exemplo, ela caiu.
07:09Então, as tarifas, elas têm um impacto negativo
07:11porque, a princípio, o importador tem que pagar menos preço
07:15para agregar a tarifa e entregar ao consumidor final.
07:20Então, ela teria sido um impacto negativo.
07:21É esse o maior problema da tarifa.
07:23Mas, eu volto a dizer, a gente entende que isso é o início,
07:28uma abertura de um diálogo que há que se aprofundar
07:31e, obviamente, respeitar também a soberania de cada país.
07:36Eu vi agora, por favor, a matéria que se apresentou muito interessante
07:39sobre a China, a participação da China em termos de comércio.
07:43Eu vim de uma viagem de 30 dias, há um mês e meio atrás,
07:46eu fiquei 30 dias na Ásia, dos quais 12 dias exatamente na China.
07:51E fiquei muito impressionado com o aumento de consumo,
07:55vendo em loco.
07:56Estive palestrando em Xangai, palestrando em Beijing,
08:00junto com outras lideranças da economia brasileira,
08:04da produção, não só do agro, mas toda a produção.
08:08E um dado que chegou para mim, muito interessante, no Coffee Dinner,
08:13foi a previsão de crescimento populacional nas próximas décadas.
08:19Dá conta de que, embora nós venhamos a ter redução de população,
08:23por exemplo, na China e em outros países ocidentais,
08:27a previsão é de que haja um crescimento de 2 bilhões de pessoas
08:30nas próximas décadas, saindo de 8 para 10 bilhões.
08:34Decréscimo no Ocidente e acréscimo em outros países substanciais,
08:38foi citado.
08:40Índia, Paquistão, Indonésia, Nigéria.
08:44E esses países são verdadeiros novos consumidores de café,
08:49eu não tenho dúvida disso.
08:50Então, a geografia do consumo de café, antes, inclusive, de tarifas,
08:54se pegarem entrevistas que eu tenho dado, desde o ano passado,
08:58eu já falava que a geografia do consumo de café vai mudar.
09:03Ela será incrementada nesses outros países.
09:05O que não quer dizer que a gente vai abrir mão dos Estados Unidos,
09:07nem dos Estados Unidos de Brasil.
09:09Cabe café brasileiro em todos esses países, inclusive os Estados Unidos,
09:14e a nossa relação com o governo americano, com os importadores,
09:17sempre foi muito respeitosa, muito frutífera,
09:20e eu acho que a gente tem condição de diálogo para alcançar novamente
09:25esse nível de respeito e de comunicabilidade.
09:30O que é que deve acontecer com a cotação do café?
09:34A cotação do café tem a ver também com a questão da tarifa,
09:40que talvez seja mais a sua pergunta,
09:42mas o café passou por um cenário muito interessante.
09:48O ano passado, em 2021, nós tivemos uma geada fortíssima no Brasil,
09:54na região do sul de Minas, Serrada e Mogiana,
09:56que foi a maior desde 1994.
10:00E o café que tinha como preço recorde na Bolsa de Nova Iorque,
10:03se não me engano, 14 de abril de 1977,
10:07ou seja, após a geada que dizimou a cafeicultura no Paraná,
10:10quase 50 anos depois, o mercado supera esses R$ 348 e vai até R$ 440.
10:17Então, esses preços altíssimos na Bolsa de Nova Iorque,
10:20R$ 5.700 de tonelada na Bolsa de Londres,
10:23aliado com o dólar que bateu até R$ 6,19, R$ 6,20,
10:27trouxe preços inimagináveis para os produtores de todas as origens,
10:31tanto é que o café arábica bateu R$ 3.000
10:33e o Robusta, o Conilon, bateu R$ 2.000.
10:36Isso são preços outliers.
10:38Hoje, a Bolsa que bateu no início, no final do ano passado, R$ 440,
10:42está negociando na faixa de R$ 280.
10:45A gente vê uma queda substancial em relação às máximas,
10:49Londres também com medo do comportamento,
10:51mas não podemos esquecer que hoje a R$ 280 está muito acima da média
10:55dos últimos 10, 12 anos, que foi R$ 160.
10:57Então, os preços hoje ainda são extremamente remuneradores
11:02para o produtor nas duas variedades.
11:04O impacto da tarifa pode agilizar um processo que a gente já vislumbrava
11:10de uma contínua queda, até um certo ponto,
11:14das duas bolsas e, consequentemente, dos preços.
11:17Mas por que a queda que a gente vislumbra?
11:19Porque a gente está entrando num momento em que os estoques mundiais
11:24estão hoje a níveis caríssimos, que foram esses níveis recordes
11:28que a Bolsa bateu.
11:30A produção desse ano, embora impactada por algum problema climático no Brasil,
11:35ela não teve problema no Vietnã, não teve na Indonésia,
11:38e a safra deste ano deve alcançar muito próximo da safra anterior,
11:43do ano passado.
11:43Um pouco menor no Arábica, mas um volume recorde no Conilom.
11:49Para o próximo ano, fruto dos investimentos que foram feitos
11:53dados os preços altos.
11:55No Parque Cafeeiro, no Brasil, eu costumo viajar também
11:58para acompanhar a lavoura.
12:00Ela está muito preparada, sob condições climáticas normais,
12:04para ter uma produção recorde.
12:06Então, os fundos, que são aqueles que antecipam movimentos,
12:10fundos de investimentos, eles anteciparam a alta
12:13desde dois anos atrás, porque viam um quadro muito apertado,
12:17e estão liquidando as posições compradas,
12:18e podem até virar vendidos.
12:20Então, esse processo de bolsa descendente pode ocorrer,
12:26mas lembrando que isso em condição climática é normal.
12:29O lado positivo é esse aumento de consumo no mundo inteiro.
12:32Outro lado positivo é a demanda que existe por café conceito.
12:36A lei de não desmatamento da Europa é muito rígida,
12:40e ela não vai parar na Europa.
12:41Os demandas de impacto social, respeito trabalhista,
12:45legislação trabalhista, são fundamentais.
12:47E isso vai agregar preço, porque café passa a ser validade,
12:52não somente a questão da bebida em si,
12:55mas tudo o que ela traz no contexto.
12:58A gente, inclusive, fica feliz,
12:59eu vou colocar no adendo para você aqui,
13:01quando a gente vê uma Europa demandando café
13:04com menos desmatamento.
13:07Por quê?
13:08Porque o Brasil tem no seu código florestal
13:11o mais rígido de todo o mundo.
13:13Ele tem a maior produção e tem condição de entregar cafés
13:16para a Europa, atendendo a legislação que a gente chama Iuriá.
13:20Aí, uma outra oportunidade para o Brasil.
13:22Tanto é assim que no ano passado,
13:24o Brasil aumentou 50% das exportações para a Europa.
13:27Então, se o Brasil tem essa aptidão de produzir cafés,
13:31frutos de ciência e tecnologia, com muita sustentabilidade,
13:34tem a questão da rastrabilidade,
13:36entrega o café dentro da legislação,
13:38e essa legislação não vai parar na Europa,
13:40um consumidor americano, um consumidor da Ásia,
13:43vai querer cada vez café que seja mais amigo do meio ambiente
13:48e mais respeitoso com os trabalhadores e com todos os produtores.
13:52Esse é o contexto.
13:53Então, o Brasil tem, sim, oportunidades também na Europa.
13:58E o que eu acho interessante é que a lei da Europa diz o seguinte,
14:03nós queremos saber se não há nenhum problema de desmatamento no talhão.
14:08Eu gosto muito disso, da questão do ponto exato onde o café foi colhido.
14:13Porque isso é dito que o consumidor quer a rastrabilidade total.
14:17E nas minhas falas, inclusive, no fórum,
14:20que está entre os três maiores que ocorreu agora,
14:23eu falei para a indústria, falei para o trade,
14:25olha, vocês querem a rastrabilidade e nós queremos também a rastrabilidade.
14:30Porque a rastrabilidade só chega para o consumidor
14:32se na embalagem final constar que ali tem majoritariamente café do Brasil.
14:38O que não consta.
14:39Então, a melhor propaganda para nós será termos na Europa,
14:42nos próprios Estados Unidos e outros países,
14:44a imagem do café brasileiro, que esse, sim, nós temos orgulho
14:49e trabalha também em função de outras origens.
14:53Países, às vezes, com dificuldade de produção,
14:55países que você vê um índice de pobreza muito grande.
14:58Isso tudo nos incomoda.
15:00O Brasil é amigo de todos e assim tem que ser tratado.
Seja a primeira pessoa a comentar