O presidente dos Correios, Emmanoel Schmidt Rondon, prepara um plano de reestruturação com cortes, demissões e empréstimo bilionário para conter o prejuízo de R$ 4,3 bilhões no semestre. O economista Murilo Viana, da GO Associados, analisou os riscos fiscais e as chances de recuperação da estatal.
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00:00E em informação exclusiva do nosso analista Eduardo Gair, o presidente dos Correios, Emmanuel Rondon,
00:06prepara mudanças na diretoria como parte de um choque de gestão para conter o rombo bilionário da estatal.
00:13As trocas vêm junto a um plano de reestruturação que prevê cortes de gastos, programa de demissão voluntária e pedido de empréstimo bilionário.
00:22Então vamos entender o impacto dessas medidas com o economista Murilo Viana, da GO Associados.
00:28Murilo já está aqui conosco. Oi Murilo, muito boa tarde para você. Seja bem-vindo aqui ao Radar. Tudo bem contigo?
00:35Boa tarde, eu agradeço o convite. É um prazer estar aqui com vocês.
00:38Prazer é todo nosso em recebê-lo aqui no Radar.
00:41Murilo, a gente acompanhou aí que no primeiro semestre deste ano, os Correios fecharam com prejuízo de 4 bilhões e 300 milhões de reais.
00:52Quase cinco vezes mais do que no primeiro semestre do ano passado.
00:55Só essas medidas anunciadas hoje de contenção já podem ajudar a minimizar esses prejuízos ou é preciso mais?
01:04Olha, é preciso termos aí um detalhamento e também um acompanhamento ao longo dos próximos meses do que foi anunciado.
01:14Me parece um pacote de intenções de ajuste, porém o desafio a ser enfrentado pela companhia, sem dúvida alguma, é muito elevado.
01:26Ela passa por um prejuízo acumulado grande e não dá sinalizações de recuperação do fôlego financeiro.
01:34E mais do que isso, o modelo de negócio, onde é um modelo de negócio desempenhado pelo Correios, tem sido transformado de forma substancial ao longo dos últimos anos.
01:46Então, não se vê mais como antigamente a utilização intensiva de correspondências por Correios.
01:56Mesmo há tempos atrás o Correios, também dada a sua capilaridade em território nacional, levou à frente programas ali de uma espécie de expansão, de uma espécie de correspondente bancário, coisa que também hoje com o desenvolvimento do Pix e de outras formas de maior acesso ao sistema bancário,
02:18acabam se tornando antiquado e representam custos substanciais de funcionamento.
02:23Obviamente, nós tivemos inúmeros episódios aí de mal utilização de recursos, escândalos lá atrás relacionados ao fundo Postales, a investimentos mal feitos com recursos, inclusive, de funcionários, depois, em parte, assumidos pelos Correios e também pelo Tesouro Nacional.
02:40E mais recentemente, nós vimos aí como a tributação, tributação essa que não é exclusividade do Brasil, vale lembrar, é algo que vários países ao redor do mundo têm implementado,
02:53que é dificultar a entrada de produtos subtributados ou não tributados, as chamadas blusinhas ou outros produtos, como nós vimos aí uma enxurrada no Brasil nos últimos anos.
03:04A elevação da tributação e a maior fiscalização resultou em perdas de operações do Correios, que faziam muito dessas operações de entrega dentro do Brasil e, obviamente, a própria expansão do setor privado,
03:18que muitas vezes, essa articulação com a logística rápida, integrada, acaba sendo, desempenhando um papel fundamental na decisão de compra do consumidor
03:28e que leva a expansão de competidores do setor privado, que colocam em xeque o modelo mais engessado do Correios.
03:35Então, a trocando em miúdos, digamos assim, é muito cedo para poder falar se as medidas anunciadas vão surtir o efeito necessário.
03:45O que se sabe é que o volume de recurso que está sendo aí buscado pelo Correio é bastante expressivo e, caso não aconteça um ajuste estrutural no modelo de negócio
03:54e uma estruturação financeira, o pagamento dessa dívida toda pode se tornar bastante difícil e, portanto, cair no colo do Tesouro Nacional.
04:04O Murilo, os Correios demoraram muito para acompanhar a modernização.
04:08Eu digo isso porque, assim, outras empresas acabaram se adiantando, como a gente percebe aí no dia a dia, inclusive nosso.
04:16Por exemplo, de entrega rápida, a gente já tem entrega até por drone, de caixas, de produtos comprados pela internet.
04:25Então, a gente tem, por exemplo, até entregas por aplicativos de transporte.
04:31Os Correios demoraram e esse foi o ponto crucial, talvez, para essa, vamos dizer, quebradeira da empresa?
04:37Ah, sem dúvida alguma, é um problema que tem no setor público a rigidez, né?
04:43Uma rigidez, não somente uma rigidez por cumprimentos legais, mas existe ali uma rigidez de ação também
04:52em relação a oportunidades de negócio quando a gente olha para o setor privado.
04:56Mas vale lembrar também que o Correios, ainda hoje, ele acaba atingindo muitas regiões do Brasil
05:03que mesmo o setor privado ou tem dificuldade ou não tem o interesse em uma rentabilização tão grande
05:10para fazer a estruturação frente aos seus custos elevados.
05:15Por outro lado, onde o setor privado acaba entrando e desempenhando a função a bastante competitivo
05:21e afastando o Correios devido à dificuldade do Correios de competir,
05:25leva o Correios a perder ali o filão, digamos assim, de onde se ganha a remuneração dos seus negócios.
05:32Então, torna a situação financeira do Correios bastante delicada.
05:38Por ser uma empresa de porte nacional e extremamente capilarizada em território nacional,
05:44demanda também cuidados em diversas outras estratégias a serem desenvolvidas pelo Correios.
05:51Então, por exemplo, dentro de um processo de privatização,
05:54que é pouco provável que seja levado nesse governo ou eventualmente no próximo governo,
06:00caso o presidente Lula seja reeleito, muito dificilmente isso vai ser levado adiante.
06:06Mas mesmo o processo de privatização, como é o caso do Correios,
06:10exigiria ali uma complexidade de avaliação bastante significativa,
06:15dado ao seu poder de monopólio que ela teria em diversas regiões do Brasil
06:19e também essa capilaridade e tudo mais.
06:22Então, o desenho regulatório, o desenho ali por parte do governo,
06:27seja de subsídios, seja de desenhos diversos de incentivo para o setor privado atuar,
06:33demandam ali estudos e complexidades.
06:35Então, um ajuste do Correio com o Correio sendo estatal é difícil.
06:40Um ajuste do Correio via privatização também não é nada trivial,
06:45demandaria aí esforços bastante relevantes para se desenhar algo que levasse,
06:51de fato, o mercado a expandir para outras áreas hoje um pouco negligenciadas.
06:57Murilo, para finalizar bem rapidinho, o presidente Lula esteve na Itália esta semana,
07:02agora, está chegando hoje da Itália, e viu o sistema lá da Postales,
07:08do Postales lá na Itália, que é de capital misto.
07:11E pode usar de exemplo aqui, daria certo, por exemplo, já que a privatização é mais complicada.
07:16Ficar só para o serviço público também complicado.
07:20Capital misto poderia ser uma saída?
07:23Olha, o capital misto possibilita a injeção de capital na empresa.
07:28Tem a famosa expressão, temos que combinar com os russos, né?
07:32Então, assim, tem que ter o interesse do setor privado a entrar numa estrutura
07:37em que talvez o governo não esteja interessado em perder o controle,
07:43ou caso haja, são inúmeros cenários, mas caso haja perda de controle,
07:48existe a possibilidade de o governo ter a chamada golden share,
07:52que é a capacidade ali de tomada de decisões,
07:55ou dentro do próprio processo ali de articulação com o setor privado,
08:01de limitar capacidade do setor privado de tomar todas as decisões.
08:05E como eu falei também, o modelo de negócio é bastante complexo.
08:10Então, esse tipo de operação envolvendo um capital misto pode ser uma possibilidade?
08:17Pode, mas também não é uma via, digamos, facilitada de se acontecer.
08:22Nós temos experiências diversas no mundo,
08:25inclusive experiências de privatizações que não deram certo e depois voltaram a ser estatais.
08:30E privatizações que deram certo e funcionaram super bem.
08:34O que nós sabemos hoje, de fato, é que da forma como está a estruturação profunda
08:40da forma de funcionamento do Correios, dadas as mudanças tecnológicas,
08:45a rigidez que tem no Correios, entre outros fatores,
08:49acabam levando a situação da empresa para uma condição quase falimentar.
08:55E isso envolve riscos fiscais diversos,
08:58porque se por um lado, obviamente, a forma de fazer o empréstimo ao Correio
09:03envolvendo o garantia do Tesouro, representa risco do Tesouro Nacional,
09:08também uma capitalização direta do governo no Correios, por meio do orçamento,
09:14levaria a riscos, levaria a um problema do limite de despesa do arcabuço fiscal
09:18e levaria a riscos também de se questionar se o Correios continua sendo uma estatal
09:23não dependente para as fins fiscais. Caso se for uma estatal dependente
09:28para fins fiscais, do ponto de vista legal, todo o orçamento do Correio
09:33tem que passar por dentro do orçamento do governo,
09:38que, obviamente, atrapalaria os planos do governo em relação ao arcabuço fiscal
09:43e ao desempenho fiscal como um todo.
09:45Murilo Viana, obrigado pela sua participação aqui no Radar.
09:48Um grande abraço e uma ótima quarta-feira para você.
09:50Agradeço a oportunidade. Um ótimo quarta-feira também.
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