Alexandre Pires, professor de relações internacionais e economia do Ibmec, analisou a reaproximação entre Brasil e Moçambique, os impactos econômicos e o potencial em minerais críticos, biocombustíveis e agricultura. Lula defendeu industrialização local e cooperação estratégica.
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00:00No encerramento de um encontro empresarial em Moçambique, o presidente Lula falou sobre voltar a fazer parcerias com o país africano.
00:07Um dos pontos que ele comentou foi sobre terras raras, que Brasil e Moçambique não serão apenas exportadores de minerais críticos. Vamos conferir.
00:17Também queremos voltar a apoiar o sistema de saúde em Moçambique, conjugando cooperação técnica e investimentos privados.
00:26Na área de energia, assim como na América do Sul, o continente africano possui importantes reservas de minerais críticos, como o lítio e cobalto, que desempenhará um papel estratégico na tradição verde.
00:41A cooperação internacional nessa matéria é fundamental.
00:44Eu quero te dizer que o Brasil está disposto a colaborar com vocês e nós temos que tomar a decisão.
00:50Nós não vamos ser exportador dos minerais críticos.
00:56Se quiser, vai ter que industrializar o nosso país para que o nosso país possa ganhar esse dinheiro.
01:08É igualmente urgente que cada país seja capaz de definir as necessidades e modelo de exploração de suas riquezas minerais de forma soberana.
01:18Nós já temos um século de experiência.
01:23Já temos um século.
01:25A gente não tem por que acreditar mais.
01:27Ou nós aproveitamos essas riquezas que Deus nos deu e fazemos disso, uma riqueza para o nosso povo,
01:35ou nós vamos ver os países de sempre cavarem buraco no nosso país, levar o nosso minério e a gente ficar com a fome e com a pobreza.
01:44Eu estou falando de minério, mas a questão de biocombustível é uma coisa muito importante para o continente africano.
01:56Acabou aquela história de alguém ficar confundindo, vai produzir biocombustível, vai faltar alimento, vai produzir...
02:03É bobagem.
02:04Isso é simplesmente bobagem.
02:09Não existe nenhuma, nenhuma, nenhuma verdade nesse negócio.
02:15Até porque somente o lunático iria preferir produzir, sabe, o combustível que é produzir comida.
02:21É que tem terra para os dois.
02:26E tem muita terra, e muita terra.
02:29E Moçambique tem muita terra para produzir comida, para produzir biocombustível e para ir explorar as milhares críticas que o Moçambique tem.
02:39Obrigado, Moçambique.
03:09Eu queria que você trouxesse para a gente a dimensão estratégica dessa reaproximação para o Brasil no continente africano.
03:18Nós temos que lembrar que todos os países vão procurando costurar alianças comerciais de segurança em vários pontos.
03:27Moçambique tem uma posição estratégica, seria ali uma ponta de lança para o Índico.
03:34Então, é sem dúvida um país interessante, mais do que as afinidades ligadas à língua portuguesa.
03:41É um país que tem uma posição interessante, mas nós temos que lembrar também, Natália, que é um dos países mais pobres do mundo.
03:47Então, obviamente que a nossa expectativa de aumento de exportações, de modo volumoso, capacidade de escoar produtos e mercadorias para lá,
04:00que vão ter algum impacto na economia brasileira, é muito pequeno.
04:03E aí nós temos que ver qual desenho vai ser feito.
04:06Esse tem sido um grande problema do Brasil quando ele faz essas incursões internacionais.
04:11Qual é o nosso interesse?
04:13Nós temos que lembrar, por exemplo, que quando a China faz isso com a África,
04:16ela quer viabilizar o que nós chamamos lá de uma certa segurança industrial.
04:22Ela quer fornecedores.
04:24Então, ela vai lá e investe para ter acesso a matérias-primas para a sua indústria.
04:30Ou seja, ela não está desenvolvendo o país no sentido de gerar um poder aquisitivo para comprar mercadorias chinesas.
04:41O Brasil tem uma situação um pouco diferente.
04:44Ou seja, produzir alimentos em Moçambique, para quê?
04:48Ou seja, o Brasil tem algum problema ligado à segurança alimentar?
04:54Existe alguma coisa que pode ser feita lá que aqui não pode?
04:57A questão dos minerais.
04:59Ou seja, a indústria brasileira de mineração vai expandir para lá para exportar e usar Moçambique como base de exportação?
05:06Ou nós vamos começar a trazer a matéria-prima para cá?
05:10Então, esse desenho é importante.
05:12O Brasil titubeia nisso.
05:15Não tem um plano muito claro.
05:16E acaba ficando muito naquela chave, Natália, daquele eixo sul-sul, da diplomacia sul-sul.
05:24E a população brasileira acaba não vendo o retorno disso.
05:27Do seu ponto de vista, a gente fala em acordos, com um olhar quantitativo, olha quantos acordos, mas falta olhar com mais atenção para a qualidade desses acordos e para o que a gente colhe deles.
05:42É isso, professor?
05:42Exatamente, Natália.
05:45Ou seja, pode ser o que nós chamamos às vezes de um soft power.
05:50O Brasil tentando ter mais voz na arena internacional.
05:53E aí não vai ser um gasto tão grande de investimento.
05:56Claro que pode virar um rombo, mas vamos imaginar que a coisa seja feita com parcimônia.
06:01E aí o Brasil continua tendo algum tipo de influência.
06:04Pode ser isso, mas se de fato o interesse é econômico, é muito difícil você conseguir ter grandes ganhos com o que nós chamamos de países que não são necessariamente complementares.
06:16Muito do que o Moçambique pode produzir é o que o Brasil já produz.
06:21Mas, claro, pode ser que se ache uma maneira de expandir a atuação das empresas brasileiras para o exterior, o que talvez não fosse ruim.
06:29Ou seja, a gente consegue aumentar a nossa massa crítica ali dentro de alguns setores.
06:36Mas, já ouvimos essas promessas, Natália.
06:41Nós já escutamos isso há um bom tempo e nós não vemos o retorno.
06:46Claro, é diferente, como eu estava falando, com relação à China ou Estados Unidos.
06:50Quando eles põem dinheiro ali, eles querem garantir o fornecimento de insumos estratégicos para suas indústrias.
06:56O Brasil tem que ter clareza disso.
06:59Esse ponto que você mencionou agora tem a ver com essa fala do presidente Lula, de que o BNDES...
07:05Ele defende que o BNDES retome financiamento a projetos de empresas brasileiras no exterior, especialmente em países parceiros.
07:13Moçambique entraria nessa questão.
07:16Por outro lado, a gente sabe, professor, que Moçambique é um país que ainda enfrenta muitos desafios de infraestrutura também.
07:22Sim, tem grandes oportunidades, ainda mais naquela época em que nós estávamos com as grandes empreiteiras,
07:29que tinham muito know-how.
07:31Sem dúvida, abrir oportunidade de exportação disso era um ganho para essas empresas.
07:37E, desde que a garantia de crédito fosse bem desenhada, não afetaria o Brasil.
07:42O problema é que, quando essas garantias ficam mal desenhadas, na verdade, a gente transfere o risco para o contribuinte brasileiro.
07:48E é isso que tem decepcionado tanto os agentes econômicos, muitas vezes, como os que não participam desse circuito, como a própria população.
08:00Ou seja, fica com os custos e não colhe nada ali dos frutos e dos lucros obtidos.
08:05Isso é muito preocupante.
08:07O Brasil ainda precisa de uma estratégia econômica internacional bem desenhada.
08:12E faria, por exemplo, muito mais sentido o Brasil ter parcerias mais firmes com Bolívia, com Argentina.
08:20Por quê?
08:21Porque eles têm o gás, nós precisamos do gás.
08:23A Argentina tem zonas temperadas que poderiam fornecer commodities agrícolas ligadas a isso.
08:29Quando nós vamos para um país distante, assim, muitas vezes fica mais no que nós chamaríamos de um teatro diplomático.
08:37Importante de ser feito, não estou desprezando o papel disso, mas do ponto de vista econômico, aqui do lado nós teríamos muito mais necessidade de financiamento do que com relação a Moçambique.
08:51E, professor, a gente viu na fala do presidente Lula, ele falar de terras, terras, terras, terras raras, né?
08:58A questão dos minerais críticos ajuda a gente a entender como que está Moçambique posicionado nisso.
09:03Isso está parecendo, parecido com o Brasil, ou seja, temos potencial a ser explorado, mas não temos a tecnologia necessária para essa mineração?
09:14É, são investimentos que envolvem muito capital, Natália.
09:17Ou seja, eu tenho que colocar muito dinheiro antes para viabilizar o processamento.
09:21Na verdade, essas indústrias que nós estamos falando não fazem um produto final.
09:25Minerais críticos significa fornecer uma matéria-prima específica para setores que depois vão transformar isso em produtos que vão ser vendidos.
09:35Então, nós chamamos isso de processamento.
09:37Ou seja, o Brasil não tem processamento disso, nós temos nossas terras raras mais na região ali de Minas.
09:43Não processamos, é um setor que é dominado pela China.
09:46A China processa praticamente 90% das terras raras e metais críticos do mundo.
09:52Não que ela tenha 90% das reservas, ela processa.
09:56Ou seja, é uma grande indústria de processamento.
09:59O Brasil poderia buscar viabilizar isso, mas nós não temos capital próprio.
10:04Nós precisaríamos de investimento.
10:06E o Brasil não é um exportador líquido de capital para dizer que ele vai desenvolver a Moçambique.
10:12É claro que qualquer dinheiro que o Brasil coloque, tendo em vista a diferença das duas economias,
10:18tem um impacto muito grande em Moçambique.
10:20E você pode explorar algumas das terras raras ali, metais críticos que tem em Moçambique.
10:26Com relação à questão das terras, o presidente Lula está correto.
10:29O Brasil tem muito know-how em cultivo de zonas que nós chamaríamos ali tropicais ou subtropicais.
10:37E o Moçambique tem esse tipo de terreno parecido com o brasileiro.
10:44Então, sim, algumas potências do setor agrícola brasileiro poderiam começar a expandir para lá.
10:52Pode ser que se tornasse uma parceria estratégica, sobretudo para tentar conquistar esse mercado do Índico.
11:00Mas tudo isso leva tempo e exige muito capital, por mais dinheiro que o BNDES tenha.
11:06Só que internamente a demanda já é gigantesca.
11:10Exatamente.
11:11Quero agradecer a Alexandre Pires, professor de Relações Internacionais e Economia do IBENEC de São Paulo,
11:17pela participação ao vivo com a gente mais uma vez no Fast Money.
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