EUA entram em alerta mesmo com Trump em extensa ofensiva com tarifaço; assista à análise

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O professor de relações internacionais do Berea College, Carlos Gustavo Poggio, direto dos EUA, destrincha os efeitos das tarifas de Trump ao Brasil, a reação confusa do mercado e os riscos ao capital político do ex-presidente americano. Entenda como inflação, juros e desemprego afetam as eleições e por que empresários enfrentam um cenário imprevisível.

Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://timesbrasil.com.br/guerra-comercial/

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00:00Como já falamos no começo dessa edição do Conexão, a partir do dia 7 de agosto,

00:05o Brasil enfrenta uma tarifa de 50% em produtos como café, carne bovina.

00:11Para a gente analisar o assunto, eu converso com Carlos Gustavo Pottio,

00:15que é professor de relações internacionais, mora e leciona nos Estados Unidos, no Berea College,

00:23estudou relações internacionais, conhece a política brasileira, conhece a política nos Estados Unidos,

00:27vive como um cidadão americano, é a pessoa certa nesse momento para a gente conectar tudo isso.

00:34Pottio, eu fiz questão de apresentar a sua biografia aqui justamente para termos esta conexão.

00:42Por favor, corrija-me se eu estiver errado.

00:45Qualquer governo, seja nos Estados Unidos, no Brasil, na Argentina, pode Japão, onde você quiser,

00:49que tem uma democracia plena, obviamente, tem três calcanhares de Aquiles, pode ter mais.

00:54Vou trazer três aqui, que é desemprego, inflação, taxa de juros, porque tudo isso culmina

01:02numa parte muito sensível do eleitor, que é o bolso.

01:06O Donald Trump chegou hoje com dados de um desaquecimento, não vou dizer que são dados de desemprego alarmantes,

01:15mas começa a distanciar os Estados Unidos do chamado pleno emprego,

01:19que foi um mote de campanha ainda no primeiro mandato do Donald Trump, uma inflação pegajosa,

01:25o Fed que ele fica empurrando ali não dá sinais que vão baixar taxa de juros.

01:31Isso já começa a desmontar uma base de apoio, talvez, essa é a pergunta, aí nos Estados Unidos.

01:36Tudo bem, tem o MAGA ali, ele tem uma superfície de apoio bastante sólida e confiante,

01:42mas nada dura para sempre. Você, como um acadêmico e um morador aí dos Estados Unidos,

01:49como é que você enxerga esse capital político do Trump agora?

01:53Bom, boa noite, Favali, sempre um prazer conversar com você, quem nos assiste aí.

01:59Vamos lembrar que o Trump assume, nesse segundo mandato, com um grande capital político.

02:04No começo da administração Trump, neste segundo mandato, ele estava no ponto mais alto de sua popularidade.

02:12Se você comparar com todo o primeiro mandato, os números que ele tinha quando ele assumiu

02:17estavam nos seus índices mais altos.

02:19Então, portanto, ele tinha, sim, bastante gordura para queimar, vamos colocar dessa forma.

02:25Porém, o que nós estamos vendo nos últimos meses,

02:28vários institutos de pesquisa vêm confirmando uma queda consistente na aprovação do Donald Trump.

02:37E essa queda, ela tem se acentuado em alguns grupos específicos.

02:42E se você divide por tema, você vê que o Donald Trump, que foi eleito com a questão da economia

02:49como um tema central, muita gente votou no Donald Trump porque lembrava do primeiro governo do Trump

02:56e comparava com o governo do Biden e dizia, não, estava melhor durante o Trump.

03:01Então, a economia era algo que o Trump era muito bem visto pelo eleitor americano.

03:05Isso tem caído fortemente.

03:07Hoje, o Donald Trump tem uma aprovação muito abaixo em termos da capacidade de lidar com a economia

03:13da que ele tinha no começo do seu mandato.

03:16Isso se junta, claro, a esses índices que você falou.

03:19Tudo isso vai... ainda não temos claramente aqui nos Estados Unidos uma sensação

03:25de que o país está em crise ou coisa parecida.

03:28O que esses números indicam é provavelmente um tipo de um...

03:33aquilo que os economistas chamam de pouso suave, um soft landing da economia norte-americana.

03:39É um gradual desaquecimento.

03:41É isso que parece indicar.

03:43Ou seja, o número de vagas criadas foi positivo, mas foi abaixo do esperado.

03:48O desemprego não cresceu muito, mas cresceu um pouquinho.

03:51Cresceu 0,1%.

03:53Então, isso são sinais ruins para a economia americana,

03:56num momento em que talvez seja o melhor momento desta economia

04:01antes de se sentir os efeitos das tarifas.

04:05O que os economistas apontam é que o efeito econômico das tarifas,

04:09aumento de preço, tudo isso demora um pouco para entrar na cadeia produtiva.

04:13Muito dos produtos que são vendidos hoje, importados nos Estados Unidos,

04:19são produtos que foram estocados antes de aumento de tarifa.

04:23Então, não se sente ainda um grande...

04:26Em alguns produtos, em algumas indústrias, já começam a sentir.

04:30Mas isso não é algo que ainda chegou totalmente no americano médio.

04:34Isso é esperado que, por conta dessas tarifas, aconteça a partir do segundo semestre

04:41e, mais claramente, no ano que vem.

04:42Então, se começarmos a ter números ruins da economia americana,

04:47é claro que isso tem um impacto bastante grande na aprovação do Donald Trump.

04:51O que vai determinar a aprovação do Trump não é nada do que ele fala,

04:56não é nada do caso Einstein, não é nada dessas outras questões.

04:59É, fundamentalmente, o estado da economia americana.

05:03Daí porque ele ficou irritado com esses números,

05:07não é que nem eram tão ruins assim, mas foi suficiente para irritar o Donald Trump,

05:11ele demitiu a pessoa que cuida desses números nos Estados Unidos.

05:16Lembrando aquilo que foi feito, aliás, na Argentina, durante o Néstor Kirchner.

05:22Ele fez a mesma coisa quando não gostava dos números de inflação que eram produzidos.

05:28E ele simplesmente demitiu a pessoa responsável e começou a inventar outros números de inflação.

05:33E a Argentina, por muito tempo, ficou mal vista.

05:36Eu lembro que a revista Economist, que publicava índices de inflação em todos os países,

05:40no caso da Argentina, tinha um asterisco, que eles não utilizavam os índices oficiais.

05:45Eles tinham um índice lá que eles calculavam para tentar entender qual era a inflação da Argentina.

05:50Então, a questão econômica certamente anda lado a lado com a questão política.

05:56Isso vai ser determinante.

05:57Eu acho que o próximo semestre é onde isso vai estar um pouco mais claro.

06:00Pode, eu estava esperando a nossa conversa esquentar para que a segunda pergunta, como dizem os americanos, fosse mais tricky, né?

06:08Mas é uma pegadinha, que é a seguinte.

06:12O Donald Trump teve um discurso, ele é ótimo de fazer discurso, claro, mas ele tinha um discurso duro, né?

06:19Vou ali em cima do México, do Canadá, vou em cima da China.

06:23Ele foi, em certa medida, e depois foi abrindo concessões, foi abrindo exceções.

06:30A gente ainda não sabe qual é a tarifação para a China, ele deu um prazo de negociação,

06:35deu um prazo de negociação para o México, que foi o primeiro país, junto com o Canadá, que ele fez um discurso mais grosso.

06:42Aí, colocou, fez um embrólio ali, colocou a questão do Bolsonaro para pressionar o Brasil,

06:48chamou de censura, fez a maior taxação de todos os países, 50%, mas com uma gigantesca lista de exceções.

06:56Então, é um passo para frente, dois para trás, às vezes dois para frente, um para trás.

07:02O quanto isso vai, pode vir a pesar no tal do taco, né?

07:07Que a imprensa, principalmente a mais crítica do Trump aí nos Estados Unidos, criou essa expressão jocosa, né?

07:13Trump always chicken out.

07:15Eu pergunto, eu volto a essa relação economia, discurso, economia e fato político,

07:21lembrando que o ano que vem, em novembro, teremos as mid-term elections,

07:26que aí essa popularidade ou impopularidade do Donald Trump vai pesar na campanha para os congressistas

07:33que querem renovar o seu mandato, tanto na Câmara Baixa, entre os deputados, quanto os senadores.

07:41De novo, voltamos ao tal do capital político, mas diante do discurso que nem sempre condiz com a realidade.

07:51É, mas que causa, como você colocou, quer dizer, o resultado disso é muita confusão.

07:57Ninguém sabe exatamente o que está acontecendo.

07:59Você conversa com uma série de pessoas que foram, que são representantes de outros países que receberam essa taxação do Donald Trump.

08:07Ninguém sabe muito bem o que está incluso, né?

08:10Os suíços acordaram com uma tarifa de 39%.

08:14O Donald Trump tinha posto 31% na ordem executiva anterior, né?

08:18Na ordem executiva de ontem foi para 39%.

08:21Ninguém sabe por quê.

08:22Os suíços acordaram surpresos com isso.

08:24Não sabem exatamente que produtos que estão sujeitos a esses 39%, se tem exceções, se não tem exceções.

08:32As exceções não são claras.

08:34Muitos desses chamados acordos que ele fecha não são acordos, né?

08:38Não existe um acordo com a União Europeia.

08:40Existe um protocolo de intenções.

08:42A própria União Europeia, se entra lá no site deles, quando eles descrevem o que eles conversaram com o Donald Trump,

08:48eles colocam assim, isto não tem nenhum fim legal, né?

08:52Isso não é legalmente vinculante.

08:54São apenas algumas intenções, né?

08:59O Vietnã, mesma coisa, o Vietnã fez um acordo, tentou negociar com o Donald Trump uma tarifa,

09:05ele foi na rede social, anunciou uma outra tarifa que pegou do seu preso os vietnamitas

09:09e não está claro que está incluído ou não está incluído.

09:11Então, existe uma grande confusão na forma que essas tarifas são colocadas.

09:17Por quê?

09:17Porque processo de negociação comercial é um processo que demora.

09:22E demora porque não é algo simples.

09:24Você precisa fazer estudos de viabilidade econômica,

09:27você precisa ver quais são produtos que estão dentro, que estão fora,

09:30qual vai ser o impacto disso, etc.

09:33Normalmente, houve um estudo que foi feito sobre isso

09:36e concluiu que o tempo médio para você negociar um acordo é de um ano e meio.

09:40O tempo para implementar é de dois anos e meio.

09:43Então, você tem um processo aí. Por quê?

09:45Porque isso tem que ser negociado.

09:47Agora, a estratégia do Trump é tentar fazer a negociação com a arma na cabeça.

09:51Ora, com a arma na cabeça, você até pode fazer concessões,

09:55mas vai criar uma série de ressentimentos,

09:58vai criar uma série de problemas para como esses acordos vão se sustentar no futuro

10:03e podem não resolver a questão, além de criar toda uma confusão

10:08num processo hoje de cadeias produtivas globais.

10:11Então, quer dizer, quanto vai custar para a Ford nos Estados Unidos hoje fazer um carro?

10:15Porque o preço do alumínio vai subir por conta da tarifa.

10:19O preço de peças vai subir porque peças importadas vão ficar mais caras.

10:24Então, não se sabe exatamente como isso vai competir com um carro que vem da Europa

10:29que agora paga 15%.

10:30Nada disso está claro ainda.

10:33Essas coisas vão ficar claras com o tempo.

10:35Então, tem muita confusão, muita incerteza, muita dificuldade,

10:39quer dizer, é unânime entre os empresários a dificuldade de fazer um planejamento de longo prazo

10:43porque você não sabe qual é a tarifa que vai ser na semana que vem.

10:46Então, isso tem criado um problema econômico muito grande que se soma ao problema em si das tarifas.

10:53Queria agradecer a conversa que eu tive com o sempre esclarecedor Carlos Gustavo Pódio,

10:59professor no Black College, no estado americano do Kentucky,

11:03quem sempre nos ajuda e vai ajudar muito mais.

11:05Como ele disse, ainda tem muita confusão e ainda bem que a gente tem a sua ajuda,

11:10Pódio, para limpar um pouco dessa névoa, dessa massa cinzenta.

11:13Até a próxima, muito obrigado, um ótimo final de semana.

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