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Em entrevista à Times Brasil, Vinícius Rodrigues Vieira, professor de Relações Internacionais da FGV, analisou a declaração de Trump sobre o possível fim das tarifas indianas a produtos dos EUA. Para ele, a jogada pode ser blefe estratégico para conter a China no Indo-Pacífico.

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Transcrição
00:00E a gente agora volta a falar sobre a afirmação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,
00:06de que a Índia propôs a retirada total das tarifas impostas aos produtos americanos.
00:13E sobre isso eu converso com Vinícius Rodrigues Vieira, perdão professor,
00:19que é docente de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas,
00:23a quem eu sempre agradeço e digo que é sempre um prazer conversarmos.
00:28Professor Vinícius, em condições normais de pressão em temperatura,
00:33chamaria muito a atenção de nós, principalmente o senhor,
00:37na posição de um analista de relações internacionais, de política externa,
00:42um presidente fazer uma afirmação que não há contrapartida da outra parte citada,
00:49no caso da Índia, e sequer nenhum instrumento federal, no caso de Trump, a Casa Branca,
00:56corroborou as informações.
01:00Mas nós não estamos em condições normais de pressão em temperatura,
01:04a gente já entendeu claramente que o Donald Trump é um ponto fora da curva.
01:09Mas vamos supor que ele esteja correto,
01:12que a Índia esteja a passos de zerar as suas tarifas sobre os Estados Unidos,
01:18sobre produtos americanos.
01:19Professor Vinícius, na sua leitura, isso é uma vitória do Donald Trump,
01:25ou vamos dizer que ele logrou alguma vantagem diante de um terremoto com esse tarifácio?
01:32Onde que eu quero chegar?
01:34Que se as consequências são mais danosas do que os lucros que ele esteja colhendo hoje.
01:40Boa noite para o senhor mais uma vez.
01:42Bem, boa noite, Favale.
01:43Sempre um prazer estar com vocês, estar aqui com o pessoal da Times Brasil.
01:47O que nós temos aqui, me parece, é um blefe em potencial,
01:52de modo que o Trump possa ali abocanhar mais concessões por parte da China no longo prazo.
02:01Teve aí o entendimento de uma redução temporária das tarifas chinesas,
02:06aplicadas aos Estados Unidos e vice-versa.
02:08Lembrando que a Índia, ela sempre ambicionou ser ali um competidor da China
02:15na provisão de manufaturas para mercados ocidentais, sobretudo.
02:21E do ponto de vista geopolítico, a China é o grande,
02:25é o melhor dizendo, a Índia é o grande aliado americano,
02:28seja no governo Trump, foi assim no governo Biden,
02:31uma constante aí, pelo menos desde o governo Obama,
02:34na luta para equilibrar as relações de poder contra a China no chamado Indo-Pacífico,
02:41que é a região do mundo ali que vai desde o Oceano Índico até o Oceano Pacífico,
02:46ou seja, abarca grandes players regionais como Índia, China, Japão, Coreia do Sul,
02:53Taiwan, também nações aí do Sudeste Asiático,
02:56notadamente Tailândia, Malásia e Indonésia,
03:00que é a grande potência ali do Sudeste Asiático.
03:02Então, o Trump, Favali, ele pode estar blefando,
03:06mas também, interessantemente, essa é uma informação que me parece
03:09bastante coerente com os planos da Índia,
03:12de querer demonstrar ali, o governo de Narendra Modi,
03:16uma aliança forte com os Estados Unidos,
03:19talvez menos para fins econômicos e mais para fins militares,
03:22porque a Índia é parte dos BRICS,
03:25talvez o telespectador esteja se preocupando,
03:28por que a Índia iria contra a China,
03:30já que, tal como o Brasil, são parte dos BRICS.
03:32Mas é uma questão muito pontual.
03:34A Índia ainda tem disputas territoriais com a China,
03:37e reitero, sempre ambicionou assumir parte do papel da China,
03:41sempre teve até um pouco de inveja, vamos colocar aqui em termos muito simples,
03:45do sucesso que a China teve ao se abrir economicamente muito antes da Índia.
03:49A China se abre ali nos anos 80, a Índia apenas nos anos 90,
03:52e sem conseguir ali a mesma força na produção de manufaturas.
03:55E com o Trump e o público americano com ojeriza em relação à China,
04:01talvez a Índia veja isso daí como um momento para dar um passo à frente
04:06e tentar ocupar espaços que foram deixados pelos produtores chineses.
04:11Mas, como você bem falou, não são tempos normais,
04:13temos que tomar cuidado aí com informações que, infelizmente,
04:16depois podem se revelar blacks,
04:19como muitas das informações providas pelo próprio Donald Trump,
04:22infelizmente, depois se provaram como tais.
04:26Agora, professor Vinícius, vamos manter a chamada presunção de inocência,
04:30que o Donald Trump tenha sido 100% transparente,
04:33que ele está falando a verdade,
04:35além da vantagem para produtores americanos de terem taxa zero na Índia,
04:43bom, é a maior população do mundo,
04:44nós estamos falando de um mercado consumidor que tem 1 bilhão,
04:47700 milhões de habitantes,
04:49e é um dos países hoje que mais produz bilionários
04:52e, consequentemente, também mais produz milionários.
04:55É um mercado, obviamente, muito interessante.
04:58Agora, saindo dessa esfera comercial e a gente olhando a geopolítica,
05:02porque isso não pode ser colocado de lado,
05:04como o senhor muito bem destacou,
05:06curiosamente, a China e a Índia,
05:09que são dois gigantes em todos os sentidos,
05:11vizinhos, tem fronteira seca,
05:14a relação comercial desses dois gigantes é muito baixa diante do seu potencial
05:19e também tem rusgas diplomáticas que remontam à década de 60,
05:24quando houve, inclusive, um conflito armado entre a China e a Índia.
05:27Só que agora, nessa ampliação dos BRICS,
05:30houve um encontro importante entre o Narendra Modi e o Xi Jinping,
05:35um aperto de mão que os dois países não davam há bastante tempo.
05:39O Donald Trump, na figura, na personificação dos Estados Unidos,
05:44também está de olho geopoliticamente para essa reaproximação,
05:50tentando cada vez mais minar forças para a China,
05:53que ruma para ser a maior potência do século XXI?
05:57Exato, Favalli, porque, como eu estava falando,
06:00qual é o grande anteparo dos Estados Unidos no Indo-Pacífico contra a China?
06:05É a Índia.
06:06A Índia faz parte aqui trazendo um pouco do elemento geopolítico,
06:09como você bem notou, é necessário nesse tipo de análise estar conectado,
06:13tanto que hoje muitos aqui, só abrindo parênteses,
06:16falam em geoeconomia, ou seja,
06:18essas contingências geográficas, estratégicas,
06:21moldando as ligações econômicas entre os países,
06:25as alianças econômicas.
06:27E no caso especificamente da China,
06:31ela tem interesse em apaziguar,
06:32mitigar as suas tensões com a Índia,
06:36que vem desde a guerra ali de 1962,
06:38que não deixou a fronteira nordeste da Índia com a China bem demarcada.
06:44Então, tecnicamente, até alguns analistas dizem,
06:46eles ainda estão em guerra.
06:47Mas, para o Trump, talvez ele tenha sido impactado,
06:51mas estamos aqui apenas no nível da conjuntura,
06:55tentar conjecturar, melhor dizendo,
06:57em função das informações que nos são dadas,
07:00o Trump talvez tenha ficado impactado pelo fato que,
07:03depois do seu tarifácio,
07:04tenha havido ali uma aproximação entre China de um lado,
07:09Japão e Coreia do Sul de outro.
07:11E Japão também é parte,
07:13junto com a Austrália, os Estados Unidos e a Índia,
07:16no chamado Quad,
07:18que é um grupo que existe aí já há um tempo,
07:20pelo menos ali desde o pós-crise de 2008,
07:24ganhou muita força já no governo Obama,
07:26isso é importante dizer,
07:27ou seja, antes da ascensão do Trump,
07:29que é um grupo de quatro,
07:30desses quatro países,
07:31Austrália, Estados Unidos, Japão e Índia,
07:34que tem ali um diálogo de segurança.
07:36Ou seja, claramente,
07:38é uma pré-aliança militar
07:40para tentar equilibrar a influência chinesa.
07:43Então, o Trump talvez tenha visto ali,
07:45opa, se meus aliados,
07:47Japão e Coreia do Sul estão se aproximando da China
07:50contra o meu protecionismo,
07:52eu tenho que reordenar as coisas ali na Ásia,
07:55fazendo o quê?
07:56Fazendo essa aproximação com a Índia,
07:57a Índia tem esse interesse,
07:58acho que, em se aproximar.
08:00A única coisa aí que não me parece estar muito clara
08:02e que pode, nesse cenário,
08:04não ser um GLEF,
08:06nem de um lado, nem de um outro,
08:08em relação ao comércio bilateral
08:10nos Estados Unidos e Índia,
08:12perdão, Favali,
08:13é a questão da agricultura.
08:15A agricultura indiana,
08:16ela tem muito medo de se abrir.
08:18E os mercados americanos,
08:21claro, agrícolas, são muito fortes.
08:23Inclusive, pode até respingar aqui em nós,
08:25porque o Brasil, ao longo de 20 anos,
08:26sempre tem tentado explorar oportunidades
08:29no mercado indiano,
08:30eles são muito fechados.
08:31Se eles se abrem para os americanos,
08:33que são muito competitivos,
08:34eles não vão apenas prejudicar
08:35os seus pequenos agricultores,
08:38mas também podem prejudicar aí
08:39um comércio que nós teríamos
08:41em potencial com os indianos.
08:42Então, sendo aí verdadeira essa informação,
08:45não sendo um GLEF do Trump,
08:46é interessante que pode até respingar
08:48aqui no contexto brasileiro
08:50e, claro, nessa dinâmica geopolítica
08:52do Indo-Pacífico.
08:54Vinícius, por isso que a analogia
08:56de geopolítica ou geoeconomia
08:59é do jogo de xadrez, né?
09:01Você mexe uma peça,
09:03mas reordena todo um tabuleiro.
09:05Então, a gente ainda vai ter
09:06muitos argumentos para voltarmos aqui a debater.
09:10Obrigado mais uma vez.
09:11Agradeço publicamente, então,
09:13o professor Vinícius Rodrigues Vieira,
09:17professor de Relações Internacionais
09:18da Fundação Getúlio Vargas.
09:20Vinícius, é sempre um prazer.
09:22Até a próxima e que seja em breve.
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