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Especialistas alertam para as graves consequências psicológicas do trabalho infantil, destacando como a interrupção da fase de brincar afeta a formação da personalidade adulta, segundo teorias freudianas. O Documento Jovem Pan investiga as raízes dessa prática no Brasil, desde o período escravocrata até a industrialização, revelando como a sociedade naturalizou a exploração de crianças pobres enquanto protegia as elites.

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Transcrição
00:00Precisa primeiro que isso, se é uma criança, até adolescentes também, precisam ainda ter esse momento de abstração.
00:11O adolescente precisa ter aquele momento de fazer nada, de imaginar, de fantasiar.
00:18Então, quanto antes a gente interromper um processo de trabalho infanto-juvenil, melhor.
00:23Uma vez que isso não aconteceu, vai ser necessário um trabalho com a própria psicoterapia,
00:31de um trabalho para verificar as consequências com cada adulto desse trabalho que aconteceu durante a infância.
00:40Então, a gente tem que principalmente cuidar para que brinque.
00:45As implicações do trabalho infantil começam na infância, mas não cessam nela.
00:51Freud, o pai da psicanálise, defende as experiências vividas na infância como a base do inconsciente na vida adulta,
01:00capaz de influenciar a personalidade e os comportamentos.
01:05Isso vai levar um peso, porque a criança não tem a perspectiva dessa outra vivência que o pai ou a mãe está tentando passar para a criança.
01:14Então, se o meu pai, a minha mãe precisou trabalhar, eu sinto muito, a criança sente muito que ele tenha precisado,
01:21mas a realidade da criança é outra, ela não consegue acessar isso de maneira a ficar muito grata por tudo que ela tem.
01:30Então, o adulto, quando tem um filho, quando tem uma filha, tem a responsabilidade do cuidado, né?
01:36E a criança não tem que carregar esse peso que o outro adulto, o pai ou a mãe, viveu.
01:43Então, sim, é algo que pode trazer um peso ali na relação, quando os pais ficam sempre repetindo,
01:49mas comigo foi muito mais difícil, olha tudo que você tem.
01:53Acho que sim, tem que olhar tudo que tem, mas não nessa comparação, né?
01:57Acho que sem fazer essa comparação de um com o outro.
02:00A infância é uma invenção relativamente nova na história da humanidade.
02:06Há 300 anos, a infância, como conhecemos hoje, era inexistente.
02:11As crianças eram apenas adultos menores e com menos poderes.
02:16Salvo alguns casos, como o de Luís XVI da França, que ascendeu ao reinado antes de completar 20 anos.
02:23Por outro lado, alguns adultos assumiram uma posição infantilizada.
02:28No sul dos Estados Unidos, escravos eram tratados como meninos pela expressão
02:34Come here, boy, como eram conhecidos.
02:37A ideia de infância, ela acompanha, podemos falar assim, a história da humanidade.
02:42Ela não tem um único momento onde podemos conceber que a sociedade se relacionou com as crianças.
02:51Ao longo do tempo, aí sim, nós podemos considerar como as diferentes sociedades, polos,
02:57lidaram com as diferentes crianças, adolescentes, e foram, portanto, criando o que nós chamamos de infâncias.
03:04As consequências psicológicas do trabalho infantil são muito graves, muito preocupantes.
03:10Essa compreensão da infância como um momento peculiar de desenvolvimento,
03:16que precisa ser cuidado, se a gente pensar na história da humanidade, é relativamente recente.
03:22E antigamente se viam as crianças como mini-adultos, que poderiam trabalhar,
03:26que poderiam fazer todas as atividades que fazem os adultos.
03:30Hoje em dia, a gente já sabe que o desenvolvimento da ciência, da psicologia, do desenvolvimento,
03:34das neurociências, que não é um momento em que se deva trabalhar, ter esse tipo de responsabilidade.
03:42Exatamente porque toda a parte emocional e cognitiva está em processo de amadurecimento,
03:48de desenvolvimento.
03:50Muitas questões que os adultos conseguem compreender, de uma perspectiva mais da totalidade,
03:56a criança ainda não.
03:57Ela precisa dos momentos livres, de brincar livre.
04:01Essa infância mais presente agora, que nós reconhecemos como infância,
04:08que tem alguns marcadores, algumas prescrições,
04:12nós podemos considerar que no Brasil, podemos pensar no Ocidente,
04:19vai ter uma certa conformação a partir do século XVIII de maneira especial.
04:26No Brasil, de maneira especial, ainda mais especificamente,
04:30nós podemos entender isso que nós vamos enxergando como infância,
04:36no final do século XIX e início do século XX.
04:41Então, não há uma única concepção, uma única relação com as crianças
04:47que nós possamos classificar como a infância.
04:50As infâncias foram transitando ao longo dos tempos nessa relação entre crianças,
04:55adolescentes e o mundo dos adultos.
04:58E essa relação do mundo do trabalho, também ela vai tendo essas alterações ao longo do tempo,
05:03ao longo das sociedades.
05:04Pensando um pouco sobre a importância da infância na formação psicológica,
05:08psicológica, a gente, hoje em dia, já entende a infância como um momento peculiar de desenvolvimento.
05:16Então, tanto cognitivamente quanto emocionalmente,
05:20a criança precisa passar por um processo de amadurecimento emocional, cerebral,
05:28para que ela consiga entender o mundo com os olhos do adulto.
05:33Então, tem muitas questões que não adianta a gente esperar que a criança compreenda,
05:38que ela se autorregule emocionalmente,
05:41que ela tenha essa compreensão mais racional do mundo,
05:45porque ela ainda não passou por esse processo de desenvolvimento.
05:48Então, leva tempo, é um processo que demanda contato, afeto, organização, rotina, brincadeiras e ensino,
06:00para que, então, ela consiga se desenvolver de uma maneira saudável.
06:04Mas nós tivemos, desde sempre, um contingente muito grande de crianças e adolescentes
06:09compondo o mundo do trabalho escraviço, o mundo de crianças escravizadas.
06:14Seja de crianças que vieram no tráfico transatlântico, forçosamente, para o Brasil,
06:19seja de crianças que nasciam já nos espaços de reprodução
06:24dessa população escravizada no território brasileiro.
06:29Então, nós tivemos, ao longo de praticamente toda a história da escravização no Brasil,
06:35a presença de crianças trabalhando forçosamente.
06:38E, portanto, essas crianças afro-brasileiras, africanas, na primeira geração,
06:44ou afrodescendentes, quando submetidas à escravidão,
06:48esse tipo de trabalho foi sempre tolerado, exigido, na verdade, também,
06:54de que isso poderia acontecer.
06:57Então, esse é um elemento, é um fator interessante,
06:59porque essas crianças que foram sendo escravizadas,
07:02e foram depois deixando de ser escravizadas,
07:05elas foram, continuamente na nossa história do Brasil,
07:09elas foram participando do mundo do trabalho,
07:12seja com pequenos trabalhos domésticos,
07:13seja com pequenos trabalhos urbanos,
07:15seja com trabalhos no Eidos, ou trabalhos no mundo rural.
07:20Então, assim, o mundo rural, também como um dos elementos,
07:22um dos fatores econômicos estruturantes da nossa trajetória histórica e econômica,
07:27ela sempre considerou, sempre contemplou,
07:30sempre contou com os braços infantis, braços de crianças e adolescentes,
07:34para poder acontecer.
07:36Esse trabalho, então, no período onde a escravização era aceita,
07:41era normalizado, então era normal, era aceito,
07:44era entendido que crianças deveriam trabalhar
07:47e não tinha maiores preocupações no mundo rural.
07:50Então, não há uma universalidade,
07:53que nós possamos compreender que é adequado trabalhar ou não trabalhar como criança.
07:59Na nossa sociedade, nós podemos também ter esse marcador do final do século XIX,
08:04início do século XX,
08:06vai pouco a pouco se delineando,
08:08que vai sendo o trabalho aceitável para crianças e para as infâncias,
08:13e aquilo que vai sendo o trabalho não aceito e proscrito, portanto, para crianças.
08:18Mas, de maneira especial, no início do século XX,
08:21nós vamos ter algumas tolerâncias para o trabalho de crianças muito mais precoce,
08:27e essa tolerância vai sendo reduzida.
08:31Ou seja, já mais ou menos na metade do século XX,
08:34nós vamos ter ali uma ideia de que, a partir dos 14 anos,
08:37e quando é passível, é tolerável que uma criança,
08:40no caso já é um adolescente,
08:42possa exercer algum tipo de trabalho,
08:44sob algum tipo de controle.
08:45Mas, sempre também é importante mencionar que isso varia,
08:49conforme o grupo social, a classe social,
08:52não é a adiância universal,
08:55que a sociedade vai estabelecer quem pode e quem não pode,
08:58a quem deve, quem deve e quem não deve trabalhar.
09:01Então, para as crianças dos setores mais empobrecidos,
09:04dos setores mais populares,
09:06essas tolerâncias vão sendo mais alargadas,
09:09para os setores mais abastados, mais adinheirados,
09:13classe média, classe média alta, ou as elites,
09:17essas tolerâncias para o trabalho vão sendo mais precocemente reduzidas.
09:24Então, vai sendo considerado que é aceito o trabalho
09:26a partir de uma certa formação,
09:28a partir de uma certa trajetória de formação.
09:31inclusive as famílias mais abastadas,
09:35elas acabam fazendo com que as crianças
09:38se distanciem do mundo do trabalho,
09:42esperando que elas passem a trabalhar
09:44a partir de uma certa idade adulta,
09:45como quando está 18 anos, 19 anos,
09:48ou depois de uma formação mais expressiva,
09:51em termos da carreira educacional,
09:53como, por exemplo, uma formação superior.
09:54Quando nós passamos a ter o fim da escravidão,
09:58o mundo do trabalho infantil
10:00passa a ser continuamente aceito no campo,
10:02e também passa a ser aceito,
10:05em um certo momento, no mundo urbano,
10:06nos espaços urbanos, nas sociedades industriais,
10:09no princípio da industrialização brasileira,
10:12nós tivemos uma quantidade extremamente significativa
10:15de crianças compondo o mundo do trabalho,
10:19chegando a ser um quarto, um terço
10:21dessa força de trabalho,
10:23portanto, sendo indispensável
10:25para a reprodução da sociedade,
10:27das dinâmicas econômicas,
10:29o trabalho de crianças.
10:31Então, o trabalho de crianças também,
10:33ele entra como um fator estrutural
10:36o custo do trabalho.
10:37Então, o custo do trabalho de crianças,
10:39em geral, é bastante diminuto.
10:40As exigências que as crianças fazem
10:43para movimentar, para colocar a sua energia
10:46para o setor produtivo,
10:48em geral, são bastante diminutas.
10:50Elas também têm menos estrutura de organização,
10:53então, por exemplo, não têm sindicatos,
10:55não têm organização mais estruturada,
10:59têm menos construção das resistências
11:03que o mundo do trabalho também acaba criando
11:06nessas relações de produção.
11:09A falta de fiscalização do trabalho infantil
11:13soma-se à preocupante realidade.
11:15Hoje, o Brasil conta com o menor efetivo
11:18de auditores fiscais desde 1989,
11:22com apenas 1.842 profissionais
11:26para proteger mais de 100 milhões de trabalhadores.
11:30Uma fragilidade nas ações integradas
11:32entre União, Estados e Municípios
11:35que compromete o combate à violação de direitos
11:38entre os mais frágeis.
11:40Apesar da legislação ser robusta,
11:43no momento em que ela proíbe,
11:45na medida em que, pela nossa Constituição,
11:48o trabalho infantil é proibido
11:50para menores de 16 anos,
11:53salvo na condição de jovem aprendiz,
11:56em que é permitido dos 14 aos 16,
11:59lembrando que trabalho noturno, degradante,
12:03ou que envolva qualquer tipo de risco,
12:06ele é completamente proibido
12:07para menores de 18 anos.
12:11Ainda que tenhamos uma legislação
12:13que proteja efetivamente as crianças,
12:16na prática, a fiscalização ainda é um desafio.
12:19Então, nós temos aqui a insuficiência de pessoal,
12:23a dificuldade de acesso, muitas vezes,
12:24a áreas remotas de maior vulnerabilidade,
12:27e a própria desartipulação
12:28entre os diferentes órgãos de proteção,
12:31elas dificultam esse combate efetivo.
12:35Então, a dificuldade de fiscalizar o trabalho infantil,
12:38tanto em oficinas clandestinas,
12:41como num trabalho doméstico,
12:44muitas vezes, isso acaba sendo invisibilizado
12:49e silenciado.
12:50Então, é difícil de enfrentar,
12:52é um desafio enfrentar,
12:54quando isso acontece dentro do próprio ambiente doméstico.
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