Pular para o playerIr para o conteúdo principal
O julgamento de Jair Bolsonaro reacende dúvidas sobre até onde os EUA podem ir. O professor André Mendes Moreira, sócio do Sacha Calmon Misabel Derzi e professor tributário da USP, explica os limites legais e políticos das sanções de Donald Trump contra o Brasil e comenta o impacto da Lei Magnitsky.

Acompanhe a cobertura em tempo real da guerra tarifária, com exclusividade CNBC: https://timesbrasil.com.br/guerra-comercial/

🚨Inscreva-se no canal e ative o sininho para receber todo o nosso conteúdo!

Siga o Times Brasil - Licenciado Exclusivo CNBC nas redes sociais: @otimesbrasil

📌 ONDE ASSISTIR AO MAIOR CANAL DE NEGÓCIOS DO MUNDO NO BRASIL:

🔷 Canal 562 ClaroTV+ | Canal 562 Sky | Canal 592 Vivo | Canal 187 Oi | Operadoras regionais

🔷 TV SINAL ABERTO: parabólicas canal 562

🔷 ONLINE: https://timesbrasil.com.br | YouTube

🔷 FAST Channels: Samsung TV Plus, LG Channels, TCL Channels, Pluto TV, Roku, Soul TV, Zapping | Novos Streamings

#CNBCNoBrasil
#JornalismoDeNegócios
#TimesBrasilCNBC

Categoria

🗞
Notícias
Transcrição
00:00O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que vai ser retomado amanhã,
00:06levanta questões sobre quais outras medidas, além da lei Magnitsky,
00:11o governo Trump pode aplicar contra o Brasil.
00:14E agora a gente retoma a conversa que teríamos no bloco anterior
00:18com André Mendes Moreira, sócio do Sacha Calmon Misabel Iderzi
00:23e também é professor tributário da Universidade de São Paulo,
00:27a quem está restabelecido o contato, André, eu agradeço a presença aqui.
00:34Eu sei que o senhor merece todas as prerrogativas, mas vou tratá-lo de André,
00:38se não se incomodar, para que o nosso papo fique um pouco mais dinâmico e mais simpático.
00:43André, é muito complicado para nós, leigos, entendermos os meandros do tributarismo,
00:51ainda mais com um componente que é outro país.
00:55Então a pergunta direta, que é essa que permeia o imaginário coletivo,
01:01não só a nossa da imprensa, mas a nossa audiência, é o que mais supostamente
01:05o Donald Trump, como presidente dos Estados Unidos, teria mecanismos para punir o Brasil,
01:13para sancionar o Brasil.
01:14E aí, puxando aqui num raciocínio lógico, a gente tem, por exemplo,
01:19uma extensão do Banco do Brasil, que é um banco estatal,
01:22primeiro banco brasileiro, nos Estados Unidos.
01:25Assim como um braço do BNDES, nos Estados Unidos,
01:30para financiamento de empreendimentos brasileiros no exterior.
01:35A Embraer também tem uma versão americana.
01:39Entre tantas outras, não só do setor financeiro, bancário, empresas,
01:44o agronegócio, há extensões, quer dizer, CNPJs brasileiros,
01:50ou que se chamaria de CNPJs, nos Estados Unidos.
01:53Essas empresas, instituições bancárias, privadas ou estatais,
01:58podem vir ser sancionadas pelo presidente Donald Trump,
02:02via lei Magnitsky, ou outra ferramenta de punição tributária?
02:09Desculpa esse meu longo preâmbulo aqui.
02:12Boa noite mais uma vez, André.
02:13Boa noite, Marcelo.
02:17Obrigado a você pela oportunidade.
02:19Quero começar cumprimentando seus telespectadores.
02:22Sei que é uma satisfação estar aqui com você.
02:25Pois bem, a sua pergunta é muito boa.
02:29E ela parte de uma premissa que vale a pena examinar um pouco melhor.
02:33Ela parte de uma premissa de que o que foi feito até agora vale.
02:38E é essa premissa que eu queria revisitar com você e com seus telespectadores.
02:45Porque, primeiramente, os Estados Unidos, assim como o Brasil,
02:52são uma democracia onde há três poderes.
02:57O presidente da república, chefe de um poder,
03:01o Congresso Nacional, que é um segundo poder,
03:04e o judiciário, que é um terceiro poder.
03:06E esses poderes, eles dialogam entre si,
03:11eles formam aquilo que, no direito, nós chamamos de sistema de freios e contrapesos.
03:16Ou seja, quando um lança o dardo além da meta,
03:20o outro vai lá para conter quem cruzou ali.
03:24Essa é a ideia de termos executivo, legislativo e Congresso.
03:29E o que aconteceu no início do mandato do Donald Trump, do atual mandato?
03:34Primeiro que as tarifas não são novidade para ele.
03:38No mandato anterior, ele travou uma intensa guerra comercial com a China,
03:44valendo-se de tarifas,
03:47porém, ele usou uma outra fundamentação legal
03:52para essa guerra tarifária com a China no primeiro mandato.
03:56E essa outra fundamentação legal, ela é muito mais sólida
04:01que a lei que ele usou agora, nesse segundo mandato,
04:05porque ela prevê especificamente que os Estados Unidos
04:08podem criar tarifas, criar impostos de importação.
04:13sobre produtos de outras nações,
04:16quando ficar provado num processo administrativo
04:19que tramita na Secretaria de Comércio,
04:23e está havendo ali um desbalanceamento entre o comércio e as nações.
04:27Então, essa foi a tônica da guerra tarifária com a China
04:30no primeiro mandato do Donald Trump.
04:33O que está acontecendo agora?
04:34O Donald Trump sacou uma lei de 1977
04:39que deriva de uma lei que foi criada em 1917.
04:44O nome dessa lei de 1917 é o segundo, Marcelo.
04:49Lei de Comércio com o Inimigo.
04:54Trading with the Enemy Act.
04:57Essa lei foi criada para permitir que, em tempo de guerra,
05:00o presidente da República americana tivesse amplos poderes
05:04para bloquear a entrada de produtos estrangeiros,
05:08sancionar a propriedade de países estrangeiros
05:11em conflito com os Estados Unidos.
05:14Essa lei vigora até 1977,
05:16quando ela então é repartida
05:18e uma parte dos poderes dela é transferida para uma nova lei,
05:23que é a lei que Trump usou,
05:25que se chama
05:26Lei Internacional de Poderes Econômicos de Emergência.
05:31Essa é a lei aprovada pelo Congresso americano,
05:35na qual o Trump baseia todas as tarifas impostas,
05:39não apenas contra o Brasil,
05:41mas contra os demais países do mundo.
05:43E o que diz essa lei?
05:46Essa lei não tem uma palavra sobre tarifa.
05:50Essa lei é uma lei criada para dar ao presidente norte-americano
05:56poderes especiais para, em situações de emergência nacional
06:02ou ameaça externa,
06:05impedir o comércio com certos países,
06:08confiscar bens de outros países
06:10que estejam relacionados com negociações com os Estados Unidos.
06:14Nada relacionado à tarifa.
06:16Não obstante,
06:19alegando que essa lei
06:21lhe conferiria amplos poderes,
06:24porque, de fato, ela é muito ampla,
06:26e optando por essa lei,
06:28porque ela é mais fácil do que aquela primeira
06:30que regula o comércio,
06:32já que, se você vai pelo caminho certo,
06:35que é o da tarifa
06:36imposta
06:38por meio da lei
06:39que regula o comércio dos Estados Unidos
06:41com outros países,
06:43mas que exige um processo administrativo prévio
06:46para demonstrar que há um desbalanceamento comercial,
06:50se fosse por esse caminho,
06:51o Trump teria várias amarras a seguir.
06:54E, no caso do Brasil,
06:55não conseguiria importar a tarifa nenhuma,
06:57porque os Estados Unidos são superavitários hoje
07:00no comércio com o Brasil.
07:02Então, a opção dele foi,
07:04ele usou,
07:05digamos aqui,
07:06para usar uma expressão bélica,
07:08ele usou um canhão
07:10quando, na verdade,
07:12ele tinha que ter usado
07:13uma arma de precisão,
07:15porque essa bala de canhão vai passar,
07:18já houve, inclusive,
07:20recentemente,
07:21a declaração de ilegalidade
07:24dessas tarifas
07:25que ele impôs
07:26por uma corte federal,
07:27o caso está em vias
07:30de chegar à Suprema Corte Americana,
07:32onde,
07:33todavia,
07:34Donald Trump tem maioria.
07:35Donald Trump tem seis
07:37dos nove ministros,
07:38foram por ele nomeados.
07:40No entanto,
07:42é bom lembrar,
07:43ter nomeado um ministro
07:45não significa ter poder
07:46sobre o voto desse ministro.
07:48Esse é o primeiro ponto.
07:50Segundo ponto,
07:51exatamente por isso,
07:52os ministros estão vitalitos.
07:53Lá nos Estados Unidos,
07:54sequer a aposentadoria compulsória tem.
07:56Aqui no Brasil tem que sair aos 75,
07:59lá podem ir até os 100,
08:00se viverem até tanto.
08:03Segundo ponto,
08:05os ministros do Partido Republicano,
08:08em geral,
08:09tendem para uma corrente jurídica
08:11chamada textualismo,
08:14que diz o seguinte,
08:16primeiro a letra da lei,
08:18depois o rosto.
08:21E se isso for a tônica
08:23de interpretação dessa lei,
08:26sobre a qual falamos
08:28e na qual o presidente Trump
08:30colocou todas as suas fichas,
08:33eu diria que não há dúvida nenhuma
08:35de que as tarifas
08:37serão todas abolidas,
08:38porque a leitura da lei
08:40em seu texto,
08:42claro,
08:43fidedigno,
08:44não traz autorização
08:46para todo esse tarifário.
08:47Então,
08:48na minha opinião,
08:49primeiro,
08:50ele não poderia fazer o que fez
08:52com base na lei que invocou.
08:54teria outros caminhos
08:56para impor tarifas,
08:57mas nesses outros,
08:58o Brasil teria condições melhores
09:00de se defender,
09:01inclusive.
09:03Segundo,
09:03o uso da lei
09:04Magnitsky,
09:05que ficou famosa agora.
09:08Como já foi pedido,
09:10trata-se de uma lei
09:11criada inicialmente
09:12para sancionar
09:13cidadãos da Rússia
09:17que se envolveram
09:19na morte
09:20de um delator
09:22de práticas
09:23de corrupção russa
09:24em 2009.
09:27Então,
09:27essa lei foi para
09:28congelar ativos,
09:30negar vistos,
09:32enfim,
09:33foi para perseguir
09:35assassinos russos.
09:37Essa é a origem da luta.
09:40Posteriormente,
09:41ela foi modificada
09:42para permitir
09:43que outros países
09:47que abrigassem
09:48figuras que atentassem
09:51contra os direitos humanos,
09:53por exemplo,
09:54na Arábia Saudita,
09:55tivemos aquele caso
09:56do jornalista
09:57que foi morto
10:00numa embaixada
10:01e tudo foi acobertado
10:03pelo governo saudita,
10:05enfim,
10:05situações como essas
10:07em sejam a aplicação
10:09da lei Magnitsky
10:10para buscar ativos
10:12dessas pessoas
10:12nos Estados Unidos,
10:13para proibir transações
10:15com instituições americanas.
10:17Então,
10:17há cidadãos
10:18e países
10:19que já foram objeto
10:20dessas sanções,
10:21mas são,
10:22no Irã,
10:23Arábia Saudita,
10:24pontualmente,
10:25nesse caso,
10:26Rússia,
10:26Venezuela.
10:28A aplicação
10:28para o ministro
10:30da Suprema Corte
10:30brasileira,
10:32o ministro que
10:32está ali
10:34fazendo o seu trabalho
10:37para influenciar
10:39no julgamento
10:41de um processo
10:42que está dentro
10:43da jurisdição
10:44do Supremo Tribunal Federal
10:45é algo
10:47de uma
10:47inconstitucionalidade
10:48flagrante,
10:50sem entrar
10:50no mérito político,
10:51não me capo,
10:52mas é absolutamente
10:53inconstitucional
10:54o uso dessa lei
10:56para essa finalidade.
10:58E a jurisprudência
10:59da Suprema Corte
11:00americana
11:01é muito atenta
11:03a finalidade
11:04da lei.
11:05E eu trago aqui
11:06um caso concreto
11:07para fechar
11:08a minha fala.
11:11O caso concreto
11:12foi o seguinte,
11:14existe uma lei
11:15chamada
11:16Lei Sarbanes-Oxley.
11:18Essa lei
11:19foi criada
11:20em razão
11:21de um esquema
11:22de corrupção
11:24contábil
11:25numa empresa
11:26norte-americana
11:27chamada Enron,
11:29que foi levada
11:30à falência
11:31pelos seus gestores
11:32e a empresa
11:34de auditoria,
11:35que também
11:35foi a falência
11:36depois,
11:37a que obertou
11:38junto com os gestores
11:40as práticas contadas.
11:42Quando se descobriu
11:44o mal feito
11:44na Enron,
11:45qual foi a primeira
11:46atitude
11:47dos contadores
11:48e dos executivos?
11:50Eles queimaram
11:51todos os documentos,
11:53destruíram
11:54todos os HDs
11:56e contínuam
11:57informações
11:57que pudessem
11:58condená-los.
11:59Em razão disso,
12:00veio a lei
12:00Sarbanes-Oxley
12:01que disse o seguinte,
12:03a destruição
12:05de bens
12:07tangíveis
12:09é crime federal
12:11punido com prisão
12:13se esses bens
12:14estiverem relacionados
12:15à investigação federal.
12:17Essa é a expressão
12:18da lei.
12:20Há bem tangível,
12:21há investigação federal,
12:23o cidadão destruiu
12:24o bem tangível,
12:27a pena é prisão.
12:27ponto.
12:30Passa-se o tempo
12:30e o que acontece?
12:34Um pescador
12:35na costa da Flórida
12:38pesca garoupas
12:41que mediam
12:42entre 19 e 20 polegadas,
12:48sendo que
12:49o limite mínimo
12:51para pesca
12:52eram 21 polegadas.
12:55esse pescador
12:57é parado
12:58em uma blitz
12:59da Polícia Marítima
13:00Federal
13:00americana
13:01que atesta
13:03a pesca
13:04abaixo
13:05do limite
13:06exigido
13:06e quando
13:08o fiscal
13:09vira apostas
13:10para labrar
13:11a autuação
13:12que faz o pescador
13:13devolve as garoupas
13:15para o outro.
13:17Resultado,
13:18ele é enquadrado
13:19na lei
13:20Sarbanes-Oxley
13:21por destruir
13:22bens tangíveis
13:24ligados
13:25a uma fiscalização
13:26federal.
13:27O caso
13:28chega à Suprema Corte,
13:30o que é raríssimo,
13:31a Suprema Corte
13:32americana
13:32não julga
13:33mais do que
13:3370 casos
13:34por ano.
13:35O Supremo Tribunal
13:36Federal Brasileiro
13:36julga 10 mil.
13:38Então,
13:38para chegar
13:39à Suprema Corte
13:40americana
13:40é difícil,
13:41esse caso chegou.
13:42E o que disse
13:43a Suprema Corte
13:44com isso
13:44conclui
13:45e faço a conexão
13:46com o que Saba
13:47dizendo.
13:47Disse a Suprema Corte
13:48o seguinte,
13:49embora a lei
13:51diga
13:52que bens tangíveis
13:53ligados
13:54a uma investigação
13:55federal
13:56se destruídos
13:59geram
14:00um empadramento
14:00nas penalidades
14:02das Sarbanes-Oxley
14:03são penalidades
14:04elevadas,
14:06neste caso
14:08as garoupas
14:10não se enquadram
14:12no conceito
14:13legal
14:13de bens tangíveis.
14:15Portanto,
14:16o pescador
14:17não pode ser
14:18enquadrado
14:19numa lei
14:20criada
14:21para combater
14:22fraudes
14:23contábeis
14:24do colarinho branco
14:25e com isso
14:26o pescador
14:27tem a sua liberdade
14:28assegurada
14:29e a Suprema Corte
14:30curiosamente
14:31diz que as garoupas
14:32não são
14:33bens tangíveis
14:34embora possam
14:35ser servidas
14:37no almoço.
14:38Então,
14:38com essas considerações
14:39eu quero dizer
14:40que a criação
14:42da lei
14:42Marimips,
14:43a sua redação
14:44e o seu processo
14:47não apenas
14:48legislativo
14:49mas histórico
14:51criada contra os russos
14:53ampliada
14:53para outros regimes
14:55contra quem
14:56foi aplicada
14:57leva inexoravelmente
14:59ao seu afastamento
15:00do Brasil
15:02e de qualquer
15:03autoridade
15:04de qualquer poder
15:05da nossa nação.
15:06André,
15:08infelizmente
15:09o nosso jornal
15:10é curtinho
15:11e eu tenho certeza
15:12que a gente vai ter
15:13outras oportunidades
15:14porque nós estamos
15:14no primeiro capítulo
15:16de um julgamento
15:17que é histórico
15:17tem sido acompanhado
15:19inclusive
15:19pelo exterior
15:21e a gente vai voltar
15:22a conversar
15:23até quando a gente tiver
15:25quando tivermos
15:26mais subsídios
15:28infelizmente
15:29o nosso tempo
15:30está mais apertado
15:31hoje
15:32eu queria agradecer
15:33essa primeira conversa
15:34que a gente teve
15:35mas já deixa anotado
15:36para nós retomarmos
15:37a partir daí
15:38porque muitos outros
15:40esclarecimentos
15:41serão necessários
15:43eu conversei aqui
15:44com André Mendes Moreira
15:46professor da USP
15:47sócio do Sacha Calmon
15:49Misabel Derzi
15:50professor tributar
15:52da Universidade de São Paulo
15:53também
15:54a quem eu agradeço
15:55desejo uma ótima noite
15:56e até uma próxima oportunidade
15:57André
15:58obrigado mais uma vez
Seja a primeira pessoa a comentar
Adicionar seu comentário

Recomendado