Mercado global depende da Nvidia? Entenda como balanço da empresa impacta economicamente

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Marcel Nobre analisou os resultados da Nvidia e destacou o impacto da empresa na inteligência artificial, data centers e carros autônomos. Com valuation de US$ 5 trilhões, a gigante lidera o mercado de GPUs, mas enfrenta riscos geopolíticos e desafios de expansão. Veja como essas estratégias podem afetar o futuro da tecnologia e do mercado global.

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00:00Nós voltamos a falar sobre os resultados da NVIDIA, sobre isso eu converso agora com

00:04Marcel Nobre, que é especialista em tecnologia e inovação.

00:09Marcel, boa noite para você, sempre muito bom ter você aqui com a gente.

00:13Eu quero começar sabendo o que você destaca desse resultado de hoje, ele de fato superou

00:19as expectativas dos analistas?

00:23Boa noite, Cris, tudo bem?

00:25Um prazer enorme estar aqui hoje com você.

00:27É, continua superando, né Cris, a NVIDIA continua sempre na vanguarda da inteligência

00:33artificial, ela é a principal produtora das GPUs, que são os chips que são rodados nos

00:39grandes modelos de linguagem para rodar a inteligência artificial que a gente conhece aqui, os LLMs

00:44como o Chat APT, Gemini, Copilot, Anthropic e tudo mais, mas não é só sobre isso, a

00:51NVIDIA tem um grande poder de estrutura de data centers que está crescendo absurdamente

00:57no mundo inteiro e com demandas de mais data centers para suportar esse crescimento da

01:02inteligência artificial.

01:03A NVIDIA já joga muito bem num ecossistema que ela está criando para que seja um ecossistema

01:08de software para empoderar robôs autônomos, ela também já está jogando muito bem na parte

01:13de carros autônomos, que são dois mercados, tanto de robótica como de carros autônomos,

01:17ainda pequenos no mundo, mas que tendem a ser as próximas grandes revoluções, os

01:23próximos grandes mercados a estourarem.

01:26Obviamente que o mercado precifica muito isso já no presente, então tem sim um misto,

01:33não dá para dizer que é tudo bolha, nem tudo razoável, há um fundamento tecnológico

01:38real por trás, mas também as expectativas estão superestimadas em cima do buzz que a

01:44IA gerou. Por que tem fundamento sólido? Ela é a infraestrutura padrão para treinar

01:49modelos generativas e grande parte dos investimentos em A, tanto de data centers quanto cloud, depende

01:54da GPUs e do ecossistema da NVIDIA. Então, como eu disse, nove de cada dez modelos grandes

02:00de linguagem usam seus chips, eles reportaram volume enorme de bookings já feitos, de contratos

02:05institucionais, tanto para supercomputadores quanto contratos governamentais, que sustentam

02:10essas receitas futuras e, além disso, ela está na vanguarda na criação de um ecossistema

02:14de software para robótica e carro autônomo. Então, eu acho que isso ajuda a explicar

02:18o salto até os cinco trilhões, mas também tem um risco de bolha, afinal de contas, o

02:23múltiplo de valuation incorpora essas expectativas de crescimento muito agressivas, grande parte

02:28do mercado já precificou um cenário dessa necessidade de investimento em CAPEX massivo

02:33em IA por anos. Então, se a taxa de crescimento desse investimento em CAPEX em IA desacelerar,

02:39ou até se concorrentes reduzirem a dependência desses GPUs, o ajuste pode ser bastante brusco.

02:44A gente viu tanto o Peter Thiel quanto o Softbank zerar suas posições na empresa.

02:50Então, é uma aposta ali entre difícil mensurar até onde tem gás e fôlego para crescer ainda

02:58mais na generativa ou nos outros mercados que ela atua e, em contrapartida, o quanto disso

03:03já está precificado no preço da ação. Mas é gigantesco, cinco trilhões seria a terceira

03:10maior economia do mundo, duas vezes e meia o tamanho da economia do Brasil. Então, é um

03:16cenário meio nebuloso. Acho que quem tiver alguma afirmação muito clara tem um grande

03:22chance de errar nesse momento, Cris.

03:24É, acho que ninguém faria isso, né, Marcel? E como é que a disputa geopolítica entre Estados

03:29Unidos e China acaba influenciando essa corrida por chips de IA, de inteligência artificial?

03:35Pois é, Cris, tem uma certa influência, né, e às vezes até um pouco grande em alguns

03:41momentos, mas essa não é uma disputa muito abstrata, assim, de achar que é só a geopolítica,

03:46porque ela muda preços, disponibilidade e quem ganha contratos de infraestrutura em

03:51países, por exemplo, como o Brasil, né? Desde 2022, os Estados Unidos impuseram restrições

03:57à exportação de chips e de tecnologia avançada para a China. Alguns tipos de chips, não

04:01todos, o que reduziu vendas diretas em casas bilionárias, mas isso também empurrou a China

04:08para acelerar chips domésticos, né? Eu estive na China recentemente e vi alguns projetos

04:13que não puderam ser filmados, nem fotografados, nem documentados, mas de produção de chips

04:17próprios. Tanto novos acordos que surgiram, mesmo a partir de novos acordos, algumas empresas

04:26começaram. A própria Huawei já tem em produção seu próprio chip, sua própria GPU. A China

04:32está desenvolvendo uma outra forma diferente da GPUs e está tentando descobrir uma nova

04:37forma que gaste menos energia, que faça, seja tão eficiente quanto, só que não utilizando

04:44a mesma quantidade. Então, o efeito próprio, prático disso foi uma fragmentação parcial

04:51desse mercado global e maiores incertezas nessas receitas futuras, principalmente dos

04:56fornecedores americanos, né? Essas restrições nos Estados Unidos acabaram fatalizando investimentos

05:02chineses, como eu te falei, principalmente da Huawei e de algumas outras empresas locais,

05:05o que pode, no médio prazo, diminuir o poder de precificação desses incumbentes americanos, né?

05:11Ao mesmo tempo, a China continua sendo um maior mercado de demanda por IA. Então, essas empresas

05:18como a NVID, elas navegam entre esses interesses comerciais e uma segurança nacional, que vem

05:24essa discussão de venda para a China, licenciamento especial e até alguns acordos inusitados.

05:29Isso cria uma volatilidade de receita e obriga estratégias de rede geopolítica, parcerias,

05:34diversificação, produtos, expertise local. E para empresas de governo brasileiro, Cris,

05:39eu acho que a missão é não depender de um único fornecedor e manter algumas políticas

05:43industriais ou contratuais que preservem a soberania tecnológica aqui do país.

05:48Marcel, rapidamente, que o nosso tempo já está estourado, mas eu queria te ouvir sobre

05:52isso. Essa dependência tecnológica global de uma única empresa pode representar risco

05:58para a estabilidade econômica?

06:01Sim, Cris. Representa o risco pelo tamanho que se tornou, mas ela é administrável se os governos

06:06das empresas agirem com políticas industriais, com governança de risco. Essa dependência

06:11concentra riscos sistêmicos reais, especialmente quando essa empresa concentra tecnologia, padrões

06:17e cadeias de ferramentas. Por exemplo, numa falha operacional, como aconteceu na CloudFera

06:22ontem, restrição de exportação, num erro estratégico atingir a empresa cadeias inteiras,

06:27tanto data centers, cloud, automotivo, saúde e finanças, sofrem um choque imediatamente.

06:33Tem risco de competição, de inovação travada e também existe o risco de mercado quando

06:39há um grande peso de uma ação numa carteira ou num índice pode amplificar correlações

06:44e volatilidades no mercado. Então, eu não acho que causa um colapso, mas com certeza pode

06:51ser perturbador porque é a empresa mais valiosa do mundo, existe uma concentração de investimento

06:55nela e ela tem uma dominância tecnológica, o que faz com que todos estejam à mercê das

07:01decisões estratégicas, políticas e geopolíticas dos países que envolvem a compra e a venda

07:06dos chips da NVIDIA. Então, tem risco, não acho que é um risco de colapso, mas é um risco

07:11iminente, sério e impactante, não só para a economia, mas para o país, para o mercado

07:18e para essa tecnologia, né?

07:20Marcel, muito obrigada. Sempre muito bom ter você aqui com a gente. Boa noite para você.

07:25Obrigado. Boa noite, Cris.

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